UNIFIEO

No corpus obtido no vestibular da UNIFIEO, a partir de 25 textos selecionados aleatoriamente, foram verificadas as seguintes ocorrências do procedimento de generalização, conforme números da tabela 3, a seguir:

33 _{As ocorrências do critério VI permitem identificar um uso bastante peculiar dos dêiticos, mais} especificamente, dos determinantes, que aparecem em maior frequência na forma de artigos definidos. Vejamos um exemplo retirado de um texto fornecido pela UFGD:

“Embora eu acredite no poder de uma boa risada, penso ser necessário refletir sobre as consequências do humor para a sociedade” DO_1 (§4, l.1,2)

Nesse exemplo, destacamos o trecho “as consequências do humor” em que o artigo “as”, em vez de especificar, indetermina. Exerce, portanto, a função de indeterminar a expressão referencial sobre a qual tem relação de escopo, de modo a permitir que o efeito de sentido produzido seja anunciar que existem consequências do humor e não há propósito ou necessidade de especifica-las. Importante salientar ainda que isso acontece sem que seja necessariamente um uso intencional por parte do falante. Ao contrário, assumimos, tendo em vista o material analisado, que o mais provável é que o escrevente não faça uso consciente da partícula dêitica nessa função, com esse sentido. As questões relacionadas ao comportamento dos dêiticos no material analisado e sua relação com a generalização é analisada mais detidamente na seção 3.4 do presente capítulo.

Tabela 3 – Quantidade de redações com ocorrências de procedimento de generalização – UNIFIEO

CRITÉRIOS

I II III IV V VI VII VIII

Total de redações com ocorrências 12 18 25 20 6 25 24 14 % de redações com ocorrências 48% 72% 100% 80% 24% 100% 96% 56%

A tabela 3 evidencia que os critério III (Assunção de voz coletiva) e critério VI (Determinante como quantificador universal ou expressão generalizante) são de ocorrência absoluta. Em seguida, verifica-se o critério VII (Falsas Delimitações) que deixou de figurar apenas em 1 texto e o critério II (Expressão temporal marcando duração indefinida) que aparece em 18 das 25 produções dessa instituição, perfazendo 72% do total de redações. É bastante relevante observar que o predomínio do critério III em todos os textos, com 100% de ocorrências, é algo recorrente (ver tabela 1), bem como o critério VI, que na tabela 1 deixava de aparecer em apenas 3 redações (perfazendo sua presença em 88% das redações). No inventário da tabela 3, aparece em todos os textos algo que reforça o peso desses critérios enquanto estratégias comuns mobilizadas pelos escreventes em seus textos.

Os critério I (Argumentação pela inclusão do destinatário marcado pelo verbo na primeira pessoa do plural) e o critério VIII (Modalização deôntica) aparecem em aproximadamente metade dos textos (respectivamente, presentes em 48% e 56% dos textos) e a menor incidência verificada está relacionada ao critério V (Ausência de determinantes definidos marcados por itens lexicais de cunho conceitual para a definição de temas), encontrado em apenas 6 textos (24%), configurando-se como o critério menos numeroso. A maior e menor incidência dos critérios verificados no total de redações dessa instituição demonstra regularidade, conforme se verifica ao comparar as tabelas 1 e 3, pois ambas trazem os critérios III e VI como os mais incidentes e o critério V como o menos incidente, demonstrando que isso não

configura uma idiossincrasia desta ou daquela instituição, mas algo que faz parte do universo da escrita em redações de vestibular. No entanto, necessitamos ainda dos dados da tabela 5 para confirmar categoricamente essas afirmações para confirmar essa linha de argumentação. Verifiquemos a tabela 4 a seguir:

Tabela 4 – Quantidade total de ocorrências do procedimento de generalização no conjunto das redações – UNIFIEO

CRITÉRIOS

I II III IV V VI VII VIII

Nº total de ocorrências 54 27 136 34 6 91 59 26 % de ocorrências 12,5% 6,53% 31,6% 7,95% 1,48% 21% 12,94% 6% Total de redações: 25 Total de ocorrências: 433

Destacamos, na tabela 4, a soma total de 433 ocorrências encontradas nas 25 redações dessa instituição, totalizando 69 ocorrências a mais que a UFGD (364 ocorrências, conforme tabela 2). Essa tabela evidencia o total de ocorrências de cada critério de modo que se possa observar de fato o que os escreventes dessa instituição (UNIFIEO) mobilizam para a elaboração de sua escrita em comparação às outras instituições. Como já anteriormente afirmado, o fato de os mesmos dados serem levantados em 3 diferentes instituições de ensino superior fornece informações fiáveis acerca de estratégias comuns aos escreventes em situação de exame vestibular de modo geral, algo que pode vir a caracterizar o que é próprio desse gênero em dadas condições de produção dos discursos.

Do total quantificado, verificamos que o critério III é o mais numeroso (136 ocorrências, 31,6% do total), seguido do critério VI com 91 ocorrências (perfazendo 21% do total), seguido dos critérios I e VII, com percentuais muito próximos (respectivamente 12,5% e 12,94%), diferindo em duas ocorrências. Esse equilíbrio entre os critérios I e VII não se verifica na tabela 2 (UFGD), em que o critério I apresenta pouco mais que o dobro de ocorrências do critério VII. Curiosamente, o

critério III, o mais numeroso em todas as instituições de ensino superior verificadas no corpus levantado para o presente estudo, apresenta exatamente a mesma porcentagem na tabela 2 e na tabela 4: 31,6% (tabela 2, 115 ocorrências do total de 364 e tabela 4, 136 ocorrências do total de 433). Esse equilíbrio é bastante significativo e reforça a importância dessa estratégia para os escreventes em relação ao gênero em questão.

Com relação aos critérios menos numerosos em ocorrências, temos, o critério V, contando com apenas 1,48% das ocorrências, seguido do critério VIII (6%) e o critério II (6,53%). Mais uma vez, comparando com a tabela 2, dessa vez as menores incidências, temos os critérios II e VIII em margens muito próximas nas duas instituições (UFGD e UNIFIEO). Na tabela 2 verifica-se como menores incidências, respectivamente, os critérios IV (7,14%), II (7,42%) e o VIII (8,52%). No que se refere então às mais baixas incidências, as duas instituições trazem dados bastante próximos, divergindo quanto aos critérios IV e V. Essa divergência traduz-se como uma singularidade que será melhor explicada ao contrastarmos esses mesmos dados com aqueles obtidos dos textos da terceira instituição a ser analisada, a FUVEST, nas tabelas 5 e 6.