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Capítulo I – O stresse ocupacional

2. Conceções e abordagens teóricas sobre o stresse ocupacional

2.3. Fontes de stresse

2.5.2. Estratégias de savoring

De forma a sistematizar e operacionalizar as diferentes estratégias passiveis de serem utilizadas decorrente de um acontecimento positivo, Bryant e Veroff (2007) identificaram, nos diversos estudos que realizaram, dez categorias de estratégias, correspondentes a um conjunto de pensamentos e comportamentos ilustrativos da forma como as pessoas podem responder quando vivenciam um acontecimento positivo.

69 Destas estratégias, seis são respostas essencialmente cognitivas aos acontecimentos positivos (construção de memória, auto-congratulação, intensificação sensorial- preceptiva,comparação, consciência temporal e perceção de benefícios) e subentendem que a pessoa recorra à sua mente para construir memórias, admirar o self, concentrar-se, avaliar diferenças comparativas, refletir temporalmente e identificar aspetos positivos na sua vida (Carvalho & Marques Pinto, no prelo). O pensamento desmancha-prazeres é também uma estratégia cognitiva, mas é uma resposta negativa que inibe o processo de

savoring. Os outros três tipos de resposta (comportamento manifesto, partilha com os outros e absorção) são estratégias comportamentais que traduzem a expressão de sentimentos positivos.

Importa de seguida dar a conhecer as caraterísticas de cada uma das estratégias de

savoring, de forma a descortinar o tipo de respostas a elas associadas.

Assim, a partilha com os outros desempenha um papel paralelo, relativamente às experiências positivas, àquele que o suporte social tem como estratégia de coping, para se lidar com o distress. Bryant e Veroff (2007) referem que na utilização desta estratégia não é necessário que a pessoa com quem se partilha a experiência esteja presente quando o acontecimento positivo acontece. Ou seja, o pensar em partilhar mais tarde a memória da experiência positiva é em si mesmo uma forma de savoring.

Apesar de, segundo Bryant e Veroff (2007) não existirem respostas definitivas na literatura que expliquem porque é que partilhar com os outros torna a experiência mais agradável, os autores sugerem algumas hipóteses:

- Observar os amigos ou familiares a desfrutar é por si só uma atividade prazerosa, e este desfrutar vicariante pode contribuir para o prazer do momento. Este aspeto sugere que quanto mais próximo se está emocionalmente da pessoa com quem se está a desfrutar do acontecimento positivo, mais se acha agradável a experiência positiva;

- Quando os outros estão presentes, eles podem assinalar aspetos prazerosos da experiência que o individuo por si só não teria notado, eles podem encorajar o mesmo a ter uma associação cognitiva mais extensa em relação a um estímulo positivo, e eles podem ajudar a prolongar a alegria dos momentos felizes partilhando e estimulando a reminiscência interpessoal e diretamente encorajando o indivíduo a ou a rir ou a sorrir;

- Os outros podem servir de modelos comportamentais de savoring ou podem encorajar ativamente o esforço cognitivo e comportamental do indivíduo para desfrutar por sugestão ou instrução direta;

70 - O desejo de partilhar as experiências com os outros pode motivar a pessoa a tomar consciência de um maior número de detalhes e sentimentos que não seriam notados se assim não fosse;

- O indivíduo tem tendência a ser mais divertido na presença dos outros, tornando- o mais espontâneo, criativo, e mais expressivo quando está a desfrutar de uma experiencia.

A construção de memória é um tipo de estratégias de savoring na qual as pessoas procuram dar atenção e reforçar os aspetos positivos considerados como mais agradáveis e retendo-os em memórias, através de fotografias mentais, para mais tarde relembrarem ou reinvocarem (Carvalho, 2009). Os dados de investigação de Bryant e Veroff (2007) demonstram que a capacidade para construir memórias está associada à capacidade para partilhar com os outros e que as memórias positivas estão associadas a níveis de felicidade mais elevados (Bryant, Smart, & King, 2005).

Já a auto-congratulação é uma espécie de deleitamento (basking) cognitivo, ou seja, um tipo de autorreforço cognitivo através do qual o indivíduo se glorifica a si próprio e exalta o orgulho pessoal e a autossatisfação na resposta às experiências positivas (Bryant & Veroff, 2007).

As respostas presentes na intensificação sensorial-percetiva dizem respeito à intensificação do prazer através do enfoque em determinados estímulos concomitantemente com o bloqueamento de outros (Bryant & Veroff, 2007). Assim, alguns estímulos sensoriais podem interromper o fluir da experiência positiva e podem enfraquecer o savoring, pelo que bloquear as distrações pode favorecer o savoring ao dirigir a atenção para os aspetos agradáveis da experiência (Carvalho, 2009).

Já a comparação cognitiva tem um carácter social, na medida em que a comparação é feita face aos outros, podendo aumentar a experiência de savoring se for criado um contraste para baixo, ou seja, se o individuo ao comparar vai avaliar não o que se tem mas o que não tem (Carvalho, 2009). Contudo, o excesso de comparação pode diminuir a capacidade de desfrutar os afetos positivos e pode “minar” o prazer. Assim, para potenciar o savoring, é necessário que o indivíduo seja seletivo nas comparações descendentes, temporais e contrafactuais (Bryant & Veroff, 2007).

A absorção consiste num tipo particular de estratégias de savoring e é semelhante à noção de experiencia de fluir (flow) otimal proposta por Csikszentmihalyi (2002) no que diz respeito à ausência de autoconsciência, perda da noção de tempo e espaço.Esta estratégia envolve o evitamento deliberado da reflexão cognitiva e da associação

71 intelectual, a favor de uma focalização na experiência do acontecimento positivo durante a sua ocorrência (Bryant & Veroff, 2007). Algumas pessoas preferem não pensar sobre os seus sentimentos enquanto decorre o acontecimento positivo, enquanto outras preferem refletir e fazer associações mentais durante o desenvolvimento do evento positivo (Bryant & Veroff, 2007).

O comportamento manifesto refere-se a respostas de expressão comportamental e inclui as manifestações físicas dos sentimentos através das quais as pessoas expressam a alegria, a excitação, o entusiasmo, dançando, saltando, rindo alto, ou fazendo sons de apreciação. Este tipo de resposta pode ser reflexo, automático, ou deliberado (Carvalho, 2009).

Outra estratégia de savoring puramente cognitiva, a consciência temporal, requer uma realização consciente da passagem do tempo. As pessoas, quando utilizam este tipo de estratégia, lembram-se do que aconteceu num determinado momento ou pensam no momento em que um acontecimento positivo vai acontecer e conscientemente desejam que o momento se prolongue. As pessoas podem, deliberadamente lembrar-se que as suas experiências positivas são transitórias e que vale a pena serem desfrutadas no aqui e agora (Bryant & Veroff, 2007).

Por seu lado, a perceção de benefícios requer que a pessoa reflita sobre os benefícios pessoais, identificando a sua fonte, promovendo a qualidade afetiva das experiências de savoring (Bryant & Veroff, 2007).

Podemos associar o pensamento desmancha-prazeres ao conceito de dampening (amortecimento), na medida em que, tal como referem Wood e colaboradores (2003), o

savoring e o dampening não são meramente opostos um do outro e que alguns índices

de savoring são preditos por um conjunto diferente de variáveis de dampening e joy

killing (desmancha prazeres). Assim, ao contrário de todas as outras estratégias, esta diminui o savoring. Este é um processo que consiste em evitar as cognições e que diminui e acaba com o prazer (Bryant & Veroff, 2007). Por exemplo, existe evidência de que pessoas com baixa autoestima tendem a evitar mais as emoções positivas do que aquelas com elevada autoestima (Wood et al., 2003) e que a utilização destas estratégias é influenciada por aspetos culturais, na medida em que diferentes culturas têm diferentes ideologias sobre como as emoções devem ser experienciadas (Miyamoto & Ma, 2011).

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Capítulo II – A satisfação no trabalho