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O stresse ocupacional e a satisfação no docente do ensino superior

Capítulo IV – O stresse ocupacional e a satisfação no docente do ensino superior

3. O stresse ocupacional e a satisfação no docente do ensino superior

Uma das mais significativas manifestações comportamentais da experiência de stresse no trabalho é a baixa satisfação no trabalho, assim, o stresse será um fator antecedente da satisfação profissional dos professores (Travers & Cooper, 1996) ou estará correlacionado negativamente com a mesma (Kyriacou & Sutcliffe, 1979; Mota- Cardoso et al., 2002). Vários são os estudos que procuraram perceber se existe e qual é a relação entre o stresse ocupacional e a satisfação no trabalho dos docentes. Destes a maioria permitiu verificar que existe uma relação entre as duas variáveis, sendo ela significativa e inversa, assim, à medida que o stresse aumenta a satisfação no trabalho tende a diminuir (Abouserie, 1996; Chaudhry, 2012b; Donovan, 2012; Dua, 1994; Ferguson, 2005; Hagedorn, 1994; Jahanzeb, 2010; Kinman, 1998; Rasouli et al., 2012;

122 Sarros et al., 1997; Travers & Cooper, 1996), no entanto, alguns estudos verificaram que esta relação não existe (Borne, 2008;Chaudhry, 2012b; Nazari & Emami, 2012), ou que é positiva, ou seja, que quando o stresse aumenta a satisfação também aumenta (Chaudhry, 2012b; Manzoor et al., 2011).

Assim, o estudo desenvolvido por Dua (1994), visou conhecer os efeitos dos stressores do trabalho na saúde física e emocional e na satisfação no trabalho nos professores universitários. Dos resultados obtidos destacamos aqui os que dizem respeito à satisfação no trabalho, assim, os resultados indicam que níveis elevados de stresse no trabalho e de stresse não relacionado com o trabalho estão associados a níveis elevados de insatisfação, sendo quea relação entre o stresse no trabalho e a insatisfação no trabalho permaneceu significativa mesmo após o controlo do stresse não relacionado com o trabalho. O autor conclui assim que o stresse está associado à insatisfação no trabalho elevada.

Outro estudo foi realizado por Hagedorn (1994) e permitiu concluir que a satisfação no trabalho nos académicos é melhor predita a partir do baixo stresse, na medida em que os resultados indicam que independentemente do momento da carreira em que se situam os académicos, a redução do stresse surge como uma influência positiva na satisfação dos mesmos. Outro aspeto interessante dos resultados do estudo desenvolvido pelo autor é que as preocupações acerca do salário afetam, não só diretamente (como descrito no ponto anterior) mas também indiretamente, a satisfação no trabalho através da produção de stresse negativo, isto no que diz respeito aos docentes “novatos” e aos que estão a meio da carreira profissional. Os resultados obtidos no estudo realizado por Hagedorn (1994) permitiram ainda concluir que, para os académicos “novatos” e os que estão a meio da carreira profissional, as longas horas de tarefas relacionadas com a instituição são consideradas stressantes e significativamente ligadas com a satisfação.

Abouserie (1996) desenvolveu um estudo sobre o stresse, as estratégias de coping e a satisfação no trabalho no staff académico universitário e concluiu que o stresse e a insatisfação são conceitos interligados, na medida em que um fator de stresse no trabalho importante contribui para a insatisfação, que por sua vez conduz a níveis elevados de stresse.

Partindo do conhecimento de que existe uma relação entre o stresse e a satisfação no trabalho, Travers e Cooper (1996) procuram apreender quais as variáveis preditoras da insatisfação no trabalho dos professores, elencando um conjunto de fontes de

123 pressão. Os resultados obtidos pelos autores indicam a existência de duas fontes de pressão que parecem explicar uma percentagem de cerca de 40% da variação da insatisfação no trabalho, nomeadamente a gestão/estrutura da escola e a falta de estatuto/promoção. Estas duas variáveis preditoras estão ambas relacionadas com o envolvimento profissional, tomada de decisão e com o estatuto do professor no ensino.

Num estudo desenvolvido com académicos diretores de departamento, Sarros e colaboradores (1997) observaram que o stresse em geral e o stresse associado aos papéis (conflito de papéis e ambiguidade de papéis) estão negativamente associados à satisfação no trabalho, tendo sido observado um efeito direto quer do stresse, quer do conflito de papéis e da ambiguidade de papéis, quer ainda do género na satisfação no trabalho, no entanto, a ambiguidade de papéis apresentou uma maior associação direta com a satisfação no trabalho do que o conflito de papéis. A relação entre o stresse inerente aos papéis e a satisfação no trabalho é mediada, segundo os resultados obtidos pelos autores, pela intervenção de variáveis intervenientes, neste caso pelo “chair

stress”, este parece assim agravar o efeito do conflito de papéis e da ambiguidade de

papéis na satisfação no trabalho (Sarros et al., 1997).

O estudo desenvolvido por Yperen e Janssen (2002) permitiu aos autores concluído que quando a orientação da performance é forte e a orientação para a mestria é fraca, as exigências do trabalho relacionam-se negativamente com a satisfação no trabalho. Este resultado suporta o pressuposto de que a exaustão ou fadiga representam aspetos mediadores entre as exigências do trabalho e a satisfação no trabalho.

Leimer (2006) desenvolveu um estudo longitudinal no sentido de perceber as mudanças ocorridas na satisfação e stresse dos académicos entre 1998 e 2005, tendo em conta a categoria académica, o género e a raça/etnia. Os resultados obtidos neste estudo indicam que existem diferenças entre as categorias académicas. Em 1998, as diferenças encontradas remetiam para o processo de revisão/promoção, exigências de pesquisa/publicação, trabalho da comissão, as reuniões do corpo docente, pessoal e finanças. Em 2005, estas distinções mantiveram-se mas a carga de ensino, a oportunidade para atividades académicas, salário e benefícios, e "burocracia" institucional registaram algumas diferenças na satisfação e no stresse adicional. Estes resultados permitiram à autora concluir que os assistentes e os professores associados são os menos satisfeitos e os mais stressados por estas alterações, já os leitores em full- time são os mais satisfeitos e, em alguns aspetos (e.g., carga de ensino, procedimentos institucionais), os menos stressados.

124 De forma semelhante ao encontrado em outros estudos presentes na literatura Jahanzeb (2010) verificou que a relação entre satisfação com trabalho e o stresse ocupacional dos docentes do ensino superior, de um sistema de ensino à distância, apresenta um coeficiente com um sinal negativo, que indica a existência de uma relação negativa entre as duas variáveis, assim, níveis elevados de stresse ocupacional resultam em menor satisfação no trabalho. Os resultados indicam ainda que a satisfação no trabalho é aproximadamente 50% explicada pelas variáveis de stresse ocupacional (ambiguidade de papéis, conflito de papeis, políticas da instituição, trabalho sem sentido, papel de gestão).Todas as fontes de stresse estudadas apresentaram uma relação negativa significante com a satisfação no trabalho, contudo, o coeficiente mais elevado foi apresentado pelo conflito de papéis, destacando-o como tendo a maior contribuição na insatisfação no trabalho, seguindo-se os papéis de gestão, a ambiguidade de papéis, as políticas da instituição e finalmente a natureza do trabalho.

Um outro estudo foi realizado por Manzoor e colaboradores (2011) sobre o stresse ocupacional e a satisfação no trabalho nos professores universitários no Paquistão, tendo concluído que existe uma relação mútua entre as duas variáveis, contudo, esta relação não parece ser inversa como na maioria dos estudos presentes na literatura, na medida em que a maioria dos professores estão satisfeitos com o seu trabalho e ligeiramente ou moderadamente stressados devido ao seu ambiente de trabalho.

Chaudhry (2012b) também desenvolveu um estudo acerca da relação entre o stresse ocupacional e a satisfação no trabalho, em universidades do Paquistão e verificou que não existe uma relação significativa entre satisfação no trabalho e o stresse ocupacional em geral. No entanto, verificou que existe uma relação inversa entre o stresse ocupacional e a satisfação geral com o trabalho nos docentes de universidades privadas e que não existe relação entre o stresse ocupacional e a satisfação geral com o trabalho nos docentes das universidades públicas. Não encontrou nenhuma relação entre o stresse ocupacional e a satisfação no trabalho global, no caso quer dos docentes do sexo masculino, quer dos do sexo feminino das universidades. Considerando a categoria profissional do docente, o autor verificou que existe uma relação inversa entre a satisfação no trabalho e o stresse ocupacional no caso dos professores assistentes, uma relação positiva no caso dos professores associados e no caso dos professores e leitores a relação surge como insignificante. No que concerne à idade, o autor observou que os resultados dos docentes com idades compreendidas entre 20-30 anos apresentam uma relação inversa entre o stresse ocupacional e a satisfação no trabalho global, sendo que a

125 referida relação se traduz como insignificante nos restantes grupos etários. Relativamente ao tempo de serviço docente, o autor descreve a existência de uma relação inversa entre as duas variáveis em análise no caso dos docentes com tempo de serviço entre 3 e 4-12 anos e uma relação significante e direta no caso dos docentes com mais de 21 anos de serviço docente. O autor concluiu ainda que os professores universitários jovens são mais sensíveis ao stresse ocupacional e à satisfação no trabalho e que não existe nenhuma relação significativa entre o stresse ocupacional e a satisfação no trabalho global nos docentes de universidades de acordo com a natureza do trabalho (visitante, com contratos e permanentes) (Chaudhry, 2012b).

Um outro estudo foi desenvolvido por Donovan (2012) e os resultados obtidos permitiram à autora concluir que no geral o nível de stresse dos académicos é elevado e que a satisfação é moderadamente baixa; que os professores associados reportam maior stresse e menor satisfação no trabalho do que os professores catedráticos; e que os professores associados e assistentes apresentam maior stresse do que os professores catedráticos mas não diferem destes na satisfação no trabalho. Como fatores que contribuem para estes resultados, a autora identificou o baixo ou estagnado salário; o aumento do custo dos benefícios, as longas horas despendidas pelos professores associados com os deveres inerentes à família e ao cuidar das crianças; e o tempo significativo que muitos professores associados e assistentes despendem em atividades relacionadas com o ensino (Donovan, 2012).

Rasouli e colaboradores (2012) desenvolveram um estudo sobre a relação entre a robustez (hardiness), a satisfação no trabalho e o stresse no staff e membros académicos, numa universidade islâmica, tendo encontrado uma relação significante entre as três variáveis. Assim, com base nos resultados obtidos os autores afirmam que aqueles que têm graus mais elevados de robustez serão aqueles que terão graus mais elevados de satisfação no trabalho e níveis mais baixos de stresse.

Importa por fim destacar o estudo desenvolvido por Swanson, Davis, e Zhao (2007), que apesar de não ter contemplado na sua amostra professores, apresenta um resultado inovador e relevante para os objetivos do nosso estudo, nomeadamente, a observação de que o eustress influência positivamente a satisfação global, neste caso, dos membros de audiências de espetáculos.

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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO SOBRE O STRESSE OCUPACIONAL E A