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O termo estratégia vem do grego (strategía) e remete ao significado de escritório ou comando de um general (strategos=general). Conforme o Dicionário Aurélio (1986), refere-se à ”arte de planejar e executar movimentos e operações de tropas, navios e/ou aviões, visando a alcançar e manter posições relativas e potenciais bélicos favoráveis a futuras ações táticas sobre determinados objetivos”. Por extensão, passou a significar, segundo a mesma referência, “a arte de explorar condições favoráveis com o fim de alcançar objetivos específicos”.

No âmbito educacional, o termo é definido pela UNESCO, em 1979, como combinação e organização do conjunto de métodos e materiais escolhidos para alcançar certos objetivos. A questão da finalidade está bastante clara nessa concepção, implicando ação planejada e seqüenciada.

Este deve ser o ponto de partida: um planejamento. Visto sob o paradigma da complexidade, no entanto, sabemos que é impossível prever todas as variáveis do procedimento, já que serão pessoas aplicando procedimentos sobre outras pessoas. E pessoas que carregam em si a inteireza de suas várias dimensões que se interconectam e se influenciam.

Na concepção de Torre (2002, p. 97), estratégia “é um procedimento adaptativo – ou um conjunto de procedimentos – em que organizamos a ação de forma seqüenciada com vistas a alcançar objetivos formativos”. Nuria Rajadell (2001) também enfatiza a importância do planejamento, esclarecendo que, para se fazer uma intervenção didática, é necessário planejar estratégias que nos permitam chegar às finalidades previstas, já que, na sua visão, “uma estratégia didática equivale à atuação seqüenciada potencialmente consciente do profissional de educação, guiada por um ou mais princípios da Didática, para a otimização do processo de ensino- aprendizagem” (RAJADELLL, 2001, p. 467, grifo nosso). Esses princípios regem a atuação didática e influenciam em qualquer estratégia de intervenção que se queira aplicar, pois dizem respeito ao conhecimento e posterior aplicação das estratégias didáticas. São oito os princípios, conforme a visão da pesquisadora espanhola:

1. Princípio da comunicação – ativa a essência do processo educativo que é a comunicação conforme os aspectos informativo, persuasivo e emotivo;

2. Princípio da atividade - pautado pelo princípio de Adolf Ferrière, teórico da Escola Nova, que afirma que “somente se aprende aquilo que se pratica” (FERRIÈRE apud RAJADELL, 2001, p. 468);

3. Princípio da individualização ou subjetividade - visualizar o indivíduo como ser único ao qual a aprendizagem deve adaptar-se;

4. Princípio da socialização – permite internalizar uma série de habilidades que permitam adaptar-se à sociedade;

5. Princípio da globalização - torna a realidade perceptível na sua totalidade e não fragmentada, ou seja, trabalha a formação completa de uma pessoa;

6. Princípio da criatividade – facilita a expressão da originalidade de cada indivíduo, de alguns elementos e situações;

7. Princípio da intuição - leva à apreciação de um fenômeno com base nos efeitos que este produz, ou seja, utiliza a intuição. A intuição, segundo Rajadell, pode ser direta e real, quando o objeto de estudo está presente, o que facilita a compreensão do fenômeno, ou pode ser indireta ou virtual, quando o objeto de estudo não está presente fisicamente, mas pode ser compreendido pela imaginação.

8. Princípio da abertura – permite o direito à expressão da diferença tanto pessoal - aspectos cognitivos, afetivos e relacionais do aluno - quanto social, nos aspectos familiares, econômicos, culturais, religiosos, político e do entorno que circunda o aluno.

Os princípios didáticos considerados por Rajadell permitem, como foi visto, uma abordagem ampla e coadunam-se com os propósitos desta pesquisa de fazer emergir os aspectos em que cada estratégia colabora para uma aprendizagem integrada. O olhar atento a esses aspectos pode iluminar a análise das implicações pedagógicas das estratégias aplicadas.

Para maior compreensão do termo didática e para esclarecimento dos desdobramentos epistemológicos que essa definição acarreta, este estudo reportou-se a um breve histórico feito por Mallart (2001). Todos os termos didaktiké, didaskein, didaskalia, didaktikos, didasko tinham “em comum relação com o verbo ensinar, instruir, expor com clareza” (MALLART, 2001, p. 27). Desde a origem, na Antigüidade clássica grega, o termo nomeava um gênero literário que tinha a

finalidade de ensinar, formar o leitor. Tiveram essa intenção tanto Hesíodo com sua Teogonia, quanto Virgílio nas Geórgicas, ou Ovídio, na Arte de amar.

Na Idade Média e no Renascimento, o sentido ainda continua o mesmo, conforme atesta Mallart, ao citar a definição de poesia do Marquês de Santillana: “Que coisa é a poesia [...] senão um fingimento de coisas úteis, encobertas ou disfarçadas com uma roupagem muito bonita?” (ibidem, p. 28). Somente no século XVII, Comênio e Ratke usam o termo didática, emprestado do latim, e mudam o sentido da palavra. Como se lê na Didática Magna, a didática era artifício para ensinar todas as coisas a todos, com rapidez, alegria e eficácia. A palavra caiu em desuso por um tempo, até que foi retomada no século XIX e hoje todos os autores que escrevem sobre didática a definem com algumas variações.

Para Mallart Navarra, “a didática é uma ciência prática, de intervenção e transformadora da realidade”. (ibidem, p. 32). Paulo Freire (2003), na Pedagogia do Oprimido, já afirmava que a palavra verdadeira é práxis, por isso pode transformar o mundo. Se a palavra for separada da ação, será transformada em verbalismo.

Como ciência, a didática tem um objeto de estudo que possui uma dimensão material (quod) e outra formal (quo). O primeiro constitui-se da própria realidade investigada; no caso, o processo de ensino-aprendizagem. O segundo se refere ao enfoque através do qual se vê o objeto- matéria, ou seja, o objeto formal é composto da prescrição de métodos e estratégias eficazes para desenvolver a processo educativo.

Em obra que organizou com Sepúlveda (2001), Rajadell escreve um capítulo em que define a estratégia didática como algo que prevê a atuação seqüenciada do processo de aprendizagem em sua tripla dimensão: a dimensão do saber, centrada na aquisição e domínio de determinados conhecimentos; a dimensão do saber-fazer, que permite que se desenvolvam habilidades para realizar certas ações ou tarefas que depois podem ser modificadas ou transferidas para outros contextos; a dimensão do ser, focada no lado afetivo da pessoa, priorizando a modificação e consolidação de interesse, atitudes e valores. A tarefa aqui – a de aprender a perceber, relacionar e cooperar é muito mais complexa do que reter conhecimentos.