Estratégias em relação às mudanças climáticas

A Fazenda São Marcelo desenvolve ações de redução das suas emissões de maneira integrada ao negócio. Nessa esteira, destacam-se três ações principais relacionadas aos ganhos de produtividade que atuam também na mitigação das emissões.

A primeira delas relaciona-se com o programa de melhoramento genético chamado PAINT, desenvolvido desde 2004 junto a uma empresa parceira e que visa a seleção de animais mais produtivos por meio da inseminação artificial, sobretudo a chamada

Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)42. Isso reflete na produtividade de duas maneiras. No início do ciclo, interfere no caráter reprodutivo, gerando animais com a possibilidade de terem as primeiras crias mais cedo – maior precocidade sexual - e com maior possibilidade de encurtar o ciclo entre os partos, apresentando, como consequência, um número maior de crias por animal. No Gráfico 4, é possível observar a evolução da eficiência reprodutiva ao longo do tempo, mostrando a evolução genética do rebanho.

Gráfico 4 - Eficiência reprodutiva por idade acumulada das novilhas entre Safras 2008 e 2011 – Grupo JD/Fazenda São Marcelo

FONTE: GRUPO JD/SÃO MARCELO – Emissões e ações de neutralização

Ao fim do ciclo, o melhoramento genético contribui para o aprimoramento do processo de terminação, uma vez que gera bois com uma menor necessidade de alimento, isto é pasto e outras suplementações para adquirir peso; adquirindo peso mais rápido, é possível encurtar o ciclo de vida, aumentando a precocidade de terminação e abate. No Gráfico 5, é possível observar a evolução da idade de abate dos animais da Fazenda ao

42

A Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) é uma técnica de inseminação artificial que, utilizando protocolos hormonais, permite ao produtor inseminar as vacas no momento do ciclo produtivo que achar mais adequado, sem ter que observar e esperar pelo seu cio natural. Isto possibilita escolher o melhor momento do ciclo reprodutivo para realizar a inseminação e a reprodução, levando em conta fatores como, por exemplo, a época em que o clima é mais favorável, ou seja, quando há uma maior quantidade e qualidade de pasto. Além disso, é possível inseminar um grande número de vacas em um mesmo dia e obter uma maior taxa de prenhez. Consequentemente, a técnica contribui para um significativo ganho de produtividade do rebanho (MENEGHETTI; VASCONCELOS, 2008; INFORZATO et al, 2008)

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0%

14 meses 18 meses 24 meses Acumulado

0,4% 26,2% 64,2% 90,8% 6,6% 28,0% 60,4% 95,0% 15,8% 40,5% 36,2% 92,5% 31,7% 0,0% 0,0% 31,7%

longo do tempo, mostrando a melhoria do processo produtivo com a redução da idade do abate, também devido às ações de planejamento nutricional.

Gráfico 5 - Comparação da idade ao abate dos animais – Grupo JD/Fazenda São Marcelo

FONTE: GRUPO JD/SÃO MARCELO – Emissões e ações de neutralização

A empresa destaca ainda possível trade-off existente entre manter as práticas de manejo de bem-estar animal, mantendo uma dieta natural, com medidas de melhoria de produtividade e que impactem na redução das emissões de metano no processo de fermentação por meio da aplicação de antibióticos e hormônios.

Os animais das Fazendas São Marcelo (FSM) não são suplementados com produtos que atuam diretamente reduzindo a emissão de metano entérico, produzidos durante a fermentação do alimento pela microbiota ruminal do gado. Mesmo sabendo que esses aditivos ainda possuem a vantagem de melhorar o desempenho produtivo dos animais, como o aumento do ganho de peso diário, também é de conhecimento que a maioria dos produtos para esse fim, que estão comercialmente disponíveis, pertencem à classe dos antibióticos [...]. Assim, o fornecimento desses produtos ao rebanho iria contra o princípio da norma do programa Humane Farm Animal Care, no qual a FSM é certificada com o selo de bem-estar animal Certified Humane Brasil, [...] em que exige que o sistema de criação inclua uma nutrição equilibrada livre de antibióticos e hormônios. (GRUPO JD/SÃO MARCELO – Emissões e ações de neutralização).

A segunda ação importante recentemente implantada com auxílio de uma consultoria rotineira, em 2012, é a recuperação de pastagens, por meio de ações relacionadas ao controle de ervas invasoras e insetos, além do estudo da adubação de pastagens e irrigação em algumas áreas, contribuindo positivamente para o aumento da

digestibilidade do capim – implicando na redução das emissões de metano – e da manutenção do pasto como sumidouro eficaz de carbono. Além disso, durante e após o processo de confinamento, nas etapas finais de terminação, o esterco é recolhido e é realizada sua compostagem, servindo concomitantemente a dois princípios: gerar adubo para ser utilizado no processo de recuperação de pastagens e, por meio da decomposição aeróbica, tornando a zero a produção de metano no processo. Essa iniciativa conta com a parceria de uma empresa do Rio de Janeiro e, no futuro, irá gerar créditos de carbono à empresa, contribuindo para ajudar na amortização do investimento (GRUPO JD/SÃO MARCELO – Gerente Técnico).

A própria atividade de confinamento e a melhoria do ciclo produtivo nas fazendas, também reduzem a degradação do pasto. Nesse ciclo, a população dos animais da fazenda de criação em Juruena fica bastante reduzida após a desmama – ocorrida nas estações de seca -, quando então há um intervalo maior para a recuperação natural das pastagens. Posteriormente, na fazenda de recria em Tangará, são criados os bois, que,

apesar de ganharem mais peso, ainda podem ser considerados ‘magros’. Esses animais ‘magros’, então, vão para o confinamento para ganharem mais peso, dando lugar, mais

uma vez, para os bezerros. Esse processo também alivia a pressão sobre a pastagem, porque ela fica sujeita a animais menos pesados e que comem menos, arrefecendo, consequentemente, a velocidade de degradação (GRUPO JD/SÃO MARCELO - Diretor Geral).

Ademais, a empresa, tem um pedido registrado no banco, via Plano ABC, para obter crédito com a finalidade de investir em recuperação de pastagens (GRUPO JD/SÃO MARCELO - Diretor Geral).

A terceira ação é o planejamento nutricional. Nesse planejamento nutricional diferenciado, é dada ao animal, além de sal mineral e capim, suplementação proteico- energética. Consequentemente, age como importante fator para o aumento de seu peso em um período menor, ficando pronto para o abate com uma menor idade, e com isso, conseguindo encurtar o seu ciclo de produção (GRUPO JD/SÃO MARCELO – Gerente Técnico).

A quarta ação, consiste no desenvolvimento de ações de compensação das emissões por meio do plantio de árvores nas suas unidades e manutenção de áreas de conservação superiores ao mínimo legal exigido, mantendo projetos de REDD.

Por fim, há ainda outras ações que contribuem para a redução das emissões. A integração lavoura-pecuária não é realizada atualmente, contudo, há projetos e estudos em andamento para que ela venha a ser empregada. Além disso, por meio do seu Dia de Campo, também contribui indiretamente para a redução das emissões por parte de terceiros, haja vista que promove seminários destinados a outros produtores a respeito de algumas técnicas de melhoria de produtividade pecuária como manejo de pastagem, intensificação e manejo reprodutivo (GRUPO JD/SÃO MARCELO – Gerente Técnico; GRUPO JD/SÃO MARCELO - Apresentação institucional).

Mensuração e estabelecimento de metas de emissões

Apesar das ações em desenvolvimento, a empresa não realiza um inventário apontando seu nível de emissões ou o nível de redução de emissões possibilitado pelas novas práticas adotadas. A empresa sabe que, ao adotar algumas práticas, ela de fato tem contribuído para a redução das emissões, ainda que não saiba precisar o montante, com exceção de um projeto de compostagem desenvolvido junto à uma consultoria externa.

[...] em relação à mensuração de emissão de metano, de gases de efeito estufa, tirando esse projeto de confinamento que é de compostagem, da produção de adubo orgânico, o restante da atividade nós não temos uma mensuração para comparar. Embora eu fale que, com todas essas ações, nós caminhamos para a neutralização da produção. (GRUPO JD/SÃO MARCELO – Gerente Técnico).

No futuro, contudo, o Grupo JD pretende mensurar as emissões, já que “[...] primeiro,

tudo que você quer melhorar fica difícil se não medir.” (GRUPO JD/SÃO MARCELO -

Diretor Geral). Como ainda não há um processo formal de mensuração das emissões, há um prejuízo no processo de estabelecimento de metas de redução das emissões e até mesmo um eventual projeto de obtenção de créditos de carbono. Entretanto, ainda que não haja metas explícitas de redução das emissões, existe o objetivo de reduzir as emissões relativas, seja por quilograma de animal, seja por hectare de pasto (GRUPO JD/SÃO MARCELO – Gerente Técnico).

No que tange ao processo de comunicação das ações, de fato, é mencionado que o aumento da produtividade de carne por hectare está relacionado à sustentabilidade da produção, contudo, não é explorada a relação com a redução das emissões totais:

“Pensando também na sustentabilidade da sua produção, uma equipe de pesquisa busca

JD/SÃO MARCELO). Em seu material de comunicação institucional, de modo geral, a temática das mudanças climáticas não é tão explorada quanto às ações relacionadas ao bem-estar animal ou à manutenção da vegetação (WEBSITE GRUPO JD/SÃO MARCELO; GRUPO JD/SÃO MARCELO - Apresentação institucional).

Estratégias de adaptação às mudanças climáticas

Como as mudanças nas condições climáticas têm afetado a produção de frutas no Vale do São Francisco, o Grupo JD desenvolve algumas ações de adaptação. Dentre essas ações, estão a aplicação de extratos de plantas para reduzir o stress da videira e a implementação de sistemas de irrigação. Na Fazenda São Marcelo, a irrigação e suplementação alimentar são estratégias adotadas visando, dentre outros motivos, reduzir a dependência das variáveis climáticas.