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Os motivadores para ações voluntárias das empresas

2.1 Mudanças Climáticas

2.1.2 Os motivadores para ações voluntárias das empresas

Para entender a extensão das ações das empresas no tocante à gestão do carbono, é importante investigar os motivadores que levam cada uma a desenvolver sua estratégia de maneira diferenciada das demais. Os motivadores podem ter um viés positivo, quando observado sob uma provável oportunidade, ou negativo, quando se constitui, analogamente, em provável risco ou, em último caso, podem ter uma dinâmica com componente tanto de oportunidade quanto de risco. O espectro de motivadores também é bastante amplo, estendendo-se da busca por redução de custos à expectativa de se obter capital reputacional, como discutido nos próximos parágrafos.

A redução de custos é identificada frequentemente como um elemento-chave no desenvolvimento das ações de redução das emissões, sobretudo quando envolve a melhora da eficiência energética da empresa e de projetos de redução das emissões, como relata Jeswani et al (2008). Quanto ao desenvolvimento de projetos de redução das emissões, tem se tornado cada vez mais comum o surgimento de mecanismos de financiamento. Para citar o exemplo mais ilustre, o Protocolo de Kyoto trouxe no seu bojo os mecanismos internacionalmente mais renomados, visando criar valor de mercado para o carbono: de um lado, o mercado de transação de créditos de carbono - o chamado cap-and-trade, que permite a transferência dos direitos de emissão por parte das empresas que conseguem reduzir suas emissões; de outro, a instituição do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que permite o financiamento de projetos inovadores de redução das emissões em empresas de países não pertencentes do chamado Anexo I (GRIFFITHS et al, 2007).

Outra compensação financeira que pode ser extraída é a redução do custo de captação de recursos a partir da redução dos riscos de suas atividades. Pode haver custos inesperados a partir da necessidade repentina da empresa dispor recursos para a adaptação a novas regulações, o pagamento de multas ou até mesmo a restrição da comercialização de produtos e processos intensivos em carbono. Além disso, pode haver danos físicos a seus ativos devido a mudanças do clima, que também geram a necessidade de se tomar ações de remediação (HOFFMAN, 2005); e pode haver influência na quantidade e qualidade de insumos produtivos e na manutenção da

infraestrutura energética e logística da região de atuação da empresa (SUSSMAN; FREED, 2008). Como reflexos empíricos desta dinâmica, a consultoria Ernst & Young classificou as mudanças climáticas como um dos dez riscos mais críticos para sete dos 14 setores analisados, destacando-se os riscos operacionais e de compliance (ERNST & YOUNG, 2010).

Diante do contexto de incerteza das mudanças climáticas, ser o first mover pode trazer ganhos por parte da empresa ao inovar desenvolvendo novos produtos ou processos que gerem menor nível de emissões ou tenham emissões nulas em relação aos atuais (WITTNEBEN; KIYAR, 2009). Hoffman e Woody (2008) apontam a percepção de algumas empresas de que atuar na vanguarda pode trazer um melhor posicionamento competitivo e gerar a capacidade de identificar novas oportunidades. Para exemplificar esta assunção, citam oportunidades às indústrias que fornecem a infraestrutura de instalações de energia eólica, solar ou biocombustíveis, cuja demanda está aumentando gradativamente ante as novas regulamentações que estipulam um preço ao carbono. Porter e Reinhardt (2007) indicam até mesmo a necessidade de a empresa repensar seu modelo de negócio ou a tecnologia que embasa seu negócio ante a um cenário caracterizado pelo custo elevado do carbono, como já dá indicativos os cenários para os setores automobilísticos e de petróleo.

Outro motivador discutido na literatura diz respeito à construção da reputação da empresa. Wittneben e Kiyar (2009) relatam que o público em geral, em sinal de sua preocupação com o ambiente natural, espera uma resposta da empresa em relação às mudanças climáticas, refletindo mudanças nas preferências do consumidor (BUSCH; HOFFMANN, 2007). Esta resposta, em parte, é apresentada pela empresa a partir da publicação de seus relatórios em que apresentam suas soluções e respostas a estas questões (WITTNEBEN; KIYAR, 2009; KOLK et al, 2008) e do desenvolvimento de iniciativas voluntárias que envolvam importantes stakeholders para a empresa. É comum, destarte, que as empresas posicionem as ações relacionadas às mudanças climáticas dentro do âmbito da responsabilidade social corporativa (KOLK; PINKSE, 2004). A despeito dos prováveis benefícios advindos, Hoffman (2005) apresenta algumas limitações para as empresas se apropriarem de uma possível reputação derivada de ações relacionadas às mudanças climáticas: é difícil quantificar os benefícios e impactos das ações na reputação e, muitas vezes, a reputação do setor como

um todo acaba por se sobrepujar em relação à reputação da empresa que desenvolve tais ações.

Em diálogo com todos os motivadores apresentados, Griffiths et al (2007) discutem a adoção de estratégias voluntárias de redução das emissões por determinadas empresas ou setores como forma de evitar ou reduzir a possibilidade do governo adotar medidas mais restritivas como um imposto de carbono. E, em sendo uma empresa líder em sua indústria, há a possibilidade de pleitear espaço para influenciar o processo de desenvolvimento de políticas públicas, de modo a refletir seus próprios interesses (HOFFMAN; WOODY, 2008; KOLK; PINKSE, 2008).

Subjacente aos motivadores apresentados e menos explorada na literatura no que concerne às motivações empresariais para o desenvolvimento de ações ambientais voluntárias, pode ser observada a dimensão ética. O que significa considerar que algumas empresas conduziriam estas iniciativas porque acreditam que é a “coisa certa a se fazer” ou por encontrarem grande aderência em relação aos seus valores (BANSAL; ROTH, 2000).

Por fim, fica claro no acima exposto que a atuação contra a imposição de metas obrigatórias de redução das emissões, estratégia adotada anteriormente por muitas empresas e ainda hoje adotada por algumas poucas (JESWANI et al, 2008), pode configurar-se, diante deste contexto, em uma medida basicamente paliativa e de eficácia bastante limitada diante do cenário de riscos e oportunidades que se vislumbram. Muitas empresas têm reconhecido esse cenário e, como resultado, têm conduzido amplas ações no sentido de estruturar uma estratégia de gestão das mudanças climáticas.