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Estratégias para utilização da interpretação ambiental: uma interpretação

3 AS MARCAS DA PAISAGEM ALÉM DAS FRONTEIRAS:

4.3 Interpretação Ambiental

4.3.2 Estratégias para utilização da interpretação ambiental: uma interpretação

A interpretação ambiental está baseada na forma de perceber o mundo, no uso dos sentidos e na motivação para a observação da natureza. Conforme debatido anteriormente, para garantir qualidade na interpretação é preciso ter cuidado com a linguagem, pois o uso de muitos termos técnicos gera uma sensação de distanciamento, podendo parecer ao visitante que a informação está sendo dirigida a

especialistas, e não a ele. É preciso também cuidado na condução, garantindo que o visitante tenha suas próprias sensações e percepções – não há necessidade, por exemplo, de explicar sensações em frente a uma cachoeira!

Outra sugestão é evitar o uso excessivo de informações, com textos grandes em painéis e folders, por exemplo. Porém, isso não significa utilizar textos sem conexão ou com informações incompletas.

Na tentativa de garantir alguns dos princípios de Tilden (1957), Ham (1992) também aponta algumas sugestões para tornar a interpretação algo prazeroso: a) exposições devem buscar ser interativas e conter movimento, utilizando cores vivas, música e recursos tridimensionais; b) intérpretes precisam usar exemplos e analogias para facilitar a compreensão; c) mostrar “causa-efeito” para tornar os fenômenos mais claros, por exemplo: “o desaparecimento das cobras deste local fez proliferar a população de ratos, gerando assim prejuízos à agricultura”; d) vincular a ciência à história da humanidade, ou seja, quando relacionada à história das civilizações – de como as plantas eram utilizadas pelos índios na alimentação, na arte ou na medicina, por exemplo – a ciência se torna mais interessante; e) utilizar metáforas visuais para ilustrar o que é difícil descrever somente com palavras. Por exemplo, Ham (1992) sugere que para mostrar a diversidade de espécies de aves e mamíferos tropicais poderia ser utilizado um mapa, no qual o tamanho dos países e continentes estivesse associado ao número de espécies que ele contém – os países dos trópicos seriam bem maiores que os das demais regiões; f) utilizar formas de comunicação para deixar/fazer o tema interpretado mais interessante: 1 – exagerar no tamanho: “se fôssemos suficientemente pequenos para caminhar dentro de um formigueiro, nos assustaríamos com o que veríamos”; 2 – exagerar na escala de tempo: “se o tempo fosse acelerado de tal forma que mil anos passassem em 1 segundo, poderia se observar o deslocamento dos continentes”; 3 – utilizar situações imaginárias: “como seria a vida numa comunidade onde não existisse madeira?” ou “como seria a vida na Terra se sua temperatura média aumentasse 5°C?”; 4 – utilizar a personificação, mas tomando o cuidado para que as pessoas não acreditem que os animais e plantas pensam como os seres humanos; 5 – enfocar somente um indivíduo: elaborar e contar uma história de uma pequena gota d’água situando-a no ciclo hidrológico (HAM, 1992).

Sobre a interpretação ambiental “significativa”, Ham (1992) complementa Tilden (1957) e afirma que, para ter significado, é preciso relacionar o conteúdo com

algo que já se conhece ou se vivenciou, ou seja, é preciso integrar a informação ao “banco de dados pessoal” do público para ampliar o conhecimento, as experiências e as vivências.

A interpretação ambiental “organizada” refere-se a uma estrutura coerente de informações que possa ser acompanhada com facilidade, ou seja, precisa seguir uma determinada lógica, na qual cada uma delas esteja conectada com as demais e, também, com uma ideia maior. É preciso que exista início, meio e fim. A apresentação do conteúdo, de acordo com Ham (1992) precisa estar dividida em pontos principais e pontos secundários. É crucial, portanto, que não exista um exagero de informações ou pontos, na linguagem do autor (op. cit.).

Uma pesquisa realizada por Miller (1956 apud HAM, 1992), relativa à capacidade da mente humana, demonstra que é possível compreender e memorizar de uma só vez, de 5 a 9 ideias. Além disso, quanto mais desconexas forem as informações, menor é a chance de torná-las disponíveis na memória. No intuito de exemplificar como a organização pode fazer diferença, reduzindo inclusive o esforço para compreensão, adaptou-se o quadro abaixo de Ham (1992):

Quadro 3 - A interpretação pode ser facilitada ao limitar sua exposição a, no máximo, cinco ideias principais.

Fonte: Adaptado de Ham (1992).

Já ao se referir à interpretação ambiental “provocante”, é preciso relembrar o quarto princípio de Tilden (1957), que afirma o objetivo da interpretação como sendo a provocação. Ela precisa instigar o visitante a refletir sobre determinados assuntos para além do que lhe é apresentado.

Quanto à interpretação ambiental “diferenciada”, os autores (TILDEN, 1957 e HAM, 1992) chamam a atenção para a questão dos distintos públicos que podem visitar os locais. É fundamental considerar o perfil dos visitantes na elaboração dos programas interpretativos.

Por fim, a interpretação ambiental “temática” faz referência aos temas de cada interpretação. A interpretação é temática quando possui uma mensagem a ser encaminhada. Sobre esta questão, Ham (1992) elabora uma discussão acerca das

distinções entre o “tema interpretativo” e o “tópico”. Na compreensão do autor (op. cit.) o tópico é mais amplo que o tema interpretativo e pode ser bem variado: erosão do solo, aves, desmatamento, poluição, água, etc. Os temas seriam as frases simples e curtas, contendo uma única ideia e utilizando um vocabulário informal e provocativo, que acompanham cada tópico. De acordo com Ham (1992), a apresentação do tema interpretativo deve ser feita de forma interessante e motivadora, envolvendo os participantes, estimulando a observação, a ação e a reflexão.

Na proposta de Ham (1992), a interpretação é constituída de um tópico, um tema interpretativo, no máximo 5 pontos principais (que auxiliarão na compreensão do tema) e, para cada ponto principal, algumas informações subordinadas. O quadro 4 mostra um exemplo:

Quadro 4 – Constituição da intepretação

Legenda: Esclarecimentos sobre a definição dos pontos principais e informações subordinadas em relação ao tema interpretativo.

Diante da diversidade de meios interpretativos possíveis de serem utilizados, cabe salientar a apresentação dos temas interpretativos em publicações, placas e em trilhas auto-guiadas. Nos dois primeiros sugere-se que o tema interpretativo esteja indicado no título ou subtítulo do material, e que se use grandes destaques dentro do texto para mostrar os pontos principais. Destaques menores e parágrafos são utilizados para informações subordinadas, no caso de publicações e, nas placas, usualmente, utilizam-se somente um ou dois pontos principais. No que se refere às trilhas auto-guiadas, se forem utilizados folhetos, é preciso considerar um parágrafo inicial para manifestar o tema interpretativo da trilha e que mencione brevemente algumas das paradas mais interessantes: se forem utilizados painéis, é preciso instalar um no início da trilha, que mencione qual o tema interpretativo e que indique as paradas mais importantes.