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7 ATIVIDADES DE NATUREZA CIENTÍFICO-PEDAGÓGICA

7.1 Atividade Científico-Pedagógico Individual

7.1.4 Estratégias que potenciam a Heterogeneidade

As estratégias que serão apresentadas de seguida foram operacionalizadas e desenvolvidas no decorrer do processo de ensino-aprendizagem. A título de exemplo expomos primeiramente uma situação de aprendizagem direcionada a grupos homogéneos explicando posteriormente com que constrangimentos podemos jogar para transformar a situação ajustada e desafiante perante grupos heterogéneos.

Quadro 6 - Situação de aprendizagem para grupos homogéneos dos Desportos de Combate.

Nesta situação possuindo dois alunos com níveis de proficiência distintos (proficiente e menos proficiente) podemos colocar os seguintes constrangimentos:

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Quadro 7 - Constrangimentos que podem ser utilizados numa situação de aprendizagem nos Desportos de Combate que possua heterogeneidade.

Com a imposição do primeiro constrangimento, por exemplo, o aluno mais proficiente possui uma base de apoio mais reduzida (apenas um apoio) que a do aluno menos proficiente (dois apoios) obrigando-o desta forma a constantes reajustes da relação centro de massa/base de apoio para conseguir manter-se equilibrado nos ataques e esquivas que realiza, por sua vez, o colega possuirá maiores oportunidades para realizar os ataques através da identificação das janelas de oportunidade que vão surgindo ao longo do desenrolar da situação. O segundo constrangimento exigirá do aluno mais proficiente a montagem de estratégias para conseguir tocar nos joelhos do colega sem que este lhe toque nas costas, da mesma forma exige a montagem de estratégias ao aluno menos proficiente se bem que o nível de complexidade é menor.

Quadro 8 - Situação de aprendizagem para grupos homogéneos no Atletismo.

Os constrangimentos a colocar para que alunos com níveis de proficiência diferente se defrontem, poderão ser:

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Quadro 9 - Constrangimentos que podem ser utilizados numa situação de aprendizagem no atletismo que possua heterogeneidade.

Nesta situação de aprendizagem de DI o professor pode solicitar aos alunos que encontrem uma distância entre eles, na partida (décalage invertida), que lhes permita cortar a meta, na máxima velocidade, com uma distância nunca superior a um metro de distância entre eles. Com a introdução destes constrangimentos os alunos proficientes e menos proficientes poderão aceitar o desafio percebendo que, apesar de possuírem capacidades distintas, podem competir de uma forma mais ajustada e rentável para ambos.

7.1.5 Apreciações gerais

O grande desafio deste trabalho debruçou-se na criação de propostas flexíveis e variadas de ensino para que os nossos diferentes grupos de alunos tenham possibilidade de usufruir do processo de aprendizagem com o propósito de resolver o suposto problema da heterogeneidade encontrado na turma.

Sendo o nosso público-alvo os professores da escola, bem como, os colegas do 2º ano do Mestrado em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, procuramos identificar qual seria o melhor dia da semana, espaço e hora de realização da ação, através do questionamento e consulta do horário dos professores, com vista a ter o maior numero de professor na ação. Dessa forma, e após constarmos que a maioria dos professores de EF da escola não lecionava na segunda-feira decidimos que seria nesse dia de semana que iríamos realizar a ação.

Apesar de termos utilizado diversas estratégias de divulgação da ação, como, a difusão da ação na reunião de grupo de professores de EF do 2º ciclo e no do 3º ciclo, através de conversas informais com os professores, através da elaboração de um cartaz

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de divulgação, que colocamos estrategicamente em pontos da escola por onde os professores de EF passam frequentemente (sala dos professores de EF, sala do material de EF, instalações desportivas da escola, e bar dos professores) e ainda através do envio do mesmo cartaz por e-mail para todos os professores, colegas estagiários dos outros núcleos, foram poucos os professores que compareceram na ação. Para sermos mais precisos de um universo de 20 professores apenas cinco deles compareceram à ação.

À posteriori, realizamos uma reflexão com o intuito de percebermos o porquê dos professores não terem comparecido à ação, quando tinham confirmado verbalmente, através de conversas informais, que iriam estar presentes. No que concerne à divulgação realizada por nós acreditamos que utilizamos todos os canais de comunicação que tínhamos ao nosso dispor. Uma das possíveis causas poderá estar associada ao facto dos professores não se encontrarem habitualmente no dia escolhido para a ação, assim, no futuro deveremos tentar realizar a ação, por exemplo, numa reunião de grupo de EF. Desta forma teremos todos os professores, ou pelo menos a maioria dos professores a assistir e contribuir no debate com as suas experiências.

Relativamente aos nossos colegas estagiários, de outros núcleos, deveríamos ter adotado uma estratégia de abordagem “face to face” e explicar o que iríamos abordar na ação e que seria importante que estivessem presentes a fim de contribuírem também para o debate final, com os problemas encontrados e as estratégias que desenvolveram para resolvê-los.

No que concerne à elaboração do trabalho foi necessário, primeiramente, definir qual a metodologia de atuação que iríamos utilizar por forma a percebermos os fenómenos e, dessa forma, atuar assertivamente sobre os mesmos, através da manipulação das principais variáveis em jogo.

Numa parte inicial do trabalho sentimos algumas dificuldades em encontrar autores que abordassem a problemática da heterogeneidade nas aulas de EF. Os que o fazem, abordam-na num contexto de sala de aula, espaço fechado, relacionado com outras disciplinas que não a EF. Apesar de não termos conseguido encontrar informação relacionada com a EF, delineamos possíveis estratégias de intervenção nas matérias de ensino dos Desportos Individuais e Desportos de Combate, recorrendo a metodologia de atuação adotada apresentada anteriormente, com o propósito de atuar sobre esta

99 problemática. Esta metodologia permitiu que desenvolvêssemos um trabalho onde apresentamos diversas formas de atuar, sobre a problemática da heterogeneidade, no mesmo exercício através da manipulação das variáveis em jogo.

Para que a nossa apresentação não fosse apenas teórica decidimos, e bem, realizar um conjunto de filmagens das situações que iríamos apresentar por forma a demonstrar aos professores que era possível atuar sobre a problemática da heterogeneidade nas aulas de EF. As filmagens não correram como estávamos à espera, muito pela falta de experiência e por alguns comportamentos dos alunos, não conseguindo, em alguns vídeos, demonstrar com precisão os comportamentos que poderiam ser solicitados. Mas nem tudo foi mau nas filmagens, pois em alguns vídeos os professores identificaram os comportamentos que estavam a ser solicitados e de que forma poderiam manipular o exercício de acordo com as necessidades dos alunos, e assim potenciar a heterogeneidade existente nas suas turmas.

Acreditamos que interação entre alunos com diferentes níveis de proficiência será benéfica para ambos pois para além de permitir que os alunos encontrem sempre desafios que os levem a atuar nos seus limites contribuirá para o desenvolvimento de uma nova consciência no que se refere ao respeito e aceitação das diferenças do outro

No final da apresentação recebemos um conjunto de feedbacks positivos dos professores que estiveram na ação. Alguns deles referiram que é necessário coragem e audácia para apresentar um conjunto de estratégias que potenciem o processo de ensino- aprendizagem, com grandes proveitos para todos os alunos. Os mesmos professores solicitaram que fornecêssemos os exercícios que apresentamos na ação.

Pensamos que através deste trabalho conseguimos demonstrar que, apesar dos condicionalismos que a heterogeneidade coloca, esta pode deixar de ser vista como um problema nas aulas de EF e passar a ser utilizada como meio de intervenção pedagógica de uma riqueza inesgotável.