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Estruturação do estudo

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1.4 A METODOLOGIA

4.1.4 Estruturação do estudo

O estudo está estruturado em capítulos. O primeiro Capítulo apresenta o cenário de como se desenvolveu este estudo, onde procurei introduzir, a partir das diversas leituras na ampla bibliografia consultada, os autores/as, conceitos, objeto e sujeitos sociais, bem como a metodologia do “ciclo de políticas” e da análise dos discursos, presentes nos contextos desse ciclo e ao longo da pesquisa.

A partir dessas categorias descritas busquei construir um sistema articulado de análise, no qual as teorias e conceitos dialogam com os sujeitos, as etnias indígenas e os operadores da colonização, nos tempos e contextos socio-históricos contemplados, permitindo traduções e significações dos fenômenos analisados, não como eventos isolados ou fragmentados, mas com uma linearidade articulada por ações e reações, invenções e arranjos que se ajustaram, para de um lado dominar e do outro resistir. Foi como um processo arqueológico, no qual, ao desvendar as “camadas” dos contextos e discursos foi possível chegar até as etnias indígenas em Pernambuco e a

educação escolar indígena. Neste percurso o olhar descolonial, suas denuncias e formulações foram como uma “lupa”, pelas quais se evidenciaram os campos de disputas, nas arenas instituídas ao longo da história.

Todos os autores e autoras tiveram uma contribuição no contexto da pesquisa. Não há uma “essencialidade” em nenhum deles, mas uma contribuição análoga a de estar em uma estrada e motoristas de ônibus que passam, e eu embarco, mesmo não me levando ao meu destino final, me mostraram caminhos e atalhos que me permitiram chegar mais perto do lugar onde eu desejava chegar. Este lugar é autoral e sintetiza meu aprendizado ao longo deste Mestrado. Sou grato a todos eles e elas.

Munido destas “ferramentas”, no Capítulo 2, trilhei um caminho de resgate e análise de como ocorreram os encontros dos sistemas socioculturais das etnias indígenas diante da colonização europeia. Iniciei então um percurso que, embora limitado, pois não fora o foco da pesquisa, revelou configurações relacionadas ao avanço da conquista colonial e as estratégias indígenas de enfrentamentos e resistências. Tornou-se visível nesse percurso as primeiras vivências dos povos indígenas nos espaços escolares, a “instrução”, nos Aldeamentos, reveladas, por meio dos discursos resgatados por diversos pesquisadores/as, as tentativas de controle do saber e do ser indígena pelos colonizadores missionários, e a imposição do poder pelas armas portuguesas.

Nesse Capítulo, descrevo como as formas de usurpação da colonização se estruturavam para, de maneira articulada, despossuir os povos indígenas de seus significados, racionalidades e de seus sistemas socioculturais, intencionando apropriar- se de seus corpos e de seus territórios. Não se tratou de uma mera descrição, mas da investigação crítica dos discursos presentes nos eventos ocorridos, quando a hipótese da reprodução do controle racial, como forma de estabelecimento e manutenção de poder, aconteceu e se expandiu, na mesma proporção que as estratégias de resistência.

Nesse longo percurso descrevo, a partir da segunda metade do século passado, as mudanças que se iniciaram no cenário mundial, relacionadas às sociedades étnicas, e seus rebatimentos na América Latina e no Brasil. Já nas ultimas décadas desse século, o surgimento das etnias indígenas como protagonistas, e como sujeitos coletivos de direito desde a Constituição de 1988. Com isso as implicações no relacionamento com o Estado-nação, no campo dos direitos e das políticas públicas, às primeiras normatizações da EEI.

No Capitulo 3, as conquistas e as mobilizações das etnias indígenas resultam nas “retomadas”, dentro do contexto da influência, do ciclo de políticas de Ball. São nestes cenários que se intensificam as “retomadas”, como processo de autoafirmação, reinvenção sociocultural e política, o que veio a influenciar novas formas de organização e a articulação dos professores indígenas de Pernambuco, apontando com isso novos papéis para seus apoiadores e assessores, instituindo diferentes arenas de intermediação.

Perpasso ainda neste capítulo pelas articulações dos professores e professoras indígenas que influenciaram nas normatizações da EEI no Estado, construindo novas agendas e afirmando diante do Estado, as formulações das especificidades necessárias no aparato burocrático para viabilizar esta modalidade educacional. Analisei neste cenário a efetivação da EEI, a partir dos discursos encontrados nos documentos e produções acadêmicas sobre esta temática, considerando os diversos pontos de vista dos pesquisadores e pesquisadoras, bem como dos próprios indígenas em debates públicos, ações e mobilizações. Foi aqui encontrei os novos sujeitos políticos e com isso uma nova configuração, a partir da cultura política indígena, uma inovação.

Por fim, trago as reflexões sobre todo esse percurso, em que relato, entre outros pontos, os achados e processos deste estudo, não de forma conclusiva, mas processual, situada no tempo histórico em que vivemos hoje.

Capítulo 2

2 O ENCONTRO ENTRE OS MUNDOS

“A única luta que se perde é a que se abandona. Não se pode viver sem esperança”

Pepe Mojica,ex- Presidente Uruguaio

Ao longo da história, os discursos proferidos pelo Estado-nação no campo da educação, voltados para os povos indígenas, estiveram relacionados ao lugar que estes povos ocuparam nos projetos políticos e econômicos durante a Colônia, o Império e a República, todos esses relacionados à catequese, à aculturação e à tutela/subordinação. Foi dessa forma que ocorreu o encontro entre essas diferentes expressões socioculturais e as suas cosmovisões e formas antagônicas de produzir e socializar conhecimentos e saberes.

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