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A abordagem ECD presume uma relação causal entre a estrutura da indústria, a conduta das firmas e desempenho no mercado. Segundo Church e Ware (1999), são duas as premissas chaves que servem de base para a abordagem ECD:

 A ECD assume uma linha de causalidade que vai da estrutura através da conduta até o desempenho. O foco é observar variáveis da

estrutura da indústria e que possam ser ligadas ao exercício de poder de mercado, ou seja, implicitamente, certas estruturas de mercado facilitam o exercício de mercado. Para se comprovar com relevância estatística a relação entre estrutura e desempenho são necessárias duas condições: as variáveis de estrutura devem ser exógenas e a conduta das firmas deve ser simétrica por toda a indústria.

 A ECD parte da premissa de que o poder de mercado pode ser calculado a partir dos dados contábeis.

O desempenho de mercado é avaliado através de três medidas de lucratividade: lucros econômicos ou taxa de retorno do investimento, índice de Lerner ou Margem Preço-Custo e q de Tobin. Lucro econômico é a diferença entre receitas e o custo de oportunidade de todos os investimentos. No longo prazo, lucro econômico é um indicador de poder de mercado. Taxa de retorno sobre o investimento é a razão entre renda e investimento. Se o lucro econômico é positivo, então a taxa de retorno da firma vai ser superior àquela que ela teria em competição perfeita. O índice de Lerner é a diferença entre o preço e o custo marginal dividido pelo preço. Como o custo marginal nem sempre está disponível, utiliza-se o custo variável médio. O q de Tobin é a razão entre o valor de mercado da firma e o seu valor patrimonial. Quanto mais o q excede um, maior o valor do lucro econômico inferido.

A concentração de mercado é calculada através de dois índices: o Índice Herfindahl-Hirschman (HHI) e o índice de concentração. O HHI10 é calculado pela

soma do quadrado das participações das n firmas de um determinado mercado. O índice de concentração de ordem m é a soma de participação das m maiores firmas. Portanto, um índice de concentração de ordem dois é a soma da participação das duas maiores firmas e, assim, por diante.

Já a estrutura do mercado é influenciada pelas barreiras à entrada nesse mercado. Segundo Bain (1956), são três as barreiras entradas que podem ser identificadas: diferenciação de produto, economias de escala e vantagem absoluta de custo. A diferenciação de produto pode ser medida através da intensidade de gastos em pesquisa e desenvolvimento ou de propaganda. Economias de escala podem ser calculadas através da razão entre a escala eficiente mínima em relação

às vendas da indústria. A escala eficiente mínima é o mínimo de produção de uma planta no qual o custo médio é mínimo. A vantagem absoluta de custo pode ser medida tanto pelo custo total unitário dos produtos vendidos, que podem incorporar custos maiores de capital, de transporte ou de compra de insumos.

Segundo Church e Ware (1999), os estudos de ECD também sofrem críticas de problemas de medição e de problemas conceituais. Os problemas de medição podem ser divididos na utilização de medidas de lucratividade para inferir poder de mercado e como definir o mercado a ser analisado. Já os problemas conceituais podem ser divididos em problemas na base conceitual e quanto à interpretação de resultados.

As críticas dos problemas referentes às medições de lucratividade envolvem as diferenças entre taxa de retorno econômica e taxa de retorno contábil, a medição da margem de preço-custo, a utilização do q de Tobin. As diferenças entre taxa de retorno econômico e contábil são derivadas de diferenças resultantes de diferentes tratamentos em relação à depreciação, investimentos e ativos intangíveis, correção inflacionária, lucratividade da firma antes e depois de novos entrantes, capitalização do lucro de monopólio e diferença entre rendas ricardianas e lucro econômico. Os problemas com a margem preço-custo incluem a substituição do custo marginal pelo custo médio. O erro dessa medida vai depender da taxa de retorno em competição perfeita, taxa de depreciação econômica e a razão entre capital e receita. Entre os problemas para a utilização do q de Tobin estão à existência de ativos intangíveis, a dificuldade de determinar os custos de reposição de todos os ativos, além de ser um indicador que não possibilita contabilizar corretamente as rendas ricardianas (CHURCH; WARE, 1999).

Já a definição de mercado envolve tanto a dimensão de produto quanto a dimensão geográfica. A dimensão do produto envolve todos os produtos que podem ser substituídos pelo lado da demanda. Assim, todos os produtos que possuem elasticidade cruzada de demanda significativa deveriam ser incluídos na dimensão do produto, o que torna a sua definição impraticável. A dimensão geográfica envolve determinar onde estão as firmas que produzem o mesmo produto, ou seja, substitutos da oferta. O problema apontado pelos críticos é que em muitos estudos de ECD é utilizada a classificação de produtos dos centros de estatísticas nacionais,

os quais nem sempre correspondem às definições de mercado econômico (CHURCH; WARE, 1999).

A primeira crítica da base conceitual do modelo de ECD é baseada nas diferenças do desempenho das firmas no curto e no longo prazo. Segundo Church e Ware (1999), é possível que uma firma tenha lucro econômico no curto prazo mesmo que não tenha poder de mercado e atue num mercado competitivo. Assim, fazer uma estimação de que o lucro econômico resulta em poder de mercado significa dizer que as indústrias estão sempre em seu equilíbrio de longo prazo, o que nem sempre é verdade.

Outra crítica conceitual em relação ao modelo ECD é em relação ao significado da correlação entre concentração de mercado e lucratividade. Demsetz (1973) mostrou que as firmas dentro de uma indústria não possuem a mesma estrutura de custo e, portanto, firmas mais eficientes possuem participações de mercados maiores. Assim, a maior lucratividade das firmas não pode ser atribuída ao poder de mercado, mas sim a uma estrutura de custos mais eficiente. Weiss (1974) propôs um teste que conseguiria distinguir se a lucratividade seria resultado de poder de mercado ou se era por causa de uma razão de custos mais eficientes. Os resultados mostram grande evidência em relação à segunda hipótese.

A terceira crítica na base conceitual se refere à interpretação de casualidade entre a lucratividade e a concentração de mercado e/ou barreiras à entrada a concentração de mercado e/ou barreiras à entrada. A abordagem ECD determina que as variáveis de concentração de mercado e de barreiras à entrada são exógenas. Segundo Church e Ware (1999), é esperado que a conduta da firma hoje influenciasse a participação de mercado, o tamanho das barreiras à entrada e a lucratividade amanhã. Portanto, concentração de mercado e medidas de barreiras à entrada são variáveis endógenas ao modelo.

A última crítica é referente à premissa da abordagem ECD de que as variáveis inclusas no modelo têm efeitos simétricos na lucratividade em todas as indústrias. Church e Ware (1999) citam o exemplo da variável concentração de mercado que interage diferentemente com cada indústria, dependendo de suas instituições, histórias e estruturas e, portanto, afetando de forma diferente a lucratividade de cada indústria.