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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.3 Procedimentos de Análise

3.3.1 Estrutura da Análise

Diante desses procedimentos de análise do discurso, da leitura que fizemos do nosso corpus e da reflexão de Ludke (1986, p.45) de que “a tarefa de análise implica, num primeiro momento, a organização de todo material, dividindo-o em partes, relacionando essas partes e procurando buscar neles tendências e padrões relevantes”, estruturamos a nossa análise da seguinte forma:

Começamos com a exposição das condições de produção da cartilha e dos roteiros de aulas, identificando a situação imediata em que os interlocutores (aluno e professor), nesses processos de interação, estavam imersos, bem como o contexto sócio-histórico dessa educação. Isso porque entendemos que o contexto no qual o discurso é produzido influi nas possibilidades de sentidos que o dizer evoca.

Num segundo momento, vamos analisar algumas lições da cartilha e os roteiros de aula seguindo uma ordem que reflete a organização dos discursos em três grandes planos propostos pelo MEB: o da conscientização da realidade (a busca de apresentar ao aluno a realidade em que ele está contido); o da formação de atitudes (tentativa de que o homem assuma uma atitude diante da tomada de consciência da realidade) e os

instrumentos de ação (instrumentos físicos, verbais, entre outros, oferecidos aos alunos para agir sobre a realidade). Isso porque o MEB define sua didática da seguinte forma:

A educação visa, portanto, à ação. Ora, a ação humana tem três requisitos essenciais. Em primeiro lugar, o homem age diante de um fato que é real para ele; é, portanto, imprescindível que ele tome consciência da realidade sobre que vai agir. Ao lado disso, o homem assume uma atitude diante dessa realidade, atitude que surge a partir dessa consciência da realidade. Para que a atitude se concretize em ação, o homem parte sempre dos meios que lhe oferece a cultura (sejam esses meios instrumentos físicos, verbais, etc.). A organização didática de uma ação educativa não pode, portanto, deixar de situar-se nesses três planos: conscientizar, motivar atitudes, proporcionar instrumentos de ação. (MEB, 43 – Análise teórica, p.1 apud FÁVERO, 2006, p.180).

Diante disso, seguimos o percurso de atuação pedagógica do MEB e dividimos a nossa análise nesses três planos: “conscientização da realidade”, “formação de

atitudes” e “instrumentos de ação”. Isso quer dizer que tanto os discursos da cartilha quanto os do roteiro de aulas serão analisados em relação a esses planos. Além disso, concordamos com Fávero (2006) ao distribuir as lições da cartilha ao longo desses três planos, ficando assim designadas: das lições 1 a 11 (plano da conscientização), das lições 12 a 17 (formação de atitudes) e das lições 18 a 31 (instrumentos de ação). Mas, vale dizer que não compreendemos esses três planos agindo em separado e linearmente, tendo em vista que uma mesma lição pode, ao mesmo tempo, percorrer os três planos citados. Assim, se concordamos em classificar algumas lições no plano da conscientização, por exemplo, é porque elas buscam a conscientização antes de qualquer outra intenção.

Visto que a cartilha segue esses planos de maneira sequencial e inter- relacionada, faremos a análise do primeiro, segundo e terceiro planos da cartilha, relacionando esses discursos com os discursos dos roteiros que também fazem parte do plano em análise. Em outras palavras, dizemos que, simultaneamente à análise das lições da cartilha, traremos os discursos presentes nos roteiros de aulas que se relacionam com o mesmo plano de análise, como forma de verificar a relação entre os discursos materializados na cartilha e aqueles apresentados pelos professores nas aulas radiofônicas.

É importante dizer que, apesar de analisarmos cada plano em separado, eles estão inter-relacionados e cada um possui discursos inseridos em diversas formações discursivas (político, religioso, pedagógico) e que, por sua vez, utilizam diferentes estratégias argumentativas. Portanto, após a análise de cada plano em separado, eles serão interligados entre si para identificarmos o discurso maior que norteia a cartilha.

Sabendo que cartilha “Viver é lutar” apresenta 30 lições, cada uma composta de um conjunto de enunciados, analisamos apenas as lições que consideramos mais significativas, visto que há uma repetição temática ao longo das lições em que, por vezes, o assunto é apenas apontado numa lição e desenvolvido na seguinte. Por isso, selecionamos aquelas que melhor sintetizam as várias temáticas abordadas, distribuídos nos respectivos planos, conforme os quadros abaixo:

Quadro 1 – Plano da Conscientização da Realidade

Plano da conscientização da

realidade Lições Analisadas

Lição 1 X Lição 2 Lição 3 X Lição 4 X Lição 5 X Lição 6 X Lição 7 X Lição 8 Lição 9 Lição 10 Lição 11

Enquadrados nesse plano de análise estão os seguintes roteiros de aulas radiofônicas da Emissora de Educação Rural de Natal: o primeiro roteiro ( do dia 22 de

agosto de 1963) – Anexo A, o segundo roteiro (datado em 15 de maio de 1963) – Anexo B e o terceiro roteiro ( do dia 16 de novembro de 1965) – Anexo C.

Quadro 2 – Plano da Formação de Atitudes

Plano da Formação de Atitudes Lições Analisadas Lição 12 X Lição 13 X Lição 14 X Lição 15 Lição 16 X Lição 17 X

Além das lições citadas, o segundo plano de análise também compreende a análise do quarto roteiro de aula radiofônica (do dia 01 de junho de 1964) – Anexo D.

Quadro 3 – Plano dos Instrumentos de Ação

Plano dos Instrumentos de

Ação Lições Analisadas

Lição 19 X Lição 20 X Lição 21 X Lição 22 Lição 23 Lição 24 X Lição 25 X Lição 26 Lição 27 X Lição 28 X Lição 29 X Lição 30 X

No plano dos instrumentos de ação analisamos também o quinto roteiro de aula radiofônica (datado em 5 de novembro de 1964) – Anexo. Em cada lição da cartilha “Viver é Lutar”, dentro do seu respectivo plano, investigamos as posições sustentadas nas formações discursivas, bem como sua recorrência a argumentos para a defesa da (s) tese (s) e produção de efeitos de sentido. Quanto aos discursos dos roteiros de aulas faremos o mesmo procedimento. Devemos deixar claro, portanto, que a cartilha é a base da nossa análise, visto que é a partir das lições que ela contém que traremos para a análise os discursos proferidos durante as aulas. Isso porque, um dos objetivos específicos é verificar como os discursos proferidos nas aulas dialogavam com os discursos do conjunto didático “Viver é lutar”.

Como na AD partimos do texto para o discurso, enumeramos os enunciados de cada lição para melhor ser visualizada a relação entre o discurso e sua materialidade. A numeração dos enunciados é feita de maneira progressiva desde a primeira lição, já que, apesar de cada lição possuir discursos e teses específicos, eles compõem o discurso maior da cartilha. Quando nos referirmos aos discursos dos roteiros de aulas, serão identificados como trechos, sequencialmente numerados, dentro das aulas previamente identificadas. Entretanto, é importante dizer que os discursos das aulas não são progressivos, visto que cada um deles foi emitido numa certa circunstância temporal. É diferente da cartilha que, apesar de os discursos estarem distribuídos em lições, eles tecem um fio que nos leva ao discurso geral da cartilha.

CAPÍTULO 4

UM GESTO DE LEITURA SOBRE A PRODUÇÃO

DITÁTICO-PEDAGÓGICA DO MEB

O futuro é algo que se vai dando, e esse ‘se vai dando’ significa que o futuro existe na medida em que eu ou nós mudamos o presente. E é mudando o presente que a gente fabrica o futuro; por isso, então, a história é possibilidade e não determinação.