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4.2 O processo de ocupação no Nordeste: indícios de degradação ambiental

4.2.5 Estrutura fundiária no Cariri paraibano

Para entender como se formou a estrutura fundiária na região do Cariri Paraibano é necessário lembrar que no processo de ocupação do Nordeste - inicialmente com a cana-de- açúcar - foi responsável pela ocupação da Zona da Mata, tendo como consequência o direcionamento do gado bovino para oeste, concomitante à expansão da zona açucareira, impulsionando o processo de ocupação do sertão nordestino.

Estrategicamente, para garantir que a posse e a consolidação do domínio sobre o território brasileiro e evitar a invasão de outros países a coroa portuguesa introduziu no Brasil a política de Sesmarias configurou de forma marcante o uso das terras agrícolas no Brasil. Foram excluídos desse processo os pequenos posseiros, meeiros e outros da legalização das suas terras as quais foram incorporadas ao latifúndio gerando um contingente de sem-terra culminando com os conflitos no campo pelo direito de posse (BARBOSA, 2012, p.316-317).

Desde a promulgação da Primeira Constituição Republicana até a criação do Estatuto da Terra, criado no regime militar na década de 1960 - em vigor na atualidade - não houve

mudanças substanciais na estrutura fundiária que continua sendo caracterizada pela grande concentração das terras nas mãos de poucos (BARBOSA, op cit.).

Segundo Barbosa, M. P. (2012, p.318), 79% dos proprietários rurais no Brasil são donos de minifúndios, não ultrapassando 50 hectares, em média 20 hectares ocupando apenas 12% das terras produtivas. Os 21% restantes são donos de 88% das terras, apenas cerca de 5% desse número são exploradas por empresas rurais que detêm cerca de 10% do total das terras agrárias não se visualizando diferenças entre o cenário atual e o pretérito ao Estatuto da Terra o que torna esse modelo econômico agrícola praticamente o mesmo do período colonial.

A classificação das terras nas microrregiões do Cariri Oriental e Ocidental está, segundo Souza, I. B. (2008) estabelecida de acordo com alguns critérios: até 4 módulos fiscais configura-se como pequena propriedade (um módulo fiscal equivale a 60 hectares na maioria dos municípios do Cariri paraibano); acima de 4 e até 15 módulos fiscais tem-se uma média propriedade, acima de 15 módulos fiscais são definidas como grandes propriedades.

Os dados presentes na Tabela 5, indicam que uma pequena porcentagem do número de médias e grandes propriedades concentram cerca de 53,9% das áreas ocupadas no Cariri paraibano. Em contra partida, o número de pequenas propriedades (até 240ha) é considerável (97,1%), representa 46,1% da área ocupada na região supracitada, desse valor 66,3% correspondem a áreas menores que 100ha.

Tabela 05: Estrutura agrária do Cariri paraibano referente ao ano de 2006.

Tipos de propriedades Números de propriedades Área Ocupada (ha) Pequenas: até 4 módulos 10.922 (97,1%) 329.638,8 (46,1%)

Médias: 4-15 módulos 530 (2,4%) 222.050 (31,1%) Grandes: acima de 15 módulos 98 (0,4%) 162.704 (22,8%)

Fonte: Adaptado de Souza (2008).

Souza, I. B. (2008, p.84) destaca que a viabilidade econômica das tecnologias até agora desenvolvidas pelos órgãos governamentais voltadas para o Cariri paraibano, são minadas devido a limitação de espaço em grande parte das propriedades ―o que, por sua vez, acaba tornando grande parte dos agropecuaristas dessa região fortemente dependentes dos recursos naturais dessas terras, sendo por isso submetidas à elevada pressão‖.

Nas áreas mais secas do semiárido brasileiro (SAB) especificamente nas Depressões Sertanejas, mas também no Planalto da Borborema a exemplo do Cariri paraibano tem-se verificado que ―a criação extensiva de caprinos constitui alternativa predominante, para realização dessa atividade são necessários pelo menos 200 a 300 hectares para manter em

condições semiextensivas, um rebanho de corte com 300 matrizes‖ (GUIMARÃES FILHO; LOPES, 2001, p.14).

Esse panorama fica mais evidente quando se verifica a malha fundiária dos municípios, Barbosa, M. P. (2012, p.319-320) ao confrontar os dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, entre dois municípios do Cariri paraibano - Cabaceiras e são João do Cariri - observou que o número de módulos rurais de 1 a 25 ha Equivalem a 202, cobrindo uma área de 2.118,50 ha, os módulos rurais com mais de 1000 ha são apenas 5, representando uma área de aproximadamente 12.420,10 ha.

Tabela 06: Concentração das terras nos municípios do Estado da Paraíba.

Municípios

CLASSES DE

ÁREA (ha) Cabaceiras São João do Cariri

Nº DE IMÓVEIS ÁREA TOTAL

(ha) Nº DE IMÓVEIS ÁREA TOTAL (ha) 1 a 25 202 2.118,50 163 1.965,80 25 a 50 84 3.041,00 97 3.350,20 50 a 100 69 4.884,40 73 4.909,30 100 a 200 30 3.356,30 49 6.917,80 200 a 500 15 3.740,10 45 13.630,50 500 a 1000 6 3.383,00 14 8.842,90 Mais de 1000 5 12.420,10 11 19.193,30 TOTAL 411 32.943,40 452 58.829,80

Fonte: Adaptado de Barbosa (2012).

Em São João do Cariri o número de módulos rurais de 1 a 25 ha equivalem a 163, representando uma área de 1.965,80 ha, os módulos rurais com mais de 1000 ha corresponde a uma área de 19.193,30 ha. Esses dados podem ser um indicativo de que este cenário reflete basicamente a herança colonial no campo presente ainda nos dias de hoje em quase toda extensão do território semiárido brasileiro (BARBOSA, op. cit.).

O agrupamento de pessoas em pequenas propriedades conduz a uma exploração intensa acarretando uma carga excessiva sobre os recursos naturais. A substituição da vegetação nativa por pastagens, ou por monoculturas que se ocupam de vastos hectares de terra (grandes latifúndios) impacta profundamente sobre a paisagem natural e os efeitos sobre a flora e a fauna são perversos (ARAÚJO FILHO; CARVALHO, 1997, p.9).

A irregularidade e a má distribuição das chuvas, tanto temporal como espacialmente na região semiárida (instabilidade climática) e a ocorrência sistemática das secas associado às atividades econômicas praticadas entre outros fatores, tende a criar um cenário propício para o desenvolvimento e a evolução do processo de desertificação.

A ocorrência desse tipo de degradação ambiental em estágio avançado poderá desestabilizar o equilíbrio geoambiental dessa região (Cariri paraibano) e acarretar enormes prejuízos tanto para as famílias que dependem da terra para sobreviver, como para o ambiente que terá sua biodiversidade pauperizada.

Diante do exposto, a preocupação com o monitoramento e a gestão dos recursos naturais tem ganhado notoriedade, tanto nos meios acadêmicos, como de órgãos governamentais e empresas privadas. Nesse contexto, as novas tecnologias entram em cena como ferramentas potencialmente capazes de permitir uma análise mais integrada do ambiente, e de forma interdisciplinar.