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A escolha desses instrumentos metodológicos e a avaliação do que era relevante para a pesquisa levaram ao desenvolvimento de uma estrutura que passa pela conceituação das categorias adotadas no trabalho e chega ao texto da nova lei de incentivo, contemplando os percursos e debates que resultaram nesse documento.

A introdução do trabalho, enquadrada como o primeiro capítulo, expõe o conteúdo da pesquisa de uma forma mais objetiva, trazendo uma explanação sobre a escolha do objeto e as relações mantidas entre objeto e pesquisador. Também nessa primeira etapa do trabalho foram definidos os objetivos centrais e específicos, trazendo ainda um levantamento do percurso metodológico, abrangendo a escolha do referencial teórico e das ferramentas metodológicas mais adequadas ao objeto de análise.

O segundo capítulo (Democracia e participação: conceitos e percursos democráticos no Brasil) tem como foco a identificação da participação civil nos mecanismos desenvolvidos a partir da postura política das gestões federais de Lula e Dilma. Antes de discutir sobre as políticas culturais desse período e as influências da participação nesse processo são explanados, inicialmente, alguns conceitos em torno de sociedade civil, cidadania e participação, bem como uma exposição dos regimes democráticos onde a participação aparece como foco principal.

Algumas subseções compõem esse tópico que conceitua participação: a primeira, trata da participação vista sob a abordagem da democracia representativa e da democracia participativa; a segunda, remete às abordagens da democracia deliberativa e da democracia radical; por fim, uma última subseção que destaca os limites da participação política, trazendo elementos indispensáveis à análise do material empírico.

São ressaltados os espaços de debate desenvolvidos nos governos de Lula e Dilma, onde o foco do estudo se direciona aos instrumentos de participação implementados pelo partido, tais como a criação de Conselhos, a realização de conferências e seminários, dentre outros mecanismos. Nesse contexto, busca-se entender o funcionamento da esfera pública e os diálogos produzidos nesses espaços.

Considerando que as Políticas culturais constituem o campo macro da pesquisa, o terceiro capítulo tem por objetivo entender o cenário das políticas culturais no Brasil, destacando definições diversas do termo, fazendo uma contextualização histórica desse segmento no Brasil, trazendo elementos dos estudos culturais e das relações estabelecidas entre o Estado e a sociedade civil. São destacados nesse capítulo

três momentos fundamentais para o estudo das políticas culturais e da participação no país: os governos autoritários; o período da redemocratização, onde surge a lei de incentivo; e o auge do financiamento cultural no Brasil, expondo o funcionamento da Lei Rouanet, os problemas e vantagens do formato da lei de incentivo e seus reflexos nas articulações entre Estado e sociedade civil.

Entendendo os desafios, tensões e problemas da lei vigente, torna-se viável discutir o processo de participação do projeto que visa a sua reformulação. Com isso, são avaliados os problemas e distorções da Lei Rouanet em seus 20 anos de vigência, com o levantamento das principais críticas ao mecanismo.

No final do capítulo, expõem-se as características da política cultural desenvolvida nas gestões petistas e sua relação com a participação. Para entender esse processo, a análise se pauta nas experiências participativas, incluindo o processo de implantação e discussão do Sistema Nacional de Cultura e do Plano Nacional de Cultura, que também trouxeram como marca a participação social em sua elaboração.

Os três capítulos iniciais fornecem subsídios à elaboração do quarto capítulo, onde se efetiva a discussão acerca do processo participativo na construção das políticas culturais, com foco no Procultura. Intitulado "Procultura: Análise da participação e dos discursos na construção da nova lei de incentivo à cultura", o penúltimo capítulo da pesquisa concentra a análise da participação nas políticas culturais orientada pela metodologia da Análise do Discurso Crítica - ADC.

O trajeto desenvolvido para a elaboração do Procultura é analisado por meio de um levantamento dos principais debates voltados à reforma na lei, dentre os quais se destacam os seminários realizados pelo Ministério da Cultura, a consulta pública realizada na internet e as alterações do projeto motivadas pelos debates na Câmara dos Deputados ao longo de dois anos de discussão do projeto de lei. São traçados, assim, os percursos pelos quais passou o projeto de lei.

A partir da seção 4.3 inicia-se a análise empírica, com foco nos seminários realizados nas duas comissões: Comissão de Educação e Cultura10 e Comissão de

Finanças e Tributação. A participação nos seminários é avaliada pelas notas

10 Na época dos debates, a CEC reunia discussões tanto do setor cultural, como da área da educação. A

Resolução da Câmara dos Deputados nº 21, de 27 de fevereiro de 2013, alterou o inciso IX e acrescentou o inciso XXI ao art. 32 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, para desmembrar as competências da CEC. Desse modo, hoje ela é representada pela Comissão de Cultura - CCULT (sob a presidência da deputada Jandira Feghali do PCdoB do Rio de Janeiro) e a Comissão de Educação - CE. O desmembramento teve em vista a redistribuição do poder na Câmara, após criação do Partido Social Democrático (PSD), em 2010, que teria direito a presidir duas comissões pelo tamanho da bancada.

taquigráficas e arquivos de áudio sob o ponto de vista dos discursos e das práticas sociais, através dos procedimentos metodológicos da ADC, buscando entender como se deu a participação civil nessas discussões, como a atuação governamental, representada pelo Ministério da Cultura e suas secretarias, ocorreu nesse processo e de que forma essa atuação desencadeou os debates na Câmara.

Após a delimitação dos elementos e efeitos do discurso nas falas do Parlamento, são analisadas as contribuições civis que constam no texto atual da Lei, levantando alguns pontos vulneráveis no debate e algumas contradições entre o que foi inicialmente apresentado como proposta e o que se constituiu como documento final após todas as intervenções.

Esse último momento do processo de constituição da nova lei (debate na câmara) é, portanto, a base da pesquisa científica aqui destacada, cujos resultados podem ser examinados no projeto de Lei Procultura. Destaca-se que diversas outras iniciativas de discussão da Lei Rouanet foram desenvolvidas tanto dentro do governo, quanto por entidades civis, além de grupos de empresários que debateram o projeto.

Esse estudo se limita aos debates desse período (2010 a 2012) por considerá-lo um momento-chave na definição de políticas culturais no Brasil, diante do nível de sistematização de informações, da riqueza de discursos proferidos e documentados e da inserção da sociedade civil nos espaços de discussão. É nesse momento onde podem ser observados os temas mais recorrentes no debate, a consolidação de uma esfera pública, as personagens na construção dessas políticas e os reflexos dessa participação no texto do Procultura.

O Capítulo V finaliza a dissertação, condensando as considerações finais em relação aos debates promovidos e sintetizando os principais resultados da análise. Diante disso, entender a construção do Procultura é fundamental para compreender também o processo de participação política e a legitimidade dos espaços participativos consolidados nesse período.

Refletindo em torno dos conceitos de democracia, da efetividade do mecanismo participativo e dos resultados da inclusão dos atores sociais nos processos de decisão do governo, o estudo coloca em pauta as articulações entre cultura e política, participação e representação, expondo as ferramentas de diálogo entre Estado e sociedade para a legitimação das políticas, de modo a torná-las mais assertivas e a gerar desenvolvimento sociocultural.

II DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO: CONCEITOS E PERCURSOS DEMOCRÁTICOS NO BRASIL

"O Governo do povo". A denominação mais comum e popular do que se entende por democracia – palavra de origem grega cuja etimologia é composta de demo (povo) e kratos (governo) – não consegue abarcar a complexidade do termo. Rodeada por outras categorias também complexas (representação, legitimidade, participação), são os modelos, articulações, limitações e percursos da democracia que compõem o foco do presente capítulo.

A contextualização acerca do conceito e das abordagens democráticas constituirá a base para o entendimento do recorte da participação civil11, que permeia e

direciona todas as discussões desse estudo. Para entender como se elaborou o Procultura, como foram desencadeados os debates, que espaços foram abertos à sociedade e como se deu esse diálogo com o governo, é necessário levantar as categorias e conceitos fundamentais da pesquisa: que tipo de abordagem é utilizada quando se discute participação? Como se dá essa participação na atual configuração democrática do Brasil? Quais seus limites e possibilidades no cenário político?

Essas noções serão discutidas neste capítulo, por meio de três tópicos. O primeiro traz um panorama geral da participação no contexto democrático, contrapondo conceitos e modelos de democracia e analisando as relações entre Estado e sociedade civil. As subseções desse tópico apresentam algumas escolas e modelos presentes na Teoria Democrática, analisando o modo como a participação era vista em cada uma dessas correntes. No segundo momento é apresentada uma breve reflexão sobre a forma como se constituiu a democracia no Brasil, com a exposição do histórico desse modelo no país e de suas principais características e nuances. O segundo bloco contempla também as instituições participativas que se compuseram nesse cenário.

Apreendendo os conceitos de democracia e participação e sua inserção no cenário brasileiro, o trabalho passa a abordar um momento específico na construção democrática do país, caracterizado pela ascensão da esquerda ao poder e pelo modo de

11 O termo "participação civil" é adotado na presente pesquisa levando-se em consideração o argumento

levantado por Jamil Marques (2010), em um de seus trabalhos, onde destaca que o uso do termo "participação civil" expressa melhor as realidades democráticas contemporâneas, considerando que "outras expressões como 'participação cívica' ou 'popular' tendem a implicar comprometimento e mobilização mais efetivos dos cidadãos no que concerne à disposição para a prática política".

governar do Partido dos Trabalhadores - PT. Para analisar o entendimento do partido em torno da participação, este tópico discute os espaços participativos que foram criados nesse contexto, destacando as iniciativas locais que compuseram sua proposta democrático-popular e identificando nessas experiências o perfil dos governos petistas.

A atuação do partido em âmbito federal é analisada ainda nesse bloco, onde são debatidos os mecanismos de participação desenvolvidos para o diálogo entre governo e sociedade civil nas gestões de Lula e Dilma, com destaque para o fortalecimento dos conselhos e realização das conferências. Neste tópico, estão presentes as discussões acerca do desenvolvimento de espaços de participação, bem como sua efetividade.

Pensando a proposta participativa do PT é preciso responder a algumas questões: houve um maior equilíbrio, através das políticas e espaços propostos, entre Estado e sociedade? Que espécie de intervenções e resultados foram possibilitados através dos Conselhos? Como era definida a representação da sociedade civil nesses espaços? São essas as questões que encerram os debates desse segundo capítulo e permitem uma compreensão do processo de participação na esfera cultural, tema discutido na terceira parte do trabalho.