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Estudo de caso: análise de projeto croquis em prática

No documento À mão livre : croquis na era pós-digital (páginas 122-129)

Após o registro e coleta de dados, transcrição e análise das entrevistas selecionou- se um projeto como estudo de caso relevante do início do século XXI. No sentido de corroborar os questionamentos propostos desta dissertação, serão apresentadas algumas peças gráficas (croquis) que documentam minimamente a aproximação com o tema investigado relativo ao processo de maturação de ideias nas etapas preliminares do projeto, na apreciação dos resultados na própria construção da edificação.

Ficha técnica:

Estação de bombeamento de Efluentes - EBE Cristal

Localização: Av. Diário de Notícias, 760, Cristal, Porto Alegre/RS - Brasil

Projeto básico: 2008 | Projeto Executivo: 2009/2010 | Construção: 2010/2013

Autores: MooMAA - Moojen & Marques Arquitetos Associados

Arq. Moacyr Moojen Marques (1930-2019) e Arq. Sergio Moacir Marques

Colaboradores: Arq. José Carlos Marques; Arq. Bárbara Mello; Arq. Betina Cornetet; Arq. Valentina M. Marques.

O projeto de infra-arquitetura, para a EBE Cristal é resultado de ações coletivas de demandas e entes públicos, conforme descrição encontrada no site do MooMAA:

INFRA ARQUITETURA - Ação urbanística, normalmente de pouca visibilidade e máxima importância, o sistema de canalização e tratamento de esgotos do Programa Integrado Sócio Ambiental – PISA, da Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA, em andamento, dá sequência à outros que já há mais de trinta anos, com ações de saneamento e tratamento de efluentes na bacia hidrográfica do estuário Guaíba, envolvendo 40% do território do Rio Grande do Sul, Brasil, além dos ganhos ambientais e sanitários evidentes, devolverão a curto prazo a balneabilidade do rio na capital, com expressivo impacto social. A etapa atual, composta de sistema de canalização robusta em subsolo, paralela à margem, desde o Centro Histórico até o Bairro Cristal (7 Km), recebendo contribuições transversais, e subfluvial até a Estação de Tratamento de Efluentes - ETE, no bairro Serraria, dispõe de diversas estações de bombeamento para pressurização da rede, sendo a EBE Cristal, que antecede o trecho subaquático, de aproximadamente 11 Km, a maior delas. O projeto arquitetônico desta estação, no entanto, além de resolver as exigências técnicas inerentes ao programa, objetivou também estruturar equipamento de uso coletivo, agregando espaços de eventos, exposições, belvedere público e ideia de recuperar expressão formal urbana de obras públicas desta natureza, nominada, por exemplo, pela Hidráulica do Moinhos de Vento em Porto Alegre. As salas gêmeas, uma no pavimento térreo, outra flutuando no nível superior, dão sequência à exposição e informações sobre o programa de recuperação ambiental do Guaíba, onde a última imagem visível é o próprio através do mirante. A ideia de "infra-arquitetura" finalmente se materializa com sistema formal profundamente armado na solução estrutural da construção, onde as próprias chaminés de equilibrio ancoram os elementos metálicos em balanço, em franco diálogo com as tribunas de Fresnedo Siri, situadas ao lado, às quais o projeto presta tributo. (MARQUES, 2013) 84 Em visita ao escritório MooMAA, em 06/12/2019, às 15h e 30 min, por indicação do entrevistado Moacyr Moojen Marques, o associado Sérgio Moacir Marques relata a trajetória e as tratativas de contratação do projeto. A demanda da obra surgiu por meio de certame público, que através da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e do DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto), contratou a empresa Magna Engenharia para a elaboração dos projetos executivos da EBE Cristal.Por se tratar de área situada às márgens do estuário Guaíba e no entorno do Hipódromo do Cristal85 (bem tombado em nível municipal pela Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural – EPAC), demandou-se a contratação de empresa de arquitetura para elaboração de projeto que qualificasse tal intervenção arquitetônica e urbanística. Assim, a incumbência do projeto foi levada ao MooMAA pela empresa Magna.

Levando-se em conta o cálculo do volume de armazenamento e questões estruturais, como a absorção das forças de pressão dos efluentes contidos nos

84 Fonte: Site MooMAA. Disponível em https://www.moomaa.net/copia-instalacoes-industriais, acesso em 15/03/2020. 85 Hipódromo do Cristal, projeto do arquiteto uruguaio Román Fresnedo Siri (1903-1975),

reservatórios, algumas alternativas formais foram esboçadas através de croquis bastante sintéticos, que trouxeram alternativas distintas: pirâmide invertida, duas barras suspensas por um volume central, dois prismas cilíndricos verticais. Seus croquis (figura 55) demonstram o processo especulativo formal para os estudos preliminares.

Figura 55 - Croquis de Moacyr Moojen Marques, buscando alternativas formais: Pirâmide invertida, duas barras suspensas por um volume central e dois prismas cilíndricos verticais. Fonte: acervo

FAM/PROPAR.

Figura 56 - Croquis de Moacyr Moojen Marques - Grafite e lápis de cor sobre papel manteiga. Fonte:

Outras especulações formais foram verificadas no percurso de maturação do projeto. Uma delas, foi o emprego de duas estruturas piramidais rebatidas para os reservatórios, aludindo às velas de um barco. Especialmente na figura 56, pode-se observar a representação dessas pequenas embarcações comuns à paisagem do estuário Guaíba. Os croquis feitos à mão livre, com grafite e lápis de cor e ponto de fuga aleatório, possibilitaram a busca de alternativas rápidas de registro das ideias centrais.

Expeditos, além dos critérios formais, esses desenhos favoreceram a investigação de escala dos elementos integrados da parcela urbana ao conjunto paisagístico, observados nas visuais propostas. Ao lado das estruturas verticalizadas, encontra-se a representação de outro volume mais horizontal, para o aporte do maquinário da estação de bombeamento. Além dos esboços, foi elaborada fotomontagem da visual norte-sul pela Av. Diário de Notícias e uma elevação oeste e vista superior (figura 57).

Figura 57 - Croquis e fotomontagem de Moacyr Moojen Marques. Fonte: acervo FAM/PROPAR.

Em outra proposta especulativa, o arquiteto lançou mão de formas trapezoidais para os reservatórios, de alturas e proporções distintas, sempre considerando a capacidade de armazenamento como ponto de partida para seus estudos (figura 58).

Figura 58 - Croquis de Moacyr Moojen Marques. Fonte: acervo FAM/PROPAR.

No âmbito das especulações formais, outra alternativa considerada foi a de dois prismas retangulares paralelos, seccionados no topo. Abaixo, os croquis da opção, em vista frontal, vista superior e perspectiva (figura 59).

Figura 59 - Croquis de Moacyr Moojen Marques. Fonte: acervo FAM/PROPAR.

A equipe de projeto optou pelos dois cilindros verticalizados como a solução mais adequada, pois absorvem com maior eficiência o empuxo interno dos revervatórios, tornando a espessura das paredes de concreto mais delgadas. Em paralelo às investigações feitas com desenhos à mão, foram feitas simulações em ambiente digital, desenvolvidas em 3D (figuras 60 e 61). Isso comprova a complementaridade dos recursos manual e digital para o processo especulativo do projeto em questão.

Figura 60 - Croquis de Moacyr Moojen Marques. Fonte: acervo FAM/PROPAR.

Figura 61 - EBE Cristal - primeiros estudos em 3D. Fonte: acervo FAM/PROPAR.

Como equipamento de infraestrutura urbana, somado ao aprimoramento das resultantes formais e suas funções complementares (cilindros verticais e dois mirantes gêmeos), o projeto proporcionou à EBE Cristal status de ícone da paisagem porto- alegrense, sendo selecionado para o Panorama Iberoamericano da VIII BIAU de Cádiz, Espanha (figuras 62 a 64).

Figura 62 - EBE Cristal - mirante. Foto: André Cavalheiro, 2013. Fonte: acervo MooMAA.86 86MooMAA -.Moojen & Marques Arquitetos Associados. Disponível em, <https://www.moomaa.net/>, acesso em 15/03/2020

Figura 63 - EBE Cristal – Visual dos reservatórios. Foto: André Cavalheiro, 2013. Fonte: acervo MooMAA.

Figura 64 - EBE Cristal -– visual Av. Diário de Notícias. Foto: André Cavalheiro, 2013. Fonte: acervo MooMAA.

No documento À mão livre : croquis na era pós-digital (páginas 122-129)