• Nenhum resultado encontrado

Vivências – croquis em prática

No documento À mão livre : croquis na era pós-digital (páginas 70-75)

A ferramenta humana estava sempre na mão do homem: hoje, totalmente renovada e formidável, escapa momentaneamente da nossa mão.

Le Corbusier

Gerações de arquitetos têm se utilizado dos croquis como fonte inicial de registro e materialização de ideias preliminares para o projeto de arquitetura. Sustentar essa afirmativa pode não parecer uma tarefa fácil. Por isso se procurou estabelecer contato com diferentes gerações de profissionais de arquitetura com o critério de escolha de entrevistados que ratificassem a importância do croqui para o processo de projeto. Esse ponto foi crucial para elencar os arquitetos entrevistados, mesmo trabalhando com uma amostra ínfima de depoentes.

A pesquisa oral tem ganhado espaço no âmbito acadêmico e vem sendo um relevante método de rastreamento de informações não registradas em outros suportes. Por se tratar de terreno multidisciplinar, foi utilizado como referencial para a pesquisa oral o “Manual de História Oral”, de Verena Alberti (2013), e adotado o esquema de “Entrevista Semiestruturada”, no qual o entrevistador segue um roteiro de perguntas prévio, mas que pode ser alterado ou adaptado no decorrer da entrevista. Como subsídio de grande valor e abundante fonte de pesquisa, foi transposta a metodologia da autora.

[...] Romper o enclausuramento acadêmico que transformava a entrevista em simples suporte documental – e duvidosos – da pesquisa social e histórica, para mostrar a riqueza inesgotável do depoimento oral em si mesmo, como fonte não apenas informativa, mas sobretudo como instrumento de compreensão mais ampla e globalizante do significado da ação humana [...] (ALBERTI, 2013, p. 19)

A partir da observação do papel desempenhado pelos croquis na concepção de projetos de arquitetura, com foco em arquitetos contemporâneos da região metropolitana de Porto Alegre, adotou-se a metodologia de pesquisa através de fontes

bibliográficas, iconográficas (acervos particulares – croquis, projetos, fotos) e fonte oral (entrevistas semiestruturadas com arquitetos atuantes).

As entrevistas foram realizadas no período de 11 de julho de 2019 a 06 de agosto de 2019, com seis entrevistados. Cada qual em sua categoria, trouxe questões pessoais do mundo particular de trabalho. Os encontros ocorreram sempre em tom amistoso, informal e de intimidade, como uma conversa entre colegas e amigos. A energia empreendida nessa aproximação possibilitou o trânsito e acesso a escritórios em franca atividade, ampliando não só a percepção do tema em estudo, mas também da estrutura de organização e rotina de cada profissional em termos técnicos, de equipe e físico- materiais. Sobre esse aspecto, vale ressaltar que as condições de trabalho entre os profissionais são equivalentes, seja qual for a geração: escritórios de pequeno e médio portes, localizados em bairros como Bom Fim, Rio Branco, Navegantes, Centro.

As verificações na esfera prática profissional, relativas às operações de projeto por meio das entrevistas semiestruturadas, foram realizadas com alguns arquitetos de três gerações distintas, expostas a seguir, cujo recorte territorial está na região metropolitana de Porto Alegre/RS, com os seguintes critérios de seleção:

Critérios Qualitativos: Diferentemente da pesquisa quantitativa, que trabalha com amostragem, grande número de participantes e muitas vezes com entrevistados anônimos, adotou-se os critérios da pesquisa qualitativa cuja “[...] finalidade real não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão”. A finalidade da pesquisa qualitativa é ampliar a variedade dos pontos de vista sobre o assunto abordado. (BAUER; GASKELL, 2005, p. 68).

Por isso, foram selecionados arquitetos que utilizam a prática dos croquis em seus projetos e que ratificaram a premissa da importância dos mesmos para a fase dos estudos preliminares. Os depoimentos foram coletados de um universo restrito de entrevistados de fácil acesso, ou seja, um pequeno grupo de arquitetos que integra a comunidade profissional e que exerce a prática de projetos de arquitetura em escritórios da referida região metropolitana. Os grupos de entrevistados foram categorizados arbitrariamente, em três gerações, num período de aproximadamente 20 anos entre elas, como segue:

A. Geração analógica – arquitetos formados até 1990.

B. Geração analógico-digital – arquitetos formados entre 1990 e 2010. C. Geração pós-digital – arquitetos formados de 2010 até o presente. As categorias acima foram criadas a fim de delimitar uma cronologia a partir da formação ou graduação dos selecionados para as entrevistas, já que desde a década de 1990 houve um massivo aumento da utilização dos recursos informáticos nas áreas gráficas e, a partir da década de 2010, o período pós-digital, conforme apresentado no capítulo anterior. A seguir, o infográfico da linha do tempo com as categorias de gerações de entrevistados (figura 34):

Figura 34 - Infográfico da linha do tempo em relação categorias de gerações de arquitetos entrevistados. Fonte: autor/2019.

O lapso temporal entre cada uma das categorias acima justifica-se à medida que a massificação dos recursos da informática no contexto (Brasil meridional) aconteceu a partir da década de 1990, como visto anteriormente, e segue aumentando até os dias atuais. Além disso, é senso comum afirmar que os recursos telemáticos foram globalizados na região Sul a partir da década de 2010, quando a internet consolidou as bases da era pós-digital, ampliando suas conexões via fibra ótica para a rede mundial de computadores. Daí o intervalo temporal de aproximadamente 20 anos entre as categorias A e B (geração analógica e geração analógico-digital). Foi convencionado ainda que a categoria C (geração pós-digital) compreende o período contemporâneo, conforme elucidado anteriormente.

No decorrer da pesquisa houve contato com a obra de Donald A. Schön, “Educando o profissional reflexivo”, que aborda o ensino e a aprendizagem para profissionais de áreas distintas do universo criativo, trazendo exemplos de pesquisa aplicadas em ateliês de projetos arquitetônicos como modelo educativo para a reflexão- na-ação. Nele, Schön afirma que “[...] arquitetos, paisagistas, designers de interior ou industriais produzem objetos físicos que ocupam espaço e têm forma plástica e visual”. (SCHÖN, 2000. P. 43). Ele continua, falando sobre o sentido geral da imagem criada:

[...] Em um sentido mais geral, um designer faz uma imagem – uma representação – de algo a ser trazido à realidade, tendo ou não sido concebido primeiramente em termos visuais, espaciais e síntese.58

Existem muitas variáveis conhecidas no começo ou durante o processo de projeto. “Deste modo, os textos, do mesmo modo que as falas, referem-se aos pensamentos, sentimentos, memórias, planos e discussões das pessoas, e algumas vezes nos dizem mais do que seus autores imaginam.” (BAUER; GASKELL, 2002, p. 189)

Critérios Quantitativos: A fim de restringir o universo de entrevistados e focar nos aspectos quantitativos da pesquisa oral, selecionou-se seis arquitetos para as entrevistas, previamente elencados no período da pesquisa:

Categoria A: Geração analógica

Moacyr Moojen Marques (UFRGS/1954) - MooMAA Tarso Carneiro (UFRGS/1985) - AT Arquitetura Categoria B: Geração analógico-digital

Daniel Pitta Fischmann (UFRGS/1995) - Tópos Arquitetura

Sílvio Lagranha Machado (UNIRITER/2004) - MAPA Arquitetura Categoria C: Geração pós-digital:

Lucas Loff Ferreira Leite (UNIRITER/2009) - B2F Studio Eduardo Cezar Kopittke (UFRGS/2015) - Barra arquitetos

Os nomes acima foram escolhidos por critério de conveniência, ou seja, profissionais de acesso garantido, além de uma produção considerável de projetos. Ainda sobre os nomes, cabe evidenciar que, após o exame das entrevistas e de algum estudo de caso, foram verificadas as possíveis relações de seus métodos de produção projetual. A verificação pós coleta e análise dos depoimentos permitiu identificar se

existe filiação entre as distintas gerações, a fim de reconhecer que tipo de conexão os arquitetos elencados têm entre si, ou em que medida essa relação acontece, ciente, no entanto, da abrangência que possa vir a ter esse novo enfoque ou recorte temático, podendo suscitar futuras pesquisas.

Figura 35 - Linha do Tempo – ano da graduação dos entrevistados. (Fonte: imagem do autor) Buscando complementar o conteúdo apresentado como resultado das entrevistas, as informações colocadas na inferência de dados serão interpretadas de acordo com o método de análise de conteúdo, conjunto de técnicas de pesquisa cujo objetivo é a busca da interpretação dos sentidos. (FILLMANN, 2019, p.154). “A análise de conteúdo caracteriza-se pelo conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.” (BARDIN, 1977, p. 33).

No documento À mão livre : croquis na era pós-digital (páginas 70-75)