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Transcrições das entrevistas

No documento À mão livre : croquis na era pós-digital (páginas 146-200)

Entrevista nº 1

Entrevistado: Arq. Sílvio Lagranha Machado (S) Entrevistador: Arq. Rodrigo Ross Duarte (R) Arquivo: Recording_5 – extensão: MP3

Data e hora: quinta-feira, 11 de julho de 2019, às 9:48 | Duração: 19’50”

A entrevista aconteceu no escritório da MAPA Arquitetos, na Rua Padre Chagas 67/303, Rio Branco, Porto Alegre/RS.

R – Bom, vamos iniciar então... estou aqui com o arquiteto Sílvio Lagranha Machado (MAPA Arquitetura). Hoje é onze de julho, a gente está na sede da MAPA e a nossa conversa inicia justamente por que o Sílvio é, além de colega arquiteto, colega do mestrado lá no PROPAR, e sempre reparei que nas aulas ele estava funcionando com a lapiseira e com as canetas desenhando pra caramba, não é? Então essa aproximação é justamente pelo apreço com o trabalho do Sílvio, do Luciano, enfim de todos os colegas... Conversar sobre o croqui é uma paixão assim né, realmente é algo que nos faz voltar a alguns primórdios e por ser também um hábito e uma prática que vem de muitos séculos, acaba sendo um assunto que a gente leva muito em consideração. Eu inicio então o questionário e as perguntas justamente te perguntando como é que tu inicias esse processo de projeto, assim, como é que tu lanças as tuas ideias?

S – Bom Rodrigo, acho que pra nós como eu estava te comentando ali ainda antes da gente iniciar essas nossa conversa mais formal, é uma das principais ferramentas, um dos principais métodos aqui do escritório de investigação, então, sempre quando entra um projeto, quando a gente recebe um contato de cliente e se a coisa anda pra frente, se fecha o negócio, após visitar o terreno assim, o local onde a gente vai projetar, o que que a gente entender, o briefing do cliente, a primeira coisa que a gente faz é tentar entender e talvez transcrever o briefing do cliente para o papel, passar as informações que nos foram comentadas, não só de uma listagem de um programa de necessidades, mas muitas vezes até ideias ou sonhos que essas pessoas têm. A gente tenta com poucos riscos no papel começar a imaginar como que a gente poderia ocupar um lugar, ou um centro urbano ou dentre de um edifício já, vamos dizer, construído, ou até mesmo é... na natureza, numa aproximação como a gente anda fazendo com essas casas pré- fabricadas. Então, sempre essas primeiras ideia-ações, esses primeiros esboços do que que a gente está pensando estão sempre no papel, pedaços de papel às vezes, pedaços de

papel manteiga, tentando entender que espaço, ou como que a gente orienta esse briefing dentro de uma planta, sabe? Dentro de um espaço conformado já por algumas coisas de diretrizes, de afastamentos, de recuos, desse tipo de situação onde a gente pode pensar e “regoar”. Bom, aqui dentro desse espaço a gente vai ter que desenhar uma casa algo assim tipo...

R – Sim. É uma espécie de filtro inicial, assim?

S – Eu acho que também, acho que pode ser, acho pode ser esse filtro, um filtro inicial de informações que aos poucos a gente vai moldando essas informações já dentro de uma forma inicial que a gente possa trabalhar...

R – Já pensando numa espacialidade...?

S – Exato, sempre tentando já criar relações entre o espaço a ser projetado com o entorno imediato, tipo visuais, topografia, como pensar isso, como ocupar um lugar. Então o desenho sempre já vai nesse intuito de tentar entender quais são as primeiras relações, ou pelo menos quais são os pontos mais importantes que a gente deve atentar na hora de começar o desenvolvimento mesmo de projeto.

R – Sim. O desenho foi sempre na tua trajetória, desde a graduação, antes da graduação ou foi sendo refinado isso?

S – Olha, no meu caso particular assim (risos) já tinha alguma coisa de desenho antes da graduação, mas não desenho de arquitetura... eu tenho um tio meu mais velho que é arquiteto que era o contato que eu tinha, mas... a minha mãe é artista plástica, então essa coisa de desenhar em casa, ficar sempre brincando com alguma coisa de lápis, com giz, com uma caneta ou um pincel sempre fizeram parte do meu tempo livre talvez, assim sabe, ou uma coisa de brincar com isso. Mas o desenho, ou croqui arquitetônico, isso foi com certeza desenvolvido por uma coisa de curiosidade minha dentro da faculdade, assim... Eu via por exemplo, era muito instigado por colegas filhos de arquitetos que já sabiam desenhar e já de alguma forma desde o início do curso sabiam demonstrar as suas ideias, já sabiam apresentar um projeto talvez sem falar nenhuma palavra mas desenhando, transmitir ideias, eles conseguiam fazer aquilo, me chamou muito a atenção e eu acho que desde de cedo comecei a trenar, praticar, isso durante a graduação assim...

R – Te formaste na UNIRITTER?

S – Eu sou egresso da UNIRITTER, me formei em 2003/2 e fiz todo o meu curso a mão. Eu não usei nenhuma vez CAD, nenhum programa de desenho gráfico, então eu fiz do primeiro semestre ao último até o TCC, tudo desenhado a mão.

R – Eu também, (risos). Tinha uma coisa, uma espécie de bandeira assim, por que eu acredito que... eu também me formei em 2002 na UNISINOS e acaba que era o recurso da informática estava entrando, então... claro, havia gente que já dominava bastante o AUTOCAD era um recurso não é...

R – Mas o entrevistado é você (risos)

S – não, eu acho que é isso assim... então, pra mim o desenvolvimento do desenho, do croqui, também do desenho técnico e dessa investigação, estar sempre registrando isso no papel, à mão livre, que é uma coisa que eu respeito muito assim é... pra mim faz parte, acho que tem que..

R – Parte do processo?

S – É parte do processo, é inerente até eu acho que...

R – Inclusive na apresentação pra clientes assim (já tinha te perguntado antes, mas...)? S – Eventualmente a gente apresenta sim, ou às vezes a gente até faz montagens, alguma coisa assim, então... se tem isso, mas eu...

R – Montagens tipo foto...?

S – Tipo fotomontagem, fazendo croqui, leva pro computador e ajeita com esses softwares mais gráficos (fotoshop, Illustrator). Acho que isso já se fez bastante. Hoje aqui dentro do escritório, no MAPA, a gente até não tira tanto eles, deveriam fazer mais isso, a gente até vê isso voltando. A gente vê apresentações de arquitetos renomados no exterior de novo usando o croqui como uma ferramenta de apresentação ao cliente. Eu acho que eventualmente isso deve voltar por que a gente tem hoje essa coisa da tecnologia muito fotorrealismo que às vezes isso pode até atrapalhar, não é? Então tem que ter um cuidado na hora de...

R – Te vem algum arquiteto assim dessa pegada aí que, te vem em mente?

S – Que tem mostrado coisas de volta? Cara, pra mim o principal deles que faz coisas muito interessantes é o Norman Foster, Renzo Piano, que segue na ativa e segue

R – Daniel Libeskind, também?

S – Também... e os portugueses acho que a maioria deles, não precisa nem ser tão sênior, mas eles, acho que faz parte da escola deles ainda ter muito forte o negócio do croqui, da apresentação do croqui como ferramenta também de apresentação ao cliente. Mas hoje, só pra passar assim, o MAPA acaba não usando tanto pra apresentação ao cliente. A gente... é uma ferramenta mais nossa...

R – Interna, de equipe?

S – De equipe, nossa, tanto minha quanto do Luciano passar isso também pros arquitetos que estão trabalhando no escritório, enfim, é uma coisa quase que de instrumentação assim sabe? A gente vai passando instruções através de croquis assim. R – E como é que entrou o computador, a ferramenta digital na tua trajetória?

S – Foi logo depois de formado que isso acontece. A gente... eu juntamente com outros três colegas a gente monta um escritório em 2004 e, enfim, dois deles já trabalhavam muito bem com um software que chama Vector Works, que é um dos primeiros

softwares paramétricos até que tem, mas tem uma interação gráfica muito interessante assim, era quase que... até hoje se brinca que era uma mistura de CAD com Corel, uma interface gráfica muito bacana, muito interessante, então tudo o que tu via desenhado tu já desenhava com uma interface de apresentação...

R – Espessura de linha, tudo... S – Exatamente, sombra, cor...

R – A gente usa esse lá no escritório...

S – Então é coisa pra mim, esse foi o primeiro que eu trabalhei. Também era fácil acesso, rápido de aprender. Depois ainda, no período de vida ainda na Inglaterra quando eu fui pra lá, entre 2006 até 2009, eu trabalhei num escritório também que todo o escritório era montado em cima do Vector. Então, daí acabei desenvolvendo mais ainda a habilidade pra trabalhar no programa. E enfim, na volta, trabalho mais um pouco com isso. Depois vou pro CAD, daí entra CAD com Illustrator e aí o escritório vai se desenvolvendo, assim como as habilidades também de empreendedor e talvez empresário façam que gradativamente eu fosse me afastando um pouco dessa coisa do... R – Vira um polvo? (risos)

S – Isso, exatamente assim, então, vai fazer uma parte mais comercial, vai trabalhar um pouco mais com atendimento e não vai desenhar tanto no dia a dia, então hoje a minha parte de desenho é...

R – Lançamento?

S – ...conceitual assim, muito lançamento... R – 3D?

S – Não, nunca cheguei a trabalhar, assim. Sempre... 3D é pros artistas que fazem isso. (risos)

R – Bom, tu consegue compreender ou condensar assim, sintetizar qual seria o papel do croqui pra essa nossa... nosso novo cenário aí da (Era) pós-digital, podemos dizer assim por que tudo é online, a tecnologia é silenciosa, não se percebe mais onde começa e onde termina a entrada da tecnologia em rede. Então, a gente voltar pra um ambiente tátil assim acaba também sendo uma espécie de negação, uma antítese do virtual. Isso acaba sendo o mote da minha pesquisa, esse regresso. É um regresso que na verdade as coisas coexistem: o Cinema não apagou a Fotografia e o Teatro não morreu por causa da Televisão, enfim. Mais ou menos nesse sentido, não é...?

S – Nossa, eu acho que... R – (risos) além da...

S – ...pra mim acho que, bom na minha opinião segue sendo a principal ferramenta do arquiteto. Tanto é que, vamos dizer assim: o significado pra sigla do CAD é... CAD é só

uma ferramenta pra tu colocar (computer-aidded design)87, é uma coisa tipo na realidade tá ali pra tu desenhar, uma prancheta eletrônica. Mas toda a concepção, todo lançamento, toda a ideia, tudo, a parte de conceito, onde tu vais expor a tua ideia, como que essa tua ideia pode ser materializada, isso tudo pode pra mim passar por três, quatro A4, uma A1 gigante, sei lá... uma tela branca ainda é, na minha opinião, a principal ferramenta que o arquiteto deveria ter...

R – O desenho?

S – ... qualquer arquiteto deveria sentar numa mesa e poder se expressar as suas opiniões, as suas intenções, tudo, tudo na caneta. Isso eu também percebo por ter tido essa experiência fora, como eu estava comentando antes, assim, que eu via outros colegas de outras nacionalidades que muitas vezes não sabiam se expressar assim em inglês, os caras resolviam na ponta do lápis o problema da língua e da conversa e de uma interação e de um entendimento de uma proposta, sabe? Então, se o cara não conseguia explicar aquilo ali se expressando verbalmente, o cara se expressava numa 0.9, entendeu?

R – Numa linguagem...

S – Universal. Então assim: os arquitetos se entendem universalmente através do desenho.

R – Do desenho. S – Então é isso!

Nesse momento, a gravação registra a chegada de Luciano Andrades, sócio fundador, ao escritório da MAPA).

R – Retomando, não é Silvio? Essa função do croqui acaba sendo esclarecida, pelo que tu (falou) falaste. Assim, ele também tem o seu lugar num início de processo, digamos assim. No início do lançamento das ideias e a parte digital acaba sendo a arte-final que se fazia a tempos atrás, mas com recursos manuais também, com recursos de colagens, enfim, letraset88 e tudo mais (risos).

S – Sim, toda a parte... (risos) era muito bom!

R – E tu costuma a guardar alguns croquis. Eu já tinha te perguntado isso, não é? Tu me mostraste ali, não é?

S – Aham.

87 CAD/CAM é a abreviatura inglesa para as seguintes expressões: computer-aided design – CAD –

Desenho assistido por computador. computer-aided manufacturing – CAM – Manufatura assistida por computador. Fonte: disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/CAD/CAM, acesso em 23/07/2019.

88 Decalque utilizado transferir anotações escritas em arte-final antes da difusão da informática. (N. do

R – E essa pergunta também acaba convergindo pra uma busca de algum estudo de caso que talvez o teu escritório possa vir a trazer pra contribuir com essa pesquisa que vai ser de muito valor pra mim.

S – Como eu estava te comentando antes, assim, eu acho que dentro da nossa experiência assim, não só da minha experiência do escritório mas também como processo do MAPA, o croqui não só é utilizado nessa parte inicial, nessa parte inicial de projeto, enfim, de desenvolvimento dessa parte de conceitos, da primeira parte, vamos dizer assim, do processo projetual, da parte de estudos preliminares e anteprojeto de arquitetura, mas também uma ferramenta que fica no dia a adia do escritório e que acompanha todas as outras etapas: projeto básico, projeto executivo e até uma assistência em canteiro. Por que é uma ferramenta que se a gente tem alguma dúvida e vê que alguma coisa não vai funcionar, a gente ainda pega rapidamente um pedaço de papel e traça ali duas, três alternativas que podem ser pensadas ou testadas pela equipe... Quando pega o arquivo e vai de novo pro computador, enfim...

R – Tem um ziguezague aí nessa... S – Tem. Tem uma costurinha. R – Vai e volta.

S – Tem uma costura ao longo do processo que vai amarrando essa ferramenta do desenho manual até o fim.

R – Que legal!

S – Então eu acho que sim, acho que a gente pode depois com um pouco mais de tempo contigo ou a gente, conversando com a equipe, conversando com o Luciano, a gente pode pegar algum exemplo, que a gente tenha um pouco mais de registros guardados assim e te mostrar pra participar desse estudo de caso. Acho que vai ser muito legal assim.

R – Show de bola! Privilégio!!! S/R – (risos)

R – Basicamente é isso assim... pra finalizar eu acho que, te agradecer pela entrevista e dizer que foi um privilégio conversar contigo. E vamos em frente!

S – Não, muito bom! Eu que agradeço o contato e a atenção toda. Foi um prazer, é um prazer estar discutindo isso. Pra nós é muito importante assim, como faz parte, como eu estava te mostrando aqui no escritório, é uma coisa que sempre vai fazer parte, não vai mudar.

R – E que assim, acaba sendo uma reflexão do processo essa apreciação da metodologia do trabalho também acaba sendo uma reflexão do caminho a tomar...

S – Acho que ilustra bem como que a gente também desenvolve as coisas por aqui. Até hoje, agora falando contigo, até me lembrei que tem um dos sócios lá do Uruguai,

Maurício, que ele sempre desenhou muito bem. Ele registra tudo desenhando, pequenos croquis e tal. E ele agora está numa nova etapa que eu falo aqui, que ele está com um

Ipad, com a caneta e aí fica desenhando...

R – Um mix?

S - ... digitalmente todos esses croquis. Ele faz montagens e coisas. Então assim: vai evoluindo, mas esse desenho, pegar a ferramenta e desenhar, não sai de perto.

R – A coisa do atrito, não é?

S – É, tem que ter, tem que sujar a mão, sujar a mesa... Tem que... R – Isso aí!

S – Faz parte...

R – Tá bem! Obrigado Silvio! S – Valeu!

Fim da entrevista.

Entrevista nº 2

Entrevistado: Arq. Tarso Carneiro (T)

Entrevistador: Arq. Rodrigo Ross Duarte (R) Arquivo: Recording_6 – extensão: MP3

Data e hora: quinta-feira, 11 de julho de 2019, às 14:52 | Duração: 41’53”

A entrevista aconteceu no escritório do arquiteto, AT arquitetura, Rua Frederico Mentz, 1606 - Navegantes, Porto Alegre/RS.

R – Vou iniciar então, se não te importas vou gravar... T – Não, sem problema!

R – ... pra depois eu vou transcreve, com mais calma. T – Fica mais fácil.

R – Pra te situar um pouquinho, o projeto de dissertação se intitula “À mão livre – o croqui na Era Pós-digital”, que vai abordar o tema do desenho à mão livre no processo de projeto, buscando alguns precedentes no âmbito histórico, desde a Escola de Beaux- Arts, passando um pouquinho pela Renascença, enfim, caindo no movimento moderno e vindo pro ambiente contemporâneo. E a ideia assim de regionalizar o assunto, conversar com arquitetos da região metropolitana de Porto Alegre, é justamente pra ver como é que está esse ambiente de projeto na prática profissional da região metropolitana. Como você tem um escritório que é reconhecido, tem bastante atuação não só em Porto Alegre, a ideia é justamente começar pelo início, perguntando como é que vocês iniciam o processo de projeto, dado que vocês são de uma geração digamos assim, pré-digital, não é?

T – Aham. Cara a gente usa muito o desenho a mão. R – Ah, que legal!

T – Usamos muito, todo projeto ele nasce de rabiscos. R – Que bom.

T – E durante todo o desenvolvimento do projeto sempre se faz algum tipo de croqui. É uma coisa desorganizada, assim, não é uma... não tem um método, assim.

T – Mas são pequenas intenções, tá vendo lá naquela parede89? Se demonstra alguma coisa, alguma ideia. A gente tem um... normalmente aqui os projetos a gente inicia os projetos entre eu o André e o Maurício (eu e o André somos fundadores do escritório e o Maurício já está trabalhando conosco há mais de dez anos).

R – Maurício é meu conterrâneo.

T – É? Ele é de Cachoeira, exatamente isso! R – Inclusive estudei na mesma escola que ele. T – É?

R – Colégio Marista...

T – Vocês são mais ou menos da mesma idade?

R – Mais ou menos, acho que ele é um pouquinho mais novo do que eu. T – É. o Maurício tá com quarenta e... três.

R – É, então é a mesma idade. T – Ele fez agora, semana passada R – Sim, ah que legal!

T – Então a gente começa assim, discutindo, acho que todo o projeto se começa conversando a respeito do projeto e essa conversa...

R – Vai sendo registrada?

T - ... gera alguns rabiscos e normalmente a gente tenta, procura deixar assim a ideia bem formatada antes de começar a propriamente desenhar ela, a montar o modelo no computador. O que acontece hoje, às vezes o processo se atropela um pouco... Tu tens um levantamento topográfico ou alguma pré-existência no terreno, então isso já vai sendo trabalhado antes (às vezes depende do cronograma). Quando a gente começa a nossa parte de projeto, já tem alguma base gerada, algum modelo no computador. As vezes a gente usa isso, imprime já alguma coisa que foi feito em levantamento e rabisca em cima.

R – Sim.

T – Mas esses rabiscos eles não têm nenhuma intenção de registro, assim. A gente usa muito as paredes, quadro-negro e pedacinho de papel e joga fora.

R – Sim. T – É só pra...

R – Pra dar um início?

T – É... eu acho que é a forma que o arquiteto pensa, não sei, pra mim. R – Pois é... acho que tem um...

T – Não consegue pensar sem dar uma... pegar uma lapiseira e dar uma rabiscada... R – É. Tem uma coisa de materializar a ideia, não é? Talvez nesse processo inicial de estudos, enfim...

T – É. A gente consegue separar uma fase de conceito antes da materialização. Eu acho que isso é o ideal. Tu conseguir saber o que tu queres fazer. E até conseguir definir isso em palavras ou mesmo antes de começar a desenhar. Mas na verdade isso vai acontecendo junto e muitas vezes esse conceito do projeto ele vai amadurecendo... R – No decorrer?

T – No decorrer, e tu vais estar com ele consolidado numa etapa já intermediária do projeto. Às vezes a gente não consegue ter a clareza de lá no começo dizer: - Cara, é uma caixa preta!90

R – Sim, sim.

T – Às vezes tu vais: é uma caixa... e lá no fim ela se torna uma caixa preta. R – Sim.

T – Acho que isso seria o ideal, tu conseguir ter a síntese assim de saída. (risos)

R – Mas acho que essa maturação ela também é própria do processo de projeto, não é? Acaba que as coisas vão sendo visualizadas. O início é muito de percepções iniciais. Tudo vai sendo depurado. Então vocês costumam a fazer desenhos à mão livre mais voltados assim nessa parte inicial?

T – Sim.

R – E como é que tu avalias a elaboração de croquis pro desenvolvimento do projeto? Ele entra mais nas etapas preliminares mesmo?

T – Não cara, a gente desenha muito a mão. Eu estava agora, na obra tu usa muito o desenho a mão. Em obra tu...

R – Pra explicar alguma coisa?

T – Pra explicar, pra complementar um detalhe uma coisa que não...

R – Então tem uma espécie de ziguezague entre obra-projeto ou projeto-obra?

T – É, não deveria ser. Eu estava agora, fui numa obra de manhã e tinha duas plantas baixas e não tinha o corte, daí eu liguei pros caras: - Bah, cara não veio o corte? – Não,

No documento À mão livre : croquis na era pós-digital (páginas 146-200)