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CAPÍTULO 3: GESTÃO ESTRATÉGICA DE P,D&I NO SETOR ELÉTRICO

3.3. Análise dos estudos de caso

3.3.5. Estudo de caso da Empresa 4

A mais antiga entre as empresas entrevistadas, criada em meados dos anos 40, a Empresa 4 é uma sociedade anônima e de economia mista, subsidiária de grupo de energia que atua em âmbito nacional e tem como atividade principal a geração, a transmissão e comercialização de energia, com uma capacidade instalada de potência de 10,6 GW, ou aproximadamente 11% do parque nacional. São 14 usinas hidrelétricas e uma termoelétrica (site oficial da empresa, acesso em 2012).

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Adotar tecnologia de ponta para suportar seu crescimento foi uma estratégia empreendida desde sua criação. Entretanto foi principalmente a partir do ano de 2000, com a publicação da Lei 9.991, que a Empresa passou a prospectar e desenvolver novas tecnologias na busca de um aproveitamento mais equilibrado de recursos naturais, melhoria da qualidade de vida no trabalho ou aumento da confiabilidade de seus serviços prestados.

A Empresa 4 possui duas carteiras de pesquisa, uma mais antiga, chamada de carteira de pesquisa institucional, que financia 8% do orçamento (custeio de pessoal e investimento em pesquisa) do Cepel, o que representou em 2010 quase R$ 10 milhões. Por pertencer a um grupo sócio- fundador do Cepel, ela contribui com parcela de recursos ao Centro, cujos projetos concentram-se em questões de interesse comum às empresas do Grupo.

Assim, ela participa do Conselho, do qual as outras empresas do Grupo também fazem parte, que se reúne uma vez por ano com o corpo técnico do Cepel para definir a carteira de projetos a serem executados, acompanhar o andamento de pesquisas já iniciadas. Essas são normalmente pesquisas em temas mais estratégicos.

A outra carteira é a de P&D ANEEL, que vigora desde 2000 e é realizada com ICTs, contratados como prestação de serviços por meio de dispensa de licitação, buscando, entretanto, incentivar a livre concorrência, observando as regras da Controladoria Geral da União (CGU) e da ANEEL. Os gerentes de programa de P&D das empresas do Grupo participam do CICOP, que é o Comitê de Integração das empresas do Grupo para a definição de políticas de inovação integradas, instruções padronizadas de propriedade intelectual e que também atua de forma a identificar e evitar duplicações de desenvolvimentos em temas correlatos entre os projetos das diferentes empresas. Entretanto não existe a prática de projetos cooperados com outras empresas do grupo. Cada uma das empresas tem a liberdade e autonomia para fazer seu programa e sua gestão de P&D.

Na estrutura da organização a Coordenação de Planejamento, Pesquisa e Desenvolvimento e Inovação existe desde 2004 e está no 3º. nível hierárquico. A equipe conta com 6 pessoas sendo um assessor e mais 5 pessoas (todas sem mestrado ou doutorado). Dentro da mesma Coordenação existe a assessoria de planejamento empresarial. Essa área é uma assessoria da Presidência da empresa e é responsável por cuidar de todas as inovações tecnológicas da empresa, sejam originadas por projetos de pesquisa, ou por melhorias de engenharias realizadas por seus técnicos.

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A estrutura pode ser classificada como matricial e subdividida em três níveis. No nível estratégico existe um comitê deliberativo, que define a política de P&D da empresa, composto por um representante de cada uma das quatro diretorias: engenharia, operação, administrativa e financeira, além da presidência (cujo representante é o próprio coordenador da área de P&D). Há também um grupo no nível tático de representantes do chamado primeiro escalão, com 24 pessoas das superintendências regionais da empresa, que acompanham os projetos nas áreas fim, identificam oportunidades de novos projetos, chamado de Comitê de P&D.

A equipe da coordenação, no nível operacional, faz a gestão financeira e outras atividades de regulação e gestão do processo todo, desde a prospecção e geração de ideias até o projeto final, concluído e avaliado.

Entretanto, toda essa estrutura atualmente está passando por modificações.

A partir do Manual da ANEEL de 2008, a prospecção interna de demandas de projetos é feita de forma contínua, considerando a limitação dos recursos disponíveis, impondo-se a necessidade de estabelecimento de diretrizes para aferição do mérito dos projetos, de modo que tais recursos sejam aplicados de forma eficiente e que a escolha das entidades seja efetivada com igualdade de oportunidades, dotando o processo de escolha de total transparência.

O processo de captação de ideias de projetos inicia-se com o levantamento das demandas (pré- projetos) junto aos profissionais da Empresa. A proposta da demanda de pesquisa, uma vez aprovada pelo gerente do proponente, é submetida à análise do Comitê de P&D da companhia, no sentido de analisar aspectos como sua caracterização como pesquisa e desenvolvimento e seu alinhamento com os objetivos estratégicos da Empresa.

Dependendo da categoria do projeto, a demanda é então publicada na internet ou utilizada para elaboração de edital de licitação. Ou seja, as demandas dos projetos categorizados como pesquisa básica, pesquisa aplicada ou desenvolvimento experimental servem para orientar as entidades de pesquisa na elaboração dos projetos a serem submetidos à empresa. Os projetos são então priorizados considerando: (i) os benefícios econômicos, tecnológicos e sociais que os projetos trarão para a Empresa, incluindo-se sua viabilidade econômico-financeira; (ii) a aderência da proposta à demanda de pesquisa publicada, a qual está alinhada ao plano estratégico de investimento em P&D, elaborado para um horizonte de cinco anos com atualização anual; (iii) a entidade executora avaliando, neste caso, sua expertise para consecução do projeto, bem como a condição de regionalização.

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Até novembro de 2011, a concessionária deveria ter investido R$ 260 milhões. Destes, excluindo-se os projetos executados (encerrados), em execução, em contratação e em concepção (já compromissados entre a empresa e instituição), estavam disponíveis ainda R$ 30 milhões. A correção do saldo de investimento obrigatório pela taxa Selic, acumulada até o final de 2011 representava algo da ordem de R$ 50 milhões.

Até novembro de 2011 a realização de P&D ANEEL total foi de R$ 75 milhões, em cerca de 180 projetos (entre encerrados e em andamento) até a legislação antiga de ciclos, porque essa empresa ainda não teve nenhum projeto na nova regulamentação contratado.

Para a primeira carteira dentro da nova regulação, no Programa de P&D+I 2009 a empresa recebeu 95 pré-propostas dentro das 41 demandas identificadas. Nessa fase 6 demandas não receberam proposta, restando 35 demandas com pré-proposta recebidas.

A avaliação destas pré-propostas foi realizada pelas áreas técnicas que cadastram a demanda. A pré-proposta melhor qualificada para cada demanda avançou para a segunda fase de consolidação e detalhamento, por meio de um novo formulário mais completo, com todos os detalhes necessários para uma contratação imediata. Esse detalhamento foi discutido em reuniões presenciais composta com o pessoal do Comitê de P&D, da coordenação de P&D e a área técnica. Assim, nesse programa resultaram 33 projetos, totalizando mais de R$ 40 milhões. Nesse contexto, o recurso destinado pela Empresa à pesquisa, considerando os recursos dos projetos de P&D ANEEL, do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mais a contribuição para o Cepel no período de 2002 a 2010, representou um valor de algo em torno de R$ 350 milhões.

Durante a entrevista com o Assessor da Coordenação de Planejamento, Pesquisa e Desenvolvimento e Inovação, observou-se que existe muita dificuldade de iniciar os projetos de P&D numa empresa que precisa seguir a Lei de Licitação, 8666, que dificulta a contratação das instituições de pesquisa.

Outro fator que também contribui no acúmulo do saldo de investimento obrigatório de P&D dessa empresa são atrasos de início de projetos, e assim os equipamentos propostos ficam obsoletos, as equipes são modificadas, os estudantes de mestrado e doutorado, que possuem prazos a cumprir acabam saindo do projeto e é preciso remontar as equipes.

Outro fator importante nesse sentido foram os atrasos de avaliação pela ANEEL. Por exemplo, o último ciclo na regulamentação anterior, 06-07 com 29 projetos, foi submetido em agosto

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de2007. A avaliação da primeira submissão somente foi finalizada em abril de 2009. É importante notar que a regra antiga não permitia contratar os projetos já aprovados na primeira submissão. Só era permitido contratar o programa como um todo. Assim, a segunda submissão somente foi aprovada em dezembro de 2010, com 19 projetos que estão ainda em fase de contratação pela empresa.

Com relação às parcerias, as universidades do estado de Pernambuco são os principais parceiros na execução dos projetos de P&D da Empresa 4: em primeiro a UFPE, depois UFCG, mas existe cooperação com universidades de todo Brasil: UNICAMP, USP, UFRJ, entre outras.

Os centros de pesquisa também participaram, entre eles, o próprio Cepel, mas também o Lactec, CPqD, etc. Segundo o assessor da Coordenação de Planejamento, Pesquisa e Desenvolvimento e Inovação (que foi o entrevistado nesta empresa), por ser uma empresa pública, submetida às regras da Lei No. 8666, que dificulta a contratação de instituições com fins lucrativos, a empresa não tem no seu grupo de parceiros empresas privadas ou fabricantes.

Entre os objetivos de investimento em inovação, a principal preocupação da empresa está voltada para atender suas necessidades internas de redução de custo operacional, melhorias de seus processos internos e da qualidade de seus serviços.