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CAPÍTULO 3: GESTÃO ESTRATÉGICA DE P,D&I NO SETOR ELÉTRICO

3.4. Características atuais de gestão de empresas do setor elétrico nacional

3.4.1. Perfil de P&D e inovação

Como identificação do perfil de P,D&I nas empresas entrevistadas, foram considerados os dados sobre: os investimento em P&D nos últimos anos; os números de projetos executados e em execução; a distribuição dos recursos nas fases da cadeia de inovação; o modelo de execução dos projetos de P&D; os tipos de parcerias nos projetos e o tipo de apropriação dos resultados tecnológicos dos projetos de P&D.

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A tabela abaixo apresenta uma síntese do esforço de P&D nas empresas, com base nos investimentos em P&D e número de projetos das empresas nos anos de 2009 e 2010, após a nova regulamentação do P&D ANEEL, conforme o novo manual de 2008.

O conjunto dessas sete companhias, em apenas dois anos da nova regulamentação, soma um volume de recursos de quase R$ 390 milhões, investidos em 133 projetos de P&D, o que daria uma média de aproximadamente R$ 3 milhões por projeto.

A Tabela 3.2 abaixo mostra que três destas empresas: Empresa 1, Empresa 2 e Empresa 5, todas de grande porte, possuem a média do custo dos projetos acima da média geral dos R$ 3 milhões. As Empresas 6 e Empresa 7, que foram consideradas de tamanho médio e pequeno, respectivamente, são aquelas que apresentam os menores números de projetos, de investimento total e consequentemente, da média de recursos por projeto, sendo a Empresa 7 aquela com os menores números nesses três itens.

Tabela 3.2 – Número de projetos e volume de recursos de P&D (em R$ mil) nos anos 2009 e 2010

Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3 Empresa 4 Empresa 5 Empresa 6 Empresa 7 Número de

Projetos 38 16 13 33 19 9 5

Investimento

Total (R$ mil) 143.223 93.662 26.284 40.068 65.527 16.044 3.062

Média por Projeto

(R$ mil) 3.769 5.854 2.022 1.214 3.449 1.783 612

Empresas Grupos com P&D centralizado Empresas com P&D individual

Fonte: dados do site da ANEEL – planilha Excel “Projetos_PED-ANEEL_(Res_Norm_316- 2008)_Ver2011.10.03.xls”

Comparando os números dessas 7 empresas selecionadas, com o total de investimento em projetos de P&D no setor, nesse mesmo período entre 2009 e 2010, observa-se que apenas 87 empresas (de um total de 215 empresas cadastradas no site da ANEEL) submeteram projetos para a ANEEL neste novo modelo, segundo manual de 2008. Isso representou um total de 901 projetos submetidos, com um volume de recursos da ordem de 1,4 bilhões.

Assim, as 7 empresas estudadas são bastante significativas, sob o ponto de vista do recursos em P&D investidos nesse período, representando mais de 27% dos recursos e quase 15% no número

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total de projetos. Essas sete empresas também apresentam projetos maiores e o quase dobro de média de investimento por projeto, quando comparado a amostra total. Esses dados estão apresentados na Tabela abaixo 3.3.

Tabela 3.3 – Número de projetos e volume de recursos de P&D (em R$ mil) nos anos 2009 e 2010 no setor.

Empresas 7 Empresas Estudadas 80 Empresas com projetos

submetidos a ANEEL Empresas totais

Número de Projetos 133 768 901

Investimento Total (R$

mil) 387.870 1.030.015 1.417.885

Média por Projeto (R$

mil) 2.916 1.341 1.574

Fonte: dados do site da ANEEL – planilha Excel “Projetos_PED-ANEEL_(Res_Norm_316- 2008)_Ver2011.10.03.xls”

Esses valores mostram uma evolução do tipo de projetos de P&D que vem sendo desenvolvidos após a nova regulamentação (de 2008) quando comparamos a média do valor por projeto, que era de R$ 270 mil para os projetos de P&D desenvolvidos antes do novo manual de 2008, o que sugeria um caráter muito mais incremental, voltados para o desenvolvimento de softwares, com foco nas melhorias de processos (Pesquisa da ABRADEE, 2009).

Ainda como informação importante para a caracterização do perfil de P&D dessas sete empresas, foi observado o impacto da nova regulamentação de 2008, pela ampliação das fases da cadeia de inovação reconhecida como financiável pelo P&D ANEEL, que passou de três categorias: pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento experimental, para seis, complementando com: cabeça de série, lote pioneiro e inserção no mercado.

A Tabela 3.4 abaixo apresenta a participação percentual para os recursos investidos em projetos de P&D ANEEL e não-ANEEL, por fase da cadeia de inovação, considerando apenas os projetos iniciados a partir de 2008, com as especificações no Novo Manual de P&D da ANEEL.

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Tabela 3.4 - Participação do volume de recursos dos projetos de P&D nas fases da cadeia de inovação

Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3 Empresa 4 Empresa 5 Empresa 6 Empresa 7

Pesquisa Básica 0% 0% 5% 8% 5% 0% 30% Pesquisa Aplicada 45% 47% 76% 63% 85% 50% 70% Desenvolvimento Experimental 39% 38% 16% 29% 4% 50% 0% Cabeça de Série 16% 2% 3% 0% 6% 0% 0% Lote Pioneiro 0% 13% 0% 0% 0% 0% 0% Inserção no Mercado 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% Empresas

Grupos com P&D centralizado Empresas com P&D individual

Fonte: dados do site da ANEEL – planilha Excel “Projetos_PED-ANEEL_(Res_Norm_316- 2008)_Ver2011.10.03.xls”

Observa-se que nos projetos cadastrados na ANEEL entre os anos de 2008, 2009 e 2010, considerando a nova Resolução 316, as fases de pesquisa aplicada, seguida da fase de desenvolvimento experimental, foram as que receberam maior volume de recurso em projetos de P&D em todas as empresas.

Em nenhuma das sete empresas encontraram-se projetos na fase de inserção do mercado. Apenas a Empresa 2 apresentou projetos na fase de lote pioneiro. Quatro das sete empresas tiveram algum recurso investido em projetos cabeça de série, com maior destaque para a Empresa 1, com 2 projetos nessa fase.

Considerando essa classificação dos projetos de P&D ANEEL, as fases de cabeça-de-série e lote pioneiro podem facilitar a introdução de um novo produto ou processo no mercado ou mesmo nas atividades internas das empresas, uma vez que elas permitem o desenvolvimento de tecnologias, além da escala laboratorial e de prototipagem. Entretanto, os números de projetos nessas fases ainda são muito menores comparados às fases mais experimentais. Acredita-se que no futuro as empresas tenderão a equilibrar melhor sua carteira de projetos nessas diferentes fases, de forma a ampliar a possibilidade de produção e comercialização de novas tecnologias.

O modelo de execução dos projetos de P&D estabelecido segundo os critérios de regulação da ANEEL até 2008 influenciaram fortemente as empresas para reduzirem ao máximo o seu custo interno de gestão, contando com uma estrutura interna reduzida, com predominância de um

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modelo de inovação aberta, de parcerias com universidades e centros de pesquisa, cujo foco está mais associado às pesquisas aplicadas e experimentais, em escala laboratorial e fraca participação do setor produtivo (fabricantes). Apesar da liberação e ampliação das fases de desenvolvimento reconhecidas como P&D ANEEL, com o foco na inovação, é de se esperar que exista um movimento natural para que as empresas se estruturem e os resultados dessa mudança comecem a aparecer.

Coincidentemente, as empresas que tiveram um maior volume de investimento (Tabela 3.4 acima), Empresa 1, Empresa 2 e Empresa 5, foram também aquelas que possuem projetos nas fases de cabeça-de-série e lote pioneiro. Esses resultados parecem bastante razoáveis, uma vez que os projetos nessas fases são normalmente mais complexos e mais caros, porque geralmente exigem a produção numa escala maior dos equipamentos e sistemas que estão sendo testados. Outro ponto observado foi o modelo de execução dos projetos de P&D. Todas as sete empresas declararam que os projetos foram executados com infraestrutura e equipe executiva externa, isto é do parceiro (modelo de inovação aberta), com complementação de equipe interna, mas com dedicação parcial de seus engenheiros e analistas.

Com relação ao acompanhamento da equipe interna nos projetos de P&D, cinco delas responderam que a equipe interna só faz acompanhamento gerencial. Entretanto três delas, Empresa 2, Empresa 5 e Empresa 7 disseram que a equipe interna, normalmente o gerente de projeto (GP), participa tecnicamente das discussões de escopo e conteúdo.

Por fim, o último item analisado foi o cruzamento entre os tipos de resultados tecnológicos nos projetos de P&D, nos últimos seis anos, considerando o tipo de apropriação (uso interno) e/ou comercialização, ou seja, uma análise da efetividade do processo de inovação, pela introdução de novas tecnologias no mercado.

No caso da Empresa 1, segundo o superintendente de Tecnologia e Alternativas Energéticas, o P&D acaba tendo um foco muito mais incremental e na busca por eficiência de seus processos internos operacionais. Assim, os resultados tecnológicos dos projetos de P&D estão muito mais focados no uso interno da empresa do que na comercialização dos produtos. Entretanto, a companhia já tem produtos que estão sendo comercializados, por meio do licenciamento da tecnologia, com previsão de remuneração dos envolvidos por meio de royalties.

Sob esse aspecto, um dos resultados interessantes do projeto “Redes e Mercados de Inovação”, para a Empresa 2, sobre a apropriação dos resultados dos projetos de P&D, apontou uma

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distribuição em que 61% dos resultados tecnológicos gerados até 2009 (com base na regulamentação antiga da ANEEL) não envolveram nenhum tipo de comercialização, mas foram incorporados diretamente nos processos internos da empresa. Outros 35% dos resultados não foram incorporados e nem comercializados. A investigação das causas para tais resultados não terem gerado inovações apontou para a ausência de recursos de distintas naturezas que possibilitassem sua efetiva utilização ou comercialização (cerca de 28% das respostas). O modelo de comercialização por terceiros representou apenas 3% dos projetos da empresa. Assim, a geração de novas fontes de receitas tem tido um papel marginal quando em comparação com as potencialidades de redução do custeio operacional e de multas e indenizações.

No caso do grupo da Empresa 3, o principal objetivo dos projetos de P&D era para uso e aplicação interna e não comercial. Historicamente, a maioria dos projetos foi para o desenvolvimento de softwares (SW) e metodologias. Alguns projetos desenvolveram protótipos e equipamentos. Por volta de 70% dos SW desenvolvidos estão sendo utilizados internamente e 60% dos protótipos também, mas sem produção comercial ou licenciamento de tecnologias. A Empresa 4 declarou três tipos de respostas distintas, referentes ao nível de apropriação dos resultados tecnológicos. A maioria deles (aproximadamente 50%) não teve comercialização e não está em uso interno, mas foi desenvolvido para criação de conhecimento futuro, seguido da opção de “em uso interno pela empresa, mas sem comercialização” (40%) e o restante, declarou que há ausência de benefícios conhecidos.

No caso da Empresa 5, quase todos os projetos estão em uso, mas não foram comercializados, com exceção de alguns poucos projetos, cujos resultados foram metodologias ou conceitos, que serviram para ampliar e criar conhecimento dentro da empresa.

Com um olhar mais interno, a Empresa 6 teve como foco a melhoria dos processo internos, da qualidades de serviço e redução dos custos operacionais. Assim, buscaram-se disseminar o conhecimento obtido por meio da realização de seminários internos, cursos de capacitação aos colaboradores, jornadas técnicas e seminários na empresa com a efetiva participação de seus profissionais. Os resultados estão sendo incorporados a políticas e diretrizes de projeto, operação, manutenção e planejamento, bem como às normas e procedimentos da empresa.

Durante a entrevista, o coordenador de P&D da Empresa 7 declarou que 100% dos seus projetos são focados no uso interno pela empresa, mas sem objetivar a comercialização.

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Como informado, com exceção das Empresas 1 e 2 que afirmaram ter algum dos seus resultados e produtos comercializados, as demais empresas declaram que a preocupação principal do desenvolvimentos dos projetos esteve focada para o uso interno na empresa e na melhoria de seus processos operacionais.

Isso também foi observado por outro estudo de Silva Jr et. al (2009), cujos dados sugeriram que os esforços das empresas estão claramente mais direcionados a projetos com orientação interna e que permitam a incorporação de tecnologias para atendimento de suas próprias demandas, em detrimento daqueles que buscam desenvolver soluções com foco nas necessidades do mercado.