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Estudo dos depósitos quaternários

No documento robertomarquesneto (páginas 32-36)

2.3. Procedimentos

2.3.3. Estudo dos depósitos quaternários

O estudo do Quaternário lançou mão de técnicas geomorfológicas, sedimentológicas e morfoestratigráficas, procurando identificar a posição topográfica de planícies e terraços fluviais em relação a outros compartimentos e interpretar a natureza do intemperismo a que os sedimentos encontrados foram submetidos, conforme as orientações de Suguio (1999). Em mesma medida, formas e processos identificados foram considerados no conjunto da evolução quaternária do relevo.

Ocupou-se em enfatizar os depósitos aluviais em função da maior facilidade de mapeamento e interpretação de seus aspectos genéticos, ainda que os depósitos coluviais, de relevante importância estratigráfica para o estudo do Quaternário continental, tenham sido avaliados em caráter acessório. Amostras foram coletadas em exposições em barrancos ou por abertura de trincheira para análise textural e do teor de matéria orgânica e ferro a fim de auxiliar na caracterização dos depósitos e interpretação dos processos envolvidos. Tal procedimento foi executado no Laboratório de Análise de Solos da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

Os aspectos texturais e estratigráficos elementares foram representados em seções colunares, ficando reservado maior detalhamento dos depósitos na descrição textual. O acabamento artístico das seções estratigráficas se deu em software Auto Cad 2000, acatando- se parcialmente a simbologia elucidada por Mendes (1984), adaptada conforme a diversidade e características particulares dos depósitos analisados. Eventuais inclinações das camadas foram ajustadas à horizontalidade para facilitação da representação, e a escala vertical também se ajustou de acordo com a espessura total de cada perfil descrito.

2.2.3.1. Abordagem aloestratigráfica

Depósitos quaternários foram estudados sob o prisma da morfoestratigrafia através de técnicas inerentes à análise aloestratigráfica. Alguns procedimentos fundamentais que foram executados seguem enumerados:

2. Estabelecimento de estratótipos (seção e localidade-tipo) para a descrição das unidades aloestratigráficas.

3. Coleta de amostras de sedimentos para análise textural e de aspectos químicos e orgânicos e comparação entre os depósitos em sua constituição e gênese.

4. Datação absoluta de amostras sedimentares pelo método da Luminescência Opticamente Estimulada (LOE);

5. Definição das aloformações segundo as ordens de grandeza dos intervalos de sedimentação correspondente ao empilhamento de fácies dentro da unidade, conforme orientação de Miall (1982; 1985; 1996).

A abordagem metodológica mencionada no último dos ítens elencados acima prevê uma escala temporal para os processos fluviais com base em oito elementos definidores de fácie sedimentares, variáveis em escala e complexidade na composição de uma arquitetura deposicional, representada por simbologias qualificadoras dos materiais e processos envolvidos durante a sedimentação. As simbologias constituem códigos atribuídos em duas partes. A primeira parte consiste na simbolização com letra maiúscula para designar a matriz sedimentar da seguinte forma: G para predomínio de seixos (gravel), S para depósitos em matriz arenosa (sand) ou F para designar o predomínio de materiais finos – silte e argila. Para as granulometrias que aparecem em segundo plano, representou-se a argila pela letra c (clay) e o silte pela letra s (silt), diferenciando-se as categorias de finos por letras minúsculas. A segunda parte de codificação consiste em uma ou duas letras designativas de feições específicas das fácies sedimentares, sobretudo de seus aspectos estruturais (estruturas maciça, ondulada, cruzada, etc). A proposta metodológica originalmente apresentada por Miall (1978), e que foi adaptada para o presente estudo, consta no quadro 2.3.

Quadro 2.3. Litofácies e estruturas sedimentares de depósitos fluviais (MIALL, 1978). Código de fácies Litofácies Estruturas sedimentares Interpretação Gms Maciça, matriz suportada em seixos

Ausentes Depósitos de fluxo de detritos

Gm Maciça ou seixos grosseiramente acamados Acamamento horizontal, imbricamento

Barras longitudinais, depósitos selecionados

Gt Seixos estratificados Acamamento cruzado preferencial

Preenchimento de canais menores

Gp Seixos estratificados Acamamento cruzado a planar

Barras linguoides ou deltaicas desenvolvidas a partir de remanescentes de antigas barras

St Areia fração média a grossa, leito cascalhento

Solitárias ou agrupadas por acamamento cruzado

Dunas (baixo regime de fluxo)

Sp Areia fração média a grossa, leito cascalhento

Solitárias ou agrupadas em arranjo cruzado a planar

Barras transversas, linguoides, ondas arenosas (Baixo regime de fluxo)

Sr Areia muito fina a grossa

Marcas onduladas de todos os tipos

Ondas (Baixo regime de fluxo) Sh Areia muito fina a

muito grossa, leito cascalhento

Laminação horizontal Fluxo de leito planar

Sl Areia e finos Acamamento cruzado

de baixo ângulo (<10°)

Desobstrução, antidunas

Se Lavagem erosiva com intraclastos

Acamamento cruzado grosseiro

Desobstrução Ss Areia, fina a grossa Bancos de areia,

incluindo estratificação cruzada Desobstrução Sse, She, Spe Areia Análogos à Ss, Sh e Sp Depósitos eólicos Fl Areia, silte, argila Laminação fina,

marcas muito

pequenas

Bancos ou depósitos de planícies de inundação

Fsc Silte, argila Laminado a maciço Depósitos pantanosos

Fcf Argila Maciço, com

moluscos de água doce

Depósitos pantanosos lacustres

Fm Argila, silte Maciça, fendas de

dessecação Bancos ou depósitos acortinados Fr Silte, argila C Carvão, lamas carbonáceas Incrustações, películas de argila Depósitos de pântano P Carbonatos Feições pedogenéticas Solos

2.3.3.2. Datação absoluta

Empreendeu-se a datação de amostras representativas dos sedimentos correspondentes pelo método da Luminescência Opticamente Estimulada (LOE), técnica das Alíquotas Únicas (SAR), conforme vem sendo empregados por estudiosos do Quaternário (CORREA et al. 2002), (BARRETO, et al. 2004), (SALLUN, 2007), (SALLUN et al. 2007), (SUGUIO et al. 2010), entre outros.

Os procedimentos de coleta se deram em tubo de PVC marrom de 1 metro de comprimento e 5 cm de diâmetro, evitando-se a exposição à radiação solar a fim de impedir que a luminescência do quartzo fosse zerada, uma vez que o procedimento data o último momento de exposição do material à radiação solar com base na luminescência da carga da população de elétrons que ficou aprisionada no cristal. As amostras foram manipuladas em ambiente confinado escuro com luz vermelha em baixa intensidade, ambiente no qual foram embaladas para envio ao laboratório da empresa Datação Comércio e Prestação de Serviços LTDA, onde foram realizados os ensaios de datação.

De acordo com Corrêa et al. (2002), o método LOE tem seu mecanismo baseado no decaimento radioativo; os elétrons são liberados de seu estado estável ao imputar energia ao sistema por radiação ionizante proveniente do decaimento radioativo. Parte dessa população de elétrons que fica aprisionada pode se fixar e se tornar estáveis em áreas defeituosas do cristal até uma nova adição de energia por via óptica ou térmica, energia esta que permite uma recombinação dos elétrons que, se for do tipo luminescente, emite energia na forma de fótons. Os autores prosseguem esclarecendo que a LOE é capaz de estimar o tempo transcorrido desde que o material foi exposto pela útlima vez à luz solar, fornecendo assim a idade da última estabilização do depósito, o que pode ser obtido com a aplicação da seguinte equação:

Idade = Paleodose/ Dose Ambiental

Segundo a equação acima, a paleodose se refere à radiação ionizante do decaimento dos isótopos de urânio, tório e potássio (além de uma contribuição menor de radiação cósmica); a dose ambiental vem a ser a taxa com que a amostra foi esposta à radiação ionizante, e, portanto, à taxa pela qual a população de elétrons foi acumulada (CORRÊA et al. op cit.).

As datações foram empreendidas para sedimentos de planície aluvial, enfaticamente a do Rio Verde, a fim de se averiguar aspectos cronológicos da deposição. Também foi

empregado o método de datação para depósitos de planície de inundação submetidos a efeitos neotectônicos.

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