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O baixo curso e sua urbanização mais adensada

No documento robertomarquesneto (páginas 82-87)

3.7. As cidades

3.7.3. O baixo curso e sua urbanização mais adensada

Indubitavelmente, é na baixa bacia do Rio Verde que se forma uma rede urbana mais expressiva, favorecida com a passagem da Rodovia Fernão Dias, perto da qual se edificam cidades importantes e de porte considerável como Três Corações e Varginha, além de núcleos menores como Eloi Mendes e São Gonçalo do Sapucaí.

Segundo IGAM (2010), o baixo vale do Rio Verde responde por 45,8% da vazão retirada do rio, o que corresponde a 1.0526 m3/s. A maior parte desse percentual é destinada ao abastecimento público e industrial de Varginha e Três Corações, além da irrigação de áreas de cultivo de milho e café. De fato, são os municípios de Três Corações e Varginha os que apresentam aspecto de típica cidade média no que se refere ao porte e disponibilidade de serviços, além de formarem os distritos industriais mais expressivos de toda a bacia.

O Rio Verde disseca a área urbana de Três Corações e passa por sua área central, onde as enchentes são um riso premente e se instalam com certa recorrência. O relevo recortado em morros deu aporte aos bairros que se estendem até os interflúvios. Margeando a rodovia Fernão Dias está instalado o parque industrial.

Nas proximidades da área urbana de Varginha o Rio Verde sofre encaixamento pronunciado dado por controle estrutural. Dessa forma, o sítio urbano não se aproveitou, a exemplo de outros municípios da bacia do Rio Verde, da topografia plana de fundo de vale, edificando-se em morros dissecados por vales encaixados que dão a tônica de seu sítio urbano.

Distando a sede algumas dezenas de quilômetros do vale do Rio Verde compõem também a rede urbana do baixo curso os municípios de Cambuquira e Campanha, o primeiro

pertencente ao Circuito das Águas e o segundo correspondendo ao núcleo de ocupação mais antiga da bacia.

CAPÍTULO IV

AS SUPERFÍCIES GEOMORFOLÓGICAS E A

COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

4.1. A bacia do Rio Verde no contexto do domínio tropical atlântico

O termo morfoclimático aglutina as relações estreitas entre o clima e as formas de relevo, abarcando tanto a dinâmica atual do complexo paisagístico como também a evolução paleogeográfica e paleoclimática, sendo assim de grande valia para empreendimentos de reconstrução paleoambiental e para estudos da morfodinâmica vigente.

Os primeiros elementos retumbantes da interferência do clima na evolução do modelado foram postulados por Walther Penck, colocando a geomorfologia alemã como contraponto de peso frente à Teoria do Ciclo da Erosão preconizada pelo estadunidense Willian Morris Davis (DAVIS, 1899), enfática no controle tectônico processado por soerguimento relativamente rápido do relevo seguido por denudação lenta, da ordem de centenas de milhões de anos, até o arrasamento completo e conversão do relevo inicial em peneplano, entendido como o estágio mais senil do modelado. Para Penck, o modelado terrestre evolui orquestrado por concomitância entre os processos endógenos – orogenéticos e epirogenéticos - e os processos exógenos sob a égide do imperativo climático.

Entre outros geomorfólogos importantes, Passarge (1933) também colocou em realce a ação do clima juntamente aos agentes endógenos emanando uma geologia comparada pautada no que designou como morfologia geológica e morfologia fisiológica, destacando o papel do clima atuando, através de seus agentes, em diferentes intensidades conforme a zona climática, e chamando atenção para a importância da cobertura vegetal na evolução do relevo.

Ciente do papel relevante do clima para a evolução do modelado e da paisagem como um todo, Ab’Sáber (1967) propõe divisão do meio físico brasileiro em domínios morfoclimáticos definindo diferentes domínios de paisagem que mantém estreitas relações entre o clima, o modelado e a massa vegetal existente, concebendo ainda áreas de transição ou corredores marcadoras da passagem de um domínio para outro.

Numa abordagem ecológica, Walter (1986) elabora proposta classificatória dos biomas terrestres vinculando as manifestações fitogeográficas às zonas climáticas, definindo assim nove zonobiomas numerados em ordem crescente da faixa equatorial à polar de distribuição eminentemente latitudinal nos quais podem estar incutidos domínios fitogeográficos que

medram na dependência de fatores físicos inerentes aos zonobiomas, como a litologia (litobiomas), o relevo (orobiomas), a salinidade (halobiomas), a interferência de incêndios naturais (pirobiomas) e assim por diante. De forma declarada é utilizado o termo ecótono para a marcação das faixas transicionais entre biomas zonais, designados zonoecótonos, numerados com referência aos dois zonobiomas que estabelecem a ligação. Por exemplo, designa-se Zonoecótono I/II aquele que marca a transição entre o Zonobioma I (Zonobioma do clima equatorial diurno com floresta pluvial tropical sempre verde), que se refere às florestas pluviais equatoriais do tipo amazônica e congolesa, e o Zonobioma II (Zonobioma da região tropical úmido-árida de chuvas estivais e de florestas de folhas caducas), em referência às faixas tropicais, com estação chuvosa e seca razoavelmente diferenciadas.

Em referência aos domínios morfoclimáticos de Ab’Sáber (1979), a bacia do Rio Verde está posicionada no domínio dos “mares de morro” florestados (AB’SÁBER, 1965), área de intensa decomposição de rochas gnáissico-graníticas dada pelo intemperismo profundo orquestrado pelo imperativo climático tropical. É bem verdade que a diversidade litológica e tectônica regional faz com que nem sempre a tipicidade mamelonar caracterize o conjunto de formas de relevo, muito embora assuma ocorrência conspícua em tamanho e inclinação variáveis entre as cristas assimétricas que secionam a bacia no sentido NE-SW.

Na classificação de Walter (op cit), o encaixe mais aproximado seria comportado pelo Zonobioma II, de caráter tropical, ainda que se deva considerar a presença de orobiomas e rupestrebiomas em função da acentuada amplitude altimétrica que atenua o rigor tropical do clima e de uma sorte de biótopos rochosos em litologias variadas onde as fisionomias florestais dão lugar a paisagens de exceção comandadas por campos.

Outro elemento complicador para taxativamente atrelar a extensão territorial abrangida na presente tese como típica de um domínio morfoclimático é o caráter transicional que passa a assumir a partir da porção noroeste das cristas monoclinais que interceptam a parte central da bacia em direção ao sistema de Furnas. Transpostas tais estruturas, manchas de cerrado e alguns cerradões em LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO passam a ocorrer intercaladamente aos remanescentes florestais, passando a compor de forma mais expressiva os mosaicos vegetais nas áreas próximas a represa de Furnas, região onde as elevações passam a apresentar aspecto mais residual com topos planos e extensos.

Pode-se afiançar então que uma parte da bacia do Rio Verde situa-se no domínio tropical atlântico ou dos “mares de morro”, e outra parte em uma área de transição, que começa a se configurar a noroeste das cristas monoclinais. O relevo mamelonizado se mantém, mas a vegetação original acusa em suas reminescências uma progressiva ocupação

pelo cerrado, que tende a aumentar em direção ao interior até dominar na região dos patamares da Canastra. A intercalação entre floresta e cerrado é indicativa de uma faixa transicional entre os dois domínios. Nas áreas tipicamente florestais a presença de relevos tectônicos bastante sobrelevados incrementam os mosaicos vegetacionais com os campos altimontanos que medram nos patamares mais elevadiços.

O estudo da evolução do relevo no Brasil Sudeste perpassa por considerações acerca dos processos tectônicos e denudacionais que vem ocorrendo desde o Paleógeno com a abertura do rifte, pelos efeitos tectônicos mais recentes de idade neogênica (aqueles vinculados à atividade neotectônica) que se sobrepuseram à tectônica Cretáceo-Paleógena, e pelas oscilações climáticas que se deram durante o Cenozoico. É fundamentalmente necessário então que os aspectos morfoclimáticos e morfotectônicos sejam foco de abordagem se a finalidade for uma apreciação evolutiva.

No documento robertomarquesneto (páginas 82-87)