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Capítulo 3 – Metodologia da Investigação

3.2. Descrição do estudo

3.2.1. Estudo exploratório

A primeira etapa da implementação deste estudo consistiu na realização de um estudo exploratório, utilizando-se duas abordagens complementares, ambas em contexto de formação de professores, no sentido de confirmar de forma situada a utilidade e usabilidade do conceito de aprendizagem autêntica para futuros docentes. A realização de estudos exploratórios tem como objetivo proporcionar uma visão geral sobre o tema da investigação, aumentando o conhecimento que o investigador tem acerca dele (Cohen et al., 2007). Estes estudos são especialmente relevantes quando o tema escolhido é considerado ainda pouco explorado (Cohen et al., 2007), o que acontece na área das aprendizagens autênticas, nomeadamente em Portugal.

A primeira abordagem exploratória, realizada com alunos do 2.º ano do Curso de Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto (ESEIPP), no ano letivo 2012-2013, consistiu na apresentação do conceito de aprendizagem autêntica, e das principais características das tarefas autênticas, já que através da implementação dessas mesmas tarefas se poderão promover aprendizagens autênticas. Verificou-se que foi rápida a apropriação e aplicação do conceito pelos alunos. Posteriormente, numa segunda fase, foi-lhes pedido

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Nas tarefas desenhadas não foram explicitamente identificadas as características relativas à liberdade que os alunos devem ter para fazer escolhas e refletirem sobre a própria aprendizagem e a abertura a múltiplas interpretações e soluções do problema em análise.

Numa terceira fase deste estudo exploratório, a investigadora realizou entrevistas aos elementos dos diferentes grupos, no sentido de compreender se estes consideravam que as atividades experimentais integrantes dos seus trabalhos finais da Unidade Curricular de mestrado eram promotoras de aprendizagens autênticas. Na globalidade, os grupos consideraram que as atividades experimentais desenhadas tinham características comuns às das tarefas autênticas. De acordo com um dos grupos entrevistados

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As atividades experimentais desenvolvidas apresentam relevância na vida dos alunos porque, para além de serem relativas ao seu meio local, eles assumiram sempre um papel ativo e central, problematizando, pesquisando (em fontes de informação diversas e no trabalho de terreno) e dando solução às diferentes situações. Todo o trabalho foi desenvolvido em colaboração e foram valorizadas as TIC e a interdisciplinaridade. Quanto à avaliação esta focou todo o processo e não só o produto final. O culminar do trabalho desenvolvido teve em vista a partilha com a comunidade escolar, para que os alunos sentissem também o seu trabalho valorizado. Tendo em conta todos estes fatores, estas atividades desenvolvidas assumem-se como promotoras de aprendizagens autênticas.

Pela análise das atividades experimentais desenhadas pelos diferentes grupos de trabalho, verifica-se que, a maioria dessas atividades foram conceptualizadas para que as crianças fossem capazes de fazer observações, realizar o procedimento experimental, registar resultados e interpretá-los, no sentido de conseguirem responder ao problema lançado, no início de cada uma das atividades experimentais. Constata-se também que, em vários casos, não é dado espaço para que as crianças planeiam a atividade experimental, e formulem hipóteses – dos oito grupos de trabalho analisados, apenas três tinham atividades experimentais que contemplavam estes dois últimos aspetos. O recurso às TIC no desenvolvimento das atividades experimentais, de que são exemplo os sensores, é visível apenas em dois grupos de trabalho.

Pelo exposto, pode afirmar-se que, de uma forma geral, foi clara a apropriação e aplicação pelas mestrandas do conceito e características das tarefas autênticas. Foi, ainda, possível identificar as dimensões das tarefas autênticas a que importa dar atenção especial por não terem sido espontaneamente integradas por todas as mestrandas nos trabalhos desenvolvidos.

A segunda abordagem exploratória foi realizada com alunos do 1º ano do Curso de Mestrado em Ensino do 1º e do 2º Ciclos do Ensino Básico da ESEIPP, no ano letivo 2012-2013 e teve como principal objetivo a validação de um conjunto de tarefas autênticas desenvolvidas pela investigadora. Consistiu na implementação dessas tarefas que se enquadravam nos temas que estavam a ser desenvolvidos pelos mestrandos, no âmbito da Unidade Curricular “Ciências da Natureza para o 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico”, nomeadamente “Propriedades físicas e químicas do solo” e “Qualidade do ar” (ver Tabela 12). A investigadora esteve presente durante a execução das

76 tarefas. Pretendeu-se perceber quais as principais dificuldades sentidas pelos alunos na realização das tarefas e que aspetos deveriam ser alterados ou melhorados. Tendo em conta a questão de investigação relativa à utilização conjunta dos sentidos e dos sensores nas atividades autênticas de caracterização do meio, as atividades desenhadas partiram sempre de uma análise sensorial da grandeza ambiental em estudo, para uma análise mais quantitativa e rigorosa da mesma, com recurso aos sensores. Os alunos executaram as atividades sem grandes dificuldades, necessitando apenas de algumas orientações relativas à utilização de alguns equipamentos, nomeadamente de alguns sensores (pH, temperatura e humidade).

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Tabela 12 - Breve caracterização das tarefas autênticas exploratórias implementadas com alunos do 1.º ano do Curso de Mestrado em

Ensino do 1.º e do 2.º Ciclos do Ensino Básico da ESEIPP

Tema Questão-

problema Objetivos Sentidos Sensores Desafios Duração

Qualidade do ar Como posso descrever o ar da minha escola? - Caracterizar o ar da escola relativamente à temperatura e humidade, concentração de dióxido de carbono e % de oxigénio. - Classificar o ar da escola tendo em conta os valores de referência para a Qualidade do Ar.

- Refletir sobre a contribuição dos sentidos e dos sensores para a caracterização do ar da escola. Visão Olfato Tato Temperatura (Pasco PS – 2124) Humidade (Pasco PS – 2124) Oxigénio (Pasco PS – 2126) Dióxido de carbono (Pasco PS – 2110)

- Uso dos sentidos: os alunos não estavam habituados a utilizar os sentidos na caracterização de parâmetros ambientais. - Manuseamento dos sensores: alguns alunos já tinham utilizado alguns dos sensores selecionados. No entanto, depararam-se com dificuldades técnicas (mau funcionamento, no caso do sensor do oxigénio, ou erros de posição do sensor, que implicavam erros de leitura, no caso do sensor do CO2).

- As dificuldades sentidas na realização das diferentes tarefas foram superadas pela cooperação verificada entre os elementos dos grupos, e pelo papel mediador da investigadora. 3 sessões de 90 minutos Proprieda des físicas e químicas do solo O solo da horta será fértil? Como posso saber? - Caracterizar o solo do recinto da horta da escola relativamente ao pH, permeabilidade e granularidade.

- Classificar o solo quanto à fertilidade tendo em conta esses três parâmetros analisados

- Refletir sobre a contribuição dos sentidos e dos sensores para a caracterização do solo do recinto da horta. Visão Olfato Tato pH (Crison micro pH 2001)

- Uso dos sentidos: os alunos não estavam habituados a utilizar os sentidos na caracterização de parâmetros ambientais. - Manuseamento dos sensores: os alunos nunca tinham manuseado o sensor de pH. A investigadora apoiou os alunos relativamente ao modo de utilização do sensor e os cuidados que deveriam ter em conta no seu manuseamento.

- As dificuldades sentidas na realização das diferentes tarefas foram superadas pela cooperação verificada entre os elementos dos grupos, e pelo papel mediador da investigadora.

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sessões de 90 minutos

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Através da análise dos registos efetuados nas fichas de trabalho, e também pelas questões levantadas e debate de ideias entre os elementos de cada grupo de trabalho, foi possível perceber que os alunos aprofundaram os conhecimentos sobre as temáticas em estudo. Também foi possível constatar que a abordagem sensorial foi um desafio diferente e inovador para estes alunos, que nunca tinham realizado este tipo de análise. Esta abordagem revelou-se enriquecedora e útil, pois, através dela, foi possível compreender melhor as questões relacionadas com os temas em estudo (por exemplo, através do tato, do olfato e da visão, conseguiram compreender sensorialmente que os solos apresentam diferentes texturas, e que, consoante a humidade dos solos, a cor e o cheiro também são diferentes). Essa análise sensorial foi posteriormente complementada e comparada com análises quantitativas implementadas com recurso a sensores eletrónicos.

Relativamente às dificuldades detetadas, a gestão do tempo, foi sem dúvida a mais evidente, uma vez que foi necessário atribuir mais aulas para a conclusão das tarefas propostas, do que as inicialmente previstas. A dificuldade na gestão do tempo pode ser explicada em parte, pela natureza das atividades propostas, que partiam, sempre que possível, como foi já referido, de uma análise sensorial seguida de uma análise com recurso a sensores. O uso dos sentidos na caracterização de parâmetros ambientais não era uma prática familiar a estes alunos, que demonstraram alguma resistência inicial nesta abordagem, o que fez com que essas tarefas demorassem um pouco mais a serem executadas. Por outro lado, verificaram-se algumas dificuldades na utilização de alguns sensores, como por exemplo do sensor de pH, bem com do de dióxido de carbono e do de oxigénio. No caso particular do sensor de oxigénio, não foi possível realizar a medição da % de oxigénio no ar, devido a problemas técnicos que não se conseguiram resolver em tempo útil.

A constatação do tempo necessário para a execução das atividades foi importante, uma vez que permitiu preparar as tarefas autênticas dos estudos de caso com maior atenção relativamente a este fator.

Considerando o referido sucesso na implementação das tarefas autênticas desenhadas pela investigadora, e tendo em vista a superação das dificuldades verificadas, procedeu-se à reformulação daquelas e à conceção de

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novas tarefas autênticas, para serem utilizadas em contextos de 1.º e 2.º CEB. Tais tarefas recorrem aos sentidos e sensores, para a caracterização de diferentes parâmetros ambientais (por exemplo, caracterização da qualidade do ar interior e da qualidade da água de um estuário) (Silva, Aboim, Costa, Marques & Pinto, 2014). Todos os recursos produzidos, quer empíricos (como protocolos experimentais),quer teóricos (com informação relevante relativamente aos parâmetros ambientais analisados), foram validados através da sua utilização na ESEIPP, e têm sido utilizados por alunos e professores dos cursos de formação de professores desta escola.

A produção dos referidos recursos foi desenvolvida no âmbito do projeto de investigação “SOS Abstrato: Sondar e Sentir o Ambiente para Desenvolver o Pensamento Abstrato” e de dois estágios, realizados na ESEIPP, do 3º ano da Licenciatura de Saúde Ambiental, da Escola Superior de Tecnologia e Saúde do Instituto Politécnico do Porto, Unidade Curricular – Estágio I.