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Mapa 1 – Região Metropolitana de Belém

4 MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO: procedimentos técnico-empíricos

4.2 Estudo 2 – Investigando as relações entre identidade de lugar e açaí em

Desde o início do trabalho, a relação entre açaí e identidade em sua região de origem foi tomada como um fato, cujos matizes diversos se evidenciam em função da perspectiva de análise assumida. Assim, foi o referencial da Psicologia Ambiental que levou aos questionamentos sobre como se daria tal relação no contexto da RMB, mediante a especificidade do fenômeno da convivência cotidiana entre formas tradicionais e modernas de consumo de açaí. O procedimento escolhido para investigar a fundo tal problemática foi a entrevista semiaberta, realizada com consumidores de açaí residentes na RMB. O uso dessa técnica teve como finalidade “salientar a relevância da dimensão físico-espacial do ambiente, integrante de experiências e ações humanas nos níveis intrapessoal e interpessoal, grupal e intergrupal” (GÜNTHER, 2008, p. 64). Nesse tipo de entrevista, todos os respondentes são expostos aos mesmos questionamentos, podendo variar em sua ordem, e é favorecido um maior aprofundamento por não ser um tipo de entrevista de caráter rígido (SOMMER; SOMMER, 1997).

A princípio, a intenção era fazer o contato com consumidores nos locais de venda pesquisados durante a etapa de observações etnográficas. A expectativa era de entrevistar pelo menos cinco participantes por ponto de venda, buscando por pessoas acima dos 18 anos de faixas etárias variadas, com vistas a acessar tanto quem já consumia açaí quando se deu o início de sua globalização, como quem passou a consumir exatamente quando este processo já estava iniciado. Confirmados o interesse e a disponibilidade, seria agendada entrevista conforme conveniência do participante, tendo como referência o roteiro constante do Apêndice D.

No entanto, o andamento da coleta, iniciada em março de 2013, trouxe a necessidade de ajustes nessa proposta inicial. Nos quatro primeiros locais pesquisados – Açaí do Heron, Açaí Beiramar da Rose, Açay e Point do Açaí – o acesso aos consumidores foi um problema recorrente. A agilidade do processo de venda não favorecia um contato aproximado com os clientes, dificultando e até mesmo impossibilitando o diálogo necessário para o satisfatório esclarecimento sobre a pesquisa, suas finalidades e o processo de participação. Nos locais em que o consumo é imediato, o contato muitas vezes se mostrava inconveniente, não chegando sequer a ser iniciado.

Os contatos que chegaram a ser feitos foram quase todos facilitados por iniciativa do responsável pelo local de venda (nos casos do Açaí do Heron e no Beiramar da Rose). E mesmo nesses casos a adesão à participação foi mínima. Alguns clientes até se mostravam interessados, repassavam formas de contato e houve quem agendasse entrevistas. No entanto, foi muito recorrente a referência à falta de tempo disponível, bem como a ausência de retorno aos contatos e aos encontros combinados.

Isso foi de tal modo incisivo que, mesmo insistindo com algumas pessoas durante vários dias, conseguimos somente quatro entrevistas com clientes do Açaí do Heron e outras duas com clientes do Açaí Beiramar da Rose. Estas últimas foram realizadas no próprio local, em condições que não permitiram um rendimento satisfatório para os objetivos da pesquisa, o que levou à dispensa delas no momento da análise. Diante disso, ficou evidente que era necessário encontrar uma forma de acesso a pessoas efetivamente disponíveis a participar da pesquisa, em condições adequadas.

A alternativa encontrada foi buscar estabelecer uma cadeia tipo bola-de-neve (ATKINSON; FLINT, 2001; BIERNACKI; WALDORF, 1981) para indicação de possíveis participantes entre pessoas próximas à pesquisadora responsável, em núcleos diversos (familiares, amigos pessoais, colegas de curso). Por telefone, e-mail e redes sociais, foi enviada uma nota contendo esclarecimentos sobre a pesquisa (Ver Apêndice E) acompanhada

do pedido de indicação de consumidores de açaí, maiores de 18 anos, residentes na RMB. Com a plena adesão das pessoas contatadas, estabeleceu-se um fluxo de indicações bem mais funcional do que o contato direto nos pontos de venda, tendo em vista que maioria dos contatos feitos resultou na realização de entrevistas.

A diversidade de núcleos contatados refletiu no acesso a pessoas cujo perfil de consumo de açaí pode ser considerado coerente com o observado em Belém, atendendo, portanto, a necessidade principal da pesquisa. No entanto, é preciso destacar que uma das características da cadeia bola-de-neve é o favorecimento da indicação de pares dos colaboradores em algum aspecto. No caso desta pesquisa, o contato com pessoas de formação escolar de nível médio e superior favoreceu a composição de um grupo de entrevistados com esse perfil. Por um lado, isso se constituiu em vantagem na qualidade geral das respostas obtidas; por outro, implicou em um grupo cujo perfil socioeconômico não corresponde ao da maioria da população da metrópole. Ainda assim, esse grupo foi considerado adequado à finalidade da pesquisa, que não era de produzir dados generalizáveis ao universo desta população, particularmente considerando que a maior parte dos respondentes é oriunda de famílias com perfil de baixa renda, pouca escolarização e migrante do interior do Estado.

Tomando por base o critério de saturação dos dados, foi entrevistado um total de 40 participantes durante o ano de 2013 e meados de 2014, cujo resumo do perfil é apresentado no quadro 3. O código de identificação de cada entrevistado foi atribuído em função da ordem de recebimento da transcrição das entrevistas. A entrevistada P30 preferiu não informar sua idade e sua renda. O mesmo foi solicitado pelo participante identificado pelo código P31. Já as entrevistadas P03, P07 e P15 não dispõem de renda própria, ao passo que os entrevistados P01, P16, P18, P21, P23, P36, P38 e P40 declararam não saber precisar sua renda, devido à instabilidade das atividades que exercem. Foi chamado de irregular o consumo daquelas pessoas que não souberam precisar com que frequência tomam açaí e de sazonal o consumo daqueles que tomam açaí somente nos períodos de safra.

No momento da entrevista, cada participante foi esclarecido em detalhes sobre as finalidades do estudo e os procedimentos envolvidos, para confirmação de sua adesão, via assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido constante do Apêndice F. As entrevistas foram gravadas, transcritas para um banco digital e, posteriormente, transferidas para o software para análise qualitativa QDA-Miner, a partir do qual foi feita a categorização guiada pelos objetivos da pesquisa e pelo referencial teórico da análise de conteúdo temática (BARDIN, 2004; SOMMER; SOMMER, 1997). Os resultados referentes a esse estudo

constam do Capítulo 4, o qual foi elaborado também com dados oriundos das etapas anteriores da pesquisa, conforme sua pertinência.

Quadro 3 – Perfil dos consumidores entrevistados. Código de

identificação

Idade e

gênero Ocupação Escolaridade Renda

Frequência de consumo

Tipo mais consumido

P01 37M Comerciante Médio * Diária Médio

P02 73M Aposentado Superior 10-20 Diária Médio

P03 25F Estudante Superior em curso * Diária Médio

P04 71M Comerciante Médio 5-10 Irregular Popular

P05 31F Servidora pública Superior 5-10 Diária Médio

P06 31F Servidora pública Superior 5-10 Diária Médio

P07 18F Estudante Superior em curso * Semanal Médio

P08 33F Servidora pública Superior 5-10 Diária Médio

P09 35F Servidora pública Superior 5-10 Diária Médio

P10 26M Psicólogo Superior 3-5 Diária Médio

P11 31F universitária Professora Superior 5-10 Semanal Médio

P12 89F Aposentada Superior 10-20 Diária Médio

P13 56F Professora

universitária Superior 5-10 Semanal Médio

P14 28M Psicólogo Superior 2-3 Semanal Médio

P15 47F Do lar Médio * Semanal Médio

P16 36F Do lar Médio * Sazonal Médio

P17 53M Engenheiro civil Superior 5-10 Sazonal Médio

P18 38F Artesã Fundamental * Diária Médio

P19 48M Servidor público Médio 5-10 Semanal Médio

P20 32F Comerciária Médio 1-5 Diária Médio

P21 41M Comerciante Médio * Diária Médio

P22 49F Comerciante Superior em curso 5-10 Diária Médio

P23 44F Artesã Médio * Diária Médio

P24 38M Servidor público Superior 3-5 Irregular Médio

P25 48F Servidora pública Superior 5-10 Irregular Médio

P26 36M Servidor público Superior 5-10 Sazonal Médio

P27 33M Servidor público Superior 3-5 Irregular Médio

P28 45M Taxista Médio 2-3 Semanal Médio

P29 49M Servidor público Superior 10-20 Diário Médio

P30 *F Servidora pública Superior * Irregular Grosso

P31 39M Servidor público Superior * Semanal Médio

P32 45F Professora municipal Superior 1-5 Irregular Médio P33 36M Servidor público incompleto Superior 3-5 Irregular Médio P34 38F Servidora pública incompleto Superior 3-5 Diária Médio

P35 90F Aposentada Médio 2-3 Diária Médio

P36 39M Garçom Médio * Irregular Popular

P37 39F Cuidadora de

idosos Médio 1-5 Irregular Popular

P38 52F Artesã Fundamental * Sazonal Popular

P39 33M Eletricista Médio 1-2 Irregular Popular

P40 41F Doceira Fundamental * Semanal Popular

5 VENDA E CONSUMO DO AÇAÍ EM BELÉM NA ATUALIDADE: entre mudanças e