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Estudo prévio de impacto ambiental – EIA

CAPÍTULO II – EIA/RIMA: PRINCIPAIS ASPECTOS

2.1 Estudo prévio de impacto ambiental – EIA

O EIA é um instrumento que, além de subsidiar ações de precaução, serve de base para o planejamento de ações na área ambiental por avaliar o meio ambiente antes da realização das atividades impactantes e inferir os danos que o empreendimento pode causar,

22 Os interessados são os industriais, o governo, o Ministério Público, os ambientalistas, as organizações de defesa do meio ambiente e a comunidade local.

fornecendo assim instrumentos para que os gestores avaliem e decidam sobre a viabilidade total, parcial ou inviabilidade deste no local escolhido para sua implementação.

O EIA tem ligação com o princípio da precaução, estabelecido na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Em sua Declaração de Princípios, ficou estabelecido que, sempre quando houver perigo de ocorrência de um dano grave ou irreversível, a falta de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como razão para se adiar a adoção de medidas eficazes para impedir a degradação do meio ambiente. Devem ser considerados principalmente os custos envolvidos nessas medidas; ou seja, se houver dúvidas, mesmo que na esfera científica, sobre os danos de determinada atividade, a mesma deverá ser evitada ou rigorosamente controlada.

O artigo 23, inciso VI, da mesma Lei Maior diz que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas. Em outras palavras, atribui responsabilidade a todos os entes federados para legislar sobre o assunto. Sob este aspecto, o avanço está na previsão que a Carta Magna faz de que as legislações estaduais estabeleçam, no mínimo, o que já está constitucionalmente garantido.

Assinale-se que a Constituição Federal deu um destaque especial ao tema impacto ambiental no inciso IV, do artigo 225: “...exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.” (Grifo nosso). Machado (2001, p.

194) ressalta que “é a primeira Constituição no mundo que prevê o Estudo de Impacto Ambiental, o que é uma conquista, pois o legislador ordinário e, via de conseqüência, o Poder Executivo e o Poder Judiciário não poderão abrandar as exigências constitucionais”.

Nesse contexto, alguns pontos do inciso IV, do art. 225 da Constituição Federal com relação ao EIA merecem destaque:

Exigir, na forma da lei [...] – estabelece que, para cumprir o previsto nas respectivas legislações, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão exigir, e não somente solicitar, o estudo prévio de impacto ambiental.

[...] para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente [...] – nesse ponto do inciso está estabelecido que a elaboração do EIA deve anteceder o início da instalação do empreendimento e que nem todas as atividades estão subordinadas a esta regra,

somente aquelas que causarem significativa degradação ao meio ambiente. Para tanto, a Resolução CONAMA n° 01/86 elenca, em seu artigo 2°, as atividades modificadoras do meio ambiente. Faz-se também uma distinção entre instalação de obra e instalação de novas atividades de um empreendimento já em funcionamento que possam causar degradação ambiental. Assim, um mesmo empreendimento pode apresentar tantos EIAs e RIMAs quantos forem as diferentes atividades empreendidas pelo negócio que causem dano ao ambiente.

[...] estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade – o inciso estabelece que o estudo de impacto ambiental é um instrumento público e portanto, deve ser divulgado à sociedade e a quem interessar.

Para Machado (2001, p.195):

Dar publicidade do estudo transcende o conceito de tornar acessível o estudo ao público, pois passa a ser dever do Poder Público levar o teor do estudo ao conhecimento público. Deixar o estudo à disposição do público não é cumprir o preceito constitucional, pois, salvo melhor juízo, o sentido da expressão “dará publicidade” é publicar – ainda que em resumo – o Estudo de Impacto em órgão de comunicação adequado. Aceitar o contrário levaria ao entendimento de que se dá publicidade a uma lei simplesmente com seu depósito na biblioteca do Congresso Nacional.

Essa publicidade também está estabelecida no art. 11, da Resolução CONAMA n°

01/86, quando se relaciona ao RIMA: “Respeitado o sigilo industrial, assim solicitado e demonstrado pelo interessado o RIMA será acessível ao público [...]”. A legislação não definiu o que vem a ser sigilo industrial ou comercial, porém, o mesmo pode ser definido como fórmulas de produtos, métodos ou metodologias de trabalho, técnicas ou controle relacionados com o funcionamento da atividade, que, se divulgados, poderá haver comprometimento dos resultados futuro do negócio.

Deste modo, a divulgação do estudo que o impacto ambiental de uma atividade poderá causar ao ambiente não pode estar associada com segredo do negócio, pois, enquanto um tem relação interna (segredo do negócio), o outro (impacto ambiental) tem relação externa ao negócio (com o meio ambiente).

Ainda com relação ao acesso a informações de atividades impactantes ao meio ambiente, ressalta-se o Princípio 10 da Declaração da II Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, a ECO/92 estabelece:

Ao nível nacional, todos os indivíduos deverão ter acesso adequado à informação relativa ao meio ambiente detida pelas autoridades, incluindo informações sobre materiais e atividades perigosas nas suas comunidades.

Os Estados devem facilitar e incentivar a consciencialização e a participação pública, disponibilizando amplamente a informação.

A exigência do EIA e do RIMA datam de 1981, quando os referidos instrumentos foram previstos na Lei n° 6.938, de 31 de agosto, Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, artigo 9°, inciso III – “Avaliação de impactos ambientais”. É válido destacar, porém, que esse destaque era incipiente, na medida em que a mesma não estabelecia um conteúdo mínimo e nem a determinação de que o estudo fosse prévio. Até 1980, estudos de impacto somente eram exigidos para empreendimentos industriais, desenvolvidos em áreas urbanas e não integravam um procedimento de licenciamento ambiental, sendo a previsão constante na Lei n° 6.803/80.

A Resolução CONAMA n° 001/86 apresenta, em seu artigo 6°, o conteúdo mínimo que deverá constar no EIA:

Art. 6° O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades:

I – Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, completa descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações tal como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área antes da implantação do projeto, considerando:

[...].

II – Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando: […].

III – Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, […].

IV – Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos negativos, […].

Em resumo, pode-se dizer que deverão estar descritos no estudo de impacto ambiental as interações da empresa com o meio ambiente que ocorrerão por meio de impactos ambientais e medidas mitigadoras, decorrentes da atividade normal da empresa. São, portanto, degradações ou preservações ambientais que provocarão como conseqüências contábeis despesas, custos, receitas, aquisições de ativos, assunção de obrigações perante terceiros, movimentação de capitais, dentre outros, que vão alterar o patrimônio da empresa.

Neves e Viceconti (2002, p. 12) definem que fatos administrativos “são os que provocam alterações nos elementos do Patrimônio ou do Resultado, portanto, interessam à Contabilidade. Por essa razão, também são denominados fatos contábeis.” Nessa ótica,

pode-se dizer que os eventos ambientais são fatos contábeis e, por conpode-seguinte, passíveis de escrituração com base no Método das Partidas Dobradas.23

É válido ressaltar que a obrigatoriedade do registro de fatos contábeis encontra-se definida na NBC T 2.1 – DAS FORMALIDADES DA ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL, aprovada através da Resolução CFC nº 563, de 28 de outubro de 1983, que estabelece em seu item 2.1.1. que “a Entidade deve manter um sistema de escrituração uniforme dos seus atos e fatos administrativos, através de processo manual, mecanizado ou eletrônico.” (Grifo nosso).