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CAPÍTULO V – CONTAS AMBIENTAIS

5.2 Passivos ambientais

unidades produzidas (extraídas). Conforme Iudícibus, Martins e Gelbcke (2000, p.

197), “o método de cálculo da exaustão, que deve ser utilizado para fins contábeis, é o método de unidades produzidas (extraídas)”. O valor decorrente dessa exploração deverá compor o custo de produção da empresa, conforme o bem produzido e o fim a que se destina a madeira. Se a destinação for matéria-prima, a contrapartida da exaustão ambiental acumulada será o custo com matéria-prima direta, neste caso, tem-se como exemplo a madeira utilizada no processo de fabricação de móveis ou na fabricação de papel; caso a madeira seja utilizada como lenha no processo produtivo, a classificação será como custos indiretos de produção.

Se a empresa adquire uma área de floresta, deverá classificá-la de acordo com a destinação pretendida: a) se o objetivo for mantê-la intocada, a classificação será como Investimento Ambiental, pois o objetivo do ativo não é ser usado no processo produtivo, e também não sofrerá exaustão, pois não será extraída; b) se o objetivo for explorá-la para aplicação na atividade produtiva da empresa, a classificação será como Imobilizado Ambiental, conforme exposto no item 6.3 deste trabalho.

Silva (2003, p.100) é um dos autores que entende que a contrapartida da aquisição de equipamentos, da efetuação dos investimentos para proteção e conservação dos recursos naturais, compra de insumos/materiais utilizados pela empresa para tratamento de água, de resíduos poluentes, da compra de matérias-primas especiais e de embalagens biodegradáveis, deva ser contabilizada como um passivo ambiental.

O passivo ambiental decorrente de degradação ambiental geralmente é de difícil quantificação, conforme já tratado no tópico sobre valoração ambiental, bem como de difícil identificação do momento exato de sua ocorrência para o devido registro. Em obediência ao princípio contábil da oportunidade, porém, estes fatores não devem ser motivos para omissão da informação, a qual deverá constar nos registros contábeis, mesmo que somente em notas explicativas.

O passivo ambiental também decorre de atitudes positivas da empresa no sentido de representarem obrigações decorrentes de ações na área de recuperação, reparação ou gestão ambiental.

Para Adamek (apud FREITAS, 2003, p.125), “a responsabilidade pelo passivo ambiental, em primeiro lugar, pertence ao próprio poluidor, cujos bens ficam sujeitos à satisfação do dano causado (CC, art. 1518, 1a parte) e ao cumprimento de outros deveres”.

Ressalte-se que no Código Civil em vigor (Lei 10.406/02), o dispositivo em comento é tratado no artigo 942, 1ª parte.

Os passivos ambientais têm sido os grupamentos contábeis que mais chama a atenção, inclusive de teóricos de outras áreas, jornalistas e sociedade, pela associação destes com os diversos desastres ambientais, como é o caso do rompimento de duto de uma refinaria da Petrobrás, em janeiro do ano 2000, bastante divulgado na imprensa nacional que ocasionou um dos maiores desastres ecológico ocorridos na Baía de Guanabara e teve como conseqüência a indenização de R$ 524 milhões41 por danos ambientais e lucros cessantes aos pescadores prejudicados pelo vazamento.

A ausência de registros contábeis de passivos, custos e despesas ambientais gera lucros indevidos aos acionistas, além de apresentar uma posição econômica que não condiz com a real situação da entidade.

O princípio contábil da prudência, estabelecido através da Resolução do CFC n°

750, de 29.12.1993, determina que a “adoção do menor valor para os componentes do Ativo,

41 Jornal O Globo, 22. 02. 2002; e Jornal Estado de São Paulo, 22. 02. 2002.

e maior para o Passivo, sempre que se apresentarem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações patrimoniais”, está diretamente relacionada com passivos ambientais, no sentido de se identificar, mensurar e evidenciar, por prudência, toda a dimensão possível, de um dano ou impacto ambiental negativo causado pela atividade ao meio ambiente.

5.2.1 PASSIVO CIRCULANTE

Neste subgrupo, classificam-se as obrigações da entidade que tenham vencimento até o final do exercício42 seguinte ou de acordo com o ciclo operacional, caso seja superior a este prazo.

PROVISÕES AMBIENTAIS – classificam-se neste subgrupo as exigibilidades ainda não totalmente definidas, decorrentes de fatos contábeis passados. Iudícibus, Martins e Gelbcke (2000, p. 257-258) apresentam uma distinção entre reservas e provisões onde definem que provisões são: “[…] reduções de ativos ou acréscimos de exigibilidades que reduzem o Patrimônio Líquido, e cujos valores ainda não são totalmente definidos”. Os autores continuam, destacando que as provisões representam perdas economicamente já incorridas ou a prováveis valores a desembolsar que tenham por origem fatos já acontecidos, como no caso de um dano ambiental. A valoração desses fatos é feita por estimativa, considerando que não se conhece efetivamente a dimensão certa do dano. Quando os valores forem totalmente definidos, os autores entendem que devem deixar de ser provisões para ser uma exigibilidade “certa”.

Como exemplo, tem-se um dano provocado pela empresa (contaminação do solo) em decorrência de produtos químicos aplicados na produção de melancia. A empresa deve fazer o reconhecimento através de lançamento contábil da referida provisão. Identificadas as dimensões do dano, e sendo a empresa notificada a recuperar o solo, fato que custará R$ X para a mesma, ela deve fazer o lançamento correspondente para registrar uma exigibilidade certa. (Ver Quadros 22, 23 e 24).

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL – são passivos devidos em decorrência da atividade da empresa, que causam impactos negativos ao ambiente. Este é um dos tipos de passivos mais divulgados, principalmente pela mídia, às vezes até sem um embasamento

42 O exercício social é o período estabelecido para a apuração dos resultados da entidade e que o artigo 175 da Lei 6.404/76 definiu que “[…] terá duração de um ano e a data do término será fixado no estatuto. O parágrafo único do já citado artigo estabelece ainda que “na constituição da companhia e nos casos de alteração estatutária o exercício social poderá ter duração diversa”.

científico para tal. Decorre do impacto que a atividade da entidade causa para o solo, ar ou água. (Ver Quadros 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31 e 32).

OBRIGAÇÕES FISCAIS AMBIENTAIS A PAGAR – devem ser classificadas nesta conta as obrigações da entidade decorrente dos chamados impostos verdes, com proposta apresentada por Ronaldo Serôa Motta e Francisco Eduardo Mendes, desde 1997, e que tem como objetivo tributar com uma carga mais onerosa de produtos como gasolina e álcool, em virtude de degradarem mais o ambiente. (Ver Quadro 33).

INDENIZAÇÕES AMBIENTAIS A PAGAR – registram-se nesta conta os valores referentes às indenizações devidas a terceiros, a outras empresas, ao governo, aos funcionários, a Estados ou países vizinhos, em decorrência de atividades da empresa que causem impactos negativos ao meio ambiente e tragam conseqüências também negativas a essas pessoas ou entidades, geralmente, ligados à saúde, aos negócios, a valores afetivos e outros. Estas indenizações, por vezes, passam a ser vitalícias, como o caso em que, por decisão da Justiça Paulista, a empresa Eternit, fabricante de fibrocimento, matéria-prima utilizada na fabricação de caixas-d’água, se comprometeu a pagar uma indenização de R$ 100 mil e pensão vitalícia para João Batista Momi, ex-funcionário da empresa, por ter contraído asbestose43. (Ver Quadros 34, 35, 36 e 37).

5.2.2 Contingências ambientais

O Instituto Brasileiro de Contadores (apud Ribeiro, 2005, p. 86) define contingências como certas condições ou situações de solução indefinida à data do encerramento do exercício social ou período a que se referem às demonstrações contábeis de uma entidade, e, como tal, dependente de eventos futuros que poderão ou não ocorrer.

Na proposta de Plano de Contas apresentada por Ferreira (2003, p. 99), a conta de Contingências ambientais esperadas é destacada compondo o Ativo Permanente, como conta redutora, e que tem como objetivo: “[…] reconhecer as restrições causadas ao meio ambiente que reduzem os benefícios futuros do ativo pelo uso potencial de determinado equipamento.[…]”. Segundo a autora, deveriam compor essa conta os custos ambientais futuros que representariam diminuição dos benefícios futuros esperados sobre o uso do patrimônio atual e que limitam a continuidade.

43 Informação constante no Jornal Gazeta Mercantil, 09. 09. 1998.

Para Ribeiro (2005, p. 87), deve-se constituir uma provisão para contingências quando houver indícios, na data do encerramento das demonstrações contábeis, que possam levar à perda parcial ou total de ativos, ou à incorrência de uma obrigação. A outra condição colocada pela autora é a de que o montante dessa perda possa ser razoavelmente estimado, pois, isso não sendo possível, a informação deve constar em nota explicativa juntamente com os motivos da impossibilidade de mensuração e dos possíveis efeitos sobre os resultados da empresa.

Ribeiro (2005, p.90) destaca como finalidades das contingências passivas:

“cumprimento de exigências legais; indenizações a terceiros por prejuízos causados;

prevenção em relação a eventos inesperados.”

Para Iudícibus, Martins e Gelbcke (2000, p. 247), uma contingência é: “[…] uma situação de risco já existente e que envolve um grau de incerteza quanto à efetiva ocorrência, e que, em função de um evento futuro, poderá resultar em ganho ou perda para a empresa.

[…]”. De acordo com os autores, as contingências podem ser passivas ou ativas. As ativas, relacionadas com possibilidade de ocorrência de eventos positivos, somente devem ser registradas quando efetivamente ocorridas, em obediência ao Princípio da Prudência, embora a informação deva constar em nota explicativa. As passivas, pelo mesmo princípio, devem ser reconhecidas e registradas. Os autores ainda ressaltam que a classificação pode se dar tanto no Passivo Circulante, quanto no Exigível a Longo Prazo, dependendo da época da liquidação.

Logo, estariam classificados como contingências ambientais negativas os riscos por danos ambientais em decorrência da atividade da empresa os quais ainda não tinham uma condição de certeza quando do encerramento do exercício. As contingências ambientais geralmente estão relacionadas a contingências passivas. Duas condições se apresentam como necessárias ao reconhecimento das contingências ambientais: que sejam negativas e que possam ser valoradas, caso contrário, constarão em nota explicativa. (Ver Quadro 38).