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1.2 Dano versus impacto ambiental negativo

1.3.2 Responsabilidade ambiental

embora os efeitos da falta de ética ambiental sejam mais perceptíveis em alguns níveis. A educação ambiental também deve ser trabalhada em paralelo com todas as alternativas de revisão dos paradigmas ambientais para que os resultados sejam efetivos.

Com relação à responsabilidade ambiental, destaca-se como aceita a teoria da responsabilidade por risco, segundo a qual o empreendedor deve responder pelos ônus (custos) e pelos bônus (lucros) decorrentes da atividade. Esta teoria tem como avanço a ausência da necessidade de prova de culpa do poluidor, o que também facilita na responsabilização. A adoção desta teoria tem sido considerada um grande avanço na área ambiental, pois, pela sistemática de responsabilização tradicional, a reparação do dano apresentaria maiores dificuldades.

A tendência doutrinária e jurisprudêncial em relação a excludentes de responsabilidade é a de não aceitar o caso fortuito12 e de força maior13 como aplicáveis aos direitos difusos14 e ao meio ambiente. Uma das principais alegações é a de que, se brechas forem aceitas, o meio ambiente estaria correndo sérios riscos, em razão dos agentes econômicos envolvidos no caso. Considerando que os interesses defendidos são difusos, somente interessa: o dano e a reparação do mesmo. Se o dano for provocado por força maior (imprevisível), sem a ação do agente, então se diz que ocorre a exclusão do nexo causal, como, por exemplo, quando a queda de um raio provoca incêndio em uma reserva florestal.

Por outro lado, se o agente contribuiu para ocorrência do dano, como, por exemplo, a queda do raio sobre o paiol, a ocorrência de caso fortuito ou força maior não exclui o nexo causal, considerando que o empreendedor sabia das potencialidades dos riscos de diversas ordens na manutenção do paiol.

Para que exista a responsabilidade civil, é condição a existência do dano, considerando que a responsabilidade civil tem como objetivo o retorno à situação anterior ao dano, ou seja, sua recomposição, conforme previsto no caput do artigo 927 do Novo Código Civil que estabelece: “Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo.” A definição do responsável pelo ato ilícito está prevista nos artigos 186 e 187 do mesmo Código Civil. Esta reparação decorrente da responsabilidade civil é de ordem patrimonial e moral ou extrapatrimonial. No caso do dano ambiental, pode ser percebido um avanço que modifica o princípio tradicional da responsabilidade civil, quando estabelece a coibição de atividades que possam vir a causar dano ambiental futuro.

12 Caso fortuito está relacionado com obra do acaso (act of God, ato de Deus), imprevisível, decorrente de fato da natureza ou humano. Ex.: Queda de um raio.

13 Força maior é algo natural ou humano, assim como o caso fortuito, irresistível, porém, possível de ser previsto. Ex.: Ocorrência de um ciclone.

14 Direitos difusos são aqueles em que a proteção se estende difusamente sobre toda a sociedade, bem como a cada um de seus indivíduos separadamente.

O parágrafo único do já citado artigo 927 do Novo Código Civil estabelece expressamente a obrigação de reparar o dano independente da existência de culpa, consagrando duas regras básicas na área ambiental que são a reparação integral do prejuízo e a responsabilidade objetiva do degradador: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de outrem”. Ainda com relação à responsabilidade objetiva, também a Lei n°

6.938/81, em seu artigo 14, parágrafo 1° estabelece: “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. […]”.

A reparação integral do prejuízo está relacionada com a inexistência de tetos (limites máximos) para as indenizações e reparações ambientais. É a regra jurídica vigente na legislação brasileira, que, na ótica de Mirra (1996, p.64), combina responsabilidade sem culpa e indenização ilimitada: “[…] no direito brasileiro vigora a combinação:

responsabilidade sem culpa, indenização ilimitada”.

Adamek (apud FREITAS, 2003, p.117) contesta a inexistência do nexo causal em relação à responsabilidade objetiva. “Ressalte-se, todavia, que o fato de a responsabilidade ser objetiva não implica que se possa prescindir da existência do nexo causal entre a ação (ou omissão) do suposto poluidor e o dano causado, cuja prova deveria ficar a cargo do demandante.”

Isto comprova que o tema é polêmico, que as opiniões são divergentes, mas que prevalece na doutrina a posição da inexistência do nexo causal no caso da responsabilidade ambiental.

A área ambiental apresenta uma complexidade tal que a responsabilidade civil subjetiva, baseada na culpa, não pode ser aplicada por ser insuficiente para proteger o meio ambiente. Por isso dizemos que não interessa a priori se a atividade do poluidor é lícita ou ilícita, interessando, sim, a reparação do dano, a recomposição e reconstituição do meio ambiente. A indenização por si só não é suficiente, representa somente um remédio que não garante a cura.

A responsabilidade civil na área ambiental tem como base o risco e não a culpa.

Por isto, com base nos princípios da justiça e da eqüidade, o agente deve suportar um dano

que originalmente o beneficiou economicamente, mesmo que esse dano tenha acontecido em decorrência de uma atividade que tenha tido autorização administrativa prévia para funcionamento. É o caso de uma atividade que haja recebido autorização administrativa prévia de funcionamento, através do procedimento de licenciamento ambiental, e que tenha causado um dano ao meio ambiente; logo, a existência desta autorização prévia não exime o agente da responsabilidade civil de reparação integral do dano.

Com relação ao tema Adamek (apud FREITAS, 2003, p. 120) assevera:

Por isso, a jurisprudência pátria tem entendido, de modo interativo, que a licitude da atividade não se presta para afastar o dever de reparar o dano. Do mesmo modo, eventual decisão tomada na esfera administrativa não isenta o poluidor da responsabilidade civil.

São inquestionáveis as mudanças verificadas ultimamente no mundo dos negócios, nesse contexto, Tachizawa (2004, p. 73) destaca como deve ser a postura dos gestores frente a um novo ambiente empresarial. Segundo este autor, essa postura se relaciona ao tratamento justo a ser dispensado aos membros do corpo funcional, bem como a atenção ao conceito de efetividade, no sentido de atendimento à satisfação da sociedade, ao atendimento de seus requisitos sociais, econômicos e culturais:

A responsabilidade social e ambiental pode ser resumida no conceito de

‘efetividade’, como o alcance de objetivos do desenvolvimento econômico-social. Portanto, uma organização é efetiva quando mantém uma postura socialmente responsável.

Veloso (2006, p.6) ratifica a posição de que os gestores e as organizações deverão assumir uma postura diferente frente às questões sociais e também ambientais, deixando de priorizar lucros para vislumbrar horizontes mais compartilhados: “As organizações terão de aprender a equacionar a necessidade de obter lucros, obedecer às leis, ter um comportamento ético e envolver-se em alguma filantropia para com as comunidades em que se inserem. [...]”.

Quanto à responsabilidade, não se pode deixar de citar, em termos contábeis, a existência do Balanço Social,15 demonstrativo que apresenta as ações de interação da entidade com a área social, abrangendo desde as questões relacionadas com o pessoal, cidadania, valor agregado à economia e até mesmo meio ambiente. Essas ações tanto podem ser internas quanto podem ser ações desenvolvidas pela empresa que beneficiam áreas do entorno da

15 Segundo Ribeiro (2005, p. 9-10), o Balanço Social teve início na França, em 1977 e no Brasil, a partir da década de 1960.

mesma. Como exemplo, tem-se a manutenção por parte da empresa de creche, para mães não somente da entidade como da comunidade, onde a mesma está instalada ou a manutenção de escola de formação de adultos que também possa servir à comunidade.

Balanço Social fez surgir uma nova dimensão que Glautier e Underdown (apud RIBEIRO, 2005, p. 26) chamaram de contabilidade de responsabilidade social, existente desde os anos de 1960, está relacionada com as mudanças de valores e expectativas sociais que levaram às discussões sobre o papel da empresa na sociedade.

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem se preocupado com a questão da responsabilidade na contabilidade, tanto que em sua 7ª Reunião sobre as normas contábeis tratou-se acerca do conceito de responsabilidade social nos diversos países do mundo.

Foram destacadas as crescentes exigências sobre informações relacionadas com os gastos para controle ambiental e a resistência apresentada pelo meio empresarial em reconhecer para a sociedade sua responsabilidade ambiental, visto que isto iria onerá-lo em diversos aspectos.