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O estudo de caso, como apresentado por U. Flick (2013, p. 75), pode ser descrito como o estudo sistemático acerca de uma situação delimitada específica, descrita em seus íntimos detalhes. Nesse sentido, o objeto de estudo pode ser tanto uma instituição, grupo de pessoas, classes sociais, etc., dependendo do interesse do pesquisador. Tomando como exemplo uma recente entrevista dada a um jornal estrangeiro, um cineasta, ao apresentar uma série sobre os problemas políticos no Brasil contemporâneo16, abordou um excelente exemplo do que seria estudo de caso: o Brasil, enquanto um país em que a corrupção é profundamente entrelaçada ao sistema político, torna-se um objeto interessante de estudo de caso sobre esse tema. De uma situação particular, tal uma cidade, um comitê de partido, uma turma de ensino médio, pode-se tirar conclusões que auxiliam na compreensão de uma situação mais ampla.

Para o presente estudo, partimos de uma análise qualitativa do objeto de pesquisa, visando dar forma a uma determinada subjetividade – a consciência histórica de alunos do ensino médio – por meio de um determinado tipo de instrumento – o questionário semiestruturado. Semiestruturado porque, ao contrário do questionário padrão, em que as

16 Entrevista José Padilha ao jornal El País: Disponível em:

perguntas são acompanhadas por um conjunto de respostas possíveis, tal uma questão de prova de múltipla escolha aonde não existe uma resposta correta, as perguntas eram abertas, podendo ser respondidas da maneira que melhor aprouvesse aos alunos.

Podemos classificar a presente pesquisa enquanto qualitativa porque se situa em um processo de compreensão da interpretação que os agentes sociais conferem às diferentes condições do mundo, em um processo de dar sentido a estas mesmas condições (sejam elas boas ou más). Busca-se aqui o significado de um determinado objeto em um determinado contexto histórico. Assim sendo:

Pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no mundo. A pesquisa qualitativa consiste em um conjunto de práticas materiais interpretativas que tornam o mundo visível. Essas práticas transformam o mundo. Elas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo notas de campo, entrevistas, conversas, fotografias, registros, e lembretes para a pessoa. Nesse nível, a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem interpretativa e naturalística do mundo. Isso significa que os pesquisadores qualitativos estudam coisas dentro de seus contextos naturais, tentando entender, ou interpretar os fenômenos em termos dos significados que as pessoas lhes atribuem (DENZIM e LINCOLN, 2011, p, 3 apud CRESWELL, 2014, p. 49).

É importante comentar que o questionário aplicado dentro do estudo tomou como base outro questionário, pensado por Marcelo Fronza (2007), com um objetivo muito semelhante ao aqui visado: de captar o significado das histórias em quadrinhos dentro da educação histórica dos jovens que estudam no Ensino Médio. Embora o caminho conceitual e o próprio objeto de pesquisa sejam diferentes, a proximidade dos temas e praticidade da metodologia escolhida foi de uma influência ímpar para o planejamento de nosso próprio percurso metodológico.

O questionário de Fronza era dividido em cinco partes, sendo a primeira composta por um quadro de questões socioeconômicas e, as quatro restantes, referentes à relação que os alunos estabeleciam entre as histórias em quadrinhos e o conhecimento escolar geral, e o conhecimento histórico. Nesse sentido, chamamos a atenção para as sete últimas (p. 85; p. 164-169), nas quais é pedido aos alunos a interpretação de uma história em quadrinhos de autoria de R. Goscinny e A. Uderzo, Asterix e Cleópatra (1985 apud FRONZA, 2007, p. 72). O instrumento de pesquisa foi aplicado a uma turma de alunos de ensino médio, com a produção de dados brutos que, mais tarde, foram tabulados naquilo que este autor caracterizou como “matizes descritivas dos feixes conceituais” (LESSARD-HEBÉRT; GOYETTE; BOUTIN, 2005, p. 140 apud FRONZA, 2007, p. 71), permitindo assim a análise da significância das histórias em quadrinhos para os alunos de ensino médio.

Como complemento ao conteúdo das tabelas, também serão formuladas tipologias, agrupando as diversas respostas em grupos que evidenciam seus aspectos gerais, agrupadas a partir de cada uma das perguntas e cada uma das tabelas. Em certo sentido, estamos

adaptando o conceito de tipo ideal weberiano, apresentado por A. Prost (WEBER, 1965, p. 180-185 apud PROST, 2012, p. 122-123), com fins de facilitar a organização dos feixes conceituais, como também a análise dos dados. Nesse sentido, as categorias mostradas serão generalizações construídas a partir das principais características de cada uma das respostas, configurando tipologias que agrupam características afins em um mesmo feixe conceitual. Por fim, tais procedimentos são sucedidos pela análise, dentro do texto, das respostas específicas – especialmente nas particularidades que de certa forma escapam da organização geral dos dados.

Assim sendo, tomamos um caminho metodológico próprio, a fim de delimitar a consciência histórica dos alunos de ensino médio no contato com vlogs e a cultura barbárica do YouTube. O questionário formulado (ANEXO 1) divide-se em cinco partes, sendo a primeira composta de questões socioculturais dos alunos e a sua identificação; uma segunda, relativa aos hábitos dos alunos dentro da Internet e especialmente o YouTube; uma terceira, relativa à relação que eles estabeleciam com os vlogs, se conheciam os diários virtuais e se consumiam esse tipo de conteúdo regularmente; questões relativas à relação que os alunos estabeleciam entre os vlogs e o conhecimento histórico; e, por fim, perguntas onde foi pedido aos alunos que interpretassem, do ponto de vista histórico, o vídeo “SNAPWHATSINSTAGRAM”, de Whindersson Nunes.

O questionário foi formulado com a utilização do programa “formulários google”17, específico para a produção de documentos e instrumentos de investigação deste tipo e, depois, impresso e entregue junto aos alunos. O instrumento de pesquisa foi aplicado no dia 05 de julho de 2017, em uma turma de ensino médio integrado à educação profissional do Colégio Estadual de Ensino Médio Prof.ª. Maria Rocha, sob autorização da direção da escola, iniciando às 14 h e terminando às 15 h e 30 min.