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Este item traz um levantamento das pesquisas desenvolvidas sobre o compartilhamento das informações gerenciais no contexto interorganizacional, tanto internacionalmente quanto nacionalmente.

2.8.1 Estudos Internacionais

O estudo desenvolvido por Munday (1992) foi seminal quanto ao compartilhamento de informações financeiras nos relacionamentos interorganizacionais. Neste sentido, a pesquisa busca examinar o papel do compartilhamento das informações de custos nos relacionamentos entre a indústria e fornecedor. O estudo utilizou a aplicação de uma survey em indústrias de moldagem de injeções de plásticos do Reino Unido, bem como nas filiais estrangeiras dos Estados Unidos e subsidiárias japonesas. Como resultado, a pesquisa indica que a divulgação das informações de custos por meio da cooperação, além de fazer pressão junto aos fornecedores, também colabora para a geração de ganhos de eficiência. Outra constatação do estudo se refere às subsidiárias japonesas que exigiram mais informações de custos dos fornecedores do que outras empresas.

Na área de gestão de custos interorganizacionais, Cooper e Yoshikawab (1994) descrevem como uma cadeia de suprimentos, na indústria automobilística japonesa, tem desenvolvido um sistema de gestão de custos interorganizacionais. Para a obtenção dos dados

da pesquisa, os autores realizaram entrevistas em profundidade com os gerentes, engenheiros de produção e designers, em três empresas da cadeia de suprimentos. Os resultados encontrados evidenciam que além de informações de custos, eles compartilham informações sobre a produção, o controle de qualidade, a utilização de novos materiais e tecnologias, os resultados de pesquisas e desenvolvimento de produtos, ou seja, informações não financeiras.

Moinzadeh (2002) apresenta os benefícios do compartilhamento das informações via sistema de informações online do cliente para o fornecedor. O autor constata que existem benefícios pelo seu uso no compartilhamento das informações, em comparação com empresas que não utilizam tal sistema. Sendo assim, as empresas parceiras ganham com a interligação dos sistemas, uma vez que procuram atender à demanda dos clientes em tempo real.

A pesquisa desenvolvida por Choe (2008) examina os efeitos dos sistemas de informação interorganizacionais e os meios de comunicação tradicionais sobre as informações trocadas na cadeia de valor. A Survey foi aplicada inicialmente junto a 137 (cento e trinta e sete) respondentes, gerentes de produção de indústrias coreanas, mas apenas 120 (cento e vinte) questionários foram considerados na pesquisa. Os principais resultados evidenciam que o sistema de informações interorganizacionais pode ser efetivamente utilizado para a troca de informação gerencial e operacional; o meio de comunicação mais rico é a mídia oral, portanto, as reuniões presenciais possibilitam discussões e debates sobre as relações interorganizacionais, trazendo informações valiosas; deve-se dar apoio ao sistema de informações interorganizacionais como a troca de e-mails, por ser um fator significativo e muito utilizado na troca de informações.

Ding, Dekker e Groot (2010) através de sua pesquisa observam o papel da governança dos gestores financeiros de indústrias holandesas em cooperação interorganizacional. O estudo proposto utilizou como instrumento de coleta um questionário eletrônico aplicado com 439 (quatrocentos e trinta e nove) membros da Associação Nacional de Profissionais de Gestão Financeira Holandesa sobre as relações entre empresas e seu envolvimento pessoal na gestão desses relacionamentos. Os gestores financeiros selecionados exerciam os cargos de: CEO10 / CFO11, gerente, diretor e controller. Um dos aspectos abordados junto aos gestores foi o tipo de informação financeira que eles normalmente recebiam das empresas envolvidas nas relações interorganizacionais. A maioria dos gestores respondeu que o tipo de informação mais recebida dos parceiros são as informações financeiras e não financeiras detalhadas.

10 Chief Executive Officer – Diretor Presidente. 11 Chief Financial Officer – Diretor Financeiro.

Outro ponto destacado pelos autores mostra que os gestores financeiros mais envolvidos também recebem mais informações e com mais freqüência sobre a gestão interorganizacional. O estudo de Wiengarten et al. (2010) evidencia a qualidade da informação (oportunidade, exatidão, relevância e valor adicionado) compartilhada decorrente das práticas colaborativas e seu impacto sobre o desempenho. Os resultados mostram que o compartilhamento das informações melhora o desempenho operacional quando a informação é de baixa ou de alta qualidade, enquanto o seu impacto é significativamente mais forte, quando a informação trocada é de alta qualidade. Neste contexto, as empresas para usufruírem dos benefícios das relações interorganizacionais precisam atentar para a melhoria na qualidade das informações compartilhadas, cujos reflexos contribuem para um melhor desempenho das empresas parceiras.

Meira (2011) investiga o papel da contabilidade no desenvolvimento de um relacionamento interorganizacional no contexto brasileiro. As entrevistas foram aplicadas em vários departamentos: suprimentos, controladoria, tecnologia, produção e outros departamentos de staff. Os principais resultados evidenciam a motivação e ao mesmo tempo a resistência à mudança na implantação de um projeto de relações interorganizacionais. Outro achado da pesquisa evidencia que a contabilidade necessita de mudanças para se adaptar a esse novo ambiente, bem como reforça a existência de uma forte relação entre a confiança e a contabilidade.

Caglio (2017) investiga a influência do open book accounting no desempenho das empresas. A Survey aplicada com os gerentes de compras de empresas europeias obteve respostas de 135 (cento e trinta e cinco) gestores. Os resultados mostram que o open book accounting é utilizado em empresas que trabalham em conjunto, com relacionamentos de longo prazo e a presença de sistemas de custos pode ser associada ao desempenho.

Assim, é possível verificar que o compartilhamento das informações de custos nos relacionamentos entre cliente e fornecedor, foi o ponto de partida dos estudos internacionais. E as pesquisas subsequentes ainda têm como foco a gestão de custos interorganizacionais, sistemas de controles de gestão interorganizacionais, sistema de informação interorganizacional, bem como as relações interorganizacionais e a contabilidade gerencial. Os estudos nacionais desenvolvidos sobre o compartilhamento das informações gerenciais são apresentados a seguir.

2.8.2 Estudos Nacionais

O primeiro estudo sobre a troca de informações interorganizacionais no Brasil ocorreu em 2002, desenvolvido por Meira. A pesquisa verifica a importância da troca de informações interorganizacionais no desempenho dos produtores de frango de corte em Pernambuco. Os resultados evidenciam que a maioria dos produtores trocam informações com outros produtores, e esta troca influencia o desempenho destes. No entanto, quanto às informações contábeis gerenciais, há limitações em relação às fronteiras legais, sendo necessário o desenvolvimento de um sistema de gerenciamento da cadeia de suprimentos interorganizacional ao lado do tradicional sistema de relatórios contábeis.

Souza (2008) desenvolveu uma análise descritiva da estrutura conceitual da abordagem da gestão de custos interorganizacional, a partir de duas empresas prestadoras de serviços. A pesquisa foi exploratória, através de estudos de caso duplo. As entrevistas foram do tipo semiestruturadas e os entrevistados foram diretores, responsáveis pelo relacionamento com fornecedores, e com fornecedores e clientes. Como resultado, o autor verifica que os fatores condicionantes da gestão de custos interorganizacional são observados nas empresas estudadas e correspondem a cinco, sendo estes: produtos, componentes, níveis de relacionamento, tipos de cadeia e mecanismos.

O estudo de Camacho (2010) investiga e identifica, sob a perspectiva da Teoria da Contingência, os fatores ou circunstâncias que favorecem ou inibem a prática da gestão de custos interorganizacionais por parte dos hospitais privados no Brasil. A pesquisa foi realizada com questionário estruturado aplicado em 40 (quarenta) hospitais privados brasileiros. Através dos resultados encontrados, pode-se evidenciar que a análise crítica sobre cada um dos 17 (dezessete) fatores condicionantes da gestão interorganizacional de custos, apontou que 12 (doze) deles são aplicavéis ao setor hospitalar. De acordo com a percepção dos respondentes, os fatores inibidores da gestão de custos interorganizacionais são: tipo de cadeia, confiança nos planos de sáude, beneficios mútuos com planos de sáude e grau de competição para compra de insumos. O autor finaliza informando que há indícios das práticas da gestão de custos interorganizacionais nos hospitais pesquisados.

Os autores Lopes et al. (2014), verificam quais as práticas de contabilidade interorganizacional estão sendo adotadas pelas indústrias de médio e grande porte da Região Metropolitana do Recife. O estudo foi exploratório, com a realização de uma survey por meio

da aplicação de um questionário do tipo semiestruturado com 55 (cinquenta e cinco) indústrias. Através dos resultados, tem-se que o compartilhamento de informações gerenciais entre os membros da cadeia é a prática mais recorrente nas indústrias. A previsão de demandas é a informação mais compartilhada com clientes, fornecedores e operadores logísticos, e as informações gerenciais de cunho financeiro são as menos compartilhadas entre as empresas.

Abinajm Filho et al. (2015) verificam a percepção dos gestores de empresas fabricantes de autopeças brasileiras, sobre o compartilhamento de informações, a confiança e o comprometimento de algumas montadoras, em função de sua origem étnica. A pesquisa foi realizada com a aplicação de um questionário com 54 (cinquenta e quatro) respondentes quanto aos procedimentos aplicados pelas montadoras ocidentais e orientais no relacionamento entre empresas da cadeia de suprimentos automotiva nacional. Os resultados evidenciaram no que tange ao compartilhamento de informações, há diferenças significativas quanto aos sistemas de informação utilizados nos grupos ocidentais e orientais. As relações nas cadeias de suprimentos automotivas com montadoras de origem japonesa e seus fornecedores diretos são estimuladas pela confiança e comprometimento, mais do que as demais montadoras, e esses ingredientes facilitam o compartilhamento de informações na cadeia de suprimentos automotiva.

No Brasil, os estudos nesta área só tiveram início dez anos após o primeiro estudo no âmbito internacional e a maioria daqueles encontrados apresentaram como foco os estudos na área de custos interorganizacionais. Desta forma, muitas pesquisas ainda podem ser realizadas nesta área, com estudos empíricos nas cadeias de suprimentos brasileiras, além da contribuição com a disseminação do conhecimento no ambiente acadêmico.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O capítulo descreve os procedimentos metodológicos que foram desenvolvidos no estudo, evidenciando o caminho percorrido pelo pesquisador para atingir os objetivos da pesquisa. Inicialmente, a pesquisa é caracterizada e depois se explica o critério de seleção dos casos. Na sequência, expõem-se os procedimentos utilizados para a elaboração do instrumento de coleta dos dados, seu processo de validação pelos especialistas e a realização do pré-teste. Posteriormente, demonstram-se os procedimentos para coleta e tratamentos dos dados; e, por último, os encaminhamentos quanto aos procedimentos éticos adotados.