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Estudos dos Direitos Animais

Ainda se encontra certa resistência em se debater, no meio acadêmico, temas relativos aos Direitos Animais. A cultura antropocêntrica, fortemente enraizada no âm-

172Por isso, propõe-se, através do paradigma pós-moderno, uma interpretação do art. 225, §1º, VIII que

permita a consideração jurídica dos interesses dos animais em sua forma individual e coletiva, ou seja, partindo da interpretação gramatical do inciso que trata do assunto, deve-se entender que há uma abordagem de direitos coletivos da fauna e da flora e também do direito subjetivo do animal (SILVA, Tagore Trajano de Almeida. Direito Animal e Ensino Jurídico. Salvador: Evolução, 2014, p. 159).

173Ora, se levarmos a sério essa norma constitucional, é impossível negar que os animais possuem

pelo menos uma posição mínima de direito: a de não serem submetidos a tratamentos cruéis, práticas que coloquem em risco a sua função ecológica ou ponham em risco a preservação de sua espécie (GORDILHO, Heron José de Santana. Abolicionismo Animal. Salvador: Evolução, 2009, p. 138).

174Pensarmos no estatuto moral e jurídico dos não-humanos permite-nos refletir acerca da reestrutura-

ção ética de nossa própria sociedade. Permite-nos ao menos tentar redefinir as responsabilidades em que somos investidos. A mudança de paradigma de animais como meras coisas para animais como sujeitos de direitos se insere num contexto histórico em que a simbiose e a mutabilidade do ser humano com a natureza se faz presente (LOURENÇO, Daniel Braga. Direito dos Animais. Fundamentação e Novas Perspectivas. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2008, p. 542).

175Exige-se o reconhecimento dos animais não humanos com um novo status jurídico e, como tal, es-

pera-se que os direitos destes sejam respeitados por se tratarem de direitos fundamentais e assim, sendo estes detentores da titularidade de tais direitos, passem à qualidade de sujeitos de Direito (FER- REIRA, Ana Conceição Barbuda Sanches Guimarães. A proteção aos animais e o direito. Curitiba: Juruá, 2014, p. 147).

176 Entendemos por fim que somos todos animais, humanos ou não humanos. Cada Espécie com suas

características próprias que torna a natureza uma cadeia de elementos tão perfeita. Discordamos, por- tanto, de qualquer critério que exclua determinada espécie. Todos temos o mesmo direito, um direito natural à vida. Somos todos sujeitos de direito, dotados de capacidade processual (CORDOVIL, Anaiva Oberst. Direito Animal. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2012, p. 133).

177 Para reconhecermos os direitos animais, temos de repensar muitas coisas e mudar nossas relações

com o ambiente. Os animais são seres que, como o homem, estão profundamente absorvidos pela aventura de viver. Aquele que não sente compaixão pelos animais não tem o direito de falar das torturas humanas. Para as mãos do justo, tudo que vive é sagrado. O movimento de libertação dos animais exigirá um altruísmo maior que qualquer outro (o feminismo, o racismo...), já que os animais não podem exigir a própria libertação DIAS, (Edna Cardozo. A tutela jurídica dos animais. Belo Horizonte: Manda- mentos, 2000, p.350).

178 Eis porque pode-se sustentar que os animais constituem individualidades dotadas de uma persona-

lidade típica à sua condição. Não são pessoas, na acepção do termo, condição reservada aos huma- nos. Mas são sujeitos titulares de direitos civis e constitucionais, dotados pois, de uma espécie de personalidade sui generis, típica e própria à sua condição. Claro que a personalidade é um atributo da pessoa. E os animais não são pessoas, embora vinculados à mesma biologia. Todavia, como sujeitos de direito são reconhecidos e tutelados, reunindo atributos que permite coloca-los numa situação jurí- dica peculiar, que se assemelha aos amentais humanos (FILHO, DIOMAR Ackel. Direito dos Animais. São Paulo: Themis, 2001, p. 64).

bito jurídico, impõe obstáculos a abertura de discussões cujo interesse não seja ape- nas humano179. No entanto, conforme informam Tagore Trajano de Almeida Silva180 e

Danielle Tetü Rodrigues181, vem crescendo182 no mundo o interesse pelo estudo dos

Direitos Animais, através da inserção do curso nas grades da graduação ou mesmo na pós-graduação.

Há mais de 160183 Faculdades de Direito nos Estados Unidos e no Canadá

ministrando Direito Animal, seja como matéria obrigatória ou como matéria eletiva em seus currículos. Por exemplo, Na Havard Law School, Steven Wise ministra, há mais de 20 anos, “Animal Protection Law”.

Atribui-se a Universidade de Oxford o berço do surgimento do movimento de libertação animal. Foi em tal local que, na década de 1970, o professor Richard Ryder, criou a expressão “especismo”, que, conforme já visto, faz uma relação do preconceito que temos com os animais não humanos, com outras formas de preconceito, tais como o racismo e sexismo.

179 Migliore lobriga a mesma dificuldade: a premissa da personalização dos grandes primatas não hu-

manos exige a certeza de um sólido fundamento. Não pode desdizer séculos de história em tom arro- gante, até porque – é forçoso admitir – conta o tema com o desdém dos mais tradicionalistas (um eufemismo para denominarmos os céticos. E a singela constatação disso se dá por um passeio pelos corredores das bibliotecas departamentais da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, onde não se encontrará obras sobre os direitos dos animais...). O olhar enviesado dos que jamais pensaram sobre o problema, e o humor, às vezes ácido, outras implacável, e raramente polido, daque- les que simplesmente discordam da ideia por se fiarem à premissa antropocêntrica, já rompida capítulos atrás, de que o direito é fenômeno humano destinado a regular exclusivamente a vida do homem em sociedade (MIGLIORE, Alfredo Domingues Barbosa. Personalidade Jurídica dos Grandes Primatas. Belo Horizonte: Del Rey, 2012, pp. 327).

180SILVA, Tagore Trajano de Almeida. Direito Animal e Ensino Jurídico. Salvador: Evolução, 2014, pp.

194/215.

181 Danielle Tetü Rodrigues. O Direito e os animais. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2008, p. 221/226.

182A mesma informação é passada por Peter Singer que, citando o trabalho de Charles Magel, observou

que da Antiguidade até o início dos anos 1970, Magel encontrou apenas 95 obras ligadas aos direitos dos animais. Entretanto, nos 18 anos seguintes foram localizados 240 trabalhos a respeito de tal tema, muitos deles de filósofos que lecionam em universidades (SINGER, Peter. Libertação Animal. Tradu- ção: Marly Winckler e Marcelo Brandão Cipolla. Revisão técnica: Rita Paixão. São Paulo: Martins Fon- tes, 2003, p. 351).

183 A informação – e atualização do número – pode ser conferida em: <http://aldf.org/animal-law-cour-

ses/>. Acessado em 25/01/2016. A Animal Legal Defend Fund (ALDF) foi criada em 1979 por um grupo de advogados ligados ao então emergente Direito Animal. A entidade vem buscando a rigorosa aplica- ção das leis anti-crueldade e tratamento mais humano aos animais. O norte-americano David Favre, professor, entre outros, de Direitos dos Animais na Faculdade de Direito da Michigan State University, afirmou, já em 2006, que há um significativo aumento no número de faculdades de Direito que oferecem o curso de Direito Animal desde a década passada e que o movimento por proteção dos animais é claramente um fenômeno de crescimento global. Favre faz ainda um interessante paralelo dos Direitos Animais com o Direito Ambiental, que, se 1972 era oferecido em poucas faculdades de Direito nos EUA, hoje é curso presente em praticamente todas elas (FAVRE, David. O ganho de força dos direitos dos animais. Disponível em <http://www.portalseer.ufba.br/index.php/RBDA/article/view/10239/7295>. Acessado em 22/01/2016).

Em Oxford foi criado o “Grupo de Animais de Pesquisa sobre os Animais”. A tal grupo, juntou-se o filósofo australiano Peter Singer, que em 1975 lançou um dos livros mais emblemáticos no movimento animalista, que é a Libertação Animal.

Em 2006 foi fundado o Oxford Centre for Animal Ethics, com o objetivo de se debater, de forma esclarecida, a questão dos animais não humanos, que já contou com o apoio do escritor sul-africano, e ganhador do prêmio Nobel em 2003, J.M. Co- etzee (autor do livro vida dos animais), e conta atualmente com o professor e filósofo brasileiro Carlos Naconecy.

Em Portugal, Faculdades de Direito vem incorporando em cursos de especiali- zação ou na própria graduação o Direito Animal. Em 2003, Fernando Araújo, professor da Universidade de Lisboa, lançou o livro A hora dos Direitos dos Animais.

A Universidade Autônoma de Barcelona oferece o mestrado em Direito Animal. Na França o debate sobre a personalidade jurídica dos animais está tão avan- çado que, nesse ano, reconheceu-se, através da mudança do Código Civil, que os animais são seres sencientes e, portanto, não são meras coisas.

No Brasil Laerte Levai, promotor de Justiça do Estado de São Paulo, na década de 1990, lançou o primeiro livro, escrito em língua portuguesa, relacionado ao Direito Animal.

A professora Edna Cardozo Dias, da PUC/MG, foi a primeira docente a reivin- dicar uma tutela jurídica para os animais, em 2001, quando ministrou, por dois semes- tres, o curso “Tutela Jurídica dos Animais” por dois semestres.

Na PUC-PR, a professora Danielle Tetü Rodrigues, em 2003, inicia o magistério do curso “Relação entre o Homem e a Natureza”.

O promotor de Justiça Heron Santana Gordilho, professor da Universidade da Bahia, propôs o curso de Ética e Direitos dos Animais.

No Rio de Janeiro, na UFRRJ, os professores Fábio de Oliveira e Daniel Braga Loureço inseriram como disciplina obrigatória o componente curricular “Direito dos Animais”, a ser lecionado no último ano da etapa de especialização em Direito Ambi- ental. Depois a disciplina foi excluída, as questões animais tem sido discutidas na matéria “Ética Ecológica”.

A professora Fernanda Medeiros adota a disciplina “Direito dos Animais” no mestrado da Faculdade de Direito da Universidade de Caxias.

Frise-se, por fim, que o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, provavel- mente de maneira inovadora em sua história, promoveu, em 16/10/2015, a palestra

“Direito dos Animais na Contemporaneidade”, ministrada pela advogada e vice-presi- dente da Comissão Especial de Proteção e Defesa Animal da Ordem dos Advogados do Brasil – seção São Paulo, Maíra Pereira Vélez. A exposição foi realizada para 106 servidores e magistrados no Fórum João Mendes Júnior e transmitida para outros 343 participantes, que acompanharam pela internet184.

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