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2. MEMORIAL BIBLIOGRÁFICO

2.2 Estudos sobre inteligibilidade da fala em salas de aula

Rabelo et al. (2014) realizaram estudo sobre parâmetros acústicos em salas de aula para crianças e a relação entre o nível de pressão sonora equivalente (Leq), tempo

de reverberação e índice de transmissão da fala (STI) com o desempenho dos estu- dantes em testes de inteligibilidade da fala. Por se tratar de um estudo pioneiro em âmbito nacional, os autores tiveram dificuldade em encontrar instrumento padronizado e validado para aferição de inteligibilidade da fala, adaptando-se a gravação e repro- dução dos sons para os estudantes.

Os autores relatam que encontraram níveis altos de ruído de fundo presentes nas salas de aula estudadas e que este som é caracterizado por flutuações e descon- tinuidade, sendo ainda mais prejudicial que o ruído contínuo por competir com as

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atividades educacionais, que exigem concentração, podendo gerar fadiga mental. Da mesma forma, as salas analisadas apresentaram alto tempo de reverberação, provo- cando sobreposição das sílabas e maior permanência de sons indesejáveis, como um objeto caindo no chão. Nenhuma sala apresentou inteligibilidade ótima, estando todas entre razoável e bom, de acordo com a categorização da IEC 60268-16 (2011).

Quanto aos testes de inteligibilidade, os resultados foram melhores em salas com menor ruído de fundo, menor tempo de reverberação e maior STI, comprovando a relação destes parâmetros com a inteligibilidade da fala (RABELO et al., 2014). Os autores reforçam as baixas condições acústicas de salas de aula, em geral, e enfati- zam a importância de estudos no tema devido às consequências negativas para a educação e inserção social do futuro profissional que salas de aula com baixa quali- dade acústica podem proporcionar.

O estudo realizado por Rocha e Silva (2012) teve como objetivo avaliar a qua- lidade acústica de salas de aula para crianças na região Sul do Brasil através da inte- ligibilidade da fala. Foram avaliadas sete escolas, que puderam corroborar para as sugestões de soluções generalizadas para problemas acústicos das salas avaliadas. Rocha e Silva (2012) recomendam que as posições de janelas, portas e corredores sejam avaliadas a fim de amenizar o ruído de fundo, bem como a localização da pró- pria escola em relação ao entorno e às edificações adjacentes, que podem ser ruido- sos.

Em relação aos ruídos internos, equipamentos de climatização com baixa emis- são de ruído devem ser priorizados. Considerando que tais soluções podem ser invi- áveis, os autores recomendam melhor vedação das esquadrias, além de medidas de conscientização para alunos e professores e redução da quantidade de alunos por sala de aula. Outra sugestão é evitar paredes e pisos muito reflexivos, que reforçam as reflexões e, por consequência, o tempo de reverberação (ROCHA; SILVA, 2012). Os autores enfatizam que um projeto acústico antes da construção da edificação pou- paria gastos para corrigir a qualidade acústica das salas de aula.

Pelegrín-García, Brunskog e Rasmussen (2014) reforçam a importância do pro- jeto acústico para salas de aula, tanto em condicionamento quanto isolamento acús- tico, já que a qualidade acústica afeta diretamente na comunicação oral entre

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professor e aluno, que é a forma mais comum do processo de ensino-aprendizagem. É necessário que os alunos estejam em um ambiente em que há inteligibilidade da fala, em que as mensagens orais sejam facilmente entendidas e promova o engaja- mento no processo de aprendizagem.

Foi realizado um estudo sobre os parâmetros de acústica de salas relevantes para o orador, suas conexões com atributos subjetivos (esforço e conforto vocais) e modelos de predição de distribuição média espacial, no que concerne a volume, áreas de superfície e tempo de reverberação, de acordo com as normas regulamentadoras europeias. Para o esforço vocal, os autores encontraram que o suporte vocal é o atri- buto mais importante, enquanto para o conforto vocal é o tempo de decaimento do som.

Os modelos de predição foram gerados a partir de parâmetros combinados so- bre inteligibilidade da fala e volume adequado para quantidade de alunos. Para salas completamente ocupadas e métodos flexíveis de ensino, o tempo de reverberação ideal é de 0,45 a 0,60 segundo, sendo de 0,60 a 0,70 segundo em salas desocupadas, em que a capacidade total é de até 40 estudantes e volume abaixo de 210 m³. Em salas desocupadas é permitido tempo de reverberação maior que 0,80 segundo, desde que decaia para menos de 0,60 quando ocupada. No caso de salas maiores é recomendado que seja feito um estudo individualizado a fim de aumentar o suporte vocal e diminuir o esforço vocal (PELEGRÍN-GARCÍA; BRUNSKOG; RASMUSSEN, 2014).

O estudo realizado por Tiesler, Machner e Brokmann (2015) descreve o com- parativo do aumento dos batimentos cardíacos de professores em salas de aula com boa e má qualidade acústica. Para salas de aula com boa acústica foi considerada uma sala com baixo tempo de reverberação (menor que 0,5 segundos), conforme in- dicado pela legislação americana. O teste foi realizado aumentando o ruído de fundo em 10dB que, em salas com bom tempo de reverberação, são absorvidos mais facil- mente e evitam o efeito de sobreposição das sílabas das palavras. Em boas condi- ções, os professores tiveram aumento em média de apenas 4 batimentos cardíacos por minutos em comparação com o aumento de 10 batimentos cardíacos por minuto em salas de má qualidade acústica, o que indica que a qualidade acústica também está relacionada com a saúde dos professores.

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Sato, Morimoto e Wada (2012) realizaram um estudo com jovens universitários e pessoas idosas de audição sadia a fim de relacionar os resultados obtidos com a idade dos participantes. Para o grupo de jovens, os autores encontraram que a avali- ação de dificuldade de audição variou entre 0 e 60% em um ambiente de excelente inteligibilidade. Quando a inteligibilidade da palavra variou de 40 a 100%, a dificuldade aumentou, chegando a 100% em alguns casos. Isto é, adultos jovens podem sentir dificuldades de entender sons, mesmo em condições ótimas de inteligibilidade, o que implica dizer que estas condições são essenciais para um ambiente que se baseia na fala.

Os autores concluem que essas avaliações de dificuldade de audição podem ser utilizadas para avaliar a performance de transmissão da fala em ambientes rever- berantes e ruidosos, independente da idade. Porém tais resultados nem sempre sig- nificam mesmo nível de inteligibilidade, quando comparadas as performances de jo- vens e idosos. Para igualar a percepção entre os dois grupos é necessário aumentar 0,12 o STI, que possui alta correlação com a avaliação de dificuldade de audição. Os autores recomendam que o teste subjetivo para esta avaliação não seja o único a ser realizado para determinar a inteligibilidade da fala numa sala (SATO; MORIMOTO; WADA, 2012).

Estudo semelhante foi realizado por Rennies et al. (2014), cujo objetivo era comparar o efeito da combinação entre ruído de fundo e reverberação no esforço para audição e a inteligibilidade da fala para predições do Índice de Transmissão da Fala (STI). Os autores relatam que a dificuldade de audição sempre diminui quando o STI é aumentado numa sala, mesmo em diferentes combinações de tempo de reverbera- ção e ruído de fundo.

Ao se estudar o efeito do tempo de reverberação em separado do ruído de fundo com STI constante, os autores comprovaram que o tempo de reverberação alto influencia menos que o ruído de fundo quanto ao esforço para escutar. Da mesma forma, a inteligibilidade cresce ao aumentar o STI e é menos influenciada pelo TR que pelo ruído de fundo. No entanto, em STI intermediário, a inteligibilidade atinge um nível de saturação, sem muitas variações (RENNIES et al., 2014).

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Escobar e Morillas (2015) também estudaram como o STI se relaciona com o tempo de reverberação e o ruído de fundo, concluindo que o STI é um bom parâmetro para predição de inteligibilidade da fala. Os autores destacam que problemas comuns em salas de aula de escolas primárias, mais estudadas, também ocorrem no ensino médio e em universidades, que também devem aplicar soluções para melhorias da qualidade acústica. O estudo foi realizado em salas de aula de universidades com intuito de averiguar a performance acústica destas salas, bem como o tempo de re- verberação em comparação com a inteligibilidade, caracterizada pelos parâmetros de Definição (D50) e Índice de Transmissão da Fala (STI).

O tempo de reverberação encontrado foi maior que aqueles recomendados na literatura, bem como o ruído de fundo. Foi verificado que a influência do nível de ruído de fundo no valor de STI não é tão importante quanto a do tempo de reverberação, em discordância com Rennies et al. (2014). No entanto, os autores também eviden- ciam a correlação entre o STI e a inteligibilidade da fala em testes subjetivos, indi- cando-o como bom parâmetro para predição do principal nível de inteligibilidade, que pode variar de acordo com a distância fonte-receptor.

Um estudo comparativo entre uma sala antes e depois de tratamento acústico foi realizado por Peng et al. (2015). Parâmetros objetivos e testes subjetivos foram feitos sob duas condições: sala sem tratamento acústico e sala com aplicação de forro absorvente a fim de controlar o tempo de reverberação. O tratamento acústico provo- cou melhorias significativas na sala, provocando diminuição de até 50% no Tempo de Decaimento Inicial e no Tempo de Reverberação e aumento em 70% da Definição. O STI foi melhorado em 35%. Os testes subjetivos indicaram que a percepção do ruído de fundo foi diminuída, bem como a da reverberação. Os estudantes relataram que a concentração se tornou mais facilmente atingida na sala tratada acusticamente e atin- giram níveis acima de 96% de inteligibilidade, mesmo com o ruído de fundo já exis- tente no local.

Este comparativo também foi realizado por Barretto et al. (2017) em pesquisa qualitativa e quantitativa, comparando salas tratadas e não tratadas acusticamente. O estudo quantitativo limitou-se a analisar o tempo de reverberação e o ruído de fundo das salas de aula, encontrando TR significativamente menor nas salas de aula que receberam tratamento acústico. Quanto ao ruído de fundo, a pesquisa recomenda

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estudo adicional sobre o sistema de ar condicionado. No estudo qualitativo, os autores perceberam que o requisito conforto acústico é mais importante para alunos que para professores, o que pode ser resultante do fato dos alunos assistirem aula em salas tratadas e não tratadas e constatarem facilmente a diferença que o conforto acústico promove. Também foi encontrado um alto nível de stress relatado por alunos e pro- fessores nas salas de aula não tratadas, que pode ser resultante do esforço e agitação dos envolvidos, prejudicando a aula.

Estudos recentes também consideram outros espaços de estudo além da sala de aula, como salas de estudo individual e salas de estudo coletivas, bem como a preferência dos estudantes por tais locais, como em Scannel et al. (2016) e Beckers, Van der Voordt e Dewulf (2016). Ambos trabalhos determinam que o silêncio possui importância na preferência dos estudantes pelos ambientes de estudo.

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