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2. MEMORIAL BIBLIOGRÁFICO

2.1 Legislações e normas nacionais e internacionais para salas de aula

Atualmente, no Brasil, existe apenas uma norma técnica em vigor quanto ao condicionamento acústico de ambientes diversos, sendo as outras normas e leis refe- rentes ao isolamento acústico e, consequentemente, poluição sonora. A NBR 12.179/1992, intitulada “Tratamento acústico em recintos fechados” dispõe sobre os critérios exigidos para tratamento acústico em recintos fechados, ao qual a norma de- fine como “processo pelo qual se procura dar a um recinto, pela finalidade a que se destina, condições que permitam boa audição às pessoas nele presente” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1992).

A referida norma determina que o tratamento acústico deve compreender o iso- lamento e o condicionamento acústico, sendo este último determinado pelo estudo geométrico-acústico do ambiente e o cálculo do tempo de reverberação. São fixados metodologias e valores para alguns tipos de ambiente, como auditórios e teatros, no entanto, não há determinações para salas de aula. O ambiente que mais se asseme- lha à salas de aula, dentre aqueles apresentados pela NBR 12.179/1992, é a sala de conferências, haja vista que ambos os ambientes tem a palavra falada como uso acús- tico e, em geral, apenas uma fonte sonora ativa por vez.

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Para salas de conferências, a norma determina, como pode ser visto na Figura 24, que o tempo de reverberação ótimo para salas de conferências, em volumes entre 90 a 180m³, é de aproximadamente 0,6 segundos. Este intervalo de volume do ambi- ente está sendo tomado por referência por ser facilmente encontrado em salas de aulas típicas.

Figura 24 - Tempo ótimo de reverberação a 500Hz de acordo com NBR 12.179/1992

Fonte: BISTAFA (2011)

Quanto ao ruído de fundo, a NBR 10.152 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2017) recomenda que os valores para salas de aula não ultra- passem 35dB para estudos e projetos acústicos, aceitando-se uma variação de até 5dB em casos de avaliação sonora.

Considerando que as legislações e normas brasileiras não tratam diretamente sobre salas de aulas quanto ao condicionamento acústico, foram buscadas algumas referências estrangeiras para este tipo de projetos acústicos. O Reino Unido possui duas publicações instrutivas sobre a acústica em salas de aula: Building Bulletin 93 e Acoustic of schools: a design guide, ambas publicadas em 2015. O BB93, como é

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abreviado o Building Bulletin 93, trata de valores de referência e algumas prescrições para salas de aula nos quesitos de isolamento e condicionamento acústico.

Quanto ao tempo de reverberação em ambientes de aprendizagem e estudo, o BB93 recomenda que o tempo de reverberação ótimo seja obtido através da média aritmética dos valores para as frequências de 500, 1000 e 2000Hz, chamado de Tmf e

recomendado para salas construídas, mobiliadas e desocupadas. A Tabela 3 apre- senta os valores de tempo de reverberação ótimo para salas de aula de acordo com o BB93. Estes valores são indicados de acordo com a condição da edificação e do nível de ensino (EDUCATION FUNDING AGENCY, 2015). Não são apresentados va- lores para ensino superior.

Tabela 3 - Tempo de reverberação ótimo para salas de aula, segundo Building Bulletin 93.

Tipo de sala Edifício novo Edifício reformado

Escola primária ≤ 0,6 ≤ 0,8

Escola secundária ≤ 0,8 ≤ 1,0

O BB93 recomenda que seja feito o uso do documento Acoustic of schools: design guide (2015) como guia para os projetos acústicos. Também são apresentados fatores relacionados ao isolamento e ao condicionamento acústico. No tocante ao pro- jeto de salas para a fala, esta publicação determina que um projeto acústico para salas de aula deve considerar seis fatores em sua abordagem, sendo eles: o nível de pres- são sonora interno, o tamanho e a geometria da sala (área de piso, forma da sala, volume e o tempo de reverberação ótimo para estas características), a área necessá- ria de absorção acústica necessária para atingir o tempo de reverberação ótimo, con- siderações especiais para salas não padronizadas (por exemplo, refletores e difuso- res) e o uso de sistema eletrônico de reforço sonoro.

O guia para projetos em escolas indica que adicionar materiais absorventes acústicos e diminuir a altura do pé-direito (altura do forro) normalmente reduz o tempo de reverberação e, consequentemente, eleva o grau de inteligibilidade. É explicitado que um forro absorvente suspenso pode atingir o tempo de reverberação ótimo, po- dendo ser acompanhado de painéis absorventes nas paredes para uma melhor distri- buição sonora, elevando a qualidade acústica do espaço. Outra recomendação é uti- lizar as paredes, as quais devem possuir materiais absorventes na porção superior (CANNING et al., 2015). Quando a sala possuir mais de 8,5 metros de profundidade,

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o guia recomenda a utilização de material absorvente na parede de fundo para evitar eco rebatido para a fonte sonora.

Os Estados Unidos possuem, dentre suas normas, a ANSI 12.60, intitulada “Acoustical Performance Criteria, Design Requirements, and Guidelines for Schools - Part 1: Permanent Schools”, referindo-se à performance acústica, requisitos de proje- tos e diretrizes para escolas permanentes. A introdução desta norma determina que a comunicação entre professor e aluno é essencial e que alguns requisitos devem ser cumpridos, de modo que todos sejam beneficiados numa sala de aula, incluindo pro- fessores e estudantes alunos, no caso de atendimento ao exigido pela norma. Pes- soas com problemas de audição, linguagem, fala, déficit de atenção ou dificuldades de aprendizagem, bem como crianças pequenas, são beneficiados em salas de aula com as recomendações desta norma (ANSI, 2010).

A ANSI 12.60 leva em consideração o ruído de fundo da escola em funciona- mento, porém desocupada. Isto é, considera ruídos provenientes de equipamentos, como os aparelhos de ar condicionado, e da rua, como ruído de tráfego. No entanto, não são considerados os ruídos da fala dos alunos, arrastar de cadeiras e etc., de modo que é possível analisar as condições da sala em uso (com mobiliário e equipa- mentos, porém sem ocupantes). Para medições de campo, a norma recomenda que o ambiente permaneça mobiliado conforme uso, com portas e janelas fechadas e que a edificação esteja desocupada.

Para ruído de fundo de fontes externas, a ANSI 12.60 recomenda 35dB(A) para salas menores que 283 m³, sendo o tempo de reverberação máximo permitido de 0,6 segundo para as bandas de oitava de frequência média (500, 1000 e 2000 Hz). O mesmo nível de ruído é recomendado para ruídos internos, com exceção para os apa- relhos de ar condicionado que possuem módulos variáveis de resfriamento e ventila- ção, aceitando 2dB a mais (37dB). Para os corredores de circulação são recomenda- dos até 45dB.

Quanto ao tempo de reverberação, as salas devem permitir adaptação para redução de TR em até 0,3 segundo. É recomendado que seja calculada a área de absorção necessária através da fórmula de Sabine, estabelecendo um valor ótimo para o tempo de reverberação. Superfícies refletoras devem ser passíveis de

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adaptação para receber material absorvente a fim de promover melhorias na absorção sonora. Em medições de campo pode-se considerar um desvio-padrão de ± 0,1 se- gundo em relação ao tempo de reverberação ótimo (ANSI, 2010).

O tempo de reverberação pode ser controlado numa sala de aula a partir do tratamento acústico com materiais absorventes utilizados em quantidade e locais re- comendados. Quando excessivo, o tempo de reverberação reduz o entendimento da palavra, mas também pode ser prejudicial quando inexistente, pois as primeiras refle- xões contribuem com o som direto e são essenciais para a compreensão do som (ANSI, 2010). A norma americana recomenda que seja calculado a área total de ab- sorção a ser utilizada na sala de aula, a partir da fórmula de Sabine, como supracitado. Utilizando-se os materiais existentes e seus coeficientes de absorção é possível de- terminar uma área de absorção sonora residual, definida como AR. Esta variável pode

ser determinada, de modo geral, como sendo 15% da área de piso de uma sala de aula sem tratamento acústico. A norma estabelece valores de coeficientes de absor- ção a serem utilizados de acordo com a área residual e a altura do teto para TR de 0,6 e 0,7 segundo.

Quanto às recomendações sobre locais de aplicação de material absorvente, a ANSI 12.60 define que, em salas de aula com teto de altura inferior a 3 metros, a melhor solução é instalar a maior parte, senão todo, material absorvente no forro, principalmente em salas em que a posição do professor não é definida.