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4. COMPATIBILIZAÇÃO DE PARÂMETROS ACÚSTICOS EM SALAS DE AULA

4.4 Qualidade das salas de aula na situação atual

4.4.1 Valores recomendados para os parâmetros analisados

A seguir é possível identificar, de forma mais direcionada, os valores recomen- dados para cada parâmetro, considerando as salas de aula analisadas.

4.4.1.1 Tempo de reverberação (T20)

As normas brasileiras não possuem recomendações explícitas para o tempo de reverberação em salas de aula, porém, considerando-as como salas de conferência, a NBR 12.179 (1992) recomenda tempo de reverberação ótimo entre 0,48 e 0,62 se- gundos na frequência de 500Hz para os volumes das salas analisadas (136 a 251m³), conforme destacado em azul na Figura 53. A norma americana sugere 0,6 segundo em 500, 1000 e 2000 Hz para salas com menos de 283 m³ (ANSI, 2010). Isbert (1998) recomenda, de modo geral, valores de 0,4 a 0,8 segundos como tempo de reverbera- ção ótimo para salas de aula. Long (2006) recomenda valores de 1 segundo ou menos para salas de aula e salas de leitura, indicando que, para boa inteligibilidade, deve-se buscar menos de 0,8 segundos.

Figura 53 - Tempo de reverberação recomendado para as salas de aula estudadas em 500 Hz.

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Bistafa (2011) recomenda que seja utilizado o gráfico da Figura 54 para encon- trar os valores de referência para as outras frequências, além de 500 Hz. Esta relação foi realizada a partir do valor recomendado de 0,6 segundos de tempo de reverbera- ção em 500 Hz para todas as salas, encontrando-se os valores apresentados na Ta- bela 12. Foi escolhido o tempo de 0,6 segundos por se tratar de um valor que está na faixa recomendada pelo JND, seja para mais ou para menos.

Figura 54 - Relação entre TR a 500 Hz com outras frequências sonoras.

Fonte: BISTAFA (2011)

Tabela 12 - Valores recomendados de Tempo de Reverberação a partir do valor para 500 Hz.

Frequência [Hz] 125 250 500 1000 2000 4000 8000

TR recomendado 0,9 0,7 0,6 0,6 0,6 0,5 0,5

O T20 é equivalente ao T60, já que a linearidade do decaimento é a mantida,

mas necessita de uma faixa dinâmica de medição de apenas 40dB. Considerando que os dados entre as técnicas de medição foram comparados em T20, este será o parâ-

metro utilizado ao se tratar de tempo de reverberação para a salas analisadas. 4.4.1.2 Tempo de Decaimento Inicial (EDT)

O tempo de decaimento inicial (Early Decay Time – EDT) trata do decaimento sonoro nos primeiros 10dB da queda de nível sonoro quando a fonte é emudecida, multiplicado por 6 a fim de comparação com o T60, e é um parâmetro preciso para

indicar a impressão subjetiva da reverberação de uma sala, de acordo com estudos que confirmam a sua relação com a reverberação percebida pelos usuários do ambi- ente (KUTTRUFF, 2009).

O EDT é extremamente influenciado pela posição do ouvinte na sala, já que é fortemente influenciado pelas reflexões primárias, sendo mais sensível à geometria

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da sala (KUTTRUFF, 2009). Por consequência, está completamente relacionado com a articulação da fala (ASSELINEAU, 2015), o que significa que um valor de EDT mais baixo que o tempo de reverberação indica uma impressão subjetiva melhor, isto é, melhor grau de entendimento da palavra falada que aquele indicado pelo segundo parâmetro.

Tendo em vista que o decaimento teórico da energia sonora segue um caminho exponencial e se traduz em uma linha reta de ajuste de curva, o EDT seria exatamente igual ao tempo de reverberação de uma sala, caso existisse uma difusão perfeita do som produzida por sua geometria regular, pela distribuição homogênea da energia e pela uniformidade dos materiais de revestimento. Considerando que esta é uma situ- ação hipotética, temos que os valores de EDT, em geral, são significativamente dife- rentes dos valores de TR (ISBERT, 1998). Os valores recomendados para EDT são de 50 milissegundos, segundo Mehta, Jonhson e Rocaford apud Oliveira (2017).

4.4.1.3 Relação Sinal-Ruído (SNR)

A Relação Sinal-Ruído trata da diferença entre o som emitido e o som existente no ambiente. Quanto maior essa relação, melhor a percepção do som que está sendo emitido, proveniente do professor, no caso de salas de aula. No entanto, nem sempre o ruído existente é baixo o suficiente para que o professor se faça ouvir com facilidade falando em intensidade normal (cerca de 60dB). É necessário que esta relação seja de pelo menos 10dB para que o professor não force a voz (SEEP et al., 2002).

No entanto, muitas vezes o ruído de fundo é originado na própria sala de aula através de conversas entre alunos, forçando os outros alunos a se esforçarem mais para entenderem o professor, que provavelmente fala mais alto do que deveria (BRANDÃO, 2016). A NBR 10.152 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2017) indica que o ruído de fundo em uma escola deve ser de 35dB, atingindo o nível máximo de pressão sonora de 40dB. Em caso de ambientes já exis- tentes, aceita-se uma variação de 5dB (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2017).

4.4.1.4 Definição (D50)

A Definição (D50) é caracterizada pela intensidade do som direto comparado

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medida que se aumenta a quantidade de absorção da sala, a Definição tende a cres- cer, tendo em vista o decaimento mais rápido da energia sonora na sala, o que pro- voca maior relação entre a energia no início do decaimento e a energia total (BRANDÃO, 2016).

O parâmetro D50 representa outra forma de quantificar a inteligibilidade da fala,

não considerando a contribuição do ruído de fundo para a energia prejudicial (LONG, 2006). Brandão (2016) recomenda valores acima de 0,5 para D50 em salas de aula.

4.4.1.5 Índice de Transmissão da Fala (STI)

O Índice de Transmissão da Fala (Speech Transmission Index – STI) determina quão bem é entendida a palavra através da medição da razão entre as amplitudes de modulação da fala dentro do seu espectro de frequências (BRANDÃO, 2016). Aqui serão apresentados resultados nas frequências dos principais componentes audíveis: de 125 a 8000 Hz.

Para salas de aulas, recomenda-se STI acima de 0.6 para uma boa inteligibili- dade, sendo preferível níveis acima de 0,75, que representam ótima inteligibilidade. Tais valores proporcionam boa compreensão até mesmo para alunos com dificulda- des auditivas (BRANDÃO, 2016).

4.4.1.6 Perda na articulação de consoantes (ALcons%)

O parâmetro ALcons% representa a perda na articulação de consoantes, isto é,

o quanto o ouvinte deixa de entender a palavra pela não compreensão da consoante falada. É muito mais fácil perceber o “q st snd fld” do que “eu ea eo aao” (“o que está sendo falado”) através das consoantes do que através das vogais (ERMANN, 2015).

Este parâmetro é bastante utilizado em lugares cuja principal fonte sonora é a voz não amplificada, como é o caso de salas de aulas. Everest e Pohlmann (2015) recomendam valores abaixo de 11% de perda para inteligibilidade satisfatória, limi- tando-a em 15%. Para inteligibilidade ideal, os autores recomendam menos que 3%.

4.4.1.7 Tabela-resumo dos valores ideais

A seguir, resume-se os valores ideais para os parâmetros analisados no to- cante a salas de aula.

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Tabela 13 - Valores recomendados para parâmetros analisados.

Parâmetro avaliado Valor ideal Intervalo aceitável

Tempo de reverberação (T20) ≤ 0,6 s em 500 Hz ≤ 0,8 s em 500 Hz

Tempo de decaimento inicial (EDT) ≤ 0,05 s ≤ 0,05 s

Relação sinal-ruído (SNR) ≥ 35 dB ≥ 10 dB

Definição (D50) ≥ 5,0 ≥ 5,0

Índice de transmissão da fala (STI) ≥ 0,75 ≥ 0,6

Perda na articulação de consoan- tes (ALcons%)

≤ 3 % ≤ 15 %