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Etapas no Desenvolvimento de Bioherbicidas para o Controle de Plantas Daninhas

Várias das etapas e dos cuidados básicos que devem ser tomados durante o desenvolvimento de bioherbicidas são comuns para as duas estratégias, outras se aplicam apenas para uma delas. Enumera-se abaixo as etapas comumente cumpridas para o desenvolvimento de um produto comercial.

1. Seleção da espécie de planta daninha (planta-alvo). A prioridade

deve ser dada às plantas daninhas que causem problemas suficientemente graves e de amplitude suficiente. Esse requerimento visa garantir a existência de um nicho de mercado suficiente para justificar o investimento em pesquisa e na produção comercial de um produto que, em geral será capaz de controlar apenas uma ou poucas espécies daninhas. Espécies invasoras de culturas importantes, para as quais a ocorrência de populações resistentes a herbicidas tenha se tornado comum (por exemplo, Bidens spp., Brachiaria plantaginea,

Commelina spp., Conyza spp., e Euphorbia heterophylla na cultura da soja), espécies que sejam importantes para culturas para as quais existam poucos produtos registrados (por exemplo, Cyperus spp. em hortaliças) ou que infestem áreas onde a aplicação de herbicidas químicos é proibida ou desaconselhada (plantas invasoras em ambientes dulcícolas) são alvos favoráveis para o desenvolvimento de bioberbicidas. Muitos produtos pioneiros na área foram desenvolvidos sem que sua viabilidade comercial fosse considerada, o que comprometeu, em certa medida, a imagem dos bioherbicidas.

2. Revisão da literatura sobre a planta-alvo e seus inimigos naturais. 3. Levantamento dos inimigos naturais presentes nas regiões onde o problema está ocorrendo. Trata-se de etapa fundamental em programas de

desenvolvimento de bio-herbicidas, pois estes, usualmente, têm como alvo plantas nativas que tiveram sua população aumentada anormalmente em função de alguma alteração do ambiente (práticas agrícolas, poluição de ecossistemas aquáticos ou outras). É com os patógenos endêmicos (que estão presentes nas regiões onde ocorrem as infestações, mas são ineficientes no controle da planta-alvo se não houver uma intervenção artificial), que se busca desenvolver estes produtos. Nesta fase, o trabalho é comumente feito com financiamento governamental ou então com recursos próprios. Efetuam-se prospecções visando detectar a ocorrência de organismos com potencial para o desenvolvimento de um bioherbicida, ou confirmar a existência desses organismos, previamente indicada pela informação disponível na literatura. Depois da obtenção de evidências de que esta abordagem tem potencial para o controle de determinada planta-alvo, busca-se então parcerias com investidores privados.

4. Obtenção do financiamento para o projeto. A estratégia de

bioherbicida visa ao desenvolvimento de produtos que podem ser patenteados, registrados, produzidos industrialmente e comercializados. Embora possam ser lucrativos, enquanto não houver exemplos disponíveis de expressivo sucesso comercial para os bioherbicidas, é improvável que as grandes empresas se envolvam diretamente no desenvolvimento destes produtos. Restam, como possíveis patrocinadores, instituições governamentais, pequenas empresas, cooperativas ou outras associações de produtores que estejam expostos a problemas específicos com uma espécie de planta daninha determinada e se vejam motivadas a investir para a resolução do problema.

5. Identificação dos organismos coletados.

6. Esclarecimento de aspectos relevantes da biologia e do ciclo de vida do organismo.

7. Avaliação do potencial para uso como agente de controle biológico. É

feita, à semelhança do descrito para os programas de controle biológico clássico, mas a preferência é dada aos patógenos passíveis de isolamento e cultivo em meio de cultura, pois é apenas com esses que a produção massal e o desenvolvimento de um produto comercial são viáveis.

8. Avaliação da especificidade. Esta também é uma etapa comum às

duas estratégias, e o protocolo descrito é aplicado na avaliação de organismos passíveis de serem utilizados como bioherbicidas. Um agente de controle biológico ideal deve ter largo espectro dentro dos diversos biótipos da espécie que se pretende controlar. Este leque pode inclusive ser mais extenso, envolvendo outras plantas além do alvo original. O grau de exigência quanto à especificidade do patógeno é mais flexível para o caso dos bioherbicidas, pois nesta estratégia não há a introdução de um patógeno exótico para o país nem os riscos decorrentes desta operação. Assim, as restrições quarentenárias usualmente inexistem ou são menores. Os cuidados principais devem ser quanto à possível infectividade do patógeno para a cultura onde o bioherbicida será aplicado e outras culturas que possam ser expostas. Um exemplo conhecido de fungo inespecífico utilizado como micoherbicida é o de Chondrostereum purpureum utilizado para o controle do arbusto invasor Prunus serotina e outras plantas lenhosas infestantes de reflorestamentos. Trata-se de um patógeno capaz de atacar plantas cultivadas do gênero Prunus. No entanto, estudos epidemiológicos demonstraram que, guardada uma distância de segurança em relação aos pomares de ameixa, pêssego e outras rosáceas suscetíveis, o seu uso e seguro. Assim, um produto foi desenvolvido (BioChon®) e comercializado na Holanda. A experiência foi mais tarde reproduzida em outros países com bons resultados (Jong, 2000).

9. Determinação das condições exigidas pelo organismo para crescimento, esporulação, estabelecimento de infecção e produção de doença em níveis de severidade adequados para o controle da planta daninha. Este é

um conjunto amplo de testes que deve ser realizado para uma completa avaliação do organismo sob condições controladas. A influência de condições ambientes (temperatura, fotoperíodo, umidade) sobre o desenvolvimento do fungo, isoladamente ou interagindo com a planta, deve ser determinada. O estabelecimento da concentração de inóculo, necessária para a produção de níveis de severidade de doença e de controle adequados e o efeito do agente sobre plantas em suas diversas fases de desenvolvimento (comumente incluindo o efeito sobre as sementes) são aspectos que também costumam ser investigados.

10. Estudos de compatibilidade com herbicidas e adjuvantes e testes de formulações.

11. Determinação da viabilidade do patógeno durante o armazenamento sob diversas condições (vida de prateleira).

12. Desenvolvimento de método adequado para a produção massal do organismo.

13. Demostração da eficiência do pré-produto em condições de campo.

14. Obtenção de registro e licenciamento do produto. Envolve uma série de

providências determinadas na legislação e pelas quais devem ser apresentados testes de eficiência agronômica, avaliação toxicológica e ambiental. Esta questão, embora de grande relevância, não será tratada neste texto.

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