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3. EU NÃO PEDI PARA NASCER: o papel da publicidade televisiva na manutenção de

3.1 Eu tô curando a ferida: o poder simbólico e o espectador não-emancipado

O título desta seção, além de estar associada à música tema do comercial de O Boticário para o dia dos Namorados de 201517, (Toda forma de amor, Lulu Santos, 1988), busca fazer referência àquilo que identificamos como uma prática social de julgamento e de condenação destinada a indivíduos homoafetivos.

Esta penalidade imposta por sujeitos que se encontram em posição de dominação, é atravessada por valores que estão intrinsecamente enraizados na hegemonia social conservadora, principalmente, no tocante a certo tipo de distinção para com orientações ou identidades de gênero consideradas subversivas, dissidentes.

A fundamentação desses preceitos resvala não apenas na construção imagética do homossexual na sociedade, mas também na interpretação da concepção de relacionamentos afetivos entre pessoas do mesmo sexo, sobretudo, entre homens. De forma que esses relacionamentos são interpretados como algo anômalo.

Este é um dos pontos que o filme de O Boticário aborda quando apresenta em seu comercial Todas as formas de amor, casais homossexuais, em uma data que é historicamente concebida para celebrar o amor entre os pares - majoritariamente aquelas que correspondem à sexualidade binária - de maneira a romper com a ideia hegemônica de que relacionamentos afetivos, estáveis, saudáveis e socialmente aceitáveis são apenas formados por homens e mulheres.

No sentido da presença da heterossexualidade em filmes e campanhas publicitárias como fator preponderante para a comemoração da referida data, Baliscei e Teruya (2017) fornecem contribuições com as quais coadunamos, quando indicam que: “Entendemos que os previsíveis finais felizes operam como estratégias para legitimar as identidades sociais que são convenientes, isto é, as hegemônicas - neste caso, as heterossexuais. (BALISCEI E TERUYA, 2017, p. 112)”.

Oportunamente, transcrevemos a seguir a letra da composição:

Eu não pedi pra nascer Eu não nasci pra perder Nem vou sobrar de vítima Das circunstâncias

Eu tô plugado na vida Eu tô curando a ferida Às vezes eu me sinto Uma mola encolhida

Você é bem como eu Conhece o que é ser assim

Você não leva pra casa E só traz o que quer Eu sou teu homem Me diz você... qual é?

E a gente vive junto E a gente se dá bem Não desejamos mal a quase ninguém E a gente vai à luta E conhece a dor Consideramos justa toda forma de amor

A partir dos seguintes trechos da canção: “eu não pedi pra nascer (...) nem vou sobrar de vítima das circunstâncias” e “eu tô curando a ferida, às vezes eu me sinto uma mola encolhida”, podemos inferir que há a representação de um reconhecimento e enfrentamento das construções sociais que categorizam sujeitos homossexuais como vítimas da patologização de sua própria sexualidade, principalmente no que tange à relacionamentos homoafetivos.

Isto, levando em consideração tanto a formação católica e protestante do Brasil, como a onda de conservadorismo que venm tomando o país espelhando a época da Ditadura Militar, regime que teve o apoio de pessoas que consideravam casal apenas homem e mulher e viam na família uma constituição engessada e formada apenas por um homem, uma mulher e filhos.

O autor da composição, numa estrutura que, na nossa compreensão, promove um diálogo com outro sujeito, sinaliza não só a empatia do seu interlocutor aos reveses por ambos compartilhados, mas também o fato de que partilham dos mesmos sentimentos.

Isto nos foi possível interpretar no verso “você é bem como eu, conhece o que é ser assim”, mencionado imediatamente após o verso em que o eu lírico da canção diz sentir-se como uma “mola encolhida”.

Considerando nossa interpretação, a sensação de sentir-se como uma “mola encolhida”, diz respeito às possibilidade de existência desse sujeito, já que uma mola só está encolhida quando sobrepujada ou comprimida por uma força maior que a sua constante elástica - na física conhecida como tensão negativa18-, e que se vincula perfeitamente com o que apresentamos até agora a respeito da posição proscrita que o homossexual ainda ocupa na sociedade.

Nesse sentido, a escolha de Toda forma de amor para compor a trilha sonora do comercial televisivo de O Boticário, nos faz empreender uma reflexão acerca dos aspectos subjetivos deste filme, o que faremos mais adiante, no quarto capítulo.

Previamente, é importante evocarmos o conceito do “espectador não-emancipado”, de Rancière (2010), para tratar de alguns aspectos relativos ao comportamento desta audiência, frente a sua reação ao referido comercial.

Antes de prosseguirmos, no entanto, vale salientar que embora realizemos uma tratativa acerca do comportamento do telespectador especificamente relacionado a este filme publicitário, não almejamos, neste estudo, enveredar pelo viés da recepção. Para isto, seria necessário revisar os objetivos da presente pesquisa e, principalmente, os contornos do objeto em análise.

Apesar do título da obra (O Espectador Emancipado) fazer referência à independência do espectador, a reflexão de Rancière (2010) aborda, em suma, a passividade da audiência frente às questões que lhe são expostas. Para isto, o autor leva em consideração não apenas produções ficcionais com a finalidade de entretenimento, mas questões práticas da vivência diária e que permeiam a rotina dos indivíduos.

Entre estas questões figuram aspectos sociais, econômicos e políticos considerados, em sua maioria, como de interesse do corpo social, principalmente por exercerem influência nas dinâmicas das relações, das construções e das significações das experiências sociais entre sujeitos.

Apesar dessa não emancipação conceituada por Rancière (2010), é relevante para nossa pesquisa destacar que as objeções ao comercial que analisamos não caracterizam passividade; ao contrário, caracterizam reação, resposta, resistência.

Esta constatação pode elucubrar um questionamento acerca dos caminhos que nossa pesquisa tem percorrido até aqui, já que questionamos a falta de reação do espectador frente a representação estereotipada do homossexual na publicidade, e estas objeções representam evidentemente algum tipo de reação.

A diferença, afinal, reside não na reação em si, mas nas dinâmicas sociais que provocam um tipo muito específico de comportamento. Quando o homossexual é representado pelo viés do humor, não há declaradamente objeções a sua presença na publicidade televisiva, ou nos demais programas da grade televisiva, ao contrário, sua presença é recebida com empatia e boa aceitação do público. Isto é por nós reconhecido como uma não-reação, pois quando essa mesma representação se dá fora do local comum da estereotipia, as objeções se tornam não só evidentes, mas aparecem em largas proporções.

Propriamente por conta das não-reações, os indícios levantados por Rancière (2010) são muito pertinentes para analisarmos como uma posição passiva frente às produções sociais e também televisivas fornecem a determinados sujeitos um poder que apesar de simbólico, exerce significativa influência no território da realidade. Daí a importância do conceito estabelecido por Bourdieu (2004).

Embora este poder relacionado aos conceitos de reencontro, estruturação e tomada de sentido dos fenômenos seja oriundo do campo da psicanálise, e apesar de evocar a construção da ideia de poder como um dos três registros essenciais (juntamente com o real e o imaginário), segundo Lacan (1985), convém informarmos aos nossos leitores, que não há pretensão de adentrar as vertentes da psicanálise neste trabalho.

Dito isto, o viés que será abordado, no que tange ao conceito do poder simbólico, está diretamente ligado às questões de natureza sociais pontuadas por Bourdieu (2004) em sua obra, tanto no que diz respeito ao exercício do poder, como naquilo que se desdobra na construção e manipulação do campo simbólico.

Em relação ao simbólico, Bourdieu (2004) afirma que este campo é:

(...) Uma espécie de círculo cujo centro está em toda parte e em parte alguma – é necessário saber descobri-lo, onde ele se deixa ver menos, onde ele é mais completamente ignorado, portanto, reconhecido: o poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem. (BOURDIEU, 2004, p. 7-8).

Assim, além de existir e ser real, esta estrutura, embora invisível, não só funciona como trabalha com a anuência daqueles que apesar de serem por ela influenciados, não se dão conta deste fato. Esta estrutura pode, inclusive, nos levar a crer que o campo do poder simbólico, no máximo exercício de sua potência pode se aproximar do conceito de alienação19.

Entendemos que a anuência em questão pode ser concebida por duas vertentes: a) pela falta de tradição na formação dos sujeitos, em sociedades desiguais e injustas como a nossa, o que implica diretamente no desenvolvimento do raciocínio lógico/racional e da consciência crítica; b) não por ausência ou esvaziamento de espírito crítico, mas porque questionar esse poder, pode lançar o sujeito ao risco de perder a segurança de suas convicções, ou até mesmo desestruturar conceitos construídos, alicerçados e enrijecidos, ao longo de décadas, acerca da vida em sociedade em seus mais diversos aspectos.

No que diz respeito à sociedade brasileira, acreditamos que as duas possibilidades são possíveis e presentes na dinâmica do nosso imaginário social. No sentido dessas dinâmicas sociais, que em sua maioria são plurais e não coesas, o filósofo argelino indica aspectos da passividade do indivíduo no desempenho de seu papel como telespectador, nos provocando a refletir sobre esta não-construção da independência intelectual do sujeito social, de forma que

quanto mais nos aprofundamos, mais compreendemos o sentimento de incômodo que é pelo autor apontado no decorrer da obra.

Este incômodo é descrito por Rancière (2010) como a falta de iniciativa da audiência em buscar compreender o que há oculto na construção e na significação das aparências que lhe são apresentadas, através de representações e reflexos da sua própria realidade. Isto é reforçado por Cunha (2015) em resenha realizada sobre a obra de Rancière (2010), quando nos leva a penssar sobre a “ausência de relações evidentes entre reflexões sobre a emancipação intelectual e a questão do espectador nos dias de hoje” (CUNHA, 2015, p. 207).

Esta ponderação nos permite pensar também, no que diz respeito à permanência deste público na imobilidade frente ao processo de recepção de determinados produtos televisivos, posto que a televisão não trabalha descolada da realidade; o que ocorre é um processo de retroalimentação no qual a mídia tanto incorpora valores sociais, como também ajuda a instituí- los ou ainda a abalá-los, extingui-los.

Diante disso, essa imobilidade seria, não fruto de uma preferência ou escolha, mas de um assujeitamento desses indivíduos, no que diz respeito a “um modelo global de racionalidade sobre cujo fundo já acostumamos a julgar as implicações políticas em favor de uma reorganização dos corpos nas várias formas e instâncias” (CUNHA, 2015, p. 207).

Temos ciência que existem outros atores, sujeitos, conceitos e produções sociais que exercem influências no corpo social, de forma que não temos intenção de colocar a televisão ou ainda a Indústria Cultural num espaço de total responsabilidade pela institucionalização desta padronização. Entretanto, é de suma importância consideramos que:

Neste sentido, no que afere à sexualidade, o controle exercido por meio das mídias, dentre elas, a publicidade, contribui, ainda hoje, para que gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, assexuais e pansexuais sejam considerados/as desviantes. (BALISCEI E TERUYA, 2017, p.112)

Portanto, julgamos necessário, ainda que de forma panorâmica, discutir as influências que a Indústria Cultural tem exercido desde a Revolução Industrial – principalmente, através da televisão - nas dinâmicas da sociedade.

Cunhada como conceito em 1940, por Adorno e Horkheimer, na obra Dialética do Esclarecimento, a Indústria Cultural possui desdobramentos que envolvem diversos campos como o da comunicação, da cultura e do consumo.

Além disso, inclui a Comunicação de Massa, como locus e agente para a solidificação, no tecido social, de expressões culturais que são produzidas com o objetivo de alcançar a maioria da população.

É importante salientar que na concepção de Adorno (1996), no interior da Indústria Cultural, o homem era visto como objeto, mero instrumento de trabalho e de consumo. Este conceito dialoga com o pensamento de Rancière (2010), visto que identifica o sujeito como produto do meio, manipulado para agir de acordo com a ideologia dominante. Adorno e Horkheimer pontuam que:

(...) Ultrapassando de longe o teatro de ilusões, o filme não deixa mais à fantasia e ao pensamento dos espectadores nenhuma dimensão na qual estes possam, sem perder o fio, passear e divagar no quadro da obra fílmica permanecendo, no entanto, livres do controle de seus dados exatos, e é assim precisamente que o filme adestra o espectador entregue a ele para se identificar imediatamente com a realidade. Atualmente, a atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural não precisa ser reduzida a mecanismos psicológicos. Os próprios produtos (...) paralisam essas capacidades em virtude de sua própria constituição objetiva (ADORNO & HORKHEIMER, 1996, p. 119).

Embora tenham sido publicadas em momento diferentes, a obra de Adorno e Horkheimer (1996), bem como a de Rancière (2010) abordam o consumidor cultural como um espectador adestrado. Através da alusão à um filme, ambos indicam o movimento de características de dominação aliados aos interesses do capital para construir um sistema dominante.

Adorno e Horkheimer ainda sublinham que “o terreno no qual a técnica conquista seu poder sobre a sociedade é o poder que os economicamente mais fortes exercem sobre a sociedade. A racionalidade técnica hoje é a racionalidade da própria dominação” (ADORNO & HORKHEIMER, 1996, p. 114).

Fato que nos leva a crer que o poder exercido pela Indústria Cultural na estrutura da Comunicação de Massa, ainda que concebido, gestado e existente apenas no campo do simbólico, fornece aos agentes detentores desta potência a possibilidade de exercer influências na construção das percepções e interpretações dos sujeitos sobre suas visões de mundo.

Perceber o uso das produções simbólicas como instrumento de perpetuação hegemônica faz parte da interpretação realizada por Bourdieu (2004), com o objetivo de compreender como esta força se dá e funciona mediante as construções socioeconômicas, em uma população ainda norteada e oprimida por conceitos conservadores e patriarcais, já que este controle, tende a provocar reações e lutas simbólicas, nas quais:

(...) as posições sociais que se apresentam ao observador como lugares justapostos, parte extra parte em uma ordem estática, formulando a questão

inteiramente teórica dos limites entre os grupos que os ocupam, são inseparavelmente localizações estratégicas, lugares a defender e conquista em um campo de lutas. (BOURDIEU, 2014, p. 229)

Tais estratégias elaboradas por um poder dominante podem ser utilizadas, a fim de influenciar as interpretações dos receptores em qualquer âmbito social, inclusive resvalando naquilo que poderia ser o entendimento do que é o indivíduo homossexual. Isto ocorre porque esta força vem sendo utilizada também com o intuito de normatizar e regular o sujeito social, de forma que sua identidade seja única e exclusivamente definida por uma (cis)temática binária de sexo/gênero, evitando e condenando a aceitação social de identidades consideradas como “desviantes”.

O lugar da binaridade seria, então, o local defendido pela hegemonia masculina. Bourdieu (2014) ainda elucida que estes poderes “constituem armas e pretextos de luta entre classes”, sinalizando que tamanho embate tem o objetivo de exercer uma “relação de poder e de luta pelo poder que se encontra no princípio das distribuições”. (BOURDIEU, 2014, p. 230). Falar de binaridade é adentrar no campo da dominação masculina, o que torna praticamente impossível não nos embrenharmos em discussões que abrangem as transformações sociais da atualidade, no que diz respeito ao feminino, as lutas feministas por equidade e as identidades de gênero e orientações sexuais que fogem desse padrão dual.

Aqui, para melhor esclarecimento, é importante definirmos o que seriam identidades de gênero e orientações sexuais consideradas como “desviantes”. Essas identidades e orientações fogem do padrão binário estabelecido e desta forma são utilizadas como senso de distinção.

Apesar de serem conceitos diferentes, relacionados aos estudos de gênero, movimentam-se por significações sociais que estão categorizadas em um mesmo campo de não aceitação:

(...) aqueles que atravessam as fronteiras de gênero ou de sexualidade, que atravessam ou que, de algum modo, embaralham e confundem os sinais considerados próprios (...) são marcados como sujeitos diferentes e desviantes. (LOURO, 2003, p. 91)

Logo, são indivíduos que não se encaixam na normatização e regulação binária de gêneros, sexos ou orientações sexuais definidas em uma sociedade norteada por padrões unicamente heterossexuais e heteronormativos. Desta forma, há uma vontade social pelo exercício de controle desses corpos, que são por definição hegemônica, “corpos estranhos”.

A espinha dorsal deste controle estrutura-se em todos os pontos-comuns que os agentes de dominação (estado, igreja, sociedade conservadora heteronormativa, etc.) conseguem

identificar no tecido social, de forma a normatizá-lo, dominá-lo e influenciá-lo de acordo com os interesses destes agentes.

Partindo daí, é possível entender que existe por parte de uma sociedade moral, simbólica e fisicamente patriarcal, androcêntrica e heteronormativa, a necessidade de manter certos padrões que foram definidos, configurados e perpetuados ao longo do tempo. Dentre estas configurações estabelecidas como padrões, figura o da sexualidade.

Para tanto, é importante que entendamos estes enrijecimentos morais e como funcionam enquanto sistemas sociais. No patriarcado, homens adultos mantêm o poder primário e predominante no exercício de funções de liderança política, autoridade moral, privilégio social e controle das propriedades.

No domínio da família, o pai (ou figura paterna) mantém a autoridade sobre as mulheres e as crianças. Está diretamente ligado com o androcentrismo, que seria a postura segundo a qual todos os estudos, análises, investigações, narrações e propostas são enfocadas a partir de uma perspectiva determinantemente masculina.

A exemplo disto, Colling (2007) aponta em uma de suas pesquisas, sinais desta normatização heterossexual, tanto no que diz respeito a questões de gênero como ao que está diretamente ligado à representação homoafetiva na televisão através do produto audiovisual.

Através da análise realizada não somente por Colling (2007), mas também por Silva (2015), é possível afirmar que o paradigma social pré-concebido e perpetuado pela sociedade relacionado à homossexualidade, se desdobra em questões ligadas a outras temáticas que são abordadas quando o assunto permeia as questões de gênero, a exemplo do feminismo.

No entanto, esta pesquisa irá se ater apenas ao que está ligado à homossexualidade, buscando compreender os processos históricos da sua relação com a sociedade brasileira, ao longo dos séculos e quais foram/são os desdobramentos dessa relação. Entendemos, a partir destas diversas informações e de pesquisas anteriormente executadas (Reis, 2015; Arreas, 2018; Bourdieu, 2014; Butler, 2016;), que muitos setores da sociedade, bem como vários agentes se utilizam desta forma de domínio, visando seus próprios interesses.

Dito isso, resgatamos a discussão não somente no tocante ao alcance da potência desta dominação, mas também o poder simbólico exercido pela Indústria Cultural através da Comunicação de Massa.

Em relação à homossexualidade, esta força é utilizada para manter os indivíduos identificados como “desviantes” à margem dos processos de inclusão social e de legitimação,

como bem asseverou Everardo Rocha (1995). Este viés da Indústria Cultural é “seguramente, o mais impressionante sistema simbólico do nosso tempo”. (ROCHA, 1995, p. 53).

Devemos atentar para o fato de que a questão levantada não está fundamentada apenas no questionamento da responsabilidade da televisão na construção de um lugar de exclusão – que pode também ser interpretado como uma margem no que diz respeito aos locais de fala e vivência destes indivíduos – mas, sim no seu papel em manter estereótipos negativos, que relegam estes sujeitos ao território da invisibilidade. Como bem assevera Butler:

A questão não é permanecer marginal, mas participar de todas as redes de zonas marginais geradas a partir de outros centros disciplinares (...) A complexidade do conceito de gênero exige um conjunto interdisciplinar e pós- disciplinar de discursos, com vistas a resistir a domesticação acadêmica dos estudos sobre gênero (...) (BUTLER, 2016, p. 13)

A domesticação referida pela autora passa a não ser restrita à academia, mas também pode ser ampliada às dimensões da prática produtiva e receptiva da televisão. Considerada como o maior veículo de Comunicação de Massa, a televisão trabalha, mesmo que de forma sutil, a favor da manutenção e solidificação de características pejorativas e degradantes de um grupo social em particular.

Sendo a televisão ainda o maior veículo de comunicação de massa no Brasil, presente em 98% dos lares brasileiros (IBGE, 2014), exerce um poder influenciador sólido – ainda que no campo do simbólico – na construção e difusão de hábitos, estilos de vida, visão de mundo e opiniões do indivíduo social.

O significado simbólico que o aparelho televisor e seus mais variados produtos