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EUTANÁSIA E MORTE MISERICORDIOSA

No documento Amar É Sempre Certo 1 (páginas 170-173)

O pai de Carlos Velasquez, com o cérebro lesado já está morto, para todos os propósitos práticos. A atitude amorosa é preservar a vida do homem ou deixá-lo ir? Uma vítima de acidente fica presa numa massa ardente de metal amassado, enquanto um policial assiste a tudo sem saber qual a ação a tomar. Gritando de dor, a vítima suplica ao guarda que atire nela e termine o seu tormento. O amor não exige que ele acabe com a agonia dessa pessoa? Uma mulher idosa, que já sofreu lapsos de memória e de orientação, fica sabendo que sofre da doença de Alzheimer. Anos antes, ela e o marido haviam concordado que a morte com dignidade valia mais para eles da que uma vida sem qualidade. Ela pede ao marido que a leve a um médico conhecido que pratica o suicídio assistido. Ele não está agindo com amor ao salvá-la da humilhação e despesas de uma vida prolongada e sem sentido?

Se não é um ato de amor tirar a própria vida pelo suicídio, certamente também não é ajudar outrem a cometer suicídio. O amor

exige que os doentes terminais sejam tratados com toda a piedade possível, mas não que tiremos a vida da pessoa mesmo que ela nos peça.

O amor tem um remédio melhor do que tirar a vida para expressar misericórdia aos agonizantes. Provérbios 31:6 ensina: "Dai bebida forte aos que perecem, e vinho aos amargurados de espírito". Em outras palavras, medicamentos para abrandar a dor, sedativos e tranqüilizantes são a resposta misericordiosa e amorosa aos que estão morrendo e sofrendo, e não o suicídio assistido. Levar consolo aos que estão morrendo não só expressa misericórdia, como também reconhece a soberania de Deus que disse: "Eu mato, e eu faço viver; eu firo, e eu saro; e não há quem possa livrar alguém da minha mão" (Deut. 32:39). O Deus de amor é soberano sobre a vida humana. Jó disse a respeito dEle:

"O Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor"

(Jó 1:21).

A eutanásia e o suicídio assistido, como são chamados, nunca são manifestações de amor. Mas o que dizer da morte misericordiosa – permitir que o doente terminal expire em paz sem nenhuma intervenção heróica e não natural? A Bíblia não obriga o cristão a perpetuar a vida o mais possível. Permitir que alguém morra misericordiosa e naturalmente pode ser uma alternativa amorosa, enquanto bombear milhares de dólares e energia nos casos terminais pode ser uma forma de agir bem pouco amorosa. Nosso ponto de vista deve ser o de preservar a vida, e não prolongar a morte. Injetar medicamentos para causar ou apressar a morte é uma coisa – e algo também moralmente errado. Mas não prover remédios ou aparelhos que prolonguem artificialmente a morte é outra bem diferente e algo moralmente certo. Em resumo, eutanásia – não!

Morte misericordiosa – sim.

Mas, quando desligar os aparelhos e quem decide? Como saber quando um caso é terminal? Os milagres não são sempre possíveis, caso não sejam resultado da ciência médica, pelo menos da mão de Deus?

Estas são perguntas muito práticas e importantes e o amor deve pesar as alternativas com cuidado e responsabilidade.

Quando estamos justificados a permitir que alguém morra suspendendo os meios de ele sobreviver? O conceito de terminalidade tem dois aspectos para o cristão. Primeiro, implica que não há esperança de recuperação na medicina, conforme determinado pelas melhores autoridades médicas disponíveis. Segundo, significa que não há esperança espiritual de cura. Deus foi consultado fervorosamente em oração, segundo Tiago 5:13-16 e a recuperação milagrosa foi solicitada repetidamente (2 Cor. 12:7-9). Mas, quando tanto os diagnósticos médicos como as perspectivas espirituais não indicam esperança, e quando uma margem de erro foi devidamente concedida, o amor permite que os meios de apoio para a vida sejam removidos e uma morte natural, sem dor, misericordiosa, ocorra.

Quem deve decidir? Deve ser uma decisão conjunta. Os desejos expressos do moribundo, o conhecimento dos médicos e o conselho do pastor devem ser solicitados e considerados para a decisão final da família. Existe maior probabilidade de que o amor seja expresso sabiamente numa decisão coletiva e menor possibilidade de que alguém tenha de suportar sozinho a culpa que pode surgir. (Não existe culpa moral porque a morte misericordiosa nessas circunstâncias é a ação correta.)

O princípio de valor que se aplica aqui é: Tirar a vida de outrem em nome da piedade não é uma manifestação de amor mas permitir que uma pessoa com uma doença terminal morra naturalmente demonstra piedade e amor.

SACRIFÍCIO DA VIDA E SACRIFÍCIO MISERICORDIOSO Sete pessoas estão à deriva num barco salva-vidas em águas infestadas de tubarões. O barco está afundando por causa do peso e, se o socorro não vier a tempo, as sete irão afogar-se ou virar comida de tubarão. É certo sacrificar algumas vidas para salvar as demais? Ou deve-se deixar que todos morram? Qual é a atitude de amor?

É claro que todos os esforços devem ser feitos para salvar a todos.

Talvez os que estejam em condições devam ficar um pouco na água, agarrados ao barco. Mas, suponhamos que mesmo assim eles não suportem toda a carga? Então, se houver cristãos a bordo, esta é uma excelente oportunidade para o amor abnegado que Cristo demonstrou por nós: "Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos" (João 15:13). Se não houver voluntários, então os princípios da providência podem ser usados. Provérbios diz: "A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda decisão" (16.33).

Foi assim que os marinheiros da antigüidade decidiram lançar Jonas ao mar (Jonas 1:7). A Bíblia declara que a sorte deve ser usada em assuntos importantes (Prov. 18:18). Ou, em iguais circunstâncias, pode ser determinado quem, na providência de Deus, foram os últimos a entrar no barco. É claro que alguém como o capitão, cujos conhecimentos marítimos podem ser necessários para salvar os outros, não deve ser sacrificado. Mas, quando não há alternativa, a opção amorosa não é permitir que todos morram por causa de alguns que sobrecarregam o barco.

Considere outro exemplo de sacrifício misericordioso que pode estar mais próximo. Um homem enlouquecido, com uma arma automática, entra num shopping movimentado e abre fogo ao acaso. Em nome da piedade pelos muitos inocentes, o amor pode exigir o sacrifício do culpado. Uma vez esgotados todos os métodos preventivos ou persuasivos, atirar para ferir ou matar o louco antes que ele machuque mais pessoas pode ser a atitude mais amorosa a tomar.

Ocorrências como essas, em que o sacrifício misericordioso deva ser considerado, são extremamente raras, mas elas ilustram que às vezes o amor pelos outros pode ser tudo menos brando.

No documento Amar É Sempre Certo 1 (páginas 170-173)