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3. Abordagem Centrada na pessoa com demência: Aplicação e Avaliação

3.1 A evolução da Abordagem centrada na Pessoa com demência: De Kitwood a

demência: De Kitwood a Brooker

Na década de 90, Tom Kitwood rompia com os paradigmas de prestação de cuidados instituídos, ao apresentar o “Enriched Model of Dementia Care”, um Modelo Biopsicossocial de Bem-estar em demência. (Kitwood, 1993)

Sob a forma de equação, Tom Kitwood apresentava os diferentes fatores que contribuem para o processo de demência e para o bem-estar que a pessoa com demência pode sentir, apesar do diagnóstico:

D= P+B+H+NI+SP

Sendo que cada letra da equação representa o seguinte:

P = Refere-se à Personalidade, incluindo aspetos como os estilos de coping em momentos de crise, perda e mudança; as defesas contra a ansiedade e a abertura a receber a ajuda de outros.

B= Refere-se à Biografia, em particular às vicissitudes do final de vida.

H = Refere-se ao estado de Saúde Física, incluindo a acuidade dos sentidos (ex. audição e visão)

NI= Refere-se ao Distúrbio Neurológico, dependendo da sua localização, tipo e intensidade e reduzindo a capacidade de armazenamento e processamento da informação, planeamento, etc.

SP= Refere-se à Psicologia Social que constrói a rede da vida do dia-a-dia, e, aumenta ou diminui a sensação de segurança e de valor do indivíduo.

74 Apesar de, aparentemente, ser simplista, esta equação permite-nos considerar todos os fatores que estão “em jogo” durante o processo demencial.

Brooker (2004) seguindo a mesma estratégia de Kitwood, adotou o acrónimo VIPS (Very Important Persons) para descrever os vários elementos que compõem a Abordagem centrada na pessoa com demência, servindo também, segundo a autora, para definir facilmente o resultado dos cuidados centrados na pessoa com demência. (Brooker D. , 2007, p. 13)

Assim, os cuidados centrados na pessoa com demência são constituídos por quatro elementos: (Brooker D. , 2004, p. 16)

V = Valorizar as pessoas com demência e as pessoas que lhes prestam cuidados; promover os seus direitos e cidadania independentemente da idade ou do défice cognitivo.

I = Abordagem Individualizada; tratar as pessoas como indivíduos; apreciar que todas as pessoas com demência têm uma história, personalidade, saúde física e mental, recursos sociais e económicos únicos e que estes irão influenciar a sua resposta ao distúrbio neurológico.

P = Olhar para o mundo através da Perspetiva da pessoa com demência reconhecendo que a experiência de cada pessoa tem a sua validade psicológica, que a pessoa com demência age segundo a sua perspetiva e que empatizar com esta perspetiva tem um grande potencial terapêutico.

S= Reconhecer que toda a vida humana, incluindo a das pessoas com demência, é baseada em relações e que as pessoas com demência necessitam de um ambiente Social rico e diversificado que consiga, ao mesmo tempo, compensar os seus défices e dar oportunidade para o crescimento pessoal.

Brooker (2007) chamou a estas quatro partes, “elementos dos cuidados centrados na pessoa”, reconhecendo que cada um deles, podem e existem separadamente, mas, quando são postos em conjunto, definem a poderosa cultura (powerful culture) da prestação de cuidados centrados na pessoa com demência.

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3.1.1 Personhood: Um conceito operatório

Este é o conceito central de toda a teoria proposta por Tom Kitwood: “a standing or status that is bestowed upon one human being, by others, in the context of relationship and social being. It implies recognition, respect and trust” (Kitwood, 1997a p8),constituindo igualmente o objetivo principal da Abordagem centrada na Pessoa com Demência, manter este estatuto face ao declínio das suas capacidades cognitivas (Brooker, La Fontaine, De Vries, Porter, & Surr, 2011).

Nos debates acerca do personhood existem, de grosso modo, dois campos: Os que acreditam que os indivíduos são pessoas devido a algumas capacidades que possuem – (Personalismo) e os que acreditam que qualquer ser humano, mesmo que lhe faltem algumas capacidades, é uma pessoa e tem direito a ter uma vida. (Fleischer, 1999)

Na mesma época em que Kitwood desenvolvia a sua teoria de personhood, o debate era dominado pelos que estavam no campo do personalismo: (Baldwin & Capstick, 2007) “ Eu acredito que severamente demenciados, enquanto, claro, se mantem membros da espécie humana, aproximam-se mais da condição de animais to que dos humanos normais nas suas capacidades psicológicas. Em alguns aspetos os severamente demenciados são ainda pior do que animais como os cães ou os cavalos, que conseguem ter comportamentos integrados e orientados para um objetivo que os severamente demenciados não têm. A demência que destrói a memória dos severamente demenciados, destrói as capacidades psicológicas de criar ligações através do tempo que estabelecem um sentido de identidade pessoal ao longo tempo. Assim falta-lhes personhood.”12( in (Baldwin & Capstick, 2007, p. 176)

12 Brock, D. (1993) Life and Death: Philosophical essays in biomedical ethics. Cambridge: Cambridge

76 O trabalho de Kitwood sobre personhood ajudou a mudar os cuidados em demência. Ao colocar a pessoa no centro do seu trabalho, desafiou a visão que prevalecia sobre aqueles que vivem com demência de “não-pessoas”. (Baldwin & Capstick, 2007, p. 187)

“Se nós re- conceptualizarmos o objetivo da bioética, podemos começar a descobrir que o sentido da nossa humanidade não pode ser totalmente englobado na linguagem de personhood que se concentra exclusivamente nas capacidades e características pessoais, e que, por mais trágica que a sua história natural possa ser, os indivíduos alcançam o status moral ao viver o destino do corpo. Podemos também aprender que aqueles que perderam ou nunca tiveram habilidades cognitivas oferecem o dom da sua fragilidade e vulnerabilidade aos membros da comunidade humana com quem vivem em interdependência. Se não formos capazes de aprender estas lições, esquecemos o que é que é que nos faz verdadeiramente humanos” (Fleischer, 1999, p. 318)

Ao longo deste estudo, tomámos a opção de manter este conceito na sua língua original com receio de, ao traduzirmos muito cedo no documento, se perdesse o seu sentido. Conforme explicitámos, a manutenção e o respeito pelo personhood constitui-se o principal resultado da abordagem centrada na pessoa com demência. Consideramos então, que o resultado desta abordagem é a manutenção e o respeito pela Pessoalidade da pessoa com demência Pessoalidade é definida como: ”Qualidade ou condição de ser uma pessoa ou de existir como

tal. Característico do que é pessoal, do que faz parte de uma pessoa ou a diferencia das demais”.( in Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico )

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3.2 As Necessidades psicológicas das Pessoas com