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2. O Bem-estar de Pessoas com demência: Uma revisão da literatura

2.3. A relação do cuidar

2.3.2. Valores Motivacionais

Quando pensamos em valores, pensamos no que é importante nas nossas vidas. (Schwartz, 2012)

Segundo Schwartz (1992), os valores expressam as metas motivacionais do indivíduo, o conteúdo fundamental que diferencia os valores entre si é o tipo de meta motivacional que expressam. (Schwartz, 1996).

Assim, o estudo das prioridades axiológicas refere-se ao estudo de tipos motivacionais de valores (Schwartz, 1992; Tamayo & Schwartz, 1993; Tamayo, 1994). Esses tipos motivacionais de valores foram deduzidos a partir das exigências básicas do ser humano: necessidades biológicas do organismo; necessidades sociais relativas à regulação das interações interpessoais; necessidades socioinstitucionais referentes à sobrevivência e ao bem- estar dos grupos. (Tamayo, Exaustão emocional no trabalho, 2002).

O modelo de estrutura psicológica universal dos valores humanos de Schwartz postula que os valores são representações cognitivas de três tipos de necessidades humanas universais que expressam interesses individuais, mistos ou coletivos. Estas facetas são operacionalizadas em tipos motivacionais: Auto- direcionamento, estimulação, hedonismo, realização, poder, conformismo, tradição, benevolência, universalismo e segurança (Schwartz 1990).

Os interesses Individuais englobam os seguintes tipos motivacionais:

 Auto- direcionamento: visa a independência de ação e pensamento, tendo a ver com a necessidade de independência e autonomia;

 Estimulação: valoriza dimensões de excitação e desafio pessoal

 Hedonismo: prazer associado à satisfação das necessidades Os objetivos que definem este valor são o prazer e a gratificação sensual para si mesmo, sendo os valores incluídos neste domínio o prazer individual, gozar a vida e ser condescendente consigo próprio.

 Realização: centrada na obtenção de sucesso pessoal obtido através da demonstração de competência, em conformidade com os padrões sociais.

67 sendo os seus valores o poder social, a fortuna, o reconhecimento social, a autoridade e a preservação da imagem pública do indivíduo.

Os interesses Coletivos englobam os seguintes tipos motivacionais:

 Conformismo: restrição de ações, inclinações e impulsos suscetíveis de perturbar ou prejudicar os outros ou violar normas ou expectativas sociais.

 Tradição: os objetivos que definem este tipo de valor são o respeito, o compromisso e a aceitação das ideias e dos costumes impostos por uma determinada cultura ou religião aos indivíduos que a integram.

 Benevolência: Os valores de benevolência derivam dos requisitos básicos para o bom funcionamento do grupo e da necessidade orgânica de afiliação, e são os seguintes: ser leal, honesto, prestável, responsável, piedoso, ter uma vida espiritual, sentido de vida, amor maduro e amizade verdadeira.

Os Interesses Mistos englobam os seguintes perfis motivacionais:

 Segurança: necessidade de estabilidade e harmonia ao nível social, relacional e individual. Os valores de segurança derivam de requisitos básicos dos indivíduos e do grupo, pelo que se postula a existência de dois tipos de valores de segurança: individual e de grupo (Schwartz, 2005a). A opção por um ou outro tipo de valor depende do facto de considerarmos que alguns valores de segurança servem principalmente os interesses do indivíduo (como por exemplo a saúde), enquanto que outros servem principalmente interesses coletivos (tais como a segurança nacional) (Schwartz, 1992). Os dois subtipos de valores de segurança podem, no entanto, ser unificados num tipo motivacional mais abrangente: ordem social, segurança nacional, reciprocidade de favores, segurança familiar, limpo, sentido de pertença e saudável).

 Universalismo: Este domínio é definido pelos objetivos de tolerância, compreensão e proteção do bem-estar de todos e da natureza, contrastando, assim, com o foco intragrupo dos valores de benevolência. O domínio universalismo combina dois subtipos de objetivos e valores: preocupação com bem-estar da sociedade/do mundo (mente aberta, justiça social, igualdade, harmonia interior, uma vida espiritual, um

68 mundo de paz, mundo de beleza) e preocupação com a natureza (unidade com a natureza, sabedoria, proteger o meio ambiente).

Figura 2– Estrutura dos Valores Motivacionais

Fonte :Tamayo,2000,pp.30

Os cinco tipos de valores que expressam interesses individuais (autodeterminação, estimulação, hedonismo, realização e poder social) ocupam, no espaço multidimensional, uma área contígua que é oposta àquela reservada aos três conjuntos de valores que expressam primariamente os interesses coletivos (benevolência, tradição e conformidade). Os tipos motivacionais segurança e universalismo são constituídos por valores que expressam interesses tanto individuais como coletivos. Eles são opostos e situam-se nas fronteiras dessas duas áreas (Tamayo & Schwartz, 1993). Schwartz & Bilsky (1987; 1990) postulam a compatibilidade entre os tipos de valores que são adjacentes no espaço multidimensional (por exemplo, estimulação e hedonismo, tradição e conformidade) e o conflito entre os tipos de valores situados em direções opostas (por exemplo, estimulação e conformidade, hedonismo

69 esse tipo de valor está ao serviço de um mesmo interesse.

Neste contexto teórico os valores representam as tendências motivacionais da pessoa e expressam aquilo que ela considera bom para si e para sociedade. Parece então lógico que os valores, que representam princípios e metas que orientam a forma de agir e de pensar do indivíduo, sejam determinantes da forma como o indivíduo compromete com o trabalho e da forma como lida com as tensões quotidianas que encontra na organização. (Tamayo, 2001). Os valores representam os ideais e as motivações que originalmente atraem os indivíduos para os seus trabalhos, e, assim, são a relação motivacional entre o trabalhador e o local de trabalho, que vai muito mais além que a utilitária troca de tempo por dinheiro. Quando existem conflitos de valores no trabalho, com um fosso entre os valores individuais e os valores organizacionais, surge a tensão entre o trabalho que têm de fazer o que gostariam de fazer.

Este conflito de valores está relacionado com as três dimensões do burnout e pode constituir um dos seus preditores. Por outro lado, a congruência entre os valores motivacionais e os valores pessoais está associada a maiores níveis de realização profissional. (Maslach & Leiter, 2008)

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Auguste D. is regarded as being the first case described by Alois Alzheimer(…) Auguste is described in terms of her illness, of her disturbances and ultimately of her neuro-pathology. In the past 100 years since her death in 1906 there has been almost no attempt to consider her as a person or as a fellow human being outside the context of illness.” (Page & Fletcher, 2006, p. 572)

CAPITULO III