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Evolução da Pesquisa Operacional

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.2 APOIO À DECISÃO

2.2.2 Evolução da Pesquisa Operacional

Sob a luz da programação linear e da teoria dos jogos, “RAND” é o primeiro projeto formal da PO (Pesquisa Operacional) como Apoio à Decisão fora da área militar, utilizado na busca pela eficiência das indústrias na reconstrução dos países durante o período de pós-guerra (DANTZIG, 1951; TSOUKIÀS, 2008). Estas primeiras experiências com a PO foram caracterizadas pela busca de estruturas formais e na utilização da matemática como linguagem de modelagem de problemas por meio de uma função de utilidade, concebida a partir da EUT (Expected Utility Theory), onde as primeiras ferramentas

computacionais foram desenvolvidas nos Estados Unidos pelos Carnegie Institute of Technology e Massachusetts Institute of Technology (MIT) (LENSTRA, RINNOOY KAN & SCHRIJVER, 1991).

O uso da EUT como base para solução de problemas estabeleceu a vertente clássica da PO e possibilitou o desenvolvimento de algoritmos para programação que, suportado pelo avanço tecnológico, alimentou o surgimento de máquinas de respostas para solucionar problemas genéricos (NEWELL, 1972; ROY, 1994; ROY & VANDERPOOTEN, 1996). Ainda hoje, muitos problemas se beneficiam da PO clássica para a resolução de problemas, entretanto esta mesma vertente é responsabilizada pela crise da PO como Apoio à Decisão na década de 1970, diante de seguidos questionamentos ao racionalismo que ela rege quando diante de problemas reais (ACKOFF, 1979; SKINNER, 1986; ROY, 1994; ENSSLIN et al., 2010).

Por isto, desenvolveu-se a Prospect Theory e o entendimento de que o comportamento humano em situações do mundo real é paradoxal aos axiomas das Expected Utility Theory (CROSTON & GREGORY, 1969; TVERSKY, 1969; 1972). A partir disto, as pesquisas enfocaram seus estudos nos processos cognitivos em defesa da limitação da racionalidade no processo de resolução de problemas (SIMON, 1955; SIMON, 1956; SIMON, 1957), pois as pessoas que necessitam apoio na tomada de decisão:

• Nunca têm uma ideia muito precisa de seus problemas;

• Frequentemente entendem que seus problemas podem ser formulados para buscar um “resultado satisfatório” ao invés do “resultado ótimo”;

• Sempre possuem informações e recursos limitados para resolver seus problemas.

Ainda na década de 1950, a inovação trazida pelos itens supracitados colocou no centro do processo de Apoio à Decisão a figura do decisor, ignorada pelo racionalismo da PO clássica, e permitiu o surgimento de diferentes lógicas de investigação do conhecimento no processo de resolução de problemas (TSOUKIÀS, 2008), as quais são tratadas como abordagens do Apoio à Decisão na seção “2.2.4 Abordagens do Apoio à Decisão na Resolução de Problemas”. Também decorrente disto, iniciou-se a busca por métodos e dispositivos computacionais que possuam ou multipliquem a capacidade racional do ser humano de resolver problemas, conhecida como Inteligência Artificial (IA) (SIMON, 1980).

A subjetividade imposta pela figura do decisor trouxe consigo a necessidade do tratamento da incerteza, ambiguidade e variações linguísticas da PO na modelagem dos problemas, que foi atendida com o estabelecimento da lógica Fuzzy (ZADEH, 1965). Adicionalmente, a demanda por formalizar a linguagem dos aspectos cognitivos do tomador de decisões, o decisor, direcionou a definição do conceito de valor relacionado às distintas possíveis soluções de problemas a fim de se estabelecer lógicas de preferência (RAIFFA, 1968; WRIGHT, 1972; KEENEY & RAIFFA, 1976). Neste sentido, em tempos mais recentes, a lógica Fuzzy, conjuntamente com a Teoria da Possibilidade, contribuiu com o estudo da PO ao considerar as relações de preferência como subconjuntos da lógica Fuzzy através de relações binárias e gráficas (FODOR & ROUBENS, 1994) e ao desenvolver novos procedimentos de "medidas de incerteza" ou "medidas Fuzzy", semelhantemente à agregação de preferências (PERNY & ROY, 1992).

Paralelamente, a psicologia nunca deixou de influenciar o estudo da PO, tendo em seu foco a ciência da cognição, e seus estudiosos legaram a notória contribuição ao afirmar que o ato de resolver um problema é posterior ao da estruturação e que, em muitos casos, ambos acontecem simultaneamente (SIMON, 1983; LANDRY, 1995; BANVILLE et al., 1998). Nesta linha de pesquisa, desenvolveram-se métodos para a estruturação dos problemas como o Soft System Methodology (CHECKLAND, 1999), o Strategic Choice (FRIEND & HICKLING, 1987), o Cognitive Mapping (EDEN, JONES & SIMMS, 1985) e o Robustness Analysis (ROSENHEAD, 1996).

Nos anos 60 surgiram as metodologias multicritério para atender aos conflitos de diferentes aspectos em um mesmo problema (ROY, 1994; TSOUKIÀS, 2008), as quais se perpetuaram como instrumentos de PO para problemas empresariais quando incorporaram a subjetividade relativa aos riscos, que englobam as incertezas, ambiguidades e inconsistências que existem no contexto organizacional (TSOUKIÀS & VINCKE, 1995; TSOUKIÀS, 2002; TSOUKIÀS, PERNY & VINCKE, 2002). No campo das metodologias multicritério se desenvolveram a maioria dos métodos e técnicas utilizados atualmente para o Apoio à Decisão (KEENEY & RAIFFA, 1976; HWANG & YOON, 1981; JACQUET-LAGREZE & SISKOS, 1982; CHARNES et al., 1985; BENAYOUN & TERGNY, 1986; ROY, 1986; KEEGAN, EILER & JONES, 1989; SAATY, 1990; FITZGERALD et al., 1991; LYNCH & CROSS, 1991; KAPLAN & NORTON, 1992; VINCKE, 1992; LOOTSMA, 1993; BANA E COSTA & VANSNICK, 1994; ROY & VANDERPOOTEN, 1996; NEELY, ADAMS &

CROWE, 1997; ENSSLIN, DUTRA & ENSSLIN, 2000; ENSSLIN, MONTIBELLER & NORONHA, 2001; ROUSE & PUTTERILL, 2003; FIGUEIRA et al., 2005).

Portanto, a evolução histórica da PO pode se resumir em alguns principais elementos:

• O pioneirismo da sua vertente matemática e racionalista, chamada de PO clássica;

• A contribuição da psicologia através da ciência da cognição devido à figura do decisor;

• A relevância de uma fase de estruturação no processo de resolução de problemas;

• O desenvolvimento das metodologias multicritério;

• O reconhecimento do subjetivismo e necessidade de tratamento dos riscos em problemas reais.

Por fim, tem-se entendido que o Apoio à Decisão não pode ser dissociado da Pesquisa Operacional, e sua importância tem sido alertada sistematicamente por pesquisadores contemporâneos (KEENEY & RAIFFA, 1976; LANDRY, PASCOT & BRIOLAT, 1985; BANA E COSTA, 1993; ROY, 1993; 1994; LANDRY, 1995; DVIR et al., 1998; ENSSLIN, DUTRA & ENSSLIN, 2000; ROY, 2005), contudo, qual é, afinal, a definição do termo Pesquisa Operacional? Como é possível delimitar suas fronteiras para o Apoio à Decisão no contexto organizacional, bem como para a problemática da gestão de P&D? Tais perguntas são respondidas na seção “2.2.3 Pesquisa Operacional como Apoio à Decisão”.