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EXPANSÃO DE COMMODITIES E A INSERÇÃO EXTERNA DA REGIÃO

3.2. A inserção comercial externa da região no ciclo recente

3.2.2. Evolução do saldo comercial e das exportações

A análise da evolução das exportações revela uma inversão de composição ao longo desses onze anos: em 2003, os produtos primários e baseados em recursos naturais (I+II) representaram 42,6% das exportações, atingindo o auge de 55,5% em 2011 e finalizando 2013 com 53,1% do total – como pode ser avaliado pelo comportamento expresso no Gráfico 24 e pelos dados fornecidos pela Tabela 19. Já as manufaturas intensivas em tecnologia passaram de 54,9% para 42,9% em 2013. Em termos nominais, observa-se uma forte contração das exportações de quase US$150 bilhões entre 2008 e 2009 e um crescimento de I+II de US$146,5 para 512,9 bilhões, sendo que o ápice chegou a US$539,9 bilhões em 2011 – isso significou uma média de crescimento de 12,07% ao ano, enquanto as exportações totais elevaram-se a um ritmo de 9,83% ao ano.

Dessa forma, é possível notar uma tendência à reprimarização da pauta exportadora latino-americana ao longo do ciclo, já que o crescimento das exportações foi puxado principalmente por commodities primárias: de 25,9% passaram a representar 36,7% da pauta em 2013, o equivalente a US$354,1 bilhões. Ainda, vale destacar que se tivesse incluso o comércio da Venezuela o efeito seria maior, pois, somente em 2011, as exportações de petróleo bruto desse país foram de US$60,9 bilhões – frente aos US$362,4 bilhões em primários dos demais países da região.

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Optou-se por excluir a Venezuela, pois a indisponibilidade de dados em 2007, 2012 e 2013 comprometeria a análise da evolução ao longo do ciclo, já que é um país relevante principalmente em termos de exportação (em 2011 representou 8,58% das exportações totais da AL e C (19) e 3,61% das importações totais).

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No Gráfico 25, atenta-se para o fato de que tanto o saldo comercial positivo de I+II quanto o saldo negativo dos manufaturados intensivos em tecnologia apresentaram uma tendência crescente até 2008. De modo geral, o saldo comercial total é positivo na maior parte dos anos, atingindo mais de US$40 bilhões em 2006 e 2009, mas encerra o período com uma tendência de saldos negativos: -US$18,3 e -US$37,8 bilhões em 2012 e 2013, respectivamente (Tabela 20). Outro ponto de destaque é que a partir de 2010, apenas as categorias produtos primários e “outros”103

resultam em saldos positivos, sendo que, além da inflexão de positivo para negativo, os déficits em manufaturas baseadas em recursos naturais são crescentes até 2013. Para o período em estudo, o superávit em produtos básicos é reiteradamente positivo, passando de US$54 para US$246,2 bilhões em 2013, com certa tendência à queda após 2011; por outro lado, o déficit em manufaturas intensivas em tecnologia é estruturalmente negativo e crescente ao longo dos anos, exceto pela contração de 2008 a 2009. De modo absoluto, este se expandiu a uma taxa média de 18,2% ao ano, chegando a -US$265,8 bilhões em 2013. Em termos de composição, as

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O resultado de VI. outros foi puxado pelo forte crescimento das exportações de ouro não monetário (classificação 97101 na CUCI, rev. 2): US$29 bilhões em 2012 e US$23,4 em 2013, valores que representaram 93,9% e 99,2% dos saldos positivos da categoria nos respectivos anos.

0 200.000.000 400.000.000 600.000.000 800.000.000 1.000.000.000 1.200.000.000 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Em m il h are s d e US$

* Dados disponíveis para Cuba até 2006 e não disponíveis para Honduras em 2008 e 2013, Rep. Dominicana em 2013. Fonte: Elaboração própria a partir de dados do SIGCI plus - CEPAL, conforme a CUCI, rev.2

Gráfico 24

AL e C (18)*: Evolução das exportações totais por grupos de produtos (2003-2013)

VI. Outros

III+IV+V. Manufaturas de baixa, média e alta intensidades tecnológicas II. Manufaturas baseadas em recursos naturais

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manufaturas de média intensidade tecnológica são as que apresentam os maiores déficits (- US$118,7 bilhões em 2013), seguidas das de alta intensidade (-US$94,4 bilhões em 2013).

A comparação da evolução do saldo comercial da região, fortemente dependente das exportações de commodities, com a trajetória dos preços dos produtos primários no ciclo recente revela o seu caráter pró-cíclico, isto é, quando os preços estão em ascensão, o valor das exportações é suficientemente alto para fazer frente ao valor importado; no entanto, como este vem acompanhado de um aumento mais do que proporcional das importações – evidenciado na seção 2.1 pela comparação entre o crescimento do volume de importação (114,7%) e de exportação (50,7%) –, no momento em que há uma inflexão da trajetória de preços no ciclo, o saldo total tende a diminuir e a tornar-se negativo. Isto traz à tona um problema estrutural que marca a história latino-americana: a tendência a sucessivos desequilíbrios comerciais externos, com graves efeitos para o desenvolvimento da região.

-350.000.000 -250.000.000 -150.000.000 -50.000.000 50.000.000 150.000.000 250.000.000 350.000.000 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Em m il h are s d e US$

* * Dados disponíveis para Cuba até 2006 e não disponíveis para Honduras em 2008 e 2013, Rep. Dominicana em 2013. Fonte: Elaboração própria a partir de dados do SIGCI plus - CEPAL, conforme a CUCI, rev.2

Gráfico 25

AL e C (18)*: Saldo comercial por intensidade tecnológica (2003- 2013)

V. Manufaturas de alta intensidade tecnológica IV. Manufaturas de média intensidade tecnológica

III. Manufaturas de baixa intensidade tecnológica II. Manufaturas baseadas em recursos naturais

I. Produtos primários VI. Outros

Saldo total de bens Saldo comercial de I+II

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Tabela 19

AL e C (18)*: Evolução das exportações totais por grupos de produtos (2003-2013), em milhares de US$.

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

I. Produtos primários 89.276.873,5 115.563.019,2 144.639.879,2 172.493.228,1 205.208.638,7 249.953.580,2 202.801.904,7 272.947.877,3 362.359.731,8 357.778.907,5 354.143.709,3

% 25,9 27,6 29,0 28,8 30,2 32,5 32,7 34,5 37,2 36,7 36,7

II. Manufaturas baseadas em

recursos naturais 57.211.814,6 73.068.691,4 88.553.529,0 115.523.025,3 133.138.906,9 146.714.145,1 117.149.217,4 147.288.624,9 177.484.672,9 167.569.360,3 158.715.903,0

% 16,6 17,4 17,8 19,3 19,6 19,1 18,9 18,6 18,2 17,2 16,4

III+IV+V. Manufaturas de baixa, média e alta intensidades tecnológicas 188.975.667,0 220.962.201,7 254.659.487,1 294.634.498,4 315.029.257,1 350.828.075,0 273.152.114,2 341.713.142,8 390.961.545,0 400.494.085,8 413.912.716,0 % 54,9 52,7 51,1 49,2 46,3 45,6 44,0 43,2 40,2 41,1 42,9 VI. Outros 8.689.199,8 9.776.234,9 10.605.144,0 15.896.095,3 26.498.018,6 22.173.022,7 27.081.221,7 28.422.919,9 42.233.005,6 47.824.675,8 38.352.935,7 % 2,5 2,3 2,1 2,7 3,9 2,9 4,4 3,6 4,3 4,9 4,0 Total 344.153.554,9 419.370.147,2 498.458.039,3 598.546.847,1 679.874.821,4 769.668.823,0 620.184.458,1 790.372.564,8 973.038.955,2 973.667.029,5 965.125.264,0 Notas:

*Pela indisponibilidade de dados e relevância da Venezuela no comércio externo da região, optou-se por excluí-la da análise. Dados disponíveis para Cuba até 2006 e não disponíveis para Honduras em 2008 e 2013, Panamá em 2004, República Dominicana em 2013.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do SIGCI plus - CEPAL, conforme a CUCI, rev.2.

Tabela 20

AL e C (18)*: Saldo comercial por intensidade tecnológica (2003-2013), em milhares de US$

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

I. Produtos primários 54.005.601,2 71.041.708,9 93.258.674,5 113.392.943,9 134.262.023,1 208.749.637,7 170.247.720,8 191.623.257,3 254.722.041,0 254.398.625,8 246.171.064,1

II. Manufaturas baseadas em

recursos naturais 5.680.113,8 10.466.170,7 10.223.352,4 20.274.100,2 14.228.956,2 6.305.941,8 20.863.173,1 -5.092.405,5 -22.647.148,4 -38.287.483,4 -41.889.752,9

Saldo comercial de I+II 59.685.715,0 81.507.879,6 103.482.026,9 133.667.044,1 148.490.979,2 215.055.579,5 191.110.893,9 186.530.851,8 232.074.892,6 216.111.142,4 204.281.311,2

III. Manufaturas de baixa

intensidade tecnológica -3.225.543,4 -3.645.538,9 -6.063.476,6 -13.807.309,1 -17.843.346,8 -35.923.189,6 -28.116.391,0 -40.401.624,5 -50.218.835,8 -53.557.447,5 -52.728.243,4

IV. Manufaturas de média

intensidade tecnológica -25.425.829,9 -29.391.807,5 -39.591.822,4 -43.341.616,6 -62.815.791,0 -108.215.246,7 -82.216.427,2 -95.953.328,9 -124.129.910,3 -126.133.316,6 -118.714.816,6

V. Manufaturas de alta

intensidade tecnológica -13.565.664,4 -20.862.787,3 -26.063.865,7 -34.197.725,2 -29.067.631,4 -61.832.303,6 -54.526.317,6 -69.031.907,2 -85.453.564,8 -85.584.415,1 -94.358.746,0

Saldo comercial de III+IV+V -42.217.037,7 -53.900.133,7 -71.719.164,7 -91.346.650,9 -109.726.769,2 -205.970.739,9 -164.859.135,8 -205.386.860,6 -259.802.310,8 -265.275.179,2 -265.801.805,9

VI. Outros 3.171.288,2 2.924.547,7 4.370.888,0 4.285.570,2 -4.622.978,3 10.724.326,3 14.398.744,7 16.517.863,8 28.010.714,3 30.895.683,2 23.643.957,7

Saldo total de bens 20.639.965,5 30.532.293,5 36.133.750,2 46.605.963,4 34.141.231,8 19.809.165,9 40.650.502,9 -2.338.145,0 283.296,0 -18.268.353,6 -37.876.537,1

Notas:

*Pela indisponibilidade de dados e relevância da Venezuela no comércio externo da região, optou-se por excluí-la da análise. Dados disponíveis para Cuba até 2006 e não disponíveis para Honduras em 2008 e 2013, Panamá em 2004, República Dominicana em 2013.

84 3.2.3. Os principais produtos intercambiados

Além da avaliação por intensidade tecnológica, é possível fazer uma análise minuciosa acerca de quais foram os produtos intercambiados pela América Latina com o mundo e com os seus principais parceiros no período.

Tabela 21

Os 10 principais produtos exportados em 2003 e 2011 (em milhares de US$):