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DESENVOLVIMENTO LATINO-AMERICANO NO SÉCULO

2.2. Os argumentos favoráveis: rumo ao cambio estructural

2.2.2. O incremento da complexidade: TICs, biotecnologia e nanotecnologia

As mudanças nos paradigmas tecnológicos das últimas décadas têm possibilitado a incorporação dos avanços em tecnologias de informação e comunicações (TIC), robótica, biotecnologia e nanotecnologia62 ao desenvolvimento agropecuário e mineiro. Nesse sentido, a CEPAL (2012) afirma que as commodities primárias, com exceções, têm uma maior

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Grifos do autor.

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“Las TIC, incluida la bioinformática, han impulsado el avance de las ciencias genómicas y biotecnológicas de manera revolucionaria. (...) Las interacciones con la biología molecular y sintética, la bioinformática y las TIC son puntos de convergencia e innovación con enorme potencial para el desarrollo a mediano plazo. Los avances en las tecnologías digitales se combinan con las innovaciones en materiales. Esta trayectoria se enfoca en la mejora de materiales existentes y la creación de materias primas nuevas, cuya estructura es dinámica, de mayor funcionalidad y menor impacto ambiental. En el primer caso, se busca dotar de nuevas funcionalidades a los insumos tradicionales haciéndolos más ligeros, fuertes, durables, manejables y reciclables. El cambio más radical es la producción de nuevos materiales, basados en nanotecnología, que tendrán una infinidad de usos al caracterizarse por su estructura cambiante. Se trata de materiales inteligentes que, en respuesta a determinados estímulos, pasan de ser flexibles a rígidos y viceversa, se expanden o se contraen, cambian su forma, se autorreparan o alteran su color o transparencia. Esto abre oportunidades para el diseño de productos, especialmente para la sustentabilidad ambiental” (CEPAL, 2012, p.37-38).

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complexidade tecnológica do que se conhecia antigamente, e, por consequência, tende a gerar maior valor agregado e encadeamentos produtivos.

Segundo Perez (2010), o potencial tecnológico a ser explorado está relacionando com as características próprias de cada região: à América Latina cabe aproveitar sua riqueza em recursos naturais – situação oposta a do continente asiático, densamente povoado, com escassez primária relativa e, logo, com vantagens para a produção industrial a baixo custo de mão de obra – e potencializá-la, através da vinculação das indústrias do setor com as “probables protagonistas de la próxima revolución tecnológica: biotecnología, nanotecnología, bioelectrónica y nuevos materiales” (PEREZ, 2010, p.124).

Para a autora, a estratégia a ser tomada na região consiste em aumentar gradualmente a tecnologia incorporada nas atividades intensivas em recursos naturais, visando produtos com um valor agregado cada vez maior e mais diferenciados, numa tentativa de minimizar as características que os definem como commodities. Em uma perspectiva mais ampla, isto supõe uma transformação lenta e profunda dessas economias, para que o domínio tecnológico abarque desde commodities produzidas em larga escala àquelas feitas sob medida ou personalizadas.

Dessa forma, criar-se-ão redes de inovação, com a participação de universidades e empresas nacionais e internacionais – especialmente pela experiência adquirida há décadas das grandes transnacionais do setor –, que tornarão o processo sustentável ao longo do tempo. Por fim, Perez (2010) enfatiza dois pontos fundamentais: em primeiro lugar, que, caso a renda proveniente da exportação dos recursos naturais traduza-se apenas em crescimento superficial e aumento do consumo de importados, malogrou-se uma oportunidade extraordinária para a região. E, segundo, que há momentos propícios ao êxito da tomada de certa estratégia, como ocorreu com a entrada da República da Coréia na indústria de semicondutores, convertendo-se, posteriormente, em líder no ramo de chips de memória. Assim, enumera alguns fatores63 que

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Dentre os quais: 1) pela questão do balanço de oferta e demanda num mundo globalizado, os preços médios dos produtos básicos tenderão a se manter elevados, relativamente aos níveis históricos; 2) uma parte dos lucros extraordinários e impostos obtidos com a exploração dos recursos naturais poderão ser direcionados para financiar a expansão de capacidades, processamentos, tecnologias e externalidades positivas; 3) a crise de 2008 abriu precedentes para um papel mais ativo do Estado na economia; 4) as mudanças de regulação, comportamento empresarial e consciência ambiental são incipientes, mas devem seguir aprofundando-se; 5) as empresas de serviços especializados estão sobrecarregadas e seriam beneficiadas pela entrada de aliados locais; 6) os competidores potenciais nesta disputa estratégica estão apenas encetando caminhos similares, como África, Rússia, etc.; 7) os países que conseguirem se tornar competidores de acordo com tais tendência e em pouco tempo converter-se-ão em líderes, sendo que as vantagens decisivas serão adquiridas pela região capaz de atrair as corporações globais mais dinâmicas (PEREZ, 2010).

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incitam um contexto favorável para que a América Latina avance no incremento da complexidade tecnológica dos seus recursos, aproveitando o quadro de preços médios elevados, de crescente preocupação ambiental e de dispersão (despliegue) da revolução das TICs.

Portanto, a partir dos argumentos expostos por esses autores, conclui-se que, para a região latino-americana aproveitar as oportunidades do cenário favorável à exploração de recursos naturais, visando mudanças estruturais das suas economias, é indispensável enfrentar dois problemas principais: no âmbito institucional, a forma como os recursos naturais são extraídos e as rendas provenientes são apropriadas; e no campo da inovação e geração de valor, em meio às oportunidades abertas pela revolução tecnológica que se desenrola, fazer frente à escassa capacidade científico-tecnológica e de capital humano qualificado, que limitam a fatia de valor agregado que lhes cabe nas cadeias produtivas e desperdiçam potencial de encadeamento e

spillovers.

É nesse sentido que, segundo a CEPAL (2012), o desenvolvimento da América Latina e Caribe exige, como ponto de partida, a criação de instituições robustas e políticas públicas delineadas para que, em seguida, se vislumbre um horizonte de igualdade e mudanças estruturais. Como afirmou Alicia Bárcena64 no prólogo do documento,

Creemos, pues, que estamos ante la oportunidad histórica de repensar el desarrollo bajo la égida valórica de la igualdad y de mayor sostenibilidad ambiental. Pero no debemos hacerlo en clave retórica o de letanía, sino examinando rigurosamente cómo los distintos componentes de políticas de desarrollo concurren hacia sociedades más dinámicas en crecimiento y más proclives a la igualdad (CEPAL, 2012, p.14).