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DESENVOLVIMENTO LATINO-AMERICANO NO SÉCULO

2.3. Os argumentos contrários à dependência de commodities primárias

Antes de entrar na questão pormenorizada das commodities69 na América Latina no

período recente, é importante destacar que o debate em torno do vigoroso retorno aos recursos

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Os impactos da elevação da temperatura média representam um grande desafio ao setor primário da região, pelo aumento nível do mar, derretimento de geleiras e alterações nos mananciais, que afetam o padrão das chuvas e prejudicam a agricultura de subsistência nos Andes centrais e o desembocam em desertificação na região de vales, além da recorrência de eventos climáticos extremos, como secas, inundações e tornados (NAKATA & ZEIGLER, 2014).

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Nesta seção serão apresentados alguns apontamentos feitos por autores críticos ao papel de destaque que as commodities primárias têm recebido na região latino-americana, os quais serão reforçados no capítulo seguinte a partir das evidências empíricas sobre o período.

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naturais encerra-se em um quadro muito mais amplo de crise do pensamento crítico nos marcos teóricos do desenvolvimento, especialmente no que diz respeito às novas teses da CEPAL. Das preocupações acerca das especificidades, das particularidades e dos problemas estruturais da região – para além do âmbito econômico –, voltaram-se para as análises curto-prazistas (simplistas nas relações históricas e complexas nas operações matemáticas), reduzidas aos planos da micro e da macroeconomia – nas quais, por exemplo, os almejados índices de crescimento são desdobramentos diretos da adequação dos instrumentos de política econômica (câmbio, juros, etc.).

Esse Estado e esses economistas acabaram por aceitar como inevitáveis a desnacionalização, a desindustrialização e a continuidade do poder de fato do sistema financeiro. (...) Também copiaram, mais uma vez, muito do ruim que se produziu na teoria: o papel das reformas neoliberais – o Consenso de Washington –, o neoinstitucionalismo, o neoestruturalismo, os modelos de convergência internacional, a maior parte dos modelos de crescimento endógeno e muitas das “novas teorias” do desenvolvimento. (...) Trocaram a estratégia do protecionismo necessário, pela estultice da abertura internacional dos mercados de commodities, em troca de nosso imprescindível mercado interno de manufaturados (CANO, 2010, p.2).

Para Sampaio Jr. (2012b), a consciência crítica expressa nas bases da economia política da CEPAL confluiu com a trajetória de auge e decadência da industrialização por substituição de importações, com vistas a integrar o processo de formação das economias nacionais da região – aquele no qual a sociedade tem as bases materiais, sociais e culturais para controlar o sentido, o ritmo e a intensidade do desenvolvimento capitalista – e, assim, conciliar capitalismo, democracia e soberania nacional na periferia do sistema.

O movimento passou da compreensão da natureza dos problemas nacionais latino- americanos, como peças fundamentais na tentativa de superar o círculo vicioso da dependência e do subdesenvolvimento, para a própria negação da realidade do subdesenvolvimento. Nessa nova abordagem teórica não haveria mais contradição entre desenvolvimento e dependência externa e a “integração social deixou de ser vista como obstáculo à incorporação de progresso técnico – pré-requisito do próprio desenvolvimento – para se converter em resíduo colonial sem maiores consequências para o dinamismo capitalista” (SAMPAIO JR., 2012b, p. 677). Por conseguinte, não se faziam mais imprescindíveis as “mudanças estruturais” que romperiam a subordinação do espaço econômico nacional à lógica especulativa do capital internacional e a reprodução das estruturas sociais que reiteram o regime de segregação interna.

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O que passou a dominar o pensamento não ortodoxo é a tentativa de adaptar algumas das “velhas” ideias (papel do Estado, políticas sociais e industriais) aos pilares intocáveis do neoliberalismo (liberalização da economia, competitividade internacional, estabilidade da moeda, austeridade fiscal), num esforço de suavizar o seu lado mais perverso e aproveitar o que consideram os seus pontos “positivos”. O ansiado desenvolvimento70

reduziu-se, assim, apenas a taxas de crescimento e símbolos de modernidade. Sob essa lógica de teorização da realidade, a “relação indissolúvel entre desenvolvimento e barbárie característica de nosso tempo, que se manifesta com virulência redobrada nas economias periféricas, converte‑se, assim, por um passe de mágica no seu contrário: o desenvolvimento capitalista virtuoso capaz de conciliar crescimento com equidade” (SAMPAIO JR., 2012b, p. 680). Por sua vez, ocorre o mesmo com o enfrentamento da dupla articulação – dependência externa e segregação interna –, que de indispensável à superação das mazelas do subdesenvolvimento, esta é arraigada na história latino- americana como meio fundamental da acumulação de capital.

Durante la mayor parte del siglo XX, el desarrollismo se opuso a la especialización exportadora que promovían los liberales. Pero este rechazo se atenuó en las últimas décadas y ha desembocado en la actualidad en una curiosa reivindicación de la primarización por parte de CEPAL. El principal vocero de la heterodoxia industrialista reivindica el “potencial que ofrecen las actividades basadas en recursos naturales”, resalta su aporte tecnológico y defiende la suscripción de acuerdos de libre comercio para facilitar el ingreso de los productos básicos a las economías desarrolladas. Estos planteos no sólo contrastan con la tradición industrialista, que encarnó la CEPAL entre 1950 y 1980. También ignoran los argumentos que se esgrimieron durante decenios contra las nefastas consecuencias del modelo primario-extractivo. Este esquema generó en el pasado sometimiento externo, saqueo de recursos y perdurables obstáculos a la acumulación (KATZ, 2010, s/p).

A compreensão dos entraves que a opção pela via primária traz para o desenvolvimento latino-americano é fortemente dificultada pela conjunção de fatores que se apresentaram como novidades à região: um contexto aparentemente duradouro de reversão dos termos de trocas e bonança econômica em meio a crises nos países desenvolvidos e processos de reorganização da divisão internacional do trabalho e das relações de produção a nível mundial.

América Latina vive una relativa bonanza económica, por supuesto bonanza económica dentro del subdesarrollo, dentro de la dependencia, pero bonanza económica en términos de tasas de crecimiento. (...) Entonces en América:

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“O desenvolvimento não é apenas um processo de acumulação e de aumento de produtividade macroeconômica, mas principalmente o caminho de acesso a formas sociais mais aptas a estimular a criatividade humana e responder às aspirações da coletividade” (FURTADO, 2004, p.4).

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Latina: relativa bonanza económica, relación de términos de intercambio favorable, altos precios de las exportaciones de commodities y sin embargo Estados Unidos y Europa, sus dos grandes centros de referencia, en plena crisis económica. Entonces, esto es en apariencia desconcertante, atendiendo a la lógica y atendiendo a la historia. La lógica dice que en áreas dependientes, subdesarrolladas, la crisis impacta con más fuerza aun que en los centros del capitalismo, y atendiendo a la historia ha sido así (MARTÍNEZ, 2012, s/p).

É essa trajetória aparentemente ilógica que parece corroborar o esforço pró-

commodities dos últimos anos, ao mesmo tempo em que oculta os seus efeitos em termos de

dependência e vulnerabilidade externas da região. “El retrato de las últimas décadas y de la crisis reciente corrobora el diagnóstico que resalta la centralidad de las commodities en las economías latinoamericanas. Por esta gravitación la región luce menos vulnerable en la coyuntura (balance de pagos, reservas, deuda), pero ha incrementado su fragilidad estructural” (KATZ, 2014, s/p). Em períodos de expansão do ciclo de liquidez internacional, mesmo com os condicionantes estruturais de dependência presentes, nota-se um maior raio de manobra para as economias latino-americanas. É nos momentos de reversão do quadro externo favorável que os problemas estruturais do subdesenvolvimento voltam a manifestar-se com toda a força (CARCANHOLO & SALUDJIAN, 2012).

Segundo Carcanholo & Mattos (2013), o impulso à via primária pela conjuntura favorável dos anos 2000 insere-se num plano mais profundo, fruto da inserção externa passiva adotada previamente pelos países da região, ou seja, da opção por uma estratégia neoliberal de desenvolvimento. É esta que impõe um limite estrutural ao crescimento71 das economias periféricas: pela enorme necessidade dos fluxos de capitais externos para equilibrar o balanço de pagamentos e pela regressão da estrutura produtiva reforçada pela acirrada concorrência internacional. “Enquanto a economia chinesa deliberadamente se voltava para uma inserção externa ativa72, as economias da América Latina reprimarizavam suas exportações, aprofundavam a vulnerabilidade externa de suas economias e enrijeciam suas restrições estruturais ao crescimento” (CARCANHOLO & MATTOS, 2013, p. 68).

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“O fato é que, independente do momento conjuntural, a promessa de retomada do crescimento na região não se verificou, e não porque o programa de reformas estruturais pró-mercado não tenha sido aplicado a contento, como sustentam alguns defensores do neoliberalismo; ao contrário, justamente porque o desempenho medíocre foi consequência da efetiva implementação da estratégia neoliberal de desenvolvimento na região” (CARCANHOLO & SALUDJIAN, 2012, p.4).

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O caso da presença recente da China na região é complexo e compreende diferentes aspectos que serão discutidos no próximo capítulo: forte demanda por commodities e sustentação do boom de preços e assimetria nas relações de intercâmbio, tanto no sentido da intensidade de conteúdo tecnológico quanto da dependência numérica de parceiros comerciais. Isto é, há vários fatores que tornam delicada a bonança latino-americana imbrincada com o protagonismo chinês e que consolida tal padrão de exportação primária. Afinal, como apontou Martínez (2012), esta bonança apresenta um caráter de fugacidade que não pode ser deixado para segundo plano: pela instabilidade intrínseca aos preços quando objetos da ação especulativa e, principalmente, pelo fato de que o próprio desenvolvimento chinês demandará cada vez menos matérias-primas da região.

Este capital especulativo tan volátil puede girar hacia cualquier otro nicho de especulación y dejar a América Latina colgada de la brocha y, eliminando ese factor, las commodities volverían a hacer lo que durante siglos hicieron que es ir hacia abajo. (...) Se ha señalado que China lógicamente va a ir avanzando hacia un desarrollo tecnológico que le va a reducir su consumo relativo de materias primas, va a tratar de depender cada vez más de su capacidad interna de producción, por lo cual las importaciones de América Latina pueden ir disminuyendo con el tiempo. No puede pensarse que China eternamente va a continuar importando estas cantidades de soya (...) La idea que quiero remarcar es que esta bonanza latinoamericana está sostenida con pinzas, con unas pinzas delgadas: la especulación en commodities que provoca altos precios es inestable, y la demanda china (MARTÍNEZ, 2012, s/p).

Tendo em vista certos pontos apresentados na seção anterior sobre as recentes propostas da CEPAL, Carneiro (2012) atenta para alguns questionamentos importantes. Em primeiro lugar, é inegável o incremento tecnológico nas commodities primárias ao longo do tempo. Porém, isto não significa que o ritmo e a velocidade de incorporação de progresso técnico entre elas e os bens industrializados sejam iguais e, que, esse avanço tenha se traduzido em autonomia para a periferia produtora de commodities – afinal, se não se detêm os polos de geração do progresso, esta continua a responder “em última instância às transformações que ocorrem nos núcleos – setores, empresas, universidades, centros de pesquisa – dos países desenvolvidos” (CARNEIRO, 2012, p.9).

Um segundo aspecto relevante está no uso desmesurado dos recursos não renováveis que um reforço da condição primário-exportadora na América Latina acarretaria, especialmente no caso da exploração de minérios e hidrocarbonetos. As consequências incluem desde os limites

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da sustentabilidade ambiental até a dimensão inter-geracional e permeiam a disputa pelos fluxos de rendas por eles gerados – já que se trata de uma riqueza limitada.

Em debate direto com a visão cepalina, Carneiro (2012) faz uma ressalva em relação à facilidade com a qual é pensado o desdobramento da diversificação produtiva a partir de uma estrutura especializada na produção de bens intensivos em recursos naturais, sem avaliar os enormes obstáculos internos e externos a serem enfrentados.

A diversificação à jusante, por meio da incorporação de atividades de maior valor agregado, encontra obstáculos de várias naturezas: quando se trata de bens de consumo, o controle dos canais de comercialização – incluído a propriedade de marcas –, e no que tange a bens intermediários, a concentração de mercados e as escalas de produção. A mesma dificuldade pode ser encontrada para a internalização dos setores produtores de equipamentos. Ou seja, dificilmente os países periféricos produtores de commodities conseguem romper a sua participação/especialização na cadeia produtiva (CARNEIRO, 2012, p.9).

Por fim, no que diz respeito ao preço dos bens primários, o autor reafirma o seu caráter da alta volatilidade e forte comportamento pró-cíclico, cujas flutuações acarretam em variações das receitas cambiais e fiscais73. Os efeitos nas finanças públicas e nos níveis de renda e emprego, se acompanhados de redução da taxa de investimento, repercutir-se-ão na trajetória de crescimento a longo prazo.

Sendo assim, as desvantagens da concentração produtiva no setor primário independeriam da corroboração ou refutação da tese cepalina originária da tendência à deterioração dos termos de troca no longo prazo, pois, a volatilidade apresenta-se tanto nas fases de auge quanto de baixa dos preços desses bens e seus efeitos negativos são potencializados em relação direta ao grau de abertura e especialização exportadora do país. Para Carneiro (2012), a grande novidade do período atual estaria na contrapartida da significativa correlação entre os movimentos de preços dessas commodities, vinculados com o processo de financeirização em marcha – ou seja, na sua transformação em uma classe particular de ativos, cujos preços são definidos pelos fundamentos de especulação nos mercados futuros, e, por consequência, englobados aos processos de formação de bolhas financeiras.

Em relação às rendas oriundas dos recursos naturais, mencionadas na seção anterior, Delgado (2010) problematiza a forma como elas já têm sido fontes de pressão para obtenção de

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Via de regra geral, tais variações desdobram-se em desaquecimento do componente investimento – tanto pelo contexto de incerteza econômica quanto do aspecto político pelo lado dos gastos governamentais.

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ganhos de produtividade cada vez maiores. Ao tratar da opção brasileira por certa especialização primário-exportadora, mas que deve ser objeto de reflexão para toda a América Latina, o autor discute a forma como o excedente econômico é produzido e extraído pelo setor primário e as pressões decorrentes da busca incessante por rendas fundiárias – no sentido clássico de lucro extraordinário proveniente da posse de jazidas minerais, campos petroleiros, recursos hídricos ou propriedades de terras.

O processo de expansão da demanda mundial por commodities, em seguida às crises cambiais do final da década de 1990, sinalizou para a possibilidade de geração de saldos comerciais através de certo esforço primário-exportador, que pudessem fazer frente à dependência por recursos externos. Em uma espécie de arranjo público-privado, fomentou-se a acumulação de capital nos complexos agroindustriais, que configuram certo estilo de apropriação do excedente. Há nesse sentido uma dupla pressão para enfrentar a tendência a desequilíbrios do balanço de pagamentos pela via primária: de um lado, pela perda de competitividade das exportações de bens manufaturados e, de outro, pela crescente necessidade de remuneração do capital estrangeiro aportado.

Se, nesse quadro, o excedente gerado é capturado sob formas de “rendas de monopólio”, ao lado da superexploração dos recursos naturais e do trabalho74

, haverá também uma forte pressão para a concentração da propriedade da terra. Vale lembrar que existem inovações técnico-produtivas sendo absorvidas pelo setor primário, mas que a maior parte delas compõe um pacote tecnológico disseminado há décadas no âmbito mundial e cujos ganhos concentram-se nas mãos das grandes transnacionais do agronegócio. Tanto nas áreas agrícolas já consolidadas como nas novas fronteiras buscar-se-ão uma maior produtividade dos recursos naturais pelo uso intensivo de pacotes tecnológicos agroquímicos que, além de diretamente predatórios ao meio ambiente, implicam maior consumo de água, solos, florestas nativas e biodiversidade. Consequentemente, os efeitos em termos ambientais e agrários tendem ao sentido oposto ao da sustentabilidade e da igualdade social. Isto é, deixados a critério mercantil, os ganhos de renda da fase ascendente das commodities serão apropriados de forma privada pelos

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A expansão do emprego e da massa salarial no setor primário não acompanha o ritmo de crescimento da produção e exportação do agronegócio. Além disso, “as relações de trabalho que se estabelecem na produção agropecuária parecem configurar um estilo de ‘superexploração’, seja pela imposição de jornadas excessivas (corte de cana, por exemplo), seja pelo manejo de materiais agrotóxicos altamente nocivos à saúde humana, seja pelas relações de precária contratação de trabalhadores migrantes nos picos da demanda sazonal das safras agropecuárias” (DELGADO, 2010, p. 121).

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detentores do capital, das terras e das jazidas minerais, sem a devida preocupação com a dilapidação dos recursos não renováveis ao longo do tempo, enquanto os seus custos em termos ambientais e sociais serão socializados para o conjunto da sociedade (DELGADO, 2010).

Um último ponto que Delgado (2010) atenta é para o caso do petróleo brasileiro da zona do Pré-Sal, que, embora, conte com um polo de geração de inovação e progresso técnico, com extravasamento de investimentos em outras cadeias industriais de ponta – como as de eletroeletrônica, química e metalmecânica –, este não deixa de se enquadrar na expansão baseada na superexploração dos recursos naturais.

Segue-se aqui uma sequência causal do progresso técnico para a acumulação de capital, com criação de extensa rede interindustrial de demandas e inovações, para ao final do processo extrair o recurso natural, a ser posteriormente manufaturado em novas cadeias industriais. Esse processo difere teoricamente da expansão primária em resposta direta à demanda externa (caso do agronegócio), mas ambos estão impelidos por uma renda fundiária dos recursos naturais em expansão cíclica (DELGADO, 2010, p.122).

Ainda no âmbito da crítica à intensificação da exploração de recursos, Svampa (2013) defende que a América Latina ingressou em uma nova ordem econômica, política e ideológica75, legitimada pelo boom dos preços internacionais das commodities, a qual “genera indudables ventajas comparativas visibles en el crecimiento económico y el aumento de las reservas monetarias, al tiempo que produce nuevas asimetrías y profundas desigualdades en las sociedades latino-americanas” (SVAMPA, 2013, p.31). Nessa, juntamente com processo de reorientação às atividades primárias extrativas ou de maquilas, de relativamente baixo valor agregado, há uma tendência à concentração, à especialização produtiva e à monopolização das terras, desbancando comunidades rurais, campesinas ou indígenas. Isto é, incentivam-se os grandes empreendimentos do agronegócio, controlado pelas grandes corporações nacionais e transnacionais, que passam a reorganizar a ocupação de terras, propriedades e recursos de modo similar ao que existiu no passado: enclaves de exportação com baixos encadeamentos produtivos internos, alta fragmentação regional e social e fortemente dependentes do mercado internacional.

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A autora a denomina de “Consenso de Commodities”, analisada a partir de uma abordagem múltipla: econômica, social, política, ideológica, cultural e ambiental. “La misma expresión ‘Consenso de los Commodities’ conlleva una carga no solo económica sino también político-ideológica, pues alude a la idea de que existiría un acuerdo – tácito, aunque, con el paso de los años, cada vez más explícito – acerca del carácter irrevocable o irresistible de la actual dinámica extractivista, dada la conjunción entre la creciente demanda global de bienes primarios y las riquezas existentes, potenciada por la visión ‘eldoradista’ de una América Latina como lugar por excelencia de abundantes recursos naturales. Esta conjunción, que en economía adopta el nombre tradicional de ‘ventajas comparativas’, ha ido cimentando las bases de una ilusión desarrollista que recorre, más allá de las diferencias y los matices, el conjunto de los países latino-americanos” (SVAMPA, 2013, p.35).

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A outra face deste processo, apontado por Svampa (2013) e Katz (2014) é a tendência à perda de soberania alimentar na região. De um lado, pelas dificuldades e encarecimento dos custos aos micro e pequenos produtores de alimentos76; e de outro, pelos fortes incentivos aos cultivos de exportação em detrimento do abastecimento interno, inclusive no caso dos produtos ligados ao novo sistema agroalimentar, que podem destinar-se à demanda para consumo humano, animal ou para a produção de biocombustíveis – como são os casos da soja, trigo, milho, sorgo, cana-de-açúcar e óleo de palma77.

La soja es un típico ejemplo de este nuevo esquema agrícola. Se ha difundido en Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay, destruyendo otros cultivos, mediante un modelo transgénico de siembra directa y dependencia de Monsanto como