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Evolução dos Pequenos Negócios no Capitalismo

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CAPÍTULO I: Os Pequenos Negócios

1.3. Importância Econômica e Social dos Pequenos Negócios

1.3.1. Evolução dos Pequenos Negócios no Capitalismo

Desde o século XVIII, os economistas já conseguiam reconhecer o importante papel dos empreendedores, e de seus empreendimentos, no processo de desenvolvimento dos países. Apesar de, inicialmente, os economistas associarem a figura dos empreendedores unicamente a indivíduos que eram capazes de reconhecer uma oportunidade de mercado e aproveitá-la, com vistas à obtenção de renda, mais adiante, passaram a considerar como empreendedores aqueles que, de alguma forma, associavam o conceito de inovação a seus negócios, distinguindo-se, portanto, do capitalista clássico, que dava ênfase ao resultado da equação investimento x lucro x riscos da operação (SCHUMPETER, 1989).

Segundo Mills (1969), é possível, relacionar a formação histórica dos EUA com a ideologia do pequeno negócio, pois desde esse passado remoto verifica-se a existência de pequenos negócios, à época caracterizados por donos de pequenos negócios independentes, homens de negócio e pequenos proprietários de terra que conseguiam produzir volume considerável de excedente, vendido a terceiros. A regulação das negociações e do mercado era feita de maneira individual, a partir de acordos e entendimentos que dispensavam a interferência de um poder ou autoridade maior. Para o estudioso, tal situação foi sendo tão significativamente modificada com o curso dos anos, que os pequenos empresários, que antes desfrutavam de privilegiada posição social e serviam de modelo e inspiração para os demais, foram apresentados ao declínio de suas atividades, a partir das transformações advindas com a revolução industrial, sendo a tendência à concentração do capital e dos mercados as mais relevantes dentre as mudanças advindas com a moderna sociedade industrial.

Não se sabe ao certo o momento exato em que surgiram as micro e pequenas empresas no Brasil, o que faziam e nem onde se localizavam, mas as obras de Prado Júnior. (1995) e Furtado (1980) nos levam a crer que a pequena propriedade sempre esteve presente no Brasil e que surgiu juntamente com a atividade produtiva colonial, o que significa que a história do país está intimamente ligada à história dos pequenos negócios nacionais.

Ao que tudo indica (PALÁCIOS, 2002), as primeiras pequenas empresas surgiram, no Brasil, no momento em que os índios brasileiros, que se dedicavam à agricultura de subsistência, passaram a fornecer alimentos para os centros urbanos, entretanto, estudos históricos recentes apresentam indícios de que a pequena empresa, à época, participava diretamente da atividade econômica principal, não se resumindo às atividades secundárias e de apoio à grande empresa colonial:

ao amparo de uma crise sem paralelo na oferta de força de trabalho escrava para a região, os cultivadores pobres livres crescem e se expandem até ocupar, nas últimas décadas do século XVII, articulados por impulsos provenientes de Manchester e Liverpool, a linha de frente da produção agrícola nordestina e o mais forte canal de articulação do Brasil com o mercado mundial: o algodão (PALÁCIOS, 2002, p.37).

Souza, Machado e Oliveira (2007) revelam que há um sem número de referências à atividade de pequenos empreendedores nos relatos de viajantes e cientistas que se aventuraram pelo Brasil durante o início do século XIX, os quais mencionavam a produção e a comercialização, ao longo do território brasileiro, de diversos tipos de furtas e verduras, alimentos processados, como pastéis, pipoca, fubá e polvilho, e produtos manufaturados, como cola de sapateiro, vinho, aguardente e outras bebidas, charutos, doces, bolos e quitutes.

Assim, segundo os pesquisadores, no Brasil, antes mesmo de sua independência, já havia surgido um considerável número de micro e pequenas empresas dos ramos de produção agrícola, manufatura, comércio e serviços.

No resto do mundo, no século XIX, a base econômica da maioria das nações era formada por um grande número de pequenas empresas, que baseavam suas estratégias de comercialização na lei da oferta e da procura e se autorregulavam a partir do que se chamou de "mão invisível", conceito desenvolvido por Adam Smith, em seu clássico livro "A Riqueza das Nações", que descreve como, apesar da inexistência de uma instituição, entidade ou pessoa que coordene e oriente o interesse comum, a própria interação dos indivíduos em uma economia resulta em uma determinada ordem (McCREADIE, 2010).

Nessa mesma época, em 1867, Karl Marx, em seu clássico livro "O Capital" (MARX, 2008), ponderava sobre a sobrevivência e a expansão da pequena empresa em uma economia capitalista, e a partir de 1870, convencionou-se substituir o termo capitalismo por capitalismo monopolista, nomenclatura mais adequada ao aumento expressivo não só do tamanho das empresas, mas também do grande controle que passaram a exercer na economia mundial.

O papel da pequena empresa no desenvolvimento de sociedades capitalistas na primeira metade do século XX teve, relativamente, pouco destaque na literatura e na pesquisa econômica, muito provavelmente, em virtude da suposição de que os mercados alcançariam um estágio de concorrência perfeita, que se caracteriza pela competição igualitária travada entre empresas de tamanho e comportamento homogêneos, visto que o tamanho médio das empresas continuou a aumentar até o início dos anos 1970, ocasião em que o quadro começou a ser alterado, quando "a crise do padrão fordista de produção em massa e a emergência da terceira revolução industrial, capitaneada pela microeletrônica, estimularam a recuperação do interesse pelo tema" (GUERRA; TEIXEIRA, 2010, p.133).

Solomon (1989, p.9) enfatiza que, “contrariando todas as expectativas, o papel totalmente imprevisto das pequenas empresas adquiriu destaque a partir do choque dos preços do petróleo em 1973”, e que “antes mesmo de as dimensões das fábricas começarem efetivamente a encolher na década de 70, já se sabia que muitas instalações industriais eram operadas a uma escala maior do que a ótima” (SOLOMON, 1989, p.178).

Schumacher (1973, p.58-59), na ocasião, defendeu os pequenos negócios:

Para o trabalho construtivo, a principal tarefa é sempre restaurar certo tipo de equilíbrio. Hoje, sofremos de uma idolatria quase universal do gigantismo. É necessário, por isso, insistir nas virtudes da pequenez – onde ela caiba. Se existisse uma idolatria predominante da pequenez, independente do assunto ou finalidade, ter-se-ia de procurar exercer influência no sentido oposto.

Exatamente nesse período, na década de 70, em vários países ao redor do mundo, surgem leis específicas e órgãos governamentais de apoio aos pequenos negócios, com o intuito de discriminar e conceder a estes empreendimentos benefícios legais, fiscais, creditícios e técnicos. Conforme apresenta Tafner (1995, p.7):

Também no Brasil, a partir dos anos 70, torna-se mais evidente a preocupação governamental com as pequenas empresas. Em 1972, é criado o Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa - Cebrae, e em 1976, é legalmente atribuída ao Banco do Brasil a missão de contribuir para o conhecimento da pequena e média empresa (PME), através de estudos e de participar do atendimento financeiro a esse segmento econômico. [...] Em 1977, o Grupo de Trabalho GT-PME do Banco do Brasil divulgou alentado trabalho nesse sentido, elegendo faturamento e ativo fixo como as variáveis capazes de, conjuntamente, permitir o enquadramento das empresas nas diferentes regiões do país e nos vários setores e ramos da economia. O Cebrae, por sua vez, definia sua atuação distinguindo as pequenas das médias empresas com base em pessoal ocupado. Ao final dos anos 70, o Cebrae amplia a estratificação, passando a admitir as microempresas, já então com presença dominante na estrutura econômica do país. Em 1984, a realidade ímpar da microempresa é legalmente reconhecida através de seu estatuto. Na mesma época, os rótulos empresa e empresário passam a abrigar desde o trabalhador por conta própria, com atividades de "fundo de quintal", até os grandes industriais e comerciantes.

Entretanto, ainda no início dos anos 1980, refletindo o "espírito" e os ânimos da época, ainda havia quem, influenciado pelo contínuo crescimento do tamanho dos empreendimentos, assegurasse que as pequenas empresas tendiam a desaparecer, em vista da burocratização dos Estados e das grandes empresas (MOTTA; PEREIRA, 1983). Também havia quem defendesse que os pequenos empreendimentos não encontrariam lugar nos anos vindouros, declarando que a pequena empresa tenderia a "desaparecer e ceder lugar à empresa grande, planejada tecnicamente" (GALBRAITH, 1982 p.36), ao que, algum tempo depois, Lustosa (1989, p.391), respondeu, afirmando que “o grande inimigo dos pequenos é [...] o condicionamento de novas elites a lidar com os grandes empreendimentos, de feição oligopolista, caracterizando o que classifico de síndrome do faraonismo”.

A partir de então, presenciou-se um crescente interesse no assunto, e grande número de estudos foram iniciados para colocar à prova a hipótese de que, ante a nova faceta do capitalismo que se desvendava, marcada por mercados altamente segmentados e pela competição globalizada, certamente seria necessário que as empresas desenvolvessem um novo padrão de atuação e de gestão, que contemplasse mais flexibilidade e adaptabilidade do que jamais foi necessário (WINTER, 1995; C. LEMOS, 2003). Os pequenos negócios poderiam facilmente apreender, tais características, visto suas particularidades inerentes, as quais poderiam colocá-los em posição privilegiada em relação às empresas maiores. Aliando

sua capacidade de adaptação ao acesso facilitado a equipamentos eletrônicos e tecnológicos, que passaram a ter preço reduzido, os pequenos negócios progrediram e verificou-se o surgimento de um novo paradigma produtivo e organizacional, que substituiria a produção em massa e seria caracterizado pela produção customizada, especializada e dirigida das pequenas empresas (PIORE; SABEL, 1990).

Para Winter (1995), as evidências não deixaram dúvidas de que existia um movimento sólido e crescente não só de expansão do volume de pequenas empresas, mas especialmente da consolidação da importância de seu papel, cuja relevância o mundo não pode mais negar e prescindir, e esse período ficou conhecido como a época do renascimento das pequenas e médias empresas, termo criado por Julien (1997). Escrivão Filho (2006, p.91) aponta como causas desse movimento:

1) Causa geral ligada à mudança na economia, associada: a) à tendência à segmentação de uma parte crescente dos mercados, o que favorece a produção em pequenas séries; b) às novas aspirações dos trabalhadores por informalidade e por fuga à superespecialização que poderiam ser mais bem atendidas nas pequenas empresas; c) à capacidade das novas tecnologias informatizadas em atendem as necessidades da pequena escala; 2) Crítica à economia de escala, pois sabe que já foi alcançado o ponto da deseconomia de escala no estresse dos funcionários, nos custos de controle, além da perda de qualidade de vida nas grandes cidades; 3) Causas específicas, como a entrada em massa de jovens provenientes do boom de nascimentos da década de 50, que rejeitam os empregos “burocráticos” das grandes empresas; e a entrada das mulheres em pequenos negócios no setor de serviços com horários flexíveis.

Recentemente, a grande participação das micro e pequenas empresas na geração de postos de trabalho e o clima favorável à abertura de um negócio próprio em todo o mundo geraram o que Loveman e Sengenberger (1990, p.3) chamaram de “um entusiasmado abraço dos economistas ortodoxos à ideia do novo empreendedorismo”, e Solomon (1989, p.22) a percebeu como uma adequação “ao ideal [...] do homem que vence na vida por esforço próprio”.

Segundo Escrivão Filho (2006, p.92), em 1985, a Organisation for Economic Co-

operation and Development comunicou formalmente a verificação de uma forte tendência,

dentre os países membros da organização, de reconhecer a maciça geração e concentração de empregos nos pequenos negócios e, consequentemente, passar a apoiar esse tipo de empresa, entendendo-se apoio governamental como "apoio fiscal-tributário na forma de alíquotas menores de impostos, apoio financeiro por meio de financiamento de diversas modalidades e taxas diferenciadas do mercado, e apoio de treinamento técnico-gerencial voltado às necessidades desse porte de empresa".

A esse respeito, Tafner (1995) argumenta que desde o início dos anos 50 - quando no pós-guerra acontece o retorno de um enorme contingente de pessoas, até então envolvidas na indústria da guerra, para o mercado de trabalho -, agências públicas e privadas de todo o mundo dedicam-se a definir critérios para classificar as empresas segundo seu porte, para fins de bem compreender as características dos pequenos negócios e, a partir de então, inferir a intensidade e as modalidades de benefícios necessários aos empreendimentos. Na ocasião, aos governos cabia incentivar o autoemprego, garantir um mercado competitivo e estimular as vocações empresariais dos indivíduos, o que, de certa forma, aliviava a forte pressão sobre a previdência e sobre o mercado de trabalho.

Observando a evolução dos pequenos negócios segundo a dinâmica capitalista, Marx (2008), afirmou que a utilização de inovações tecnológicas, ao longo do tempo, promoveu significativo desenvolvimento nas unidades já mecanizadas da grande indústria, ao mesmo tempo em que, a cada inovação incorporada pelas grandes empresas, as pequenas empresas, que não possuíam capital para acesso às inovações e, portanto, necessitavam manterem-se obsoletas, sofreram severos impactos negativos.

A batalha da concorrência é conduzida por meio da redução do preço das mercadorias. Não se alterando as demais circunstâncias, o barateamento das mercadorias depende da produtividade do trabalho e este da escala de produção. Os capitais grandes esmagam os pequenos. Ademais, lembramos que, com o desenvolvimento do modo de produção capitalista, aumenta a dimensão mínima do capital individual exigido para levar adiante um negócio em condições normais. Os capitais pequenos lançam se, assim, nos ramos de produção de que a grande indústria se apossou de maneira esporádica ou incompleta. A concorrência acirra se então na razão direta do número e na inversa da magnitude dos capitais que se rivalizam. E acaba sempre com a derrota de muitos capitalistas pequenos, cujos capitais ou soçobram ou se transferem para as mãos do vencedor. (MARX, 2008, p.489).

Nessas condições, segundo a análise de Marx (2008), tudo levava a crer que as pequenas empresas estariam fadadas a sucumbir diante do poderio das grandes indústrias, tendo em vista que o acesso às novas tecnologias e ao crédito, fatores basilares para a sobrevivência e a expansão das empresas no modo de produção capitalista, são praticamente impossíveis para os pequenos empresários. Entretanto, a sobrevivência dos pequenos negócios ocorre em virtude da reacomodação do pequeno capital sob a dominação de capitalistas mais poderosos, o que, de certa maneira, representa uma dispersão do capital, que por sua vez, fomenta o nascimento contínuo de novas empresas e garante a sobrevivência de outras que, sendo complementares às grandes, convivem lado a lado com elas.

Embora legalmente independentes, as pequenas empresas necessitavam cumprir a demanda e satisfazer as condições técnicas e administrativas ditadas pela grande empresa, e

assim, foram conservando a relação que lhes garantiu a sobrevivência, num cenário em que as pequenas empresas com menor capacidade de incorporar o progresso tecnológico, passaram a estabelecer, com as grandes empresas, uma relação de subordinação, e o que lhes possibilitou acumular capital foi a intensificação do capital das grandes firmas, de maneira que o crescimento do capital das maiores:

não impediria e até colaboraria para que as pequenas empresas realizassem sua acumulação sob condições aparentemente adversas, dando, dessa maneira, condições para sua sobrevivência e, até mesmo, expansão. Assim, o grande capital e o pequeno cumpririam funções complementares no processo de acumulação capitalista (GUERRA; TEIXEIRA, 2010, p.128).

A visão de Marshall (1996), um dos mais importantes economistas da história da Inglaterra, sobre o papel das pequenas empresas no sistema capitalista, leva em conta que em um cenário econômico em que se destacam a divisão do trabalho e as grandes economias de escala, tornam-se nítidas as condições adversas com as quais as pequenas empresas precisam conviver. Para o pesquisador:

a divisão de tarefas na grande empresa criaria a oportunidade para a especialização do trabalho e a utilização de mão de obra e equipamentos específicos para as diversas etapas do processo produtivo, estimulando a instalação de um maquinário cada vez mais caro e gerador de maior produtividade. Já nas pequenas empresas, o maquinário seria de uso genérico, pois a baixa capitalização, além da pequena escala, não lhes permitiria comprar equipamentos especializados. Na grande empresa, a especialização é a palavra de ordem, presente, por exemplo, na área técnico‑ administrativa, expressão da separação entre propriedade e gestão. Na pequena empresa tem‑ se a figura do empresário “faz de tudo” que, ao lidar com todos os problemas do dia a dia, ficaria incapacitado de pensar a empresa do ponto de vista estratégico. A esse conjunto de vantagens das grandes empresas incorporam‑ se aquelas conquistadas pela sua atuação no mercado, tais como: compras de grandes lotes; redução nas tarifas de transportes, e ganhos adquiridos pelos gastos em propaganda (GUERRA; TEIXEIRA, 2010, p.129).

Diante desse cenário aparentemente tão pouco esperançoso e promissor para os pequenos negócios, Marshall (1996) sugere que o espaço dos pequenos está garantido na medida em que as grandes empresas não podem crescer indefinidamente, tanto porque as habilidades dos empresários tendem a regredir com o passar do tempo; porque as competências de seus herdeiros tendem a ser insuficientes para acompanhar a evolução da sociedade; porque a concorrência tornou-se acirrada; porque a inexistência de barreiras de entrada no mercado demandaria a substituição contínua de empresários decadentes por novos empresários, que surgem e crescem; quanto pela dificuldade de ampliar enormemente e constantemente o negócio, em virtude da concorrência e da dependência que as firmas têm de

manter na economia de escala, o que imporia à empresa uma situação em que, no longo prazo, fosse congelada em um dado tamanho adequado, auferindo apenas lucros normais, pois crescer além desse tamanho implicaria em custos unitários crescentes, ou seja, deseconomia de escala.

Ademais, Marshall (1996) destaca, como fatores que sustentam a existência, o crescimento e o desenvolvimento dos pequenos negócios, a capacidade dos pequenos empresários de reunir capital e mão de obra, sua disposição para assumir riscos na implantação de um pequeno empreendimento - que se justificaria pela satisfação de serem chamados de homens de negócio, classificando como indivíduos que fazem o papel de intermediários entre os operários e os capitalistas -, e o sistema de terceirização a partir da contratação de pequenas oficinas ou trabalho individual e caseiro, largamente utilizado pelos capitalistas grandes empresários para evitar o registro de grande número de trabalhadores em seus livros contábeis.

O renomado pesquisador econômico Josef Steindl, no livro "Pequeno e Grande capital" (STEINDL, 1990), aborda os problemas econômicos ligados diretamente ao tamanho das empresas, ele menciona que, no sistema capitalista, dificilmente uma grande empresa surge como resultado do crescimento expressivo de uma pequena empresa, mas sim da formação de novas sociedades anônimas ou por meio de fusões e aquisições, entre outros motivos. Um pequeno negócio, mesmo que consiga sobreviver graças à manutenção de um mercado ou parcela do mercado que lhe seja cativo, teria que crescer muitas vezes para atingir o tamanho de uma grande empresa, o que lhe tomaria tanto tempo que seria improvável de acontecer, tendo em vista a altíssima taxa de mortalidade das pequenas empresas. Apesar de acreditar que ao longo do tempo seria inevitável a eliminação do pequeno capital, pois com a ampliação do mercado, as empresas maiores gozariam, cada vez mais, de vantagens diferenciais, há algumas razões que poderiam explicar a sobrevivência dos pequenos negócios.

Para Steindl (1990), a primeira explicação residiria no fato de que os pequenos empreendimentos só desapareceriam na medida em que as grandes empresas fossem crescendo ainda mais e tomando-lhes o mercado, processo associado às demandas de competitividade inerentes ao avanço do capitalismo, no qual predominam os oligopólios, que poderia ser lento e, portanto, permitiria à pequena empresa certo tempo de sobrevivência. Outra justificativa seria a falta de interesse, por parte das grandes empresas - líderes de mercado em virtude de baixos custos de produção - em eliminar as pequenas empresas que se estabelecem em segmentos pouco significativos do mercado, desinteresse fundamentado no

alto custo de eliminação, que não compensaria os ganhos das grandes empresas em termos de expansão de mercado e não colaboraria significativamente com o aumento de seu poder.

Por fim, Steindl (1990) argumenta que a persistência dos empreendedores seria um fator chave para a sobrevivência dos pequenos negócios, primeiro porque uma sociedade capitalista, em que a posição social de um empresário é bastante valorizada, uma vez que o indivíduo tenha montado seu negócio e se estabelecido, investirá todos os seus esforços para sustentar o empreendimento e o status que está vinculado e ele, mas principalmente porque ser proprietário de um negócio significa, também, dar emprego a si próprio e, muitas vezes, a seus familiares.

Schumpeter (1975, p.105-106), por sua vez, compreende o capitalismo como um sistema em contínua transformação no qual a inovação (técnica e gerencial), é essencial e basilar. Para o estudioso, a inovação é a mola propulsora que renova continuamente os meios e as formas de produção, e assim, colabora para o desenvolvimento da economia, pois seria:

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