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Microempresas e Empresas de Pequeno Porte

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CAPÍTULO I: Os Pequenos Negócios

1.2. Critérios para a Classificação dos Pequenos Negócios

1.2.2. Microempresas e Empresas de Pequeno Porte

Pesquisadores considerados expoentes da área de administração de empresas e de áreas afins, como Porter (2005) e Longenecker, Moore, Palich e Petty (2007) são partidários da ideia de que as microempresas e as empresas de pequeno porte (ou pequenas empresas), comumente denominadas MEs e EPPs, ou ainda MPEs (sigla para micro e pequenas empresas), contribuem de forma significativa para o crescimento econômico de um país, entre outros motivos, porque atuam, de forma expressiva, em mercados que complementam os negócios e processos das grandes empresas, trabalhando em parceria com os

empreendimentos de maior tamanho, mas também porque se estabelecem como elo da cadeia produtiva, pois muitas vezes são compradores de produtos e serviços dos empreendedores individuais e fornecedores das médias e grandes empresas, porque geram, na consecução de suas atividades, menos prejuízos ao meio ambiente e, porque criam grande número de postos de trabalho, tanto direta quanto indiretamente.

Dados provenientes de um documento de análise das estatísticas de emprego no Brasil, publicado em fevereiro de 2012 (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, 2012a, p.3), corroboram a afirmação, revelando que as micro e pequenas empresas "foram responsáveis por 71,5% do saldo líquido de empregos gerados" no segundo mês do ano.

Na literatura, é possível encontrar muitas definições para os termos microempresa e pequena empresa, na tentativa de impor certo nível de padronização aos conceitos, os pesquisadores têm utilizado parâmetros como o volume de ativos, o faturamento, o volume de vendas e o número de funcionários para classificar as empresas em função de seu tamanho (D’AMBOISE; MULDOWNEY, 1988).

Considerando a grande dificuldade existente na tarefa de determinar o tamanho das empresas, Drucker (1998) ressalta que uma profunda análise da estrutura administrativa de cada negócio possivelmente seja o único parâmetro realmente confiável, sobretudo no que se relaciona à alta administração, uma vez que, na medida em que uma empresa cresce, sua organização administrativa vai se tornando mais complexa e passa a demandar novos níveis hierárquicos entre o empresário e seus funcionários, pois empresas de diferentes portes apresentam problemas distintos, deficiências típicas e, portanto, demandam uma estrutura administrativa específica.

Para Solomon (1989), cabe uma distinção em função da relação entre propriedade e mão de obra, de maneira que, na microempresa, o proprietário é, além de gestor, o principal operário, mesmo que haja um determinado número de funcionários trabalhando sob sua supervisão, ao passo que, na pequena empresa, o proprietário tende a administrar o negócio e dirigir/ supervisionar o trabalho de seus empregados, sem que, na maioria dos casos, necessite assumir função operacional.

De maneira geral, Julien (1998) ressalta seis características que podem colaborar para que se distinga as micro e as pequenas empresas: o tamanho, definido pelo número de funcionários; o nível de centralização administrativa, ou seja, o maior ou menor grau em que a gestão é centrada no proprietário; o baixo nível de especialização dos dirigentes, equipamentos e funcionários; a tendência à aplicação de estratégias informais ou até mesmo

intuitivas; a utilização de um sistema simplificado de informações internas, transmitidas na empresa pelo contato direto entre funcionários e dirigente, na ausência de processos estruturados; e a utilização de um sistema simplificado para o processamento de informações externas, que resulta do contato direto entre os dirigentes da empresa e seus clientes e fornecedores.

D’Amboise e Muldowney (1988) concordam com Leone (1991) ao afirmar que, entre outras razões, o que torna tão complexo o estudo das micro e pequenas empresas é sua heterogeneidade, pois há inúmeras micro e pequenas empresas, atuando nos mais diversos segmentos de todo o tipo de mercado. Esta dificuldade constitui uma grande barreira ao desenvolvimento de pesquisas que busquem identificar os problemas típicos desses dois tipos de empresas e, consequentemente, para que consigam sugerir soluções.

Leone (1991; 1999) e Tafner (1995) concordam sobre a particularidade de aspectos dos pequenos empreendimentos. A. G. Oliveira (2004), por sua vez, assegura que as micro e pequenas empresas possuem características muito próprias em comparação às empresas de qualquer outro porte, ressaltando algumas singularidades nelas observadas como a flexibilidade de localização e a composição do capital, predominantemente nacional.

Cher (1990) afirma que as microempresas e as empresas de pequeno porte apresentam desempenho significativamente melhor em atividades que demandam maior habilidade e em serviços mais especializados, além de conseguirem ser mais rápidas do que as demais ao lidar com seus diversos públicos, visto que tendem a desenvolver relacionamento mais próximo e a conhecer melhor seus clientes, fornecedores, concorrentes, consumidores e funcionários.

Dandridge (1979) também defende a existência de características únicas do contexto das micro pequenas empresas, o que justifica a atenção às particularidades das MPEs, uma vez que não lhes é possível, exatamente em função de tais singularidades, espelhar-se no modelo, nas operações, na estrutura, nos processos, na tomada de decisões e nos princípios das médias ou das grandes empresas. Nesse sentido, Welsh e White (1981) compartilham a ideia de que o tamanho diferenciado das microempresas e das empresas de pequeno porte cria uma condição especial e única, que as distingue das grandes empresas em diversos aspectos de gestão, requerendo uma abordagem diferenciada de gerenciamento.

Para Rattner (1985), se é consenso que as MPEs não apresentam características semelhantes às de nenhuma outra empresa, é preciso admitir suas particularidades, motivo pelo qual o pesquisador apresenta alguns aspectos qualitativos que as distinguem, tais como a pouca divisão social e técnica do trabalho, a concentração das funções no proprietário-

dirigente e em seus familiares, a pouca ou nenhuma qualificação dos funcionários, a ausência de sistemas informatizados para a tomada de decisões e a escassez de recursos próprios.

Sob o ponto de vista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2003, p.18), são características das micro e pequenas empresas:

baixa intensidade de capital; altas taxas de natalidade e de mortalidade [...]; forte presença de proprietários, sócios e membros da família como mão de obra ocupada nos negócios; poder decisório centralizado; estreito vínculo entre os proprietários e as empresas, não se distinguindo, principalmente em termos contábeis e financeiros, pessoa física e jurídica; registros contábeis pouco adequados; contratação direta de mão-de-obra; utilização de mão-de- obra não qualificada ou semiqualificada; baixo investimento em inovação tecnológica; maior dificuldade de acesso ao financiamento de capital de giro; e relação de complementaridade e subordinação com as empresas de grande porte.

O Fórum Permanente da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR, 2007, p.11-12), leva em consideração, para a elaboração de propostas e ações de políticas públicas orientadas às MPEs, os seguintes aspectos observados em sua realidade:

reduzido nível de organização contábil, gerencial, estrutural; as demandas quase sempre vêm de uma idéia, ou de uma necessidade pertinente à empresa; as ME e EPPs têm dificuldade de comprovar, por meio de demonstrativos contábeis ou técnicos, suas necessidades e aptidões; capital social reduzido; pouca capacidade de desenvolver parcerias com os técnicos e acadêmicos; ausência de: recursos humanos qualificados para elaboração de propostas que atendam às exigências técnicas e legais dos instrumentos de apoio disponibilizados por instituições; de mão de obra qualificada para gestão, monitoramento, avaliação finalização (prestação de contas) de projetos; infraestrutura básica para atendimento à demanda dos instrumentos de apoio (insumos, equipamentos, material de expediente, etc); as ME e EPPs não têm facilidade de estabelecer parcerias que garantam o cumprimento das exigências estabelecidas nos instrumentos de contrato; suas necessidades são de níveis mais elementares (inovações incrementais e não radicais); o retorno aos pleitos das ME e EPPs é moroso, e não corresponde à urgência que elas têm de soluções; a característica básica das ME e EPPs é a falta de estrutura na empresa, falta de visão e ausência de conhecimento técnico. Geralmente o empresário é responsável por todas as áreas da empresa; seus recursos humanos não são suficientes nem apropriados para as atividades de P&D; falta de entendimento das empresas sobre a importância da inovação, não reconhecendo este processo como elemento alimentador da longevidade dos seus negócios; falta de cultura; as ME e EPPs normalmente focam ações que geram resultados operacionais de curto prazo; desconhecimento destas empresas sobre as questões tecnológicas que envolvem as suas áreas de atuação e sua importância para o seu desenvolvimento; nível de faturamento baixo; questões relativas à qualidade; design, tecnologia, RH e infraestrutura; as ME e EPPs são mais

fragilizadas no tocante a incentivos fiscais/tributários. Há necessidade de políticas específicas para estimulara inovação; capacidade de gerar postos de trabalho; e capacidade de resposta (agilidade).

Uma característica marcante, de acordo com Cavalcanti e Mello (1981), é o fato de que as a pequenas empresas geralmente têm atuação local, contam com um sistema de produção enxuto e uma estrutura de gerência e administração reduzida - normalmente ligada a seus proprietários e representada individualmente ou por um grupo pequeno de pessoas -, geralmente funcionando no mesmo ambiente físico.

Para Pinheiro (1996), as micro e pequenas empresas se definem por uma série de características qualitativas ou circunstâncias relacionadas às suas particularidades, que estão, na maioria das vezes, delimitadas pelos seguintes fatores ou condições: a empresa é de propriedade de um só indivíduo ou pequeno grupo de pessoas; a empresa é administrada pelos proprietários; o capital é financiado basicamente pelos proprietários; a empresa atua em uma área limitada, geralmente restrita à sua localização ou à região onde está situada; e a atividade produtiva da empresa não ocupa lugar de destaque ou predominância no mercado em que atua.

Escrivão Filho (2006) adverte que nem tudo flores é positivo em relação às características identificadas exclusivamente nas micro e pequenas empresas, pois, dependendo da situação, do propósito e da análise, elas podem, ora representar grande diferencial competitivo em relação aos concorrentes de maior porte, ora tornarem-se dificuldades, empecilhos e até mesmo desvantagens, como é o caso, por exemplo, da íntima relação de pessoalidade entre a gestão e a propriedade das micro e pequenas empresas, que por um lado são características favoráveis ao relacionamento próximo com os stakeholders do microambiente (clientes, consumidores, fornecedores e funcionários, entre outros) e por outro lado podem representar amadorismo empresarial, se houver falta de regras e imaturidade profissional, problemas típicos da gestão paternalista.

Diante de tanta heterogeneidade, vantagens e limitações, e considerando a enorme relevância das micro e pequenas empresas para a economia e para a sociedade, assim como a crescente evidência dos problemas comuns enfrentados por elas (muitas vezes responsáveis por seu elevado índice de mortalidade), justificam-se o interesse em conhecer e a tendência de aprofundar as questões relativas à gestão destas empresas, para que se proponham alternativas viáveis e adequadas a esses negócios (FIGUEIREDO; MARTINELLI, 2002; SILVA; PEREIRA, 2004).

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