• Nenhum resultado encontrado

Panorama do Empreendedorismo no Brasil Atual

No documento Download/Open (páginas 61-68)

CAPÍTULO I: Os Pequenos Negócios

1.1. Notas sobre Empreendedorismo e Empreendedores

1.1.3. Panorama do Empreendedorismo no Brasil Atual

O empreendedorismo se apresenta como quesito basilar para o desenvolvimento sócio- -econômico de um país, dado que é fundamental para a concepção de oportunidades de trabalho e, além de ser considerado um importante catalisador, é também visto como um incubador do progresso tecnológico e de inovações de produtos, serviços e do próprio e mercado (MUELLER; THOMAS, 2000; JACK; ANDERSON, 1999).

Para Dolabela (2008a), a relevância que atualmente se atribui ao empreendedorismo, em todo o mundo, pode ser explicada por sua contribuição para o desenvolvimento político- econômico das sociedades, tendo em vista que ao mesmo tempo em que funciona como um fator de equilíbrio da estrutura empresarial, é, ainda, uma importante fonte geradora de empregos, receita incremental e produção de bens.

Domínguez (2002) garante que é consenso, nas mais diversas economias ao redor do globo, que o empreendedorismo, nos dias de hoje, é fundamental para o crescimento econômico e a ampliação da riqueza dos países, aprimora a condição de vida das pessoas, gera oportunidades de trabalho e remuneração, cria novos mercados, favorece o incremento da renda per capita da população, fomenta a emergência de novas tecnologias, e, portanto, é um elemento chave para o desenvolvimento.

Pesquisas recentes (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2010, p.162) apresentam que se reconhecea verdadeira mudança de patamar da sociedade:

em termos de desenvolvimento e de qualidade de vida se dará no momento em que se abrirem as oportunidades para que as pessoas realizem suas

escolhas. O processo de desenvolvimento apenas ocorre quando se ampliam as oportunidades para as pessoas e estas tenham condições de optar, ter liberdade para escolher. O empreendedorismo é um motor do desenvolvimento, e este motor é acionado no momento em que as pessoas têm aspirações, sonhos e condições para realizar esse sonho.

Carpintéro e Bacic (2003) argumentam que, obviamente, há que se considerar que diferentes níveis de desenvolvimento socioeconômico haverão de determinar aspectos diferentes para o ambiente em que surgem o tipo, a qualidade e a quantidade de empreendedores, assim como sua atitude empreendedora toma corpo, tais fatores, por sua vez, contribuem para a competitividade e produtividade de um país.

Entende-se por atitude empreendedora, conforme o programa de pesquisa Global

Entrepreneurship Monitor (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2012), a

resultante da conjugação dos seguintes indicadores: a) a percepção de oportunidades e capacidades (ou em que medida as pessoas acreditam que existam boas oportunidades a serem exploradas, tão boas a ponto de serem capazes de motivar o início de um novo negócio, e em que medida acreditam em seu potencial para realizar tais negócios); b) o medo do fracasso (ou o nível de risco que as pessoas estão dispostas a assumir quando percebem a motivação para iniciar um novo negócio); c) as percepções sobre a atividade empreendedora e o empreendedor (ou como o empreendedor é visto em termos de status na sociedade, como a mídia trata do assunto empreendedorismo e como a sociedade e ele próprio observa o empreendedorismo como opção de carreira); e d) as intenções empreendedoras (ou as reais intenções dos indivíduos quando optam por criar um novo negócio e, portanto, pela carreira empreendedora).

Na década de 1980, no Brasil, a redução do ritmo de crescimento da economia resultou em um alto nível de desemprego, o que contribuiu para que a criação de pequenos negócios passasse a ser vista como uma alternativa para abrigar a mão de obra excedente no país àquela época. Ao final dessa década, começaram a surgir as primeiras iniciativas governamentais para incentivar a abertura de micro e pequenas empresas e, a partir desse incentivo, o empreendedorismo ganhou tal força. Hoje, no Brasil, com o crescimento tão significativo no número de empreendedores individuais, micro e pequenas empresas, o país ocupa posição de destaque na tabela de comparação da taxa de atividade empreendedora em relação aos países no mundo (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2012).

Baron (2004) destaca que o empreendedorismo e o desenvolvimento são fenômenos complexos e condicionados por fatores culturais, políticos e institucionais, fato que explica porque, no Brasil, o empreendedorismo ganhou forças, em termos de crescimento

macroeconômico - com a expansão da renda e o aumento do poder aquisitivo das classes C e D, com consequente formação de uma classe média capaz de adquirir bens e serviços diversos. A partir da década de 1990, com a abertura da economia, o processo de privatização das grandes estatais e a abertura do mercado interno para concorrência externa, as ações empreendedoras tornaram-se frequentes como nunca visto anteriormente.

Ressaltamos que, a despeito do cenário em certa medida favorável, de acordo com o Global Entrepreneurship Monitor (2012), em termos gerais, a cultura brasileira não concentra grandes esforços no sentido de fomentar o empreendedorismo e ainda há muito que avançar em termos de reformas microeconômicas que tratem da modernização do sistema judiciário do país, da revisão e da simplificação das regras e dos procedimentos atualmente em vigor para a abertura e continuidade de um empreendimento no Brasil. Ademais, há dificuldades na solução de problemas fatais para o sucesso de um negócio tais como: a dificuldade de acesso ao crédito, que envolve exigências que não são factíveis de serem atendidas por um pequeno empreendedor - especialmente os que estão em fase inicial de operação do negócio; a carência de fontes de investimento para os empreendimentos emergentes, os quais necessitam ser apoiados por modalidades diferenciadas de crédito, sejam elas oferecidas por fonte pública ou privada.

Apesar desses fatores negativos, os brasileiros são um povo reconhecidamente empreendedor, conforme concluíram os dados da última pesquisa Global Entrepreneurship Monitor no Brasil (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2012), que apontam o Brasil como o décimo país mais empreendedor do mundo e a nação com mais alta taxa de empreendedorismo entre os países do G20, grupo criado em 1999 que congrega os ministros de finança e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo e da União Europeia, considerando-se, para efeito da pesquisa (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2012, p. 215), que empreendedorismo é "qualquer tentativa de criação de um novo negócio ou novo empreendimento, como, por exemplo: uma atividade autônoma, uma nova empresa ou a expansão de um empreendimento existente", aceitando que, em qualquer uma das situações apresentadas, a iniciativa pode partir de um único indivíduo, de grupos de indivíduos ou de empresas que já estejam estabelecidas.

Embora empreender, no Brasil, seja trilhar um caminho árduo, Baron e Shane (2007), Shane (2008), Timmons e Spinelli Jr. (2009) concordam que nas últimas três décadas o ambiente vem se tornando mais propício e incentivador ao empreendedorismo, o que pode ser comprovado por evidências como o fato de a mídia retratar os empreendedores de sucesso, em certa maneira, como heróis que conseguiram ultrapassar todas as dificuldades e alcançar seus

objetivos; por retratar a fragilidade cada vez maior das relações formais de trabalho e a grande instabilidade profissional; por haver o despertar de um grande número de pessoas para a possibilidade do autoemprego; em virtude das mudanças recentes nas quais se pode observar os valores da sociedade, que induzem pessoas mais jovens a terem preferência por um estilo de vida mais independente em detrimento da estabilidade; além da própria expansão da educação formal voltada para o empreendedorismo e o espírito empreendedor dos indivíduos.

A decisão de tornar-se um empreendedor pode ocorrer por várias razões, sejam elas impulsionadas por fatores externos ao indivíduo, como impulsos ambientais e/ou sociais, sejam elas reforçadas por aptidões pessoais do cidadão, ou ainda por motivações impulsionadas por um somatório de parte ou de todos esses fatores em conjunto (DOLABELA, 2008a). Desse modo, não há regras sobre como a decisão acontece: muitas vezes, as pessoas podem se surpreender ao perceber a existência de uma oportunidade e, então, decidir por iniciar um negócio; em outros casos, sequer pode ter ocorrido ao indivíduo o pensamento de se tornar um empreendedor antes do surgimento da ideia; em determinadas situações, é possível que o cidadão primeiro tenha decidido, racionalmente, tornar-se empreendedor, para somente a partir de então iniciar um processo de busca e levantamento de ideias sobre o que pode ser viável para ele. O fato é que os empreendedores podem tanto reconhecer as oportunidades com muita antecedência ao fato de tornarem-se empreendedores propriamente ditos, como pouco antes de constituir suas empresas.

Qualquer que tenha sido a razão, do empreendedor para iniciar uma atividade empreendedora, via de regra, sua motivação surge a partir de uma necessidade (empreendedorismo por necessidade) ou a partir da percepção de uma oportunidade (empreendedorismo por oportunidade). Empreendedores por necessidade são os que deram início a um empreendimento por não terem encontrado melhores opções para desenvolverem sua atividade profissional e, então, iniciam um negócio com vistas a gerar renda para si e para suas famílias, ao contrário dos que são chamados de empreendedores por oportunidade, que, conscientemente, optam por investir em um novo negócio, próprio, mesmo que tenham alternativas de emprego e renda.

Ressaltamos que o empreendedorismo por necessidade é mais suscetível à conjuntura econômica, cresce em razão inversamente proporcional à empregabilidade e tende a diminuir na medida em que a oferta de emprego geral no país aumenta, ao passo que o empreendedorismo por oportunidade suscita maiores chances de sobrevivência e sucesso para o negócio, pois empreendedores por oportunidade, podem ter mais vocação (e talvez mais

preparo) para se aventurarem no mundo dos negócios. Assim, no Global Entrepreneurship Monitor (2012, p.40) é apresentado:

No Brasil, desde o ano de 2003, os empreendedores por oportunidade são maioria, sendo que a relação oportunidade X necessidade tem sido superior a 1,4 desde o ano de 2007. Em 2010, o Brasil novamente supera a razão de dois empreendedores por oportunidade para cada empreendedor por necessidade, o que já havia ocorrido em 2008. Em 2010, para cada empreendedor por necessidade havia outros 2,1 que empreenderam por oportunidade. [...] Ainda no Brasil em 2010, entre os empreendedores por oportunidade, 43% o fizeram pela busca de maior independência e liberdade na vida profissional; 35,2% pelo aumento da renda pessoal; 18,5% apenas para a manutenção de sua renda pessoal; enquanto 3,3% citaram outros motivos, ou seja, 78,2% vislumbram uma oportunidade de aprimorar a vida com o negócio que estão abrindo.

Notamos, diante desses números, que se trata de momento crucial, com cenário fértil, para a cobrança de reforço nas políticas públicas brasileiras de apoio ao empreendedorismo, para que, incentivados, possam contribuir para aumentar ainda mais a vitalidade econômica brasileira e se unir aos empreendedores já estabelecidos em suas micro e pequenas empresas, que hoje respondem pelo emprego formal de quase 15 milhões de brasileiros, distribuídos em mais de 6 milhões de micro e pequenas empresas pelo país, as quais totalizam 99% de todo o volume de empresas instaladas do Brasil (MICRO, 2012), e que são, em geral, a principal fonte de recursos para uma grande parcela das maiores camadas populacionais do país:

sendo responsáveis por geração de emprego, renda, ocupação lícita, inclusão social, distribuição de riquezas, geração de recursos [...] e ampliação das oportunidades de crescimento setorial sustentável, empreendedorismo e pacificação social (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS/SÃO PAULO, 2009, p.4).

Para compreender o panorama do empreendedorismo no Brasil na atualidade, uma boa métrica é a análise dos dados apresentados pela última pesquisa Global Entrepreneurship

Monitor (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2012), conduzida desde 1999 por

um consórcio de instituições e liderada pelo London Business School e o Babson College, que analisa a atividade empreendedora dos países, destaca a relação entre empreendedorismo e crescimento econômico nos países, e identifica as condições que afetam e influenciam a abertura de novos negócios e o crescimento das pequenas empresas.

No estudo (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2012) é possível identificar que empreender, para os brasileiros, de uma maneira geral, é um grande sonho, e a ideia de se possuir um negócio próprio supera praticamente todos os demais sonhos que as pessoas normalmente têm na vida, incluindo-se o desejo de construir uma carreira estável em uma empresa, o que pode explicar o fato de que mais de 30% dos indivíduos adultos da

população brasileira sejam empreendedores. Esse percentual indica que aproximadamente 36 milhões de brasileiros com idade entre 18 a 64 anos estão envolvidos, de algum modo, na criação ou administração de um novo negócio, mostrando a imensa importância econômica e social do empreendedorismo no país.

É possível constatar que a Taxa Total de Empreendedorismo teve um aumento expressivo, passando de 20,9% em 2002 para 30,2% em 2012, um aumento de quase dez pontos percentuais. Aumentos também podem ser observados nas taxas dos diversos tipos de empreendedores – iniciais (nascentes ou novos) e estabelecidos. Essa evolução é compatível com o dinamismo da economia brasileira no período: o PIB cresceu em média cerca de 4%, em grande parte com base na expansão do mercado interno, o que abriu espaço para atividades empreendedoras dos mais diversos tipos (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2012, p.11).

Na pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2012), mencionada anteriormente, os empreendedores são divididos em função das fases do processo empreendedor no qual se encontram, sendo classificados como: a) empreendedores iniciais - empresários que estão num estágio inicial do processo empreendedor, iniciando um novo negócio e se dedicando para fazê-lo alcançar sucesso em um mercado geralmente competitivo, podendo ser ainda empreendedores nascentes, ou seja, estando ainda na etapa de avaliação em relação à abertura de um novo negócio, ou podendo ser empreendedores novos, que criaram um negócio recentemente; b) empreendedores estabelecidos - empresários que já estão com seu negócio consolidado e que, apesar de já atuarem no mercado há alguns anos, continuam inovadores, competitivos e orientados para o crescimento.

Em relação às características demográficas, o estudo revela que a maioria dos empreendedores brasileiros é homem, sendo que, em geral, ao passo que os empreendedores iniciais têm idade entre 25 a 34 anos, possuem curso superior completo e faixa de renda que varia de 6 a 9 salários mínimos, os empreendedores estabelecidos têm idade entre 45 e 54 anos, possuem Ensino Fundamental incompleto e faixa de renda que varia de 3 a 6 salários mínimos, apresentando indícios de que as oportunidades criadas pelo recente crescimento econômico do país têm chamado a atenção de pessoas mais jovens, com maior nível de escolaridade e qualificação, que alcançam melhores resultados em seus empreendimentos (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2010).

Para facilitar a abordagem sobre a questão da motivação que leva os indivíduos a empreender, a pesquisa classifica os empreendedores em empreendedores por necessidade, como aqueles que iniciam um negócio porque não têm outra opção de trabalho e emprego, e

empreendedores por oportunidade, que são aqueles que, mesmo tendo alguma alternativa de renda ou emprego formal, optam por empreender, seja para aumentar sua renda, seja para realizar um sonho ou para satisfazer seu desejo de independência.

Em relação aos empreendedores por oportunidade, a pesquisa aponta que:

A proporção de empreendedores por oportunidade no Brasil está em 69,2%, o que é um percentual expressivo, considerando que no início da Pesquisa GEM esta proporção era da ordem de 42%. Vale ressaltar que o percentual de empreendedores na Região Centro-Oeste, 84%, é equivalente aos países mais desenvolvidos. A maior proporção atual de empreendedores por oportunidades em relação ao do início da pesquisa GEM, no final dos anos 90, é também compatível com o dinamismo da economia brasileira após 2002. Mercados mais dinâmicos, inclusive com expressiva capacidade de gerar empregos formais, tendem a induzir ao empreendedorismo por oportunidade vis a vis ao de necessidade [...] Como era de se esperar, quanto maior o grau de escolaridade, maior é a proporção de empreendedores por oportunidade, e os maiores percentuais de empreendedores por oportunidade encontram-se nas menores faixas de renda. Sobre essa constatação, que inicialmente gera certa surpresa, pode-se levantar a hipótese de que, dadas as condições recentes de dinamismo do mercado interno da economia brasileira, a taxa de empreendedorismo por oportunidade é elevada mesmo em faixas de renda relativamente baixas (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2010, p.14-15).

Por fim, com o objetivo de avaliar o grau de inovação dos negócios empreendedores no Brasil, o estudo analisa as características dos empreendimentos e aponta que a maioria dos negócios ocupa-se de algo que não se apoia em um conhecimento novo, oferece um produto ou serviço que não é muito inovador, possui poucos ou nenhum consumidor no exterior e fazem uso de tecnologias ou processos com idade superior a cinco anos. Isso nos leva a acreditar que, considerando a ênfase que a economia brasileira atribui, grosso modo, ao aumento do consumo de massa e à redução dos níveis de pobreza, pode contribuir, sobremaneira, para o aumento de empreendimentos pouco inovadores.

É possível que essa realidade pouco promissora seja o resultado direto das iniciativas do governo brasileiro, que adota políticas públicas que, em geral, não incentivam o empreendedorismo ou dificultam a ação empreendedora. Ao considerar a burocracia excessiva e a pesada carga tributária aplicada aos pequenos negócios, assim como as ações assistencialistas aplicadas no combate ao desemprego, em detrimento de políticas de estímulo à criação de novos negócios, é perceptível o quanto, o empreendedorismo no Brasil ainda encontra-se em estágio inicial no que diz respeito ao tipo de negócio e à gestão dos negócios, em que predominam a informalidade, a criação e oferta de produtos e serviços com pouco conteúdo inovador, especialmente para o consumidor final e as baixas taxas de complexidade organizacional e crescimento, apesar das altas taxas de empreendedorismo.

No documento Download/Open (páginas 61-68)