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Os primeiros fundos de investimento do Brasil surgiram na década de 1950, entre os quais os fundos Crescinco e Deltec e posteriormente, os fundos 157, de incentivos fiscais. Estes se limitavam a aplicações no mercado de ações. Foi na década de 1990, porém, com o controle da inflação no plano real que a indústria brasileira de fundos inicia seu desenvolvimento de maneira mais significativa (ROCHA, 2003).

Recentemente, o mercado financeiro e de capitais têm crescido de maneira significativa no Brasil, não só em diversidade de produtos e de serviços, mas também em volume. A estabilização econômica do país fez com que as pessoas buscassem um melhor planejamento financeiro, nesse sentido, a demanda por ferramentas de investimento tem aumentado, visto que os investidores esperam garantir um futuro mais tranqüilo.

Há praticamente um consenso entre os profissionais da área financeira de que é muito melhor para um investidor diversificar sua carteira a apostar em um só investimento, o que tem fundamento em Markowitz. A diversificação permite que perdas em uma aplicação possam ser compensadas por ganhos em outras. Contudo, montar uma carteira individual torna-se muitas vezes caro para um pequeno investidor e o conhecimento para comprar ou vender no momento certo demanda tempo e

experiência. É aqui que os administradores/Gestores de fundos buscam facilitar essa tarefa.

Os fundos de investimento, exceção quando se trata de fundos exclusivos, são compostos por vários aplicadores, denominados cotistas, que juntos detêm maior poder de compra, o que possibilita investir em vários ativos financeiros, diversificando o portfólio.

Os cotistas dos fundos de investimentos, em especial as pessoas físicas, normalmente não possuem conhecimento profundo sobre o mercado de valores mobiliários, seus riscos e características dos diferentes ativos. Tomam, como base de decisão informações fornecidas pelo administrador/gestor dos fundos. O indício mais evidente utilizado pelo potencial cotista é, possivelmente, o da rentabilidade histórica, aliado ao da liquidez do investimento.

Nos últimos anos, os fundos de investimento, particularmente os mais conservadores (referenciados DI e renda fixa), têm se mostrado como uma das alternativas mais interessantes para o poupador quando comparados às outras possibilidades de investimento de baixo risco. Entre as vantagens dos fundos de investimento, incluem-se a diversificação da carteira e conseqüente redução de risco, administração profissional contínua de profissionais experientes e preparados para identificar alternativas com mais propriedade do que os cotistas, e liquidez diária, permitindo a rápida conversão das cotas (ROCHA, 2003).

No que se refere a risco, retorno e liquidez, os fundos de investimento, particularmente os conservadores, tem se mostrado muito atrativos quando comparados às outras alternativas de investimento disponíveis - em termos de combinação de risco, retorno e liquidez - particularmente para o investidor avesso ao risco.

A poupança tem mostrado rentabilidade inferior ao dos FI’s, inclusive, em determinados momentos, com juro real negativo, quando balizada por indicadores de preços tais como o IGPM.

O CDB, ou Certificado de Depósito Bancário, consiste em um título de captação de recursos utilizado por bancos comerciais, bancos de investimento, bancos de desenvolvimento e bancos múltiplos. Ao contrário dos fundos de investimento, há nos CDBs a concentração do risco de crédito em apenas uma instituição, a que emite o papel. Por outro lado, podem ocorrer oscilações de rendimento quando o investidor retira os recursos antes da data de vencimento da aplicação, caso em que é necessário renegociar os rendimentos com a instituição financeira. Como alternativa, alguns bancos oferecem CDBs com liquidez diária, mas isso significa redução de rentabilidade dos mesmos.

Estes benefícios comparativos dos fundos de investimento sugerem razões para seu forte crescimento nos últimos anos. De acordo com dados da ANBID, em dezembro de 1993, havia apenas 91 fundos de investimento no país. Este número cresce incisivamente a partir do plano real, atingindo 2920 fundos em dezembro de 2004.

Figura 5 – Número de fundos de investimento no Brasil

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500

Em 1991, o saldo de aplicações em Caderneta de Poupança era quase 120 vezes maior que o patrimônio líquido total dos fundos. Tal situação modifica-se radicalmente na segunda metade dos anos 90. Os investidores que antes consideravam a poupança como o investimento mais seguro passaram a perceber os fundos de investimento como uma alternativa mais atraente, apesar da tributação (ROCHA, 2003).

O patrimônio líquido dos fundos de investimento incrementou-se em termos reais, quase 500% entre dezembro de 1993 e o mesmo mês de 2004, como ilustrado na Figura 6.

Este crescimento da indústria de fundos de investimento pode ser explicado pela sua atratividade para os investidores qualificados e não qualificados2 frente a outras opções de investimento.

Figura 6 – Patrimônio líquido dos fundos de investimento no Brasil

0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000 700.000

dez-93 dez-94 dez-95 dez-96 dez-97 dez-98 dez-99 dez-00 dez-01 dez-02 dez-03 dez-04

R$ milhões

Fonte: ANBID

Valor real - base dez 2004, deflacionado pelo IGP-M

2 A CVM – Comissão de Valores Mobiliários editou legislação específica que dispõe sobre a constituição,

administração, funcionamento e a divulgação de informações dos fundos de investimento. Tal medida visou aumentar a transparência deste mercado e a proteger o pequeno investidor, designado investidor não qualificado.

No que se refere à distribuição deste patrimônio entre os diferentes segmentos de fundos, destacam-se, em conjunto, os referenciados DI e de renda fixa, que vêm respondendo por mais da metade do montante da indústria de fundo de investimentos.

Figura 7 – Participação de Fundos Referenciados DI no mercado de fundos

0 10 20 30 40 1999 2000 2001 2002 2003 2004 % Fonte: ANBID

Os fundos referenciados DI, segundo a ANBID, objetivam investir, no mínimo, 95% do valor de sua carteira em títulos ou operações que busquem acompanhar as variações do CDI ou SELIC, estando também sujeitos às oscilações decorrentes do ágio/deságio dos títulos em relação a estes parâmetros de referência. O montante não aplicado em operações que busquem acompanhar as variações destes parâmetros de referência devem ser aplicados somente em operações permitidas para os fundos de curto prazo. Estes fundos seguem as disposições do artigo 94 da Instrução CVM 409.

Conforme pode ser observado na figura 7, no período analisado neste estudo, nota-se uma redução da participação deste segmento que detinha aproximadamente 30% do total da indústria em 1999, para em torno de 20% no final de 2004. Este fato pode ser atribuído à migração para fundos de outras classes, mais precisamente multimercado como será demonstrado mais à frente.

Figura 8 – Participação de Fundos de Renda Fixa no mercado de fundos 0 10 20 30 40 50 60 1999 2000 2001 2002 2003 2004 % Fonte: ANBID

Os fundos de renda fixa, segundo a ANBID, buscam retorno por meio de investimentos em ativos de renda fixa (sendo aceitos títulos sintetizados através do uso de derivativos). Incluem-se estratégias que impliquem risco de índices de preço. Excluem-se, porém, investimentos que acarretem risco de oscilações de moeda estrangeira e de renda variável (ações, etc.). Devem manter, no mínimo, 80% de sua carteira em títulos públicos federais ou ativos com baixo risco de crédito. Dependendo da política de investimento implementada podem ou não admitir alavancagem3.

A exemplo do que ocorreu com os fundos refenciados DI, os fundos classificados como renda fixa também sofreram redução na participação percentual do total da indústria. Ou seja, de praticamente 50% em 1999 para 30% no final de 2004, conforme demonstra a figura 8.

3 Um fundo é considerado alavancado sempre que existir possibilidade (diferente de zero) de perda superior ao

Figura 9 – Participação de Fundos Multimercado no mercado de fundos 0 5 10 15 20 25 30 35 1999 2000 2001 2002 2003 2004 % Fonte: ANBID

Classificam-se como multimercado os fundos que buscam retorno no longo prazo através de investimento em diversas classes de ativos (renda fixa, câmbio, etc) incluindo renda variável (ações, etc.). Estes fundos não têm explicitado o mix de ativos com o qual devem ser comparados (asset allocation benchmark) e podem, inclusive, ser comparados a parâmetro de desempenho que reflita apenas uma classe de ativos (por exemplo: 100% CDI). Podem ou não admitir alavancagem3, dependendo da política de investimento adotada (ANBID, 2005).

Os fundos multimercado apresentaram um forte crescimento a partir de 2001, como pode ser observado na figura 9. Este comportamento pode ser explicado pela flexibilização de sua política de investimento que permite atuar em diversos mercados simultaneamente, visando agregar maior rentabilidade. Neste sentido, o que se verificou foi a migração de investimentos dos fundos classificados como referenciados DI e renda fixa para os multimercados. Entretanto, na prática observa-se que existem fundos com essa classificação atuando como renda fixa ou referenciados DI, postura justificada pela aversão ao risco do investidor já discutida no capítulo 1.

Figura 10 – Participação de Fundos Cambiais no mercado de fundos 0 0,5 1 1,5 2 2,5 1999 2000 2001 2002 2003 2004 % Fonte: ANBID

Os fundos cambiais aplicam pelo menos 80% de sua carteira em ativos de qualquer espectro de risco de crédito - relacionados diretamente, ou sintetizados via derivativos, a uma ou mais moedas estrangeiras. O montante não aplicado em ativos relacionados direta ou indiretamente a uma ou mais moedas estrangeiras deve ser aplicado somente em títulos e operações de renda fixa (pré ou pós-fixadas a CDI/SELIC). Podem ou não admitir alavancagem, dependendo da política de investimento definida em seu regulamento (ANBID, 2005).

Conforme demonstra a figura 10, a partir 2001 a participação deste segmento no total da indústria de fundos sofre uma significativa redução, caindo de 2% para menos de 1% no final de 2004. Estes fundos são utilizados como hedge pelas empresas que possuem passivos em moeda estrangeira, mas com a desvalorização do dólar no mercado doméstico e pelas perspectivas que se apresentavam no período analisado, este segmento foi pouco demandado pelos investidores.

Figura 11 – Participação de Fundos de Ações no mercado de fundos 0 2 4 6 8 10 1999 2000 2001 2002 2003 2004 % Fonte: ANBID

Os fundos de ações devem possuir, no mínimo, 67% da carteira em ações à vista. São fundos cujo objetivo de investimento é acompanhar ou superar o comportamento do Ibovespa/IBX/IBX-50 ou ações setoriais. Dependendo da política de investimento determinada em seu regulamento poderão ou não admitir alavancagem. Em tais fundos vale ressaltar, além do risco de renda, um significativo risco de capital (ANBID, 2005).

A figura 11 demonstra um comportamento praticamente estável na participação deste segmento, situada entre 9% no final de 1999 e 7% no mesmo período de 2004. Este comportamento é justificado pela postura conservadora dos investidores brasileiros em relação a ativos de riscos ofertados no mercado de ações, o que evidencia mais uma vez a aversão ao risco dos aplicadores em fundos de investimento.

Figura 12 – Participação de Fundos de Previdência no mercado de fundos 0 1 2 3 4 5 6 7 1999 2000 2001 2002 2003 2004 % Fonte: ANBID

Na categoria fundos de previdência incluem-se os FAPI's – Fundo de Aposentadoria Programada Individual e fundos exclusivos para PGBL's – Planos Gerais de Benefícios Livres. Esse segmento pode atuar em qualquer uma das classes definidas anteriormente (ANBID, 2005).

Conforme demonstra a figura 12 ocorreu um expressivo crescimento desta categoria de fundos, que parte de menos de 0,5% em 1999 para 6% do total da indústria de fundos no final de 2004. Este comportamento é justificado pela recente regulamentação do setor e incentivos a previdência privada.

Ao compor os seus portfólios em cada segmento de fundos, os seus gestores possuem uma série de opções em sua fronteira eficiente. A atratividade relativa de tais opções é discutida a seguir, particularmente no que se refere à sua liquidez.