• Nenhum resultado encontrado

Evolução do Sistema Nacional de Saúde

2 POLÍTICAS DE SAÚDE COMUNITÁRIA E SUA REORGANIZAÇÃO

2.1 Evolução do Sistema Nacional de Saúde

Em Portugal, nas últimas décadas, observaram-se diversas reformas e alterações da assistência à população em matéria de saúde. O envelhecimento é um processo natural e uma realidade atual. Diversas modificações sociais, como o aumento dos rendimentos das famílias, em conjunto com inovações na área da saúde permitiram um aumento da EMV e a procura, por parte da população, aos serviços de saúde exerceu pressão sobre algumas das suas características, como a acessibilidade, cobertura e qualidade.

Até à década de 70, os serviços de prestação de cuidados em matéria de saúde sofreram a influência dos conceitos religiosos, sociais e políticos da época, cabendo à família, às instituições privadas (Misericórdias) e aos Serviços Médicos da Previdência a resposta às necessidades de saúde (Paulo, 2010).

No ano de 1971, com a reforma do Sistema de Saúde e Assistência, a conhecida “Legislação Gonçalves Ferreira”, surge o esboço de um Serviço Nacional de Saúde (SNS). Através do Decreto-Lei n.º 413/71 de 27 de Setembro é reorganizado o Ministério da Saúde e da Assistência e onde se afirma o direito à saúde para toda a população, o dever do Estado para o desenvolvimento de atividades com vista à otimização dos recursos, aonde observamos uma centralização no planeamento das intervenções e uma descentralização na sua execução. No seguimento do anterior surge o Decreto-Lei n.º 414/71 de 27 de Setembro, onde consta o regime legal que permite a estruturação progressiva e o funcionamento regular as carreiras profissionais

37"

Mestrado(em(Cuidados(Paliativos

dos grupos diferenciados de funcionários que prestam serviços ao Ministério da Saúde e Assistência.

Em 1974 estão reunidas condições políticas e sociais que vão permitir a criação do SNS no ano de 1979, através da Lei n.º 56/79 de 15 de Setembro, onde se alcança uma cobertura generalizada dos serviços de saúde no território nacional. Nesta publicação o Estado assegura o direito à proteção da saúde a todos os cidadãos, num sistema tendencialmente gratuito, mas que prevê a existência de taxas moderadoras. Os cuidados de saúde incluíam a prestação de CSP e CSD, onde se exerciam atividades de vigilância de saúde, diagnóstico, tratamento, prevenção de doenças e reabilitação médica e social. As circunstâncias da formação do SNS fizeram com que, desde o início, este apresenta-se algumas fragilidades, designadamente, a “frágil base financeira e ausência de inovação nos modelos de organização e gestão”, a “falta de transparência entre os interesses públicos e privados” e as “dificuldades de acesso e baixa eficiência dos serviços públicos de saúde, que resulta dos fatores acima indicados e cujas consequências ampliam” (Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), 2002, p. 8).

A Lei de Bases da Saúde é consagrada através da Lei n.º 48/90 de 24 de Agosto, onde é referido que a “saúde constitui um direito dos indivíduos e da comunidade que se efetiva pela responsabilidade conjunta dos cidadãos, da sociedade e do Estado, em liberdade de procura e de prestação de serviços”. Aqui, igualmente se definem novos princípios de organização e funcionamento do sistema da saúde e onde se estabelece uma política baseada na promoção da saúde e prevenção da doença, numa lógica de igualdade de acesso por parte dos cidadãos aos cuidados de saúde, onde se assiste a uma efetiva preocupação estatal em organizar as medidas de proteção da saúde.

De forma a aplicar as alterações introduzidas pela Lei de Bases da Saúde foi publicado o Decreto-Lei n.º 11/93 de 15 de Janeiro que define o novo Estatuto do SNS, onde se procura ultrapassar a dicotomia entre os CSP e os CSD. Surgem, então, Unidades Integradas de Cuidados de Saúde que tem como função a articulação entre os CSP e CSD, tendo como fundamento a indivisibilidade da saúde e permitindo uma gestão de recursos mais eficaz dos destinatários.

É no ano de 1999 que “os serviços de saúde pública, no âmbito dos quais se integra o exercício dos poderes de autoridade de saúde enquanto poder-dever de intervenção do Estado na defesa da saúde pública, na prevenção da doença e na promoção da saúde” são reorganizados através do Decreto-Lei n.º 286/99 de 27 de Julho. Nesse mesmo ano, e através do Decreto-Lei n.º 374/99 de 18 de Setembro, são concebidos os Centros de Responsabilidade Integrados que se constituem como

38"

Mestrado(em(Cuidados(Paliativos

estruturas orgânicas de gestão intermédia agrupando serviços ou unidades funcionais homogéneas. Estes têm como finalidade última melhorar a acessibilidade, qualidade, produtividade, eficiência e efetividade da prestação de cuidados de saúde, através de uma melhor gestão dos respetivos recursos.

Os Sistemas Locais de Saúde foram nomeados através do Decreto-Lei n.º 156/99 e constituem-se como “conjuntos de recursos articulados na base da complementaridade e organizados segundo critérios geográfico-populacionais, que se pretendem facilitadores da participação social e que em conjunto com os centros de saúde e hospitais, pretendem promover a saúde e a racionalização da utilização dos recursos”. De forma a operacionalizar as orientações anteriormente referidas foi publicado o Decreto-Lei n.º 284/99 de 26 de Julho que tem como objetivo principal “a identificação de situações em que é possível reforçar a articulação e complementaridade dos estabelecimentos hospitalares do SNS, através de melhor aproveitamento da capacidade neles instalada.” Esta legislação foi criada no sentido de uma maior rentabilização e eficiência na prestação de cuidados de saúde, com base na sua integração em Centros Hospitalares ou recorrendo à formação de grupos sujeitos a coordenação comum.

De acordo com o OPSS (2002, p. 10), apesar das importantes contribuições para a arquitetura do SNS, como as Administrações Regionais de Saúde, os Sistemas Locais de Saúde, os princípios que fundamentam a Lei de Bases da Saúde e os dispositivos normativos que a veicularam, tiveram pouco impacto sobre o funcionamento dos serviços de saúde portugueses e não influenciaram os pilares que sustentavam as suas disfunções. Nesta sequência, tornou-se necessário a introdução de modificações profundas na Lei de Bases da Saúde, como a aprovação do novo regime de gestão hospitalar, pela Lei n.º 27/2002 de 8 de Novembro.

Acolhe-se e define-se um novo modelo de gestão hospitalar, aplicável aos estabelecimentos hospitalares que integram a rede de prestação de cuidados de saúde e dá-se expressão institucional a modelos de gestão de tipo empresarial. Este novo ciclo no SNS iniciou com condições favoráveis, como por exemplo, “o início de uma segunda legislatura com a mesma liderança política”, a adoção de uma política de “prioridade da saúde”, reforçando as dotações financeiras para a área no Orçamento Geral e é constituída uma nova equipa ministerial para a área da saúde (OPSS, 2002, p. 12).

O estabelecimento de parcerias Público/Privadas através da concessão da gestão de unidades prestadoras de cuidados de saúde a entidades privadas ou de natureza social ou pelo investimento conjunto entre estas entidades e o Estado ficou regulamentado através do Decreto-Lei n.º 185/2002 de 20 de Agosto, no sentido de “obter melhores serviços com partilha de riscos e benefícios mútuos”.

39"

Mestrado(em(Cuidados(Paliativos

Mantendo o objetivo de “transformar o atual sistema público num sistema de saúde moderno e renovado, mais justo e eficiente, e fundamentalmente orientado para as necessidades dos utentes” foi publicado o Decreto-Lei n.º 173/2003 de 1 de Agosto, cuja finalidade seria o ajustamento do acesso aos cuidados de saúde através da aplicação de Taxas Moderadoras, já previstas na Lei de Bases da Saúde n.º 48/1990 de 24 de Agosto. Este diploma vem revogar o Decreto-Lei n.º 54/92 de 11 de Abril e o Decreto-Lei n.º 287/95 de 30 de Outubro. Atualmente, e com a publicação do Decreto-lei n.º 113/2011 de 29 de Novembro, que surge nos termos do Memorando de Entendimento entre o Governo Português, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, é definido que as Taxas Moderadoras têm como função regular as condições especiais de acesso aos cuidados fixando-as e regulando o regime de isenção às mesmas.

De acordo com Correia de Campos (2007, p. 1) o serviço público de saúde prestado tem objetivos como “garantir ganhos em saúde mensuráveis; favorecer um sistema mais justo e que contribua para a diminuição da desigualdade nos resultados em saúde dos portugueses e portuguesas e assegurar que o funcionamento do sistema seja mais eficiente e mais flexível, adaptado e adaptável às necessidades dos cidadãos”. Para que tais objetivos sejam alcançados torna-se necessário uma reconfiguração do sistema baseado na centralidade do cidadão, com descentralização e responsabilização na gestão e investimento nos sistemas de informação e com uma intervenção baseada nas necessidades da população e em evidências científicas.

Com a publicação do Decreto-Lei n.º 309/2003 de 10 de Dezembro é constituída a Entidade Reguladora da Saúde (ERS), à qual lhe são incumbidos os objetivos de regular e supervisar, em relação às suas funções de operador e de financiador, o Sistema Nacional de Saúde, garantindo, desta forma, uma independência dessas funções de regulação, seja das entidades do Estado, como dos prestadores de serviços em geral.

O Plano Nacional de Saúde 2004-2010 (Ministério da Saúde, 2004) estabelece como uma das orientações estratégicas para a gestão da mudança “reorientar o Sistema de Saúde”, referindo que os investimentos previstos no sistema de saúde deverão contemplar ou providenciar ao utente um atendimento de qualidade, em tempo útil (melhoria do acesso), com efetividade, humanidade e custos sustentáveis ao longo do tempo. Para tal, essa mudança encontra-se focalizada, essencialmente, na reforma hospitalar, na implementação da RNCCI e na Reforma dos CSP.

A Lei de Bases dos Cuidados Paliativos (Lei n.º 52/2012 de 5 de Setembro) consagra o direito e regula o acesso dos cidadãos aos cuidados paliativos, define a

40"

Mestrado(em(Cuidados(Paliativos

responsabilidade do Estado em matéria de cuidados paliativos e cria a Rede Nacional de Cuidados Paliativos, a funcionar sob tutela do Ministério da Saúde.