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7. CAUSA EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

7.2. EXCLUDENTES DO NEXO CAUSAL

7.2.1. Caso fortuito e força maior

A doutrina não se entende quanto à definição de caso fortuito e força maior.

Stolze segue uma linha, na qual entende que a doutrina em geral, na linha de pensamento de Maria Helena Diniz, conceitua força maior como um evento inevitável, ainda que previsível (terremoto pode ser previsto, mas não pode ser evitado);

Já o caso fortuito, é marcado pela imprevisibilidade (um sequestro relâmpago não pode ser previsto). Anote-se ainda, que o CC/02, ao tratar da matéria, no parágrafo único do art. 393, não cuidou de distinguir os institutos.

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

OBS: não se preocupar em diferenciar, porque a jurisprudência utiliza as duas expressões indiscriminadamente. Em um caso ou outro em regra, rompem o nexo causal e excluem a responsabilidade.

CS – CIVIL II 2020.1 111 O fortuito interno incide durante o processo de elaboração do produto ou de execução do serviço, de maneira que, não exclui responsabilidade civil do réu (em tese).

Exemplo: recall – se durante o processo de fabricação da peça do carro, se houve um abalo sísmico durante a elaboração da parte eletrônica do carro, podendo este por isso causar dano, isto não excluirá a responsabilidade civil da empresa automotiva.

Já o fortuito externo, está fora da cadeia de elaboração do produto, ou execução do serviço, decorrendo de fato não imputável ao fornecedor, excluindo a sua responsabilidade civil.

Exemplo: em virtude de uma condição climática, radio recém comprado ligado na energia, ele queima. Não se pode querer imputar a responsabilidade à empresa que fabricou o produto.

STJ: O STJ, já firmou entendimento no sentido de que, assalto a ônibus, é fortuito externo, excluindo a responsabilidade civil da transportadora. (AgRg no Ag 711078/RJ, AgRg no REsp 620.259/MG).

SÚMULA n. 479 – As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias

O que é o risco do desenvolvimento?

É o risco que não pode ser cientificamente conhecido no momento do lançamento do produto no mercado, vindo a ser descoberto somente após certo período de uso do produto ou serviço. (ANTONIO HERMAN DE VASCONCELLOS E BENJAMIN apud SERGIO CAVALIERI FILHO).

Ex: efeitos colaterais de medicamento contra câncer.

Quem arca com os riscos do desenvolvimento? NÃO HÁ ENTENDIMENTO PACÍFICO. Alguns entendem que se o fornecedor for responsabilizado, pode haver desestímulo ao desenvolvimento tecnológico/industrial/científico. Por outro lado, é injusto financiar o desenvolvimento tecnológico à custa do consumidor individual. Seria um retrocesso na responsabilidade objetiva, que tem por objetivo a socialização do risco segundo CAVALIERI.

Solução apontada pelo doutrinador: enquadrar os riscos do desenvolvimento como fortuito interno – risco integrante da atividade do fornecedor, pelo que não-exonerativo da sua responsabilidade, indo ao encontro do disposto no art. 931 do Código Civil.

Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.

7.2.2. Culpa exclusiva da vítima

É fortíssima, se aplica inclusive no CDC e no Direito Administrativo.

A culpa exclusiva da vítima é causa de exclusão do próprio NEXO CAUSAL porque o agente, aparente causador do dano, é “mero INSTRUMENTO do acidente”.

Conforme Cavalieri, a melhor técnica é falar em “FATO exclusivo da vítima” e não “culpa exclusiva da vítima”, pois o ‘problema’ está no nexo causal e não da culpa.

CS – CIVIL II 2020.1 112 Exemplo1: A se joga sob as rodas do veículo dirigido por B: “...o veículo dirigido por B foi mero instrumento do acidente, erigindo-se a conduta da vítima em causa única e adequada do evento, afastando o próprio nexo causal em relação ao motorista, e não apenas a sua culpa, como querem alguns.” Portanto, explica o autor que nem se há de falar em simples ausência de culpa, mas sim de causa de isenção de responsabilidade.

Exemplo2: cidadão dirigindo corretamente seu carro, na velocidade permitida, pedestre resolve subitamente passar por baixo da passarela (própria para passagem) bem na faixa de trânsito de carros em velocidade, se carro tem que parar de repentino, sendo abalroado atrás, o pedestre será responsabilizado, culpa exclusiva da “vítima”.

Exemplo3: vítima liga aparelho 220v o qual tem um adesivo grande avisando que a voltagem é 110v, a empresa pode alegar a culpa exclusiva da vítima.

OBS: Culpa exclusiva (causa de exclusão de responsabilidade) não se confunde com culpa concorrente prevista no art. 945 do CC. Culpa concorrente da vítima, pode apenas reduzir a indenização devida.

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

Mas observe que a redução indenizatória proveniente da culpa concorrente é feita pelo juiz, não havendo a priori um tabelamento prévio na lei.

Para CAVALIERI, a concorrência somente pode ser aplicada em casos excepcionais, “quando não se cogita de preponderância causal manifesta e provada da conduta do agente”.

O que é Coparticipação/Solidariedade/Causalidade comum? É o concurso de agentes: quando as condutas de duas ou mais pessoas concorrem efetivamente para o evento. Ex: A e B agridem fisicamente C...

O que é Causalidade Alternativa? É uma solução encontrada pela doutrina e jurisprudência, quando o dano é causado por vários agentes, e não se consegue descobrir quem, dentre os vários participantes, com o seu ato, causou o dano. Exemplo: grevistas, passeatas estudantis, coisas que caem (ou são lançadas) de prédios e atingem transeuntes. E mais: a responsabilidade dos condôminos é solidária, com fulcro no artigo 942 do CC. Note-se que a causalidade alternativa é contrária à causalidade concorrente (comum), em que todos os participantes concorrem com o resultado.

7.2.3. Fato de terceiro

Parecido com culpa exclusiva. O comportamento causal de um terceiro pode excluir a responsabilidade do agente físico da ação.

Conforme Aguiar Dias, apud CAVALIERI FILHO, terceiro, é qualquer pessoa além da vítima e o responsável, alguém que não tem nenhuma ligação com o causador aparente do dano e o lesado. Mas, tal fato de terceiro só exclui a responsabilidade quando rompe o nexo causal entre o agente e o dano sofrido pela vítima. Nesses casos, o fato de terceiro equipara-se ao caso fortuito ou força maior, por ser uma causa estranha à conduta do agente aparente, imprevisível ou inevitável.

CS – CIVIL II 2020.1 113 Exemplo ocorrido no RJ: mulher ajuizou ação contra empresa de ônibus porque seu marido foi atropelado e morto quando trafegava com sua bicicleta. Durante a ação ficou comprovado que o ciclista caiu em um buraco existente na pista, e no momento, foi atingido na cabeça pelo ônibus. O buraco foi aberto por uma empresa prestadora de serviços públicos, que, imprudentemente, deixou o buraco aberto: a ação foi mal endereçada. Mas, há casos que a jurisprudência não admite a exclusão por fato de terceiros, como no caso dos assaltos em bancos, no caso do transportador (art. 735 do CC)...

A súmula 187 do STF estabelece que, em se tratando de responsabilidade contratual do transportador, por acidente com passageiro, não se admite alegação de fato de terceiro.

STF Súmula 187 A RESPONSABILIDADE CONTRATUAL DO TRANSPORTADOR, PELO ACIDENTE COM O PASSAGEIRO, NÃO É ELIDIDA POR CULPA DE TERCEIRO, CONTRA O QUAL TEM AÇÃO REGRESSIVA.

(obrigação de fim!)

Exemplo: trajeto com uma empresa de ônibus, ônibus se envolve em um acidente, a empresa deve indenizar o passageiro que sofreu a lesão, cabendo-lhe exercer o direito de regresso contra o verdadeiro culpado.

Exemplo: acidente da gol, ela indenizou os passageiros. O que é “teoria do corpo neutro?”

Trata-se de uma aplicação do instituto jurídico do fato de terceiro, em favor do agente que, uma vez atingido, involuntariamente, agride o direito da vítima. Esta teoria tem especial aplicação nos acidentes de trânsito.

Não confundir com o estado de necessidade, em que voluntariamente o condutor faz a manobra.

Exemplo: engavetamento de carros em congestionamento.

OBS: O STJ, no REsp, 54444/SP, firmou entendimento no sentido de que a vítima deve demandar diretamente o verdadeiro causador do dano e não aquele que involuntariamente a atingiu. O condutor pode alegar em sua defesa o fato de terceiro (teoria do corpo neutro).