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CAPÍTULO II – LIMITES DAS PENHORABILIDADES

4. Penhora Subsidiária

4.2. Penhora de dívidas conjugais

4.2.2. Execução de dívidas comuns

Se os cônjuges estiverem perante o regime de separação de bens, não existem bens comuns a responder pela dívida, existindo apenas bens próprios de qualquer um dos cônjuges – n.º 1 do art. 1695.º do CC - respondem de forma não solidária, nos termos do n.º 2 do referido artigo (os bens de cada cônjuge pagam metade da dívida). Perante o regime de comunhão, pelas dívidas das responsabilidades de ambos os cônjuges, prima facie, respondem os bens comuns do casal, só na sua falta ou insuficiência, respondem de forma solidária, os bens próprios de qualquer um dos cônjuges – art. 1695.º do CC. Consideramos importante realçar que, se a dívida é comum, o credor tem interesse em demandar ambos os cônjuges, porque na inexistência de bens comuns ou na presença do regime de separação de bens consegue responsabilizar os bens próprios do cônjuge que não contraiu a dívida. Note-se que, se apenas demandar o cônjuge devedor, e estando na presença de uma dívida comum, só poderá o pagamento ser feito mediante bens próprios que ele possui e os bens comuns que tenha em seu dispor ou administre.212

As dívidas efetuadas por ambos os cônjuges, de acordo com o art. 1691.º, n.º 1, al. a), primeira parte do CC, possuindo o credor exequente título executivo judicial ou extrajudicial213 contra ambos os cônjuges poderá instaurar uma ação executiva

212 Cfr. ARAÚJO, Cristina M. Dias, Do Regime da Responsabilidade por Dívidas dos Cônjuges: Problemas,

Críticas e Sugestões, Coimbra Editora, Coimbra, 2009, P. 398.

213 O título executivo consiste num documento, uma forma de representação de um facto jurídico. Cfr. PINTO,

Rui, Notas ao Código de Processo Civil…, ob cit, P. 142. Este título executivo pode ser extrajudicial quando

“constitui um documento probatório da declaração de vontade duma obrigação ou de uma declaração direta ou indiretamente probatória do facto constitutivo duma obrigação e é este seu valor probatório que leva a atribuir- lhe exequibilidade” ou judicial quando “constitui documento probatório dum ato jurisdicional que acerta (…)

esse facto constitutivo”. Cfr. FREITAS, José Lebre De, Ação Executiva: À Luz do Código de Processo Civil de 2013…, ob cit, PP. 84-85.

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contra os dois, que possuem legitimidade passiva nos termos do art. 53.º, n.º 1 do CPC - ambos figuram no título como devedores.214

O problema coloca-se quando o credor exequente executa uma dívida comum: “em face do título pode optar por propor uma ação executiva apenas contra

um ou deve colocá-la sempre contra os dois consortes”, nos termos do art. 34.º, n.º

3 do CPC, e do art. 1695.º, n.º 1 do CC215 - estamos perante um caso de litisconsórcio voluntário ou necessário.216/217 Quando estamos perante uma ação declarativa, de acordo com o art. 34.º, n.º 3 do CPC, a segunda parte refere-se às dívidas comunicáveis, estipula um litisconsórcio voluntário, contudo neste número, a lei processual ao afirmar “devem ser propostas contra ambos”, prevê-se litisconsórcio necessário.

Destarte, na ação declarativa, perante dívidas comuns, o credor não pode demandar apenas um dos cônjuges devedores, “a falta de qualquer um deles é

motivo de ilegitimidade” (in fine do art. 33.º, n.º 1 do CPC). No que respeita à

execução de dívidas comunicáveis218 possuem “o autor e o réu o ónus de definir o

âmbito subjetivo da ação declarativa, pois prevê-se apenas um litisconsórcio voluntário”,219 motivo de preocupação. Se decorrer de título judicial ou extrajudicial, que a dívida foi contraída por ambos, deve a execução ser proposta contra o casal – estamos na presença de litisconsórcio necessário passivo, tanto na declaração,

214 Mesmo que o credor só tenha título executivo contra um dos cônjuges, não significa que a dívida seja

própria, uma vez obtida a sentença contra os cônjuges pode o credor executar, penhorando bens comuns e próprios dos cônjuges. Cfr. ARAÚJO, Cristina M. Dias, Do Regime da Responsabilidade por Dívidas dos

Cônjuges: Problemas, Críticas e Sugestões…, ob cit, PP. 399-400.

215 Cfr. PINTO, Rui, Manual da Execução e Despejo…, ob cit, P. 532.

216 O conceito de litisconsórcio voluntário é divergente de litisconsórcio necessário. O primeiro aplicasse para

as relações jurídicas com pluralidade de sujeitos. Onde estes não são obrigados a intervir na ação, só intervêm se assim o pretenderem – art. 32.º do CPC. Encontramo-nos perante o segundo, quando todos os interessados devem demandar ou ser demandados. O litisconsórcio necessário pode ser litisconsórcio necessário ativo (quando a ação é instaurada por um deles, mas com o consentimento do outro, em vez, de ser proposta por ambos os cônjuges – art. 34.º, n.º 2 do CPC) ou pode ser litisconsórcio necessário passivo (ações emergentes de factos praticados por ambos, contra ambos os cônjuges – art. 34.º, n.º 3 do CPC). Ou seja, estamos perante um facto praticado por ambos os cônjuges, quando diz respeito a dívidas comunicáveis. Cfr. AMARAL, Jorge Augusto Pais De, Direito Processual Civil, Almedina, Coimbra, 2013. PP. 120-122.

217 O conceito e o regime do litisconsórcio são considerados por José Lebre De Freitas na ação executiva os

mesmos da ação declarativa. Cfr. FREITAS, José Lebre De, Ação Executiva: À Luz do Código de Processo

Civil de 2013…, ob cit, P. 155.

218 Como supra referimos, a dívida contraída apenas por um dos cônjuges, pode ser qualificada como sendo

da responsabilidade de ambos os consortes. Esta possibilidade vai originar uma desarmonia entre o direito substantivo e o direito processual. Isto porque, sendo contraída por um deles, na maioria das vezes, só figura ele como devedor no título executivo, logo, nos termos do art. 53.º, n.º 1 do CPC, a execução só pode ser movida contra este.

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como na execução de factos praticados por ambos os cônjuges (partindo da análise do direito substantivo). É válido tanto para o regime de comunhão de bens, como para o regime de separação de bens, a única diferença, na comunhão de bens penhora-se primeiramente os bens comuns e na separação de bens penhoram-se bens próprios de qualquer um dos cônjuges.