• Nenhum resultado encontrado

Responsabilidade subsidiária com excussão prévia

CAPÍTULO II – LIMITES DAS PENHORABILIDADES

4. Penhora Subsidiária

4.3. Responsabilidade subsidiária com excussão prévia

Parafraseando Maria José Capelo, no âmbito do funcionamento da responsabilidade subsidiária, perante uma execução, interfere não só com o leque

citação prévia, ou seja, nenhum bem quer próprio, quer comum estava penhorado. Se não fosse precedida de citação prévia, a invocação da comunicabilidade podia ter lugar, quer tivesse sido realizada a penhora sobre um bem próprio ou sobre um bem comum. Cfr. FREITAS, José Lebre De, A ação executiva: À luz do Código

de Processo Civil de 2013…, ob cit, nota 37-A. PP. 257-258.

245 Cfr. FARIA, Paulo Ramos De,/LOUREIRO, Ana Luísa, Primeiras Notas ao Código de Processo Civil…, ob

81

de bens penhoráveis, mas também com os sujeitos que devem assumir o estatuto de executado.246

Quando a lei refere penhorabilidade subsidiária, pressupõe que, por uma mesma obrigação, sejam responsáveis dois sujeitos, um como devedor principal e o outro qualificado como devedor subsidiário.247

É de distinguir subsidiariedade real ou objetiva de subsidiariedade pessoal ou subjetiva. A primeira resulta do n.º 5 do art. 745.º do CPC, sendo penhorados primeiramente os bens, que nos termos da lei respondem prioritariamente pelo cumprimento da obrigação, e, só se eles forem insuficientes, se procederá à penhora dos bens que respondem subsidiariamente. Em primeira linha respondem: os bens comuns do casal pelas dívidas que responsabilizam ambos os cônjuges, e só depois os bens próprios de cada um (art. 1695.º do CC); os bens próprios do cônjuge devedor pelas dívidas da sua exclusiva responsabilidade, só depois a meação dos bens comuns (art. 1696.º do CC); os bens onerados com garantia real, só depois os seus restantes bens (art. 752.º do CPC)248; os bens de dívidas do titular do estabelecimento individual de responsabilidade limitada (EIRL), e só depois o estabelecimento249; a generalidade dos bens do sócio da sociedade civil, da sociedade comercial em nome coletivo e do sócio comandita da sociedade comercial em comandita simples por dívidas pessoais, e só depois o direito aos lucros e à quota da liquidação (arts. 999.º, n.º 2 do CC; 183.º, n.º 3 e 474.º do CSC).250

Do exposto, resulta que neste tipo de subsidiariedade pode o exequente promover logo, antes da venda dos bens objetivamente responsáveis, “a penhora

dos bens que respondem subsidariamente pela dívida, desde que demonstre a

246 Cfr. CAPELO, Maria José, Pressupostos Processuais Gerais na Ação Executiva – A Legitimidade e as

Regras da Penhorabilidade, in Themis, ano IV, N.º 7 – Revista da Faculdade de Direito da Universidade Nova

de Lisboa, 2003. P. 94.

247 Cfr. SILVA, Paula Costa E Silva, A Reforma da Ação Executiva…, ob cit, P. 86.

248 Nos termos do art. 697.º do CC, a regra da subsidiariedade real ou objetiva só é válida se o bem hipotecado

for propriedade do devedor. Pois, se o bem hipotecado pertencer a terceiro, não pode o devedor invocar qualquer subsidiariedade.

249 Cfr. Arts. 10.º, n.º 1 e 22.º do DL n.º 248/86, de 25 de agosto, com última atualização através do DL n.º

8/2007, de 17 de janeiro. (Consultado em 06/02/2016), disponível in, http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=678&tabela=leis

82

insuficiência manifesta dos que por ela deviam responder prioritariamente” – art.

745.º, n.º 5 do CPC.251

No que respeita à subsidiariedade pessoal ou subjetiva processa-se entre dívidas de dois sujeitos, um devedor principal e um devedor solidário, sendo a penhora dos bens do devedor subsidiário, em regra, na falta ou esgotamento dos bens do património do devedor principal. São devedores subsidiários com benefício de excussão prévia: os sócios da sociedade comercial em nome coletivo, da sociedade civil, tal como os comanditados da sociedade comercial em comandita, e ainda o fiador252/253.

Assim, nos termos do n.º 1 do art. 745.º do CPC, tendo sido demandado o devedor subsidiário, os bens pertencentes a este, só devem ser apreendidos para a execução depois de esgotados do património do devedor principal, desde que, no prazo previsto para deduzir oposição, demonstre o benefício de excussão prévia. Se o devedor subsidiário não renunciou ao benefício de excussão prévia tem a vantagem da garantia da forma ordinária, ex vi do art. 550.º, n.º 3, al. d) do CPC, devendo a penhora ser antes da citação254.

Ora, o devedor subsidiário possui o ónus de invocar o benefício de excussão prévia em requerimento, no prazo de 20 dias a contar da citação – art. 728.º, n.º 1 do CPC. Sendo o requerimento autorizado, suspende-se a execução relativamente ao devedor subsidiário e de duas uma: se era execução apenas contra o devedor subsidiário, o exequente pode requerer a execução contra o devedor principal, que será citado para proceder ao pagamento total, através do n.º 2; se era execução

251 Portanto, não se exige a prévia excussão dos bens que respondem em primeiro lugar, mediante a realização

das vendas, para se proceder à penhora dos que respondem em último lugar.

252 O fiador é um titular passivo de uma obrigação acessória do devedor principal, pode exigir a prévia excussão

do património do devedor principal. Na execução da obrigação afiançada é “lícito recusar o cumprimento enquanto o credor não tiver excutido todos os bens do devedor sem obter a satisfação do seu crédito”, nos

termos do art. 639.º do CC.

253 No caso de existir garantia real constituída por terceiro, tem o fiador direito de poder exigir a excussão prévia

das coisas sobre o que recai a garantia real, mesmo que os bens se tenham esgotado – art. 639.º, n.º 1 do CC – proteção essa do fiador, existe quer haja ou não benefício de excussão prévia. Em sentido oposto será no caso da garantia real incidir sobre os bens do devedor principal, é indiferente para o fiador, pois, ele reclamará a excussão prévia dos bens do devedor principal. Contudo, o devedor principal possui a faculdade de invocar em sede de oposição à penhora nos termos do disposto do art. 697.º do CC – benefício de excussão real. Cfr. PINTO, Rui, Notas ao Código de Processo Civil…, ob cit, P. 544.

254 A penhora pode ser efetuada sem a citação prévia do executado, se alegar factos de perda da garantia

83

contra ambos (devedor subsidiário e devedor principal), a execução prossegue contra o devedor principal. Se o título executivo for uma sentença proferida unicamente contra o devedor subsidiário, em ação que não tenha intervindo o devedor principal, o benefício de excussão prévia não é invocável, pelo réu na ação declarativa, por não ter chamado a intervir o devedor principal, atendendo ao estatuído do art. 316.º, n.º 3, al. a) do CPC, exceto se tiver declarado que não pretendia renunciar ao benefício de excussão – art. 641.º, n.º 2 do CC.255

Se em sentido oposto, pelo n.º 3, a execução tiver sido movida apenas contra o devedor principal primeiramente executam-se os bens, mas se estes se revelarem insuficientes, pode o exequente requerer no mesmo processo, execução contra o devedor subsidiário (sempre que haja título executivo contra este), que será citado para pagamento do remanescente256.

Pelo n.º 4, mesmo que o património do devedor principal tenha sido excutido primeiramente, é permitido ao devedor subsidiário sustar que o seu património seja afeto, através da comunicação ao agente de execução, indicando outros bens pertencentes ao devedor principal, que tivessem sido adquiridos posteriormente ou que até mesmo, não fossem conhecidos.