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Relação do princípio da proporcionalidade com a adequação

CAPÍTULO III – FIXAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

2. Relação do princípio da proporcionalidade com a adequação

O princípio da proporcionalidade tem como subprincípio o princípio da adequação ou da conformidade supra referido. Este princípio pressupõe que se saiba o significado de meio e fim e que, empiricamente se identifiquem claramente o meio e o fim que estão na estrutura da restrição ao direito fundamental.275 Ou seja, apreensão dos bens deve ser adequada à ulterior satisfação do direito do exequente devendo-se controlar a “relação da adequação medida-fim”,276 sem ultrapassar esse fim.

Assim, nos termos do n.º 1 do art. 751.º do CPC, estipula o princípio da adequação da penhora, impondo que esta deva começar “pelos bens cujo valor

pecuniário seja mais fácil realização e se mostrem adequados ao montante do crédito exequente”.277 Trata-se de uma cláusula geral a ser concretizada pelo agente de execução ao abrigo do poder discricionário. Na prática, o que se

273 As custas ao agente de execução processam-se à luz dos art. 43.º e ss., da Portaria n.º 282/2013, de 29 de

agosto, com última atualização pela Portaria n.º 349/2015, de 13/10, inseridos na Seção III - Remuneração do Agente de Execução. (Consultado em 12/02/2016), disponível in,

http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=1968&tabela=leis&so_miolo=

274 Se uma execução exceda o valor de € 120.000,00 as despesas presumem-se a 5% desse valor; se a

execução for até € 5.000,00 as despesas presumem-se 20% desse valor; se o valor da execução for entre € 5.000,00 e € 120.000,00 as despesas presumem-se 10% desse valor.

275 Cfr. CASTRO, Francisco Morais De, A Dignidade da Pessoa Humana: Alguns Reflexos nas Relações

Laborais…, ob cit, P. 59.

276 Cfr. CANOTILHO, J. J. Gomes, Direito Constitucional e Teoria da Constituição…, ob cit, P. 270.

277 O n.º 1 do art. 751.º do CPC atual recuperou a formulação decorrente da Reforma, ou seja, recuperou-se

da al. e), do art. 834.º, n.º 1 do CPC de 2008, que afirmava “a penhora de quaisquer bens cujo valor pecuniário

seja de fácil realização ou se mostre adequado ao montante do crédito do exequente”. Neste sentido, Rui Pinto,

na sua análise ao CPC, entende que no dito n.º 1, passou a enunciar-se o “princípio cardinal da adequação”. Cfr. PINTO, Rui, Notas ao Código de Processo Civil…, ob cit, P. 558.

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pretende essencialmente, é que o crédito exequendo seja satisfeito pela forma mais rápida e simples, sem prejudicar desnecessariamente os interesses patrimoniais do executado. Portanto, pretende-se que o agente de execução, em cada momento, faça uma escolha ponderada perante vários bens passíveis de penhora, observando sempre os princípios da adequação e da proporcionalidade. Por exemplo, se o A.E. perante uma penhora verificar a existência de dinheiros ou saldos bancários suficientes para liquidar a execução, não deverá penhorar outros bens móveis ou imóveis, dando sempre prioridade aos depósitos à ordem em detrimento dos depósitos a prazo e assim sucessivamente. Segundo Virgínio Ribeiro e Sérgio Rebelo, o que se pretende é que o agente de execução não comece a “disparar em todos os sentidos, penhorando, tudo o que lhe apetece, sem

qualquer critério”, sem qualquer norma, sem qualquer limite de controlo, ou seja,

deixando depois o exequente com “a batata quente na mão”, a ter de discutir com o executado por um excesso de penhora, e podendo ter que suportar as custas da respetiva oposição.278 E segundo Miguel Sousa, deve ser demarcado o âmbito da penhora com um limite máximo e um limite mínimo.279

2.1. Vinculação às indicações dos bens pelo exequente

Sempre que o exequente indique bens penhoráveis do executado, o agente de execução em princípio está vinculado a penhorar esses mesmos bens.

Atualmente, o legislador é claro no regime previsto do art. 751.º, na primeira parte do n.º 2 do CPC,280 onde estabelece a regra da vinculação do A.E. às indicações do exequente: “o agente de execução deve respeitar as indicações do

exequente sobre os bens que pretende ver prioritariamente penhorados”. Não se

traduz, que o agente de execução apenas possa penhorar esses bens; se necessário, pode penhorar outros bens, mas só depois de penhorados os bens indicados pelo credor.281 Parafraseando Rui Pinto, “a indicação dos bens passa a

278 Cfr. RIBEIRO, Virgínio Da Costa,/REBELO, Sérgio, A Ação Executiva Anotada e Comentada…, ob cit, PP.

334-335.

279 Cfr. SOUSA, Miguel Teixeira De, A Reforma da Ação Executiva…, ob cit, P. 139.

280 Nem sempre foi assim, visto que até ao CPC em vigor não era um entendimento uniforme a vinculação do

A.E. à indicação de bens a penhorar efetuada pelo exequente, não se apresentava expressamente concretizado na legislação.

281 Só no caso de presumir que a penhora de outros bens não permitira a satisfação integral do credor (de 6,

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ser um verdadeiro ato de nomeação de bens à penhora, responsabilizador do exequente”.282 É objeto de reclamação do juiz, nos termos do art. 723.º, n.º 1, al. a) do CPC, a penhora realizada em desrespeito da nomeação de bens do exequente, sendo nula.

Contudo, in fine do n.º 2 do art. 751.º do CPC, ressalva o que já decorreria dos princípios e regras gerais, portanto o A.E. não deve cumprir a nomeação dos bens “se violarem a norma legal imperativa”. V.g., quando a nomeação que ordene a penhora de todos os bens do domicílio do executado (art. 737.º, n.º 3 primeira parte do CPC) ou da totalidade do salário (art. 738.º, n.ºs 1 e 3 do CPC). Neste sentido, o agente de execução também não deve proceder à nomeação dos bens se ofender o princípio da proporcionalidade da penhora. Ou seja, se o exequente pretender a penhora de bens em quantidade excessiva, o princípio da proporcionalidade determina que apenas sejam penhorados os bens estritamente necessários para a garantia do pagamento da dívida exequenda e das despesas previsíveis. É de mencionar que, o agente de execução também deve ter em atenção se “infringirem manifestamente a regra estabelecida no número anterior”, que ofenda o princípio da adequação afirmado no n.º 1 do art. 751.º do CPC, como

v.g., se o exequente nomear à penhora um bem imóvel de valor elevado em ação

executiva instaurada para pagamento de uma dívida de valor muito pequeno. Verifica-se um desrespeito ao princípio da proporcionalidade se a penhora não se iniciar pelos bens cujo valor pecuniário seja de mais fácil realização e se revele adequado ao montante do crédito exequendo (deve ser satisfeito pela via mais simples e rápida, sem infringir os interesses patrimoniais do executado).283

Por último cumpre referir que, verificamos através do n.º 3 do art. 751.º do CPC um afastamento ao princípio da proporcionalidade, pois se admite a penhora de imóveis de estabelecimento comercial, ainda que não se adeque por excesso, ao montante do crédito exequendo, para tal é necessário verificar os requisitos mencionados nas várias alíneas. A conclusão que retiramos é que o A.E. não

própria e permanente) é que é admissível a apreensão de bens imóveis cujo valor se determine elevado em face ao valor do crédito exequendo.

282 Cfr. PINTO, Rui, Notas ao Código de Processo Civil…, ob cit, P. 557

283 Cfr. RIBEIRO, Virgínio Da Costa,/REBELO, Sérgio, A Ação Executiva Anotada e Comentada…, ob cit, P.

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possui liberdade de decisão, devendo respeitar as indicações do exequente, salvo se não respeitarem norma legal imperativa, o princípio da proporcionalidade ou o da adequação.

3. Contraste entre o princípio da dignidade humana vs interesse do