• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – LIMITES DAS PENHORABILIDADES

4. Penhora Subsidiária

4.2. Penhora de dívidas conjugais

4.2.1. Execução de dívidas próprias

O art. 1696.º do CC em conjugação com o art. 740.º, n.º 1 do CPC contempla situações em que as dívidas são da exclusiva responsabilidade de um dos

203 Cfr. PINTO, Rui, Manual da Execução e Despejo…, ob cit, PP. 522-523.

69

cônjuges.205 Portanto, torna-se crucial ter em atenção a necessidade de terem sido penhorados bens comuns dos cônjuges por não se conhecerem bens próprios do executado.206 Quando nos deparamos sobre a execução de dívidas próprias nos termos do direito substantivo, é responsável pela dívida apenas um dos cônjuges – art. 1692.º do CC, em respeito pelo direito civil, deve ser primeiramente efetuada a penhora dos bens próprios do executado. Nos termos do direito processual é responsável pela dívida, aquele que no título figurar como devedor – art. 53.º, n.º 1 do CPC. Verifica-se que entre o direito substantivo e o direito processual existe uma coerência entre ambos.

Na execução de dívidas próprias respondem os bens próprios do devedor e na sua falta ou insuficiência destes, procede-se à penhora da meação dos bens comuns.207 Juntamente, para além dos bens próprios, como já referimos anteriormente, podem ser penhorados certos bens comuns, e sem citação do cônjuge, nos termos do art. 740.º do CPC, conjugado com o art. 788.º, n.º 1, al. a) primeira parte do CPC, ex vi do art. 1696.º, n.º 2 do CC208. Segundo Rui Pinto, se existir bens próprios conhecidos, é ilegal a penhora de bens comuns apenas com o fundamento de que são mais adequados, podendo quer o cônjuge, quer o executado, quer o exequente alegar esse vício.209

205 Sustenta José Lebre De Freitas, que a norma jurídica engloba “não só os casos de responsabilidade

exclusiva do executado, mas também aqueles em que a responsabilidade é comum, segundo a lei substantiva, mas a execução foi movida contra um só dos responsáveis”. Cfr. FREITAS, José Lebre De, Ação Executiva: À

Luz do Código de Processo Civil de 2013…, ob cit, P. 254.

206 Visto que, se o executado possuir bens próprios, não se poderão penhorar os bens comuns, logo não se

aplicaria o art. 740.º do CPC. Cfr. CARVALHO, Jorge Morais, As Dívidas dos Cônjuges no Processo

Executivo…, ob cit, P. 677.

207 Por dívidas próprias do cônjuge executado, podem ser penhorados bens comuns do casal, por não lhe

serem conhecidos bens próprios suficientes para ser satisfeito o débito. Cfr. NETO, Abílio, Novo Código de

Processo Civil: Anotado…, ob cit, nota 2, P. 973.

208 Os bens que respondem ao mesmo tempo que os bens próprios do cônjuge devedor são: os bens por ele

levados para o casal ou posteriormente adquiridos a título gratuito, tal como os respetivos rendimentos e os respetivos bens sub-rogados; o produto do trabalho e os direitos do autor do cônjuge devedor, de acordo com o art. 1696.º, n.º 2 do CC. No entanto, o cônjuge não devedor deve ser compensado, de acordo com o art. 1697.º do CC.

209 O executado, o exequente e o cônjuge do executado possuem a possibilidade de se imporem contra uma

penhora ilegal. O executado poderá através do incidente de oposição à penhora – art. 784.º, n.º 1, al a) do CPC; o exequente pode reclamar do ato de penhora praticado pelo A.E. – art. 723.º, n.º 1, al. c) do CPC; relativamente ao cônjuge executado, poderá opor-se através de embargos de terceiros – art. 352.º do CPC. Se o mesmo tiver a posição de terceiro, a penhora dos bens comuns não foi acompanhada da sua citação, de acordo com o art. 740.º, n.º 1 do CPC, sem prejuízo do art. 786.º, n.º 6 do CPC, dita o levantamento da penhora. Cfr. PINTO, Rui, Manual da Execução e Despejo…, ob cit, P. 538.

70

Ou seja, se na ação executiva se concluir pela insuficiência de bens próprios do executado, tem de ser penhorados bens comuns, o agente de execução procede à citação do cônjuge não executado para no prazo de 20 dias “requerer a separação

de bens ou juntar a certidão comprovativa da pendência de ação em que a separação já tenha sido requerida” – in fine, art. 740.º, n.º 1 do CPC. Dentro do

prazo estipulado no art. 787.º, n.º 1 do CPC, o cônjuge não executado poderá requerer a separação dos bens ou juntar a certidão. Através do art. 81.º do Regime Jurídico de Processo de Inventário - RJPI, (aprovado pela Lei n.º 23/2013, de 5 de março)210 deve efetuar-se o processo de separação dos bens no caso de penhora dos bens comuns.211

Citado o cônjuge do executado, e se este nada fizer, a execução prossegue sobre os bens penhorados – art. 740.º, n.º 1 do CPC. Em sentido oposto, a execução é suspensa até à partilha, nos termos do art. 740.º, n.º 2 do CPC, mantendo-se a penhora sobre os bens penhorados, ficando a aguardar a separação dos bens.

Realizada a partilha nos termos do in fine do art. 740.º, n.º 2 do CPC constatamos duas situações: os bens penhorados ficam através da partilha a pertencer ao cônjuge executado ou são adjudicados ao seu cônjuge. No primeiro caso a execução prossegue sobre esses bens, no segundo caso, por meio da partilha os bens foram atribuídos ao seu cônjuge, logo, terá de se proceder à penhora dos bens do cônjuge executado, substituindo a anterior penhora, até que a segunda tenha lugar. No nosso entendimento, devia ser de imediato levantada a

210 Que entrou em vigor em setembro de 2013. O processo para separação dos bens deve ser tramitado no

cartório notarial sediado no município do lugar da casa de morada de família, ou, na falta desta, no cartório notarial do município da situação dos imóveis ou da maior parte deles ou, na falta de imóveis, no município onde estiver a maior parte dos móveis – art. 3.º, n.º 1 do RJPI. Cfr. Lei n.º 23/2013, de 5 de março. (Consultado em 04/02/1016), disponível in, http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=1895&tabela=leis

211 Corre por apenso à execução o processo de inventário, que deve ser conferida aos notários para tramitação

do mesmo, incluindo o destinado à separação de meações. É de salientar, que no processo de inventário para separação dos bens, nos termos do art. 81.º da Lei n.º 23/2013, de 5 de março, o exequente também possui o direito de promover o seu andamento; não podem ser aprovadas dívidas que não estejam devidamente documentadas; e o cônjuge não executado tem o direito de escolher os bens que deverão integrar a sua meação, mas se utilizar esse direito procede-se à notificação dos credores, os quais possuem a possibilidade de apresentar a reclamação fundamentada, e caso seja atendida, o notário deve proceder a uma avaliação dos bens que entendam estar avaliados de modo errado. O cônjuge não executado citado de acordo com o art. 740.º, n.º 1 do CPC, apenas pode requerer a separação dos bens ou juntar a certidão, na situação de não assumir o estatuto de executado. Cfr. RIBEIRO, Virgínio Da Costa,/REBELO, Sérgio, A Ação Executiva

71

penhora dos bens adjudicados ao cônjuge não executado, anteriormente penhorados.

Tome-se em atenção quando a dívida é própria, mas vigora no regime de separação de bens, a falta de bens comuns leva à inaplicabilidade do art. 740.º do CPC, que se aplica apenas perante a penhora de bens comuns em execução movida contra um dos cônjuges.